.。.:*♡ Cap.1 ♡*:.。.
Erika, Leiftan e os líderes das guardas estavam reunidos no salão conversando, já era tarde e eles estavam prestes a se recolherem quando do nada, Erika e Leiftan começaram a se sentirem mal. Erika que foi socorrida pelo namorado, Valkyon, o líder da Obsidiana, sentia-se tonta, enquanto Leiftan, que foi socorrido pelo Ezarel, líder da Absinto, sentiu uma terrível ânsia e Nevra, da Sombra, correu em busca de ajuda para os dois.
Os dois pareciam piorar a cada segundo e os líderes presentes não tinham ideia de como ajudá-los, até que tanto Erika quanto Leiftan visualizaram uma silhueta feminina em suas mentes voltando ao normal logo após a revelação que, no mesmo instante que foi revelada aos aengels, fez com que Valkyon e um certo prisioneiro do QG começassem a notar uma estranha presença. Valkyon não conseguia perceber direito de onde aquela presença vinha, já o prisioneiro sabia que ela estava na floresta.
.。.:*♡ Cap.50 ♡*:.。.
Cris
Seguimos para o meu quarto, Anya, Erika e eu. Por conta do meu cansaço pelo esforço feito, acabamos demorando um pouquinho mais para chegarmos lá. Entreguei minha chave à Anya para que ela “abrisse caminho” para nós, quando alcançamos o último andar.
Lance estava envolto pela “névoa” dele atrás do biombo quando Erika e eu entramos, sentei-me em uma das cadeiras e Erika pediu para que Anya buscasse alguma coisa na enfermaria. Nesse meio tempo, ela me explicou tudo o que eu precisava fazer para evitar que cenas como a que ocorreu na Sala do Cristal se repetisse. Ela me contou que eu precisava pingar algumas gotas de uma das poções que Anya me ensinara a preparar para defender-se de criaturas sombrias na esponja cíclica, além de alguns outros truques (anotei em meu not para não esquecer).
Anya retornou acompanhada da Ewelein que me trouxe algumas vitaminas e pediu ajuda da Erika para cuidar dos que eu havia purificado, com as duas saindo quase que imediatamente e me lembrando para permanecer no quarto hoje.
– O que foi que aconteceu dessa vez? – Lance perguntou saindo do esconderijo assim que tranquei a porta.
– O homem que veio me chamar era vampiro, acho que com isso você já pode imaginar o resto já que ele estava na Sala do Cristal e você pôde ouvir minha conversa com a Erika. – respondi.
– O que foi que a Erika conversou com você Cris?
– Apenas o que eu precisava saber Anya.
– Me contem exatamente o que aconteceu. – ele nos exigia.
– Por quê? – qual o problema com ele? – Terei sempre que relatar tudo que me acontece pra você?
– Apenas não quero ter surpresas incomodas como a visita de meu irmão.
– Como foi que fez para ele não te descobrir naquela noite? – perguntava Anya.
– Alguém parece estar me ajudando, porque e pra quê ainda não sei. Vão me disser o que aconteceu agora? – eu não sei se agradecia ou desconfiava da preocupação dele para comigo, mas acabei por contar o acontecido (e ele me pareceu bem irritado com a historia) – Eu teria o matado se fosse eu no lugar de Nevra!
– Não teria resolvido nada fazer isso. – respondi meio que o repreendendo.
– Seria um vampiro a menos em cima de você. – foi a resposta dele ao sentar na poltrona de braços cruzados. Respirei fundo.
Como eu já estava “presa” no quarto mesmo, resolvi continuar o meu livro com Anya me ajudando. Como acabei sem tinta, Anya foi ao mercado comprar mais para mim. Enquanto ela saía, vimos Shiro no corredor com uma cadeira em suas mãos, foi aí que ficamos sabendo que Shiro tinha sido escolhido por Valkyon para vigiar-me o quarto junto de Réalta (acho que por causa de nossa amizade... sempre tive mais facilidade em ficar amiga de homens do que de mulheres, talvez por só ter um homem como irmão caçula) que fariam turnos entre si, começando pelo Shiro.
– E como é que serão esses turnos de vocês? – perguntei a Shiro sentado na cadeira a mais ou menos cinco passos de distância da minha porta, com eu recostada à patente da porta meio aberta com Lance ouvindo a conversa.
– Bem, até o almoço serei eu a lhe fazer guarda, e lá pras seis da tarde eu reassumo sua vigília até o meio da noite.
– Então seus turnos serão de aproximadamente 6hs cada um. – eu observava Lance no fundo de meu quarto.
– Foi o que Réalta e eu combinamos junto de nosso chefe. – ele me sorria.
– O que foi que aconteceu com o tal do Viktwa?
– Foi deixado em uma cela até esfriar os ânimos, Ezarel está encrencado com a Miiko. – acabei rindo e vi que Lance achou pouco o que foi feito – Eu teria dado um soco nele se estive no lugar do Valkyon.
– E porque isso? – Lance erguia uma sobrancelha pelo aguardo da resposta.
– Você é uma das nossas, ninguém da nossa guarda iria admitir que um colega fosse machucado por um cara qualquer. – ele me desviava o olhar ao dar a resposta (não creio que seja só isso...).
– Por isso que eu fui cercada por vocês quando Ezarel tentou usar uma poção de invisibilidade pra cima de mim?
– Sim, foi... A menina da Sombra não está demorando? – estava na cara que ele parecia nervoso.
– Anya deve estar com dificuldades ou então algo a está distraindo. – vi Twylda se aproximando com três embrulhos nas mãos.
– Olá para vocês.
– Olá! – respondemos nós dois.
– Karuto me pediu para trazer os almoços de vocês. – dizia ela entregando o de Shiro – O de Shiro, o seu e o de Anya. Ela está aí dentro?
– Não. – respondia – Ela foi ao mercado pra mim, mas pode me entregar o dela. A farei comer assim que chegar.
– Agradeço muito. – respondeu ela me entregando os dois embrulhos.
– Alguém já lhe convidou para lhe ser par durante o baile Twylda? – Shiro perguntava.
– Oh sim, Karuto me convidou e eu aceitei. Prefiro um grande amigo como ele para ser meu par a outras pessoas. – ela sorria com timidez (só amigos é?...) – Mas e você Shiro, já convidou alguém?
– Não, ainda não... – ele corava e Lance me pareceu inquieto.
– E quem planeja convidar? – perguntei.
– Alguém já chegou a te convidar?
– Não e... mesmo depois de Anya e Absol terem me forçado a comprar roupas para a noite, não tenho muita vontade de participar... – ele pareceu chateado (será que ele planejava me convidar?).
– E porque não Cris! – falava Twylda – Soube por Purriry que você estará linda no dia.
– Bom... eu não sou fã de multidões... – ainda sinto um mau pressentimento, mas guardarei isso pra mim.
– Bobagem moça, sei que vai gostar do baile. Virei buscá-la pessoalmente se eu souber que você está enfurnada aí dentro no dia! – um riso me escapou e Lance revirava os olhos.
– Tá, tudo bem. Eu vou a esse baile... Mas só porque não quero ninguém me arrastando pra ele!
– Já é alguma coisa. – ela sorria – Agora se me dão licença, ainda tenho trabalho a fazer. Por favor, não se esqueçam de devolver as vasilhas à cozinha.
– Pode deixar. – respondeu Shiro e eu entrei no quarto fechando a porta para eu e Lance comermos.
Lance
Quando a Anya retornou à frente da Cris que estava acompanhada da Erika (com a Branca ainda dependurada nela), imaginei que tinha acontecido alguma coisa. Ainda mais com todos os conselhos que Erika dava à ela enquanto Anya estava fora. E depois que a Cris e a Anya me explicaram o que tinha acontecido...
“Entendeu porque minha irmãzinha se pendurou na Cris?” – (e porque você não ficou tomando conta dela?) – “Eu tenho que vigiar suas ações e minha irmã as emoções dela. É assim que iremos poder olhar vocês.”
Não pude esconder meu descontentamento pelo ocorrido daquelas duas, (ainda preciso da Cris).
“Porque não admite que você tem ciúmes da Cris hein? Sei que está gostando dela!...” – (não tem nada melhor pra fazer não?) – “Quer que lhe deixe sozinho com a Cris!?” – ela sorria de orelha a orelha (Negra...) – “Hihihihi” – ela sumiu, argh.
A Branca continuava em cima da Cris e só a deixou depois que o tal de Shiro chegou para vigiar o quarto, em turnos com o Réalta (meu irmão não podia ter escolhido outros membros quaisquer para o trabalho?). Não gostei da conversa que eles tiveram, ainda mais depois da chegada da mulher que exigiu que a Cris participasse do baile daqui uma semana.
Sentamos para comer. A Cris só tirou uma parte da comida de Anya para mim porque eu ameacei fazê-lo eu mesmo.
– Não gosto muito desse Shiro. – cochichei enquanto comíamos para que o brownie não nos ouvisse conversar.
– Não sei por quê. Acaso está com ciúme de mim? Por isso toda essa preocupação? – ela questionava em voz baixa (até ela!?).
– Não é ciúme. Só não quero que você abra a boca sem querer e eu perca toda a minha mordomia.
– Não vou falar... não intencionalmente.
– Pois é com isso que me preocupo. – falei seco e ela pareceu chateada.
– De qualquer forma... – eu a encarava de soslaio – Preciso do meu mínimo de liberdade, ou as pessoas poderão desconfiar. Já basta Nevra, que parece que me deixará um pouco mais em paz agora. – (não tenha tanta certeza) dizia ela brincando com o prato.
– Não aceite o convite de ninguém para este baile. – senti que ela me encarava – Assim os riscos serão menores, mesmo que seja arrastada para ele.
– Tá, como quiser... – era claro que ela não havia gostado de minha exigência – Quem escuta melhor, elfos ou vampiros?
Estranhei a pergunta – Vampiros, pois são caçadores natos, por quê?
– Réalta é um elfo esqueceu-se? Ele já deve estar trocando de lugar com o Shiro agora. – quase me esqueci.
– Tem razão. É melhor só conversarmos enquanto for o brownie que estiver de vigia. – ela apenas assentiu e terminou a parte dela da comida.
Anya
Ooo dificuldade pra achar um pouco de tinta hoje, só encontrei na terceira das quatro lojas que tinham e ainda precisei negociar como se já tivesse ido à quarta. Também procurei por colchonetes que a Cris me pediu secretamente, mas este eu não achei em loja alguma. Cheguei ao corredor junto do Réalta que se preparava para trocar de turno com Shiro, bati à porta enquanto eles conversavam rápido sobre tudo e entrei antes que eles se dessem conta. (Réalta é amigo de meu pai e por isso sei o quanto a audição dele é boa, só não supera o Becola).
– O que aconteceu? Porque demorou tanto Anya? – a Cris me perguntava.
– Tava difícil achar tinta no mercado hoje. – coloquei a sacola sobre a mesa – E muito menos o seu outro pedido – cochichei.
– Entendo. Twylda trouxe a sua comida... – ela me entregava uma marmita meio aberta – ...e eu já comi a minha. – terminou encarando o Gelinho que estava na poltrona com um livro nas mãos.
– Réalta e Shiro já estão trocando de lugares. – falei me sentando para comer enquanto ela guardava a tinta.
– Obrigada por avisar. – ela ligou o celular dela nas músicas – Vou cumprimentá-lo já, já. E muito obrigada por ter ido ao mercado pra mim.
– Sem problemas. – Vi Absol saindo de dentro de uma sombra – Ele tinha saído também? – a Cris virou para trás, onde eu olhava, e notei que havia vários pergaminhos com Absol que ela os olhou por cima.
– Parece que ele resolveu explorar... E ele me trouxe nove pergaminhos de roupas ao que parece. – ela os guardava no baú.
– Vamos retomar o seu livro quando eu acabar de comer?
– Mas é claro!
Enquanto eu comia, a Cris conversou um pouquinho com o Réalta e logo fechou a porta (pensei que ele ia tentar convidá-la pro baile), e notei que Lance não tinha gostado muito dela conversando com outro (acaso ele está se achando dono dela!?). Ela me contou sobre o que havia conversado com Shiro (Réalta não era o único que a queria como par??) e com Twylda, e com Lance (que parecia mesmo se achar dono dela) enquanto eu estava no mercado e eu lhe repassei como foram minhas buscas pelo que ela me pediu.
Depois que terminei de comer, tratamos do livro dela. Traduzia-lhe mais um pedaço do livro sobre mascotes que trabalhávamos agora e que ela resumia para colocar no guia dela, Lance se mantinha extremamente calado naquela poltrona (acho que é por causa da audição de Réalta).
Cris e eu nem vimos o tempo passar, só nos damos conta da hora quando o Réalta bateu a porta para me fazer ir pra casa.
– Anya, já está tarde e você sabe que sua mãe sempre fica preocupada! – ele dizia do outro lado da porta. A Cris abriu logo depois de Lance se “esconder”.
– O que foi Réalta, virou pai da Anya agora? – a Cris perguntou.
– Não, mas o pai dela e grande amigo meu, pediu-me para cuidar dela e de sua mãe de vez enquanto durante o tempo em que ele estivesse em missão.
– Cuidou muito bem de mim enquanto fugia pra floresta não é mesmo! – provoquei-o.
– Sabe por que foi que seu chefe de apelidou de “verdheleon”? – ele cruzava os braços.
– Ahm... Porque sou rápida e escorregadia como um? – arrisquei e a Cris segurava uma risada.
– Ainda bem que sabe. E você ficou bem pior depois de entrar na sombra “pés-leves”. – não sei se estava me elogiando ou me insultando, mas eu gostei do apelido – Vamos, te acompanharei até em casa.
– Vai pra casa Anya, amanhã nos encontraremos de novo, está bem? – pra Cris estar sendo doce ou ela está cansada ou o Gelinho está doido pra voltar a ficar visível _suspiro_.
– Tá bom! Vamos logo! – saí deixando a Cris e o Gelinho, com Réalta no meu pé e Shiro de vigia outra vez.
Cris 2
Anya e eu aproveitamos que eu estava usando o meu not quase o tempo todo para “conversamos” através dele sem que Lance nos percebesse. Eu não podia simplesmente deixá-lo lá se fortalecendo, tinha que encontrar uma maneira de ao menos fazê-lo adiar ao máximo qualquer plano de vingança que ele pudesse estar elaborando.
– porque você não conversa com ele devagar? – Anya escreveu.
– ele pareceu querer tentar me fazer deixá-lo mais “à vontade” no QG hoje cedo. – respondi.
– como assim?
– me pediu para deixá-lo roubar comida ao invés de pegar a nossa.
– você negou, né? Ele não pode deixar este quarto! Não é seguro.
– claro que neguei, porque acha que convenci Ezarel a recolocar as proteções?
– você podia tentar conversar com ele, assim como ele fez. Acha que pode convencê-lo?
– só ele pode convencer ele mesmo a desistir, mas posso tentar lhe sugerir.
– já é alguma coisa.
– vou ver o que posso fazer.
Acabamos aí com a nossa “conversa” antes que levantássemos alguma suspeita e passamos a trabalhar de fato nas traduções para a criação do que seria um “Guia para Recém-chegadas em Eldarya” (_riso_).
Karuto nos enviou um lanche reforçado que ele entregou pessoalmente, levando as vasilhas da marmita do almoço após me elogiar pelo belo quarto (ainda bem que ele estava cheio de serviço!).
Quando ficou tarde, Réalta fez questão de acompanhar Anya até em casa enquanto Anya queria ficar mais. Pude notar o incomodo que a presença de Réalta provocava em Lance (que se manteve o tempo todo naquela poltrona para não fazer ruídos) e por isso convenci Anya a ir com ele logo. Ainda dei um “boa noite!” ao Shiro que reassumia a vigília de meu quarto (em situações normais, acharia isso tudo um pouco demais) antes de trancar a porta em seguida.
Lance foi direto para o banho e eu arrumei as coisas da mesa. Ele saindo, foi minha vez de ficar limpa. Não demorei muito porque estava meio limpa, mas fiquei o tempo todo refletindo como que eu poderia puxar conversa para o assunto com ele. Saindo do banheiro, eu o vi de novo na poltrona só que dessa vez ele parecia tentar concentrar-se em algo, de olhos fechados e sua expressão não me parecia muito boa, percebi que era por causa do pescoço pelo jeito que ele o esticou para um dos lados (talvez...).
Me aproximei com calma para não lhe interromper a concentração. Cheguei por trás, e antes que pudesse encostar, ele agarrou-me pelos pulsos sem sair do lugar.
– O que pensa que vai fazer. – ele me questionou sem nem mesmo abrir os olhos ao que pude notar pelo espelho da penteadeira.
– Devolver o favor. Por ontem à noite. Seu pescoço ainda não lhe incomoda? – a forma com que ele pressionava os meus pulsos estava começando a deixar minhas mãos dormentes.
– O que me garante que não vai tentar fazer é uma outra coisa? – agora ele me observava pelo mesmo espelho, respirei fundo.
– Só pela força com que está me segurando, tenho certeza que não teria capacidade para prejudicar lhe. – isso o fez amenizar a pressão – Mas se não quer ajuda com o pescoço... – ele só me soltou depois de uns dois minutos apoiando minhas mãos nele.
– Da próxima vez, avise antes se não quiser acabar machucada.
– Tudo bem. – respondi já massageando lhe o pescoço e ele voltou a fechar os olhos (e que pescoço duro!) – Você está bem tenso... – tentei começar uma conversa – ...Não é só por causa das noites nessa poltrona, é? – ele estava me ignorando – Posso ao menos saber em quê se concentra tanto?
– Minha maana. – seco, mas foi uma resposta – Até que você não é ruim. – comentou relaxando o rosto um pouco.
– Não sou profissional, mas meus pais e amigos sempre me pediam massagem de vez enquanto.
– Sente falta de casa?
– Um pouco às vezes... Você tem sorte de já estar em casa, mais ou menos.
– Casa. Hunf!!
– Você nasceu em Eldarya, não é? Tudo o que conhece está aqui, não é verdade? Pra quê agir assim... – senti seus músculos enrijecerem outra vez.
– Está tentando me fazer perdoar todos esses cretinos?
– Só você pode decidir se perdoa ou não alguém, o máximo que eu poderia fazer é tentar aconselhá-lo a refletir melhor. – vi ele me erguer uma sobrancelha no reflexo – Me diz, acaso você recebeu alguma coisa boa depois de seus feitos? Algum espírito de dragão acaso lhe visitou, nem que seja em sonhos, para lhe agradecer por tudo o que fez? – seu rosto ficou vazio – Aposto que não. – deixei-o e comecei a ajeitar a cama para deitar-me – E tem mais, eu não fiz nada que você já não tenha feito comigo, ou vai negar que tentou me colocar contra os faerys mais cedo? – Ele não dizia nada, apenas refletia em completo silêncio – Uma vez, eu ouvi uma frase em uma série que assisti um pouco “Guardar mágoas é carregar pedras no coração.” (Claire Browne - The Good Doctor).
Deixei-o com seus pensamentos. Rezei minhas orações e fui dormir.
***
Aquela teria sido a noite perfeita se eu não tivesse acordado em um lugar totalmente diferente daquele em que dormir. Até parece que eu fui tele transportada! Por conta das minhas colegas de quarto, fui tentar dormir no alto de uma arvore, mas ao invés de acordar sobre a mesma, acordei entre as raízes de uma outra totalmente diferente. E o mais esquisito é que além de não reconhecer coisa alguma no espaço a minha volta, eu estava praticamente da mesma forma com que me deitei! A coberta forrava o meu “leito”, minha camisola estava sendo o meu travesseiro (que por sinal aproveitei para guardá-la rápido e vestir-me antes que alguém me visse seminua) e a tela do mosqueteiro ainda me cobria.
Dobrei a coberta e o mosqueteiro e dei um jeito de prendê-los em minha mochila (afinal eu tinha que devolvê-los, não?), e comecei a observar melhor o lugar onde estava. Rezava por Nossa Senhora pra me ajudar a pelo menos descobrir aonde é que eu havia ido parar e respirava fundo toda hora, pois desespero é que não ia me ajudar ali.
Me sentia um pouco estranha, meus chinelos que perturbavam para andar, principalmente o que possuía a compensação. Carreguei-os na mão e passei a andar descalça, com bastante cuidado. O sol estava amanhecendo com toda a certeza, mas de acordo com o meu relógio novinho, ou era 3hs da manhã ou era 15hs da tarde. Definitivamente não estava fazendo sentido. Parei de andar por um momento e conferi minhas coisas para ver o que eu podia fazer para não me ferrar ainda mais naquelas circunstâncias.
Além de quatro mudas de roupa, um conjunto íntimo, três calcinhas recém-lavadas, uma tiara e um par de sandálias rasteirinha, mais a roupa do corpo, também tinha meu celular com fone e notebook novos (e olha que demorei em trocar os antigos! Porém continuava sem sinal); o carregador solar que forcei meu irmão a comprar e quase não chegou a tempo da viagem (estava viajando para floresta, que certeza eu tinha se haveria ou não luz elétrica?); meu óculos de descanso; alguns doces e bolos típicos do norte junto de alguns sanduíches (fome ao menos não passaria tão cedo); minha garrafa térmica cheia de suco e uma garrafinha de meio-litro de água também cheia (mas eu precisaria encontrar logo uma fonte segura de água, a fome posso até segurar, já que estou meio gorda mesmo, mas a sede...); meus itens de higiene: shampoo, condicionador, creme sem enxague, sabonete, escova de cabelo, pasta e escova de dente (e repelente de insetos); dois colares e uma pulseira que havia trazido comigo de São Paulo mais as bijuterias locais (duas pulseiras e um par de brincos) que comprei de lembrança, preferi colocá-los no corpo pra amenizar um pouquinho a mochila; um pequeno kit de primeiros socorros (um rolo de bandagem, um antisséptico, algumas bolinhas de algodão e uma caixinha cheia de band-aid); e material para escrita/desenho: um caderno (livro) brochura de 500pags. totalmente brancas, meia dúzia de lápis 2B, 2 borrachas, um apontador de ferro (só assim pra não se quebrar na minha mão) e 6 canetas BIC (3 azuis, 2 pretas e 1 vermelha), além de uma régua de 20cm; o livro de astronomia que pequei emprestado no hotel para ler; minha toalha de viagem e “toalhinha de baba”... e a coberta mais o mosqueteiro do hotel. Sério, eu praticamente fiz um milagre para conseguir colocar tudo isto naquela mochila que não havia ficado nada leve, principalmente depois de adicionar a coberta. A única coisa que me estava faltando era o meu terço de hematita, que devia estar enrolado no meu pulso. Droga.
Comecei a caminhar por aquela floresta outra vez, em busca da fonte de água e com bastante cuidado já que quanto maior é a fonte maiores também são os animais, e dar de cara com algum carnívoro era a última coisa que eu precisava. Mas mesmo assim, tive que tropeçar no meio de algumas raízes e meio que machucar um dos pés. Ainda me forcei a procurar mais um pouco porém o cansaço (porque já estava nessa “nova” floresta há pelo menos umas 3hs) e a dor falaram mais alto comigo. Sentei a sombra dos pés de uma arvore para recuperar o fôlego e massagear o meu pé dolorido. Me encostei-me ao tronco e fechei os olhos por um instante recuperando o fôlego. Foi então que comecei a ouvir um barulho que me deixou com medo de abrir os olhos.
.。.:*♡ Cap.2 ♡*:.。.
Minutos depois do mal-estar e revelação dos aengels, os principais membros do QG da guarda Reluzente se reuniram na antiga Sala do Cristal, que depois de ter o cristal quebrado pela segunda vez por Lance, era mais um imenso salão, com os pedaços restantes do grande cristal reunidos em um dos cantos, e palco do ritual efetuado por Erika, Leiftan e Valkyon, que precisava ser repetido pelo menos uma vez por semana para que Eldarya pudesse se permanecer em pé agora. Lance também seria de grande ajuda neste ritual se ele não se recusasse a pagar por seus crimes de uma maneira diferente que a de estar acorrentado dos pés à cabeça dentro de uma cela seladora de magia. Ele ainda carregava um profundo ódio pelos faerys.
– Foi parecido. – explicava Leiftan – Quando Erika chegou ao QG pela primeira vez, eu senti uma dor no peito, e a dor só acabou depois que vi a silhueta dela em minha mente. Eu só não entendi porque senti ânsia dessa vez! Além de você também ter se sentido mal Erika.
– Eu também não entendi isso. – continuou Erika – Eu nunca havia passado por algo assim antes. E olha que eu já passei por muita coisa depois de chegar a Eldarya!
– Há algum problema Valkyon? Você me parece inquieto. – perguntou Nevra observando o amigo fazendo com que todos o olhassem também.
– Talvez. – respondeu com seu semblante de sempre e braços cruzados – Desde que estes dois voltaram ao normal, não paro de sentir uma presença estranha que ainda não consegui identificar.
– Presença estranha? – falou Ezarel com seu costumeiro sarcasmo – Não vai me dizer que o que vocês sentiram foi a chegada de mais uma faeliana.
– Isso não é piada Ezarel. – repreendeu Miiko.
– De qualquer forma, – cortou Keroshane – o que Ezarel disse pode ter lógica. Talvez o mal-estar de Erika e Leiftan seja algum tipo de resposta para a chegada de outro aengel, e como Fáfnir nos explicou, a presença que Valkyon está sentido pode ser um outro dragão ou descendente de um, isso se Lance também sentir essa presença o que nos confirmaria realmente tratar-se de outro dragão.
Todos ficaram em profundo silêncio, até que Nevra resolveu quebrá-lo.
– Deixa ver se eu entendi Kero, está nos dizendo que provavelmente dois novos faelianos acabaram de chegar da Terra em Eldarya?
– Kero tem razão. – a voz era da Miiko – Essa é uma possibilidade que não pode ser descartada. O problema é: onde estes faeliano estariam agora? E também: eles são amigos ou inimigos?
– Primeiro temos que confirmar com meu irmão se ele realmente sente essa presença também ou não.
– Miiko, está tarde e é noite. Seja lá quem tiver chegado, por conta da hora, creio que a primeira coisa que fará vai ser encontrar um abrigo seguro até que o sol surja! Por que não continuamos com isso amanhã? – sugeriu Erika.
– Erika tem razão. – concordou Nevra – Amanhã cedo reunirei grupos para vasculhar os arredores do QG e a floresta. Pois se Valkyon consegue sentir a presença de pelo menos um, significa que não estão muito longe de nós.
– Está decidido então. – ordenou Miiko – Agora vamos todos descansar, mas amanhã cedo Nevra ficará responsável por vasculhar os arredores de Eel e Valkyon vai conferir com Lance se ele também consegue sentir a tal presença. Por precaução... Ezarel, quero que você verifique nossos estoques de poção de cura e de defesa, além de preparar mais algumas por prevenção.
– Sim senhora. – afirmou Ezarel com um toque de gracinha. E todos deixaram a sala para os seus quartos e assim descansar para o dia seguinte.
***
Eu realmente estava com uma sorte maravilhosa. Já que quando abro meus olhos descubro uma espécie de lobo branco imenso, com um tipo de névoa lilás azulado ao redor do pescoço e de um dos olhos, rosnando de leve pra mim. Eu gelei. Senti minha respiração travar por um instante e o costumeiro nervoso que jogava minha pressão no chão querer tomar conta de mim.
Respirei fundo. Pois aquela não era uma boa hora para querer desmaiar. Fiquei imóvel apenas o observando e acabei por reparar que uma das patas traseiras parecia ferida. Me movendo o mais devagar possível, retirei um sanduíche da mochila que acho ter chamado à atenção do lobo (devo ter acertado na suposição que ele estaria com fome), já que ele parou de rosnar pra ficar me observando e farejando o ar em minha direção. Estendi um pedaço do meu lanche para ele e ele se aproximou só um pouquinho, devagar e mancando. Joguei o pedaço para um pouco longe de mim e ele se aproximou do pedaço.
Ele o farejou por uns instantes e depois de me observar por um momento, o comeu. Tirei outro pedaço do meu lanche e lhe estendi como antes, o vi abanar a cauda e pegar o pedaço de minha mão e comê-lo. Mantive minha mão estendida até ele se aproximar e lambê-la pra logo em seguida esfregar-se nela e acabar com eu lhe acariciando a cabeça (ou ele é muito mansinho ou muito carente. Sorte a minha). Dei-lhe mais um pedaço e outra vez reparei em sua pata ferida e, não esquecendo que seja lá qual for aquela criatura mítica (sim, mítica, ou vai me dizer que você já viu algum animal com névoa saindo de seu corpo?) ela ainda era selvagem e poderia muito bem me atacar se eu mexe-se em seu ferimento sem cuidado. Cacei meu kit de primeiros socorros, junto da minha garrafa d’água e minha toalhinha na mochila e fiz um curativo em meu pé fingindo dor. O lobo só me observava. Quando terminei o curativo (que não precisava) passei a olhar fixo para a pata ferida dele. Me chame de maluca (o que não é lá uma mentira) mas tenho certeza que ele me entendeu, ou do contrário ele não teria me erguido a pata ferida para eu tratá-la, e sem reclamar até o fim!
– Agora seria bom se você descansasse essa pata um pouco. – acabei dizendo a ele.
Realmente acho que ele me entendeu, ele bocejou e deitou-se ao meu lado tirando um cochilo. Eu lhe acariciei as costas um pouco e acabei cochilando também.
.。.:*♡ Cap.3 ♡*:.。.
Surgido os primeiros raios de sol, Nevra já reunira os grupos que examinariam os arredores de Eel e estava lhes passando as ordens já tendo explicado os possíveis eventos que estavam ocorrendo. Ezarel estava no laboratório fazendo o inventario das poções para poder escolher melhor quais produzir. E Valkyon estava descendo as escadarias para a prisão.
Ele aproximou-se de uma cela onde havia um homem em vestes de algodão amarelada com correntes presas aos pés, pulsos, cintura e pescoço e com o cabelo com metade do tamanho do cabelo de Valkyon. Era o Lance.
– Parece que algo interessante resolveu acontecer em Eel. – disse Lance sem tirar os olhos do chão em que estava sentado.
– O quê quer dizer? – Valkyon se mantinha impassível.
– Acha que eu não sei o porquê de você estar aqui agora? De quem é a presença que vem da floresta?
Valkyon ficou estático por um instante – Então, realmente pode ser outro dragão.
– Rá! Se não fosse por toda essa segurança, eu já teria ido atrás da criatura. E assim alertá-la de todos os traidores aqui existentes.
– Você foi o único que nos traiu Lance.
– Mentiroso!! – gritou Lance furioso – São vocês os traidores! Você me traiu! Acha que eu irei esquecer o que você e até mesmo meu ex-sócio fizeram comigo dois anos atrás? Acha que vou esquecer que aquele maldito do Leiftan se deixou ter uma parada cardíaca que quase lhe custou a vida só para romper o pacto entre nós e assim abrir a boca? E a forma com que vocês me enganaram para impedir a destruição deste mundo usando o meu poder, acha que esquecerei? E aliás... – agora seu tom era provocativo – como anda o cachorrinho do Leiftan? Depois que ele se acorrentou a sua namoradinha, ele conseguiu fazer dela a Eva dos aengels? Sendo ele o Adão?
Valkyon não se importava de ouvir os insultos do irmão, desde que não envolve-se sua amada, também membro da Reluzente agora.
– Em primeiro lugar, eu nunca permitiria que eles ficassem juntos sozinhos, nem ela o quer, e segundo, eu confio plenamente na Erika.
– Oh, sim! A Erika é realmente uma mulher confiável, mas... e o Leiftan? Confia nele? O que lhe garante que ele não tente seduzi-la em cada mínima oportunidade que obter?
Valkyon estava cada vez mais furioso e apenas foi embora dizendo que já conseguiu o que queria deixando Lance gargalhando para trás.
***
Quando acordei de meu cochilo, estava sozinha. O tal lobo havia sumido. Bom ele teve ter ido procurar pelos seus. Resolvi guardar minhas coisas de volta na mochila e tomar coragem para voltar a procurar uma fonte de água, ainda mais depois de ter desperdiçado um pouco lavando o meu pé para poder lavar a ferida daquele lobo. Quando estava terminando de me erguer eu o vejo chegando com um enorme bastão de madeira na boca e abanando a cauda.
– Isso é pra mim? – o questiono que apenas o deixa aos meus pés sentando e sacudindo a língua e cauda como um cachorro qualquer. Pequei o bastão e o examinei mais ou menos. Não era muito pesado e me parecia bem resistente. – Obrigada! Isso com certeza vai me ajudar. – Ele latiu uma vez como se estivesse dizendo: “de nada”. – Agora o que eu preciso mesmo é encontrar uma fonte de agua potável, ou irei passar sede.
Seja lá qual for a espécie daquele canino, ele com certeza me compreendia, pois assim que terminei de falar ele se ergueu e começou a caminhar me olhando de forma que parecia dizer: “então me siga!”. Eu ainda duvidei um pouco do que a minha imaginação me revelava, aquilo tudo poderia muito bem ser um dos meus sonhos loucos! Mas, por mais louco que seja o que sonhe, eu nunca me machucava, e aquela torção em meu pé não era uma ilusão. Só depois que ele deu um latido me chamando a atenção é que passei a segui-lo. – Tá bom, tá bom! Já estou indo! – disse a ele.
O segui por quase meia hora até chegarmos a uma pequena cascata de aguas tão cristalinas que quase pensei que fossem mágicas. Ele se aproximou da agua e começou a bebê-la, não demorei pra fazer o mesmo, o bastão foi útil, mas a caminhada ainda me deixou com sede. A agua estava uma delícia! Geladinha e docinha. Enchi logo a minha garrafa.
Bom, já sabia onde encontrar agua, mas e quanto àquela floresta? Ainda não tinha ideia de onde eu estava.
– Preciso ao menos encontrar um lugar seguro para dormir as noites enquanto não descubro aonde raios vim parar. – acabei dizendo.
O cachorro (é cachorro, o comportamento dele mais lembrava um cachorro do que um lobo sem falar que ele parecia ter o tamanho do Scooby Doo! Ainda bem que ele era amigo, até agora...) apenas terminou de beber a agua que lhe escorria pela boca esfregando a língua e começou a caminhar outra vez. De novo ele precisou me dar um latido para que eu o seguisse. Caminhamos menos dessa vez, ele me levou até uma espécie de caverna ou gruta, não sei, e ele outra vez precisou me chamar pra que pudesse continuar lhe seguindo.
Era uma caverna, uma caverna longa, meio úmida e um pouco escura, mas dava pra enxerga o chão sem problemas. Continuamos penetrando até alcançarmos o fim da caverna, onde havia um espaço aberto quase do tamanho de metade da minha casa (que por sinal minha casa tinha 6 cômodos, mais lavanderia, garagem para três, área de lazer e “quarto da bagunça”. Ou seja, mesmo sendo menor que minha casa, ainda era enorme). Havia algumas passagens de ar e luz nas extremidades do teto, deixando as condições daquele ambiente aceitável para moradia. Estalactites e estalagmites eram mais presentes no caminho até o fundo, naquela área aberta, o chão era irregular mas possuía poucas “colunas”, nada que um pouco de esforço braçal não resolvesse.
Levei um susto quando uma espécie de aranha gigante (com ênfase no gigante) se aproximou de mim. Ela parecia uma tarântula albina mutante do tamanho de um cachorro médio. Quase tive um piripaqui com o susto! O cachorro se aproximou dela e pareceu que eles “conversavam”. Jesus amado! Eu realmente não devia estar no meu mundo. É loucura demais para acreditar que se tratava de espécies ainda não descobertas pelo homem!
Depois da “conversa” entre eles, a aranha fez um barulho estranho e pro meu desespero um enorme grupo de aranhas menores (filhotes com certeza, socorro Mãezinha) desceram do teto, as menores observavam a maior com mais atenção do que à mim. Depois que ela terminou de falar com as outras, todas voltaram para os espaços escuros do teto.
– Ahff! Esse será um looongo dia! – acabei dizendo.
.。.:*♡ Cap.4 ♡*:.。.
Já tinha se passado três dias desde que a procura havia começado, assim que Nevra soube por Valkyon que a presença estava na floresta, segundo Lance, ele aumentou o número de grupos que investigaria a floresta e diminuiu das outras áreas, mas era estranho. Será que o ou os recém-chegados tinham conhecimento de sobrevivência? Por isso que ninguém achava nada?
– Valkyon, tem certeza que ainda sente aquela tal presença?
– Sim Ez, e ela fica bem mais forte aqui na floresta. Acho que Lance encontraria na hora se não fosse tão arriscado soltá-lo.
– Oh sim, o dragãozinho ferido. – disse com deboche.
– Ezarel. – repreendia Valkyon – Ele pode não ser o melhor dos faerys agora, mas ainda é o meu irmão.
Ezarel riu um pouco e os dois voltaram a ficar em silêncio enquanto ele terminava de colher ervas para as poções.
– Será que sou eu ou mais alguém percebeu? – disse Ezarel juntando as ervas colhidas.
– O quê?
– Desde que o nosso visitante misterioso chegou, uma maana estranha começou a aparecer na floresta, queria estudar isso. – disse Ezarel sério.
– Tudo o que eu queria era encontrar logo o dono dessa presença. Lance também está ficando incomodado de acordo com os guardas.
– Bom, vamos voltar. Espero que o pessoal do Nevra tenha mais sorte dessa vez... e que ele não tenha desperdiçado tempo as paquerando! – declarou Ezarel com um enorme sorriso de lado na cara, o que fez um pequeno riso escapar de Valkyon.
***
Isso deu trabalho. Depois de ter conhecido minhas “vizinhas”, comecei a dar um jeito naquela caverna, já que da forma que estava, não seria muito confortável. Precisei de três dias para terminar tudo. As aranhas me ajudaram e Absol trouxe mais “amigos” que ajudaram também. Quem é Absol? É como eu decidi chamar o cão, lobo ou seja lá o que for o canino que estava comigo. Querem saber como foi que eu cheguei nesse nome? Em um dos meus momentos de descanso eu resolvi dar uma olhada no conteúdo de meu not para não surtar de vez, estava olhando as imagens de animês e quando uma bela imagem de um absol apareceu na tela, o canino começou a observá-la.
– Gostou do absol? – acabei perguntando e ele apenas fez um ganido como aprovação – Eu também gosto. Ele é um pokémon especial sabe? Seus instintos pela presença de perigo são extremamente fortes, assim como a bondade de seu coração. – expliquei – Tanto que sempre que sente o perigo em determinados lugares ele aparece para proteger todos dos desastres, o que acabou lhe gerando um mal entendido por parte dos humanos. – o vi fazer uma expressão de “como assim” para mim, e continuei – Os humanos acharam que absol era a fonte desses desastres, que era ele que os causava e não que os protegia.
Absol acabou fazendo uma cara que dizia “faça-me o favor!” e acabei rindo. Foi depois disso que sugeri a ele que eu o chamasse de Absol, o que ele realmente gostou. Ah! Os amigos que eu disse que ele trouxe para ajudar foram criaturas tão estranhas quanto às aranhas: gorilas-pássaros de patas estranhas com chamas nas costas; cavalos que pareciam fantasiados para o halloween e uma espécie de avestruz-galinha que também ajudou um pouco. Foram os gorilas-ave quem mais ajudaram, já que foram eles que deram um jeito nas pedras mais pesadas.
Aproveitei as pedras que dava para “montar” os móveis, consegui construir uma espécie de fogão e também uma mesa. As aranhas criaram redes que eu usava como prateleiras (o fio delas é realmente forte!), cortinas e até uma rede que Absol testou pra mim (pelo menos eu não ia ficar presa nela). Também construí uma espécie de cofre para a comida daquelas aranhas, pois percebi que elas estavam sempre brigando com alguma outra criatura para protegê-la. As aranhas conseguiam pegá-la do cofre sem problemas já as outras criaturas... bom, elas precisariam aprender um pouco mais de destreza.
Tanto as aranhas quanto Absol sempre traziam coisas que quase sempre se mostravam úteis como frascos, roupas, comida, tecidos e kits de costura (Absol era quem trazia as roupas mais bonitas), além de pergaminhos que não entendia (mais uma prova de que não estava na Terra) e outras coisas que às vezes encontrava utilidade como uma luminária e uma colcha por exemplo. Uma das aranhas me trouxe agua salgada, todo dia tomava só um golinho por conta de minha pressão que tem tendência a ser baixa. Guardava tudo o que me traziam, afinal, nunca se sabe!
.。.:*♡ Cap.5 ♡*:.。.
Erika estava em um espaço vazio muito amplo e branco. – Onde estou? – ela se perguntou. Começou a sentir uma maana estranha, era calma e tranquilizante, mas ainda assim, incomum. Ela seguiu aquela maana até encontrar sua fonte, uma pessoa. Por causa das roupas que vestia não conseguiu ver se era ele ou ela, mas estava ajoelhada, rezando. A frente da pessoa havia uma espécie de cristal branco flutuando que brilhava diante da oração daquela pessoa. Ela ficava se questionando qual seria o significado daquela visão até ter os pensamentos interrompidos por uma voz dizendo: “Aguentem mais um pouco.” Quando ela se voltou para a fonte da voz que ouviu vindo detrás dela tomou um susto! Eram duas mulheres muito parecidas com o Oráculo. Uma tinha a pele bem branca e suas asas e cabelos eram rosa mesclado com loiro e lilás, a outra tinha a pele morena bem escura com cabelos e asas negros mesclados de roxo e azul claro.
O susto não foi tudo o que a fez acordar de seu estranho sonho, uma correria vinda dos corredores também ajudou. Ela ergueu-se de sua cama-flor para descobrir o que estava acontecendo.
Era o quinto dia de buscas pelo estranho visitante que, segundo Valkyon, ainda estava vivo. Quando Erika chegou à sala das portas, quase soltou um grito pelo que via. Nevra e alguns de seus “homens” estavam todos feridos sendo atendidos às pressas por Ewelein e os outros enfermeiros, indo ajudá-los também.
– Mas o que foi que aconteceu com vocês?!? – foi Miiko quem gritou a pergunta.
– Contaminados. Ai! – era Nevra que respondia entre dores – Cinco deles. Nós só conseguimos lidar com dois, – disse ele mostrando os dois fragmentos recuperados – os outros três fugiram. Ai, Ewelein!
Ewelein só deu um desculpa e continuou o atendendo.
– Peraí, você esta me dizendo que há três contaminados soltos por aí, é isso mesmo? – perguntou Miiko nervosa com a chama de seu bastão começando a aumentar.
– Infelizmente. – disse uma das garotas que estavam sendo atendidas.
Miiko começou a respirar fundo para não acabar surtando, e era claro que Nevra era o mais irritado pela situação já que falhara em seu dever de manter Eel segura.
Erika apenas chegou de mansinho na Miiko e lhe disse: – Preciso falar com você.
***
Logo cedo Absol me trouxe algo incrível, um cristal branco do tamanho de uma manga média com uma espécie de anjo esculpido em seu interior. A pedra era linda. Resolvi usar ela como referência santa durante minhas orações (podia ter perdido meu terço de hematita, mas o meu terço de prata continuava em meu pescoço). Montei um pequeno suporte com pedras para ele sobre a mesa. Não sei por que, mas fiquei com vontade de rezar meu terço mais cedo aquele dia, e pra minha surpresa (que não foi pouca) o cristal começou a brilhar. Não parei de rezar até o fim e o cristal só parou de brilhar quando eu terminei.
– Cada vez mais estou convencida que estou em algum tipo de mundo mágico. – acabei dizendo.
Fui atrás de comer alguma coisa. A comida daquele mundo não era muito boa, já que não me saciava totalmente, pelo menos minha gordura extra estava diminuindo finalmente (sempre me foi uma guerra perder peso por conta da minha gula, principalmente com doces). Se bem que... eu não tenho ideia de como explicar, mas as coisas que cresciam dentro daquela caverna (porque eu plantei as sementes das frutas que havia comido e... como elas cresceram rápido!!) onde estava morando, pareciam me sustentar muito melhor do que os que eram trazidos por Absol e suas amigas.
Aquele cristal vivo, devia ser a peça final para transformar aquela caverna em uma casa. Não que eu já tenha visto uma morada de fadas, mas era assim que eu me sentia. Com os objetos que me trouxeram e a ajuda das aranhas, pude criar vários “candelabros” e sinos de vento de cristais gerando uma iluminação fascinante na caverna, seja dia ou seja noite (principalmente com a lua cheia). As flores naturais que cresciam pelas laterais e vinhas que cobriam algumas das paredes e colunas davam um colorido e um ar natural delicado muito bonito e por mais “rústico” e simples que fossem os móveis que eu criei (agora além da mesa, da rede que servia de cama e do fogão, também tinha uma poltrona e alguns bancos, alguns almofadões que serviam de puff e um armário que improvisei com teias, galhos e cortinas para minhas roupas e acessórios, e até armas brancas) aquele agora era um lugar bem aconchegante. A “latrina” ainda era na floresta, mas meus banhos eram de canequinho em um local reservado dentro da caverna (tá louco que vou me arriscar a ter alguém me espionando) deixando pra lavar o meu cabelo na cascata que, apesar de pequena, ainda se assemelhava a um chuveiro, um chuveiro gelado.
O riacho era pequeno de forma que não dava para eu praticar natação nele, tinha que me contentar com os alongamentos. Mais uma coisa estranha para se notar, lembra lá atrás que eu disse que meu sapato compensado me incomodava para andar? Pois é, parece que minha deficiência física sumiu! Não, é sério! Por causa da minha má formação óssea no quadril sempre tive a perna esquerda menor que a direita e mancava por isso, mas desde que cheguei aqui, além das duas parecerem ter o mesmo tamanho, não manquei nenhuma vez, nem mesmo uma! E as dores? Não senti nenhuma! Sempre considerei minha deficiência como uma espécie de “selo” depois que finalmente me dei conta de como funcionava o meu psicológico, uma maldição abençoada e vice-versa.
Enfim. Não sei se agradeço ou se choro por ter vindo a este mundo, que definitivamente não é o meu. Tá certo que fantasia sempre foi meu tema favorito entre livros e animês, e que sempre me imaginava viajando para mundos diferentes (vai ver é por isso que ainda não enlouqueci de vez até agora), mas ainda assim, é uma experiência estranha. Sem falar que ainda não sabia nada sobre esse mundo, do mar de rosas que ele era, até agora só havia visto as flores. Ainda não vi os espinhos.
O dia seguiu normal como os demais, varri as folhas espalhadas pra junto das raízes das plantas com uma vassoura improvisada. Deixei meu notebook recarregando (o sol daqui é incrível! Normalmente meu not leva 4hs pra recarregar, mas aqui ele só precisa de duas! O mesmo vale pro meu celular) e deixei meu celular sobre a mesa tocando músicas suaves (pelo menos as suaves sei que não irrita os animais, e tudo o que eu não queria era uma tempestade de aranhas irritadas em cima de mim).
Chegada a noite e fim de meu quinto dia naquele mundo, estava deitada em minha rede lendo o livro que trouxe comigo que falava de tudo sobre cada constelação. Posição, nomenclaturas de cada estrela que as compunham, lendas e período de melhor visualização, com bônus astrológico para aquelas que representavam o zodíaco oficial e extraoficial, como era o caso da Serpentário, que seria meu signo regente verdadeiro. Estava tudo bastante quieto e tranquilo, quero dizer, até começar a ouvir alguns grunhidos e baixos rosnados vindos do corredor da caverna. Pronto, um dos “espinhos” desse mar de rosas estava prestes a se apresentar para mim.
Levantei-me bem devagar para tentar visualizar o que é que estava se aproximando com o máximo de cuidado possível para não ser vista. Foi quando eu vi. O gelo que senti quando vi Absol pela primeira vez era fichinha se comparado ao que eu estava vendo agora. Uma espécie de humano com orelhas e rabo de cachorro inconsciente meio ferido totalmente acorrentado envolto por uma névoa negra arroxeada que assumia uma forma sinistra assustadora com olhos arrepiantemente vermelhos. Eu já vi muitas criaturas horríveis em filmes e alguns animês que me causaram pesadelos, mas nada se comparava com aquela coisa que parecia ter mais de 2m de altura.
Agora sim, eu estava de fato ferrada. Como que eu ia lidar com aquela coisa?!? Tentei me manter o mais oculta possível dela, rezando para todos os santos e santas que conhecia para que ela fosse embora logo sem mais problemas. Pude até perceber que as aranhas faziam o mesmo e Absol não estava lá agora, (ainda...) o que me preocupou bastante. E pra aumentar a minha “sorte”, acabei sem querer chutando uma pedrinha para trás, chamando a atenção daquela... sombra.
Achei que a minha alma ia me abandonar o corpo quando ele me viu e começou a se aproximar, bem devagar. Andei para trás até me chocar contra a parede. Não parava de tremer, mas por sorte, aquela calma impossível que eu havia sentido nas vezes em que havia sido assaltada (ou quase, só na primeira das três me foi levado alguma coisa) e de quando conheci Absol havia se apossado de mim. Quando ele se aproximou pra bem perto, estava prestes a me atacar com aquelas garras que pareciam ser capazes de cortar aço, saltei para o lado escapando por um triz de ser retalhada. As aranhas lançaram suas teias contra ele o que lhe atrapalhou os movimentos em minha perseguição. Tentei me afastar meio que me arrastando pelo chão e ele, por conta das teias, acabou se chocando contra a mesa, derrubando o cristal que Absol tinha me trazido hoje de manhã. Eu o peguei sem pensar muito e, no momento em que o toquei uma forte luz começou a emanar dele, quase me cegando por um instante.
A luz começou a envolver o meu corpo e a sombra começou a querer se afastar de mim agora. Sem me dar conta de como ou porque, comecei a cantarolar e me aproximar daquela sombra (sério?! Isso lá é hora pra cantarolar?! E o que pensa que está fazendo chegando perto dessa coisa?). Mesmo me repreendendo sem parar com a loucura que estava fazendo, como se aquele cristal tivesse assumido o controle sobre mim, eu continuei me aproximando até abraçar aquela sombra. Ela era sólida!! E mais, de acordo continua cantando, ela era sugada para dentro daquelas correntes. Quando as correntes terminaram de absorver aquela sombra, foi a vez delas se transformarem. Aos poucos elas foram se desfazendo do corpo do homem e se transformando em uma espécie de líquido roxo que se cristalizava e que também foi ficando branco com uma fumaça escura que era liberada dele, sumindo a fumaça para fora da caverna e fundindo a pedra agora branca ao cristal que segurava.
Ok. Acho que pirei e ainda não percebi. Dei uma olhada melhor naquele homem que parecia estar bem, fraco, mas bem. Comecei a levá-lo pra fora da caverna com algumas aranhas me ajudando. O deixei na entrada da caverna envolto por uma colcha que fiz com alguns dos tecidos mais grossos que foram trazidos e algumas frutas e um frasco de água em uma sacola que também costurei. Já era tarde e voltei para o fundo da caverna (eu é que não ia me aventurar na floresta àquela hora, ainda mais depois do que tinha acabado de viver), desmaiei de cansaço antes mesmo de alcançar a minha rede.
.。.:*♡ Cap.6 ♡*:.。.
– Deixa ver se eu entendi Erika. – disse Ezarel na nova reunião da Reluzente – Você sonhou com... duas Oráculos! E que ainda por cima uma delas lhe pediu para que “aguentássemos mais um pouco”, é isso mesmo o que eu ouvi?
– Sim Ezarel, foi isso mesmo. – respondeu Erika após um longo suspiro.
– Isso é muito estranho. – falou Kero – Será que tem a ver com o nosso dragão misterioso?
– Claro!! – exaltou Ezarel com sarcasmo – O dragão que ninguém consegue encontrar. Estou quase arrastando o Lance para aquela floresta só para acabarmos logo com essas buscas.
– Não diga isso nem de brincadeira! – disseram Erika e Miiko em uníssono fazendo-o revirar os olhos, cruzando os braços como se rezasse por paciência.
– Olha, ter três contaminados próximos da gente não é brincadeira. Ai. – disse Nevra – Mas acho difícil de acreditar que tudo o que está acontecendo até agora não esteja de alguma forma conectado.
– Que quer dizer com isso Nevra? – questionou Valkyon.
– Bom, foi só depois da chegada do nosso ser misterioso que nossos aengels e dragões começaram a ter reações. – Nevra observava Erika e Valkyon enquanto falava – Depois a Erika começa a sonhar com versões do Oráculo que nos pede para nos aguentarmos mais um pouco junto de uma pessoa desconhecida, sendo que na mesma tarde dou de cara não com um ou com dois, mas cinco infectados na mesma área em que nosso visitante está perdido.
– E aonde você quer chegar Nevra. – disse Miiko.
– Que a pessoa do sonho de Erika e o nosso visitante sejam os mesmos; que não está aqui por mero acidente, assim como foi com a Erika; e que esses infectados estão de alguma forma ligados ao nosso visitante.
O silêncio caiu entre eles. Alguns de boca aberta pela teoria de Nevra e outros cogitando aquelas possibilidades com seriedade. Foram os barulhos vindos de fora que os tiraram daquele estado.
– Anda logo Jamon, preciso falar com a Miiko agora!
– Mas o que é que está acontecendo aqui? – Gritou Miiko e viu que quem a requeria era um dos novos assistentes da Ewelein.
– Miiko, a Ewelein me mandou levá-la urgente até a enfermaria, nem que fosse arrastada. Por favor me acompanhe. – implorou o rapaz.
Ouvindo isso, Miiko não foi a única a querer voar até a enfermaria. Ao chegar lá, acompanhada da Erika e dos líderes das outras guardas (que ficaram aguardando do lado de fora) foi direto até Ewelein.
– O que é tão urgente assim Ewelein! – perguntou Miiko.
– Ele! – respondeu Ewelein apontando para um brownie cachorro que estava recebendo cuidados.
– Você interrompeu uma reunião séria por causa de um paciente? – questionou Miiko meio nervosa.
– Se fosse um paciente qualquer, não teria a interrompido. – falou Ewelein em tom sério o que deixou Miiko um pouco confusa.
– E o que é que ele tem de diferente? – perguntou Erika.
Ewelein as levou para um pouco mais longe do paciente e falou em voz baixa. – Ele é um contaminado, ou melhor, um ex-contaminado.
– QUÊ!!! – gritaram Erika e Miiko em uníssono fazendo Ewelein pedir silêncio às duas.
– Mas, como você pode afirmar isso?! Que historia é essa?! – perguntou Miiko.
– Este homem era parente de uma antiga recruta nossa que veio a falecer na missão marinha. Antes disso, ela me contou que esse tio conseguiu fugir com vida quando ficou contaminado e ainda me mostrou um desenho dele de antes de sofrer. Ele chegou aqui hoje cedo, desorientado, pedindo para poder falar com a sobrinha. Quando eu o reconheci, fiz o teste de contaminação na hora e ele está completamente limpo! Não há um único vestígio de contaminação nele!
Tanto Miiko quanto Erika estavam boquiabertas.
***
Acordei em minha rede, coberta. Pela iluminação da caverna devia ser entre 10 e 11hs da manhã. Vi Absol do outro lado da caverna conversando com a “aranha mãe”. Tentei me levantar, foi quando percebi que havia peso sobre mim, três aranhas me observavam com o que parecia ser preocupação em seus vários olhos.
– Bom dia pra vocês! – foi tudo o que eu falei. Elas pareceram sorrir e duas delas se dirigiram até Absol e sua mãe para avisar que eu estava acordada, a outra se manteve em meu colo. Absol veio a mim com ar preocupado enquanto me sentava na rede.
– Eu estou bem Absol. Levei o pior susto que já tive até agora, mas estou bem. – ele ainda não parecia convencido. – Olha, eu não sei o que as aranhas lhe contou, mas não tenho nenhum machucado no corpo. E era pra eu ter pelo menos alguns arranhões! – disse a ele esticando meus braços e pernas para ele as ver.
Absol pareceu ficar refletindo por um momento enquanto a aranha mãe me dava um pouco de comida e uma das pequenas me dava agua, estava faminta. Absol ficou me observando comer sentado em completo silêncio, quando terminei, ele pegou uma roupa para que eu me trocasse (sim, Absol quase sempre escolhia quais roupas eu iria vestir, e como era sempre ele que trazia as melhores e mais bonitas, não dava à mínima) o que fiz logo. Trocada, procurei por ele. – Absol? – Ele estava na “porta” de saída com uma das espadas de madeira que haviam me trazido na boca com aquela expressão de “siga-me!”. Tive um mau pressentimento, mas fui.
Ele me guiou até uma clareira no meio daquela floresta e colocou a espada de frente aos meus pés, afastando-se um pouco. Agora ferrou de vez mesmo. – Você quer que eu aprenda a manusear uma espada? – eu que já estava incrédula, fiquei ainda mais quando ele fez sinal de positivo com a cabeça. – Mas eu nunca peguei em uma espada antes! Eu até posso ter uma leve referência da teoria por conta de todos os filmes e animês que assisti... Mas mesmo assim! Teoria e prática NÃO é a mesma coisa. – falei, mas ele não pareceu importar, apenas ficou de olhar fixo na espada aos meus pés. – Táaa, que seja! – me dei por vencida.
Peguei a espada de madeira e segurei com as duas mãos, não era muito pesada, mas com certeza eu era atrapalhada. Tentei os mesmos movimentos de kêndo que via nos animês para poder me acostumar com ela. Absol ficou só me observando nos primeiros momentos, até decidir me atacar. Por muito pouco não acabava com o braço sangrando. – Enlouqueceu Absol?! Não acabei de dizer que nunca havia pegado em uma espada antes? – ele me ignorou, apenas ficou me contornando a distância para me atacar novamente. É minha querida, seu treinamento acabou de começar.
.。.:*♡ Cap.7 ♡*:.。.
Agora já eram 14 dias desde a chegada do dragão misterioso. Novos contaminados e ex-contaminados resolveram aparecer em Eel, e nada de encontrarem o bendito do faeliano que parecia ser a causa daquilo tudo.
– Qual é!?! – gritava Ezarel pra lá de nervoso – Todo esse tempo e não conseguimos encontrar nada naquela floresta além de contaminados e... EX-contaminados? E aquela maana estranha vinda da floresta? Aposto que pertence ao nosso senhor mistério. Não podemos mesmo usar o Lance para encontrá-lo de uma vez?
– Ezarel... – repreendia Erika e Valkyon juntos.
– Parece, que de alguma forma. O nosso visitante não só está atraindo os contaminados da região, como também está os purificando por completo. Só queria entender como. – disse Ewelein, participando dessa vez da reunião.
– O que é uma coisa boa e ao mesmo tempo ruim. – disse Nevra – Sem falar que há boatos sobre estranhas vozes cantando e um black-dog perambulando por aquela floresta... usando um colar. – riu ele nas últimas palavras.
– Essa bagunça toda está realmente me dando dor de cabeça. – declarou Miiko massageando a testa – E o pior é que nem sei se o fato dos contaminados que estão vindo para Eel estarem sendo purificados é realmente bom ou ruim. Quero dizer, é ótimo para eles, que podem voltar a ter uma vida. Mas, e quanto aos fragmentos? O que estão sendo feito deles? – terminou Miiko escorando contra uma das colunas.
***
Duas semanas, era o tempo que já havia passado, desde a minha chegada. Estava começando a melhorar com meus treinos e Absol era severo, assim que consegui dominar mais ou menos uma luta contra ele, ele colocou mais criaturas para me “ajudar” com o treinamento. As aranhas ficaram de fora, mas em compensação começaram a me trazer armaduras e outros equipamentos de proteção e batalha. Mãe celeste!...
Isso sem mencionar que mais sombras resolveram aparecer na caverna. Lidava com todas da mesma maneira e o Cristal Vivo (foi como resolvi nomear aquele cristal que parecia ter vontade própria) ficava cada vez maior, tanto que Absol me trouxe algum tipo de cajado para que eu pudesse prender a pedra e carregá-la sempre comigo, seu tamanho agora parecia uns 50% maior. Como ao final dessas libertações eu sempre estava exausta (culpa dos treinos intensivos), eram as aranhas quem se encarregavam de carregá-los para fora com uma pequena quantia de agua e comida, onde que os deixavam não sei! Mas nunca era na entrada da caverna.
Aproveitei um pouco da argila azulada que usei para fixar o Cristal ao cajado para fazer um colar para Absol em um dos meus momentos de folga. Uma cruz meio mal feita, mas que ainda ficou muito bonita com aquele material azulado e brilhante, presa a um cordão trançado que eu mesma trancei com as teias daquelas aranhas, o que não deixaria que se arrebentasse tão cedo.
Absol também começou a me trazer alguns livros que pareciam ser bastante antigos, mas bem conservados (pena que não conseguia os ler) e a cada fim de treino que acabava, sentia uma fome de leão!
Outra coisa que começou a acontecer depois da primeira sombra aparecer, foi que de vez em quando, Absol trazia diferentes grupos de criaturas formados por aparentemente uma mãe e alguns filhotes. Sempre que eles chegavam uma das aranhas derrubava um dos objetos trazidos por elas em minhas mãos e sempre, sempre um dos filhotes acabava por ter a atenção chamada pelo o objeto e, assim que o tocavam, viravam um ovo. (Mas hein?!?!) E depois disso a mãe com os filhotes restantes ia embora me deixando responsável por aquele ovo, logo após uma reverência de gratidão de Absol para eles. Nisso eu já tinha 4 ovos diferentes e eu não tinha ideia do que fazer com eles.
.。.:*♡ Cap.8 ♡*:.。.
Agora já eram 30 dias depois do começo daquela confusão. Ezarel estava insuportável de tanto mal humor. Saídas para a floresta só mediante autorização direta da Miiko. Os ex-contaminados já somavam 20. Todos já estavam incomodados com aquela situação com a floresta perigosa como nunca, sem falar de um ladrão de comida noturno. Mas foi a chegada de um purreko acompanhado do 21º ex-contaminado que acabou trazendo alguma luz (e uma nova sombra) para aquele lugar.
***
Tá legal, agora já é um mês que estou aqui. Já consigo manejar melhor a espada (mesmo depois de Absol me fazer a sacanagem de me vendar os olhos para treinar agora e de ainda me trocar a espada por outra de maior peso), já coleciono 12 ovos (quase morri quando vi uma espécie de ursa polar semi coberta de gelo com três filhotes entrando) e Absol parece ter encontrado um meio de achar comida da Terra (ou acho que era apesar de não entender a língua usada nas embalagens).
O dia estava nublado e por isso meio escuro, como parecia que ia chover a qualquer momento, vesti uma capa com capuz. Estava a caminho de mais um dia de treino ao lado de Absol quando senti a presença de uma sombra (mais uma? Quantas são no total?), mas foi o berro de um gato que me fez ir correndo atrás dela.
Deparei-me com uma sombra que tinha uma mulher dentro dela e ela estava prestes a matar... um gato sobre duas patas?? O Cristal Vivo se ativou quase que imediatamente e no momento que sua luz começou a brilhar a sombra parou. Comecei o meu cantarolar que não tinha ideia do estava cantando (mas rezava pra que tudo terminasse bem como nas outras vezes) e aos poucos fui me aproximando dela que parecia querer ir embora sem conseguir se mexer direito. A abracei como nas outras vezes e aos poucos a sombra foi absorvida pela corrente, que logo se tornou aquela pedra medonha, que liberou aquela fumaça negra tornando-se branca e fundindo com o Cristal Vivo.
Acabado tudo e vendo que a mulher fada (por conta das orelhas pontudas) parecia bem, acabei voltando o olhar para o gato. Ele era preto com rajadas de marrom e cinza, vestia (sério? É que nem o Gato de Botas?) uma capa preta com capuz e o que parecia ser um bracelete com um pingente de ouro em cada pata dianteira.
– Tudo bem com você bichano? – acabei perguntando.
– Q-quem é você?
O gato falou. É, é realmente como o Gato de Botas. O primeiro ser que encontro desde que cheguei a este mundo capaz de falar comigo tinha quer ser um gato? – Acho que o mais importante é saber se você está bem ou não. – acabei por dizer.
– E-e-eu estou bem! O-o – ele engoliu seco – o quê você fez com ela? Miau, salvou minha vida! – disse ele se acalmando e aproximando da mulher em meus braços.
– Hum... acho que sou uma viajante. Hoje completa 30 dias que cheguei aqui... que não sei exatamente onde é aqui. Quanto a ela, só a libertei da sombra que a estava aprisionando. Algo mais?
– Viajante? – ele me farejou de longe – Você é humana?!
– Sim, sou humana. Poderia me dizer que mundo é esse? Você é o primeiro que encontro capaz de falar, senhor gato.
– S, me chame de S. E você está em Eldarya, mais especificamente em Eel.
– Eldarya... nunca ouvi falar... – mas pelo menos agora sabia onde estava.
– Há o-outro humano com você? – perguntou S meio receoso.
Neguei com a cabeça. – Minhas únicas companhias até hoje é a de Absol, uma enorme quantia de aranhas brancas imensas e algumas criaturas que acredito serem amigas de Absol. – acabei respondendo.
– Absol? – e Absol se aproximou com cautela – Aaaa! Um black-dog!!!!!
– Black-dog? – olhei para Absol que deitou atrás de mim e depois para S de novo. – É isso o que Absol é?
– Vo-vo-você controla u-u-u-um black-do-do-dog? E-e-e-ele é seu mas-mas-mascote?
– Eu não controlo Absol. – comecei a explicar – Eu o conheci em meu primeiro dia em Eldarya, e é graças a ele que estou viva até agora. Eu o vejo como um guardião, não um mascote.
S ficou boquiaberto, não parecia acreditar no que ouvia. – Há algum problema? – perguntei.
Ele apenas sacudiu a cabeça e começou a me olhar desconfiado pra finalmente me perguntar. – Você está sabendo de algum exército?
– Exército?? – não tô gostando da historia – Que exército??
– Humano. – disse ele de modo seco.
Eu disse que não estava gostando, até Absol estava ficando interessado – Nãão, e... sei que não vou gostar da resposta. Mas o que esse exército humano deseja?
– Atacar os faerys, os seres de Eldarya. – respondeu ele de braços cruzados me observando com cautela.
– Aaai. Temia essa resposta. – disse massageando minha testa – Porque a maioria dos humanos são tão covardes e burros, procurando a destruição do que teme ao invés de procurar compreender, caramba. – Terminei por falar, indignada.
Acho que ele pensou que eu fazia parte deles no começo, pois depois de minhas palavras ele arregalou os olhos. – Você gosta de faerys? – ele perguntou.
– Se com faerys você se refere às fadas, dragões e outros seres místicos, sim. Principalmente os dragões. – respondi a ele. – Agora... tem como você ajudar essa mulher pra mim? – perguntei olhando-lhe nos olhos.
– Mas é claro! – respondeu ele dando um assobio com os “dedos” logo em seguida. Uma daquelas galinhas-avestruz se aproximou para receber carinho de S. S percebeu que eu olhava com atenção para criatura e falou – Essa é Kaniia, miau, minha Shau'kobow.
– Sua o quê?
– Shau'kobow, ela é minha mascote.
– Ah. Quer ajuda para colocar essa...
– Elfa.
– Isso. Quer ajuda para colocar essa elfa sobre Kaniia?
– Aceito sim. Afinal, purrekos são bem pequenos se comparados aos elfos. – disse ele com um sorriso e ronronando. Eu apenas sorri de volta. Depois de finalmente terminarmos de colocar a elfa deitada sobre a cela de Kaniia, ele subiu nela dizendo – Vou levá-la até o QG de Eel e alertá-los sobre o exército humano que está a caminho daqui. É bom você tomar cuidado.
– Pode deixar que eu tomarei. E boa sorte pra você S.
Ele apenas me acenou dando um tchau e foi embora. – Acho que vou precisar treinar muito mais agora, não é Absol. – Absol concordou com a cabeça e ergueu-se. Seguimos para o meu treino do dia onde dei tudo de mim.
.。.:*♡ Cap.9 ♡*:.。.
– Me deixa ver se eu ouvi direito sua historia Sirius. – Miiko conversava com S – Você foi salvo pela humana que disse estar sozinha e que libertou aquela elfa das sombras; descobriu que ela tem um black-dog como guardião, e não se lembrou de lhe perguntar o nome ou onde estava vivendo naquela floresta? E nem viu o seu rosto direito?
– Bom, ela não tirou o capuz por nenhum momento; eu a vi descontaminar aquela elfa com meus próprios olhos, e realmente foi falha minha me esquecer de perguntar seu nome e sobre seu esconderijo que, pelo o que entendi, ela o compartilha com um grupo de Cheads, miau.
– Até que a humana não é tão fraca pra conviver com essas criaturas. – comentou Ezarel com um sorriso de canto.
– Gente, esse não é o maior problema aqui! – comentou Erika com falta de animação e paciência na voz.
– Erika tem razão. – era Valkyon quem falava – Fale-nos mais desse exército humano. Tem certeza que essa mulher não tinha nada a ver com eles?
– Tenho sim, miau. – respondeu S – Quando lhe falei sobre o exército, ela pareceu tão chateada quanto a moça de branco. – S se referia à Erika que trajava um longo vestido branco simples. – E se minhas contas estiverem mais ou menos certas, eles estarão aqui em aproximadamente duas semanas.
– Isso não é nada bom. – comentou Nevra – Estamos com a enfermaria cada vez mais cheia, alguns dos habitantes do refúgio ofereceram quartos para ajudar os descontaminados, mas até eles vão precisar ser realocados para sua segurança. E acho que não estamos nas melhores condições para enfrentar um exército.
– Nevra tem razão. Kero, faça um levantamento sobre nossos estoques, Ezarel faça o mesmo sobre as poções e Valkyon sobre nossas armas. Tente obter mais informações sobre esse exército Nevra, e Erika, tente encontrar uma forma de abrigarmos todos em Eel com o máximo de segurança possível. Estão dispensados.
– Como quiser Miiko. – respondeu Erika por todos que deixaram a sala do cristal logo em seguida.
***
Aquela historia de exército me deixou preocupada. Já estou tentando entender mais sobre Eldarya, (graças a S que me iluminou um pouquinho) e descubro que há humanos aqui? Esses humanos vieram da Terra como eu ou de alguma Terra alternativa? Ou são daqui mesmo? Queria achar pelo menos um livro sobre Eldarya em minha língua. Como eu gosto de seres fantásticos é bem possível que esses humanos que querem atacar me vejam como inimiga, como uma traidora. Não posso confiar neles. E pelo que pude entender das reações de S, nem nos faerys posso confiar (ao menos não de cara). _suspiro_ Eu realmente espero que tudo isso termine da forma mais pacífica possível. Oh Nossa Senhora... não sei se a senhora aprova ou não a existência dos faerys, mas, pelo menos aqueles que são boas almas, proteja-os! Por favor, Mãe.
.。.:*♡ Cap.10 ♡*:.。.
O trigésimo primeiro dia amanheceu e as exigências de Miiko já estavam sendo cumpridas. Nevra partiu pessoalmente com Chrome e mais dois dos seus para saber mais informações sobre o tal exército; Valkyon conferia as armas junto de Caméria e Jamon; Ezarel com o auxílio de Ewelein conferia as poções, e Erika junto de Leiftan e Miiko estudavam como abrigar melhor os moradores de Eel.
No refúgio, um grupo de crianças brincavam de esconde-esconde e uma delas, uma menina elfa, decidiu esconder-se no QG! Na sala do cristal para ser mais exata, bem onde Erika e os demais conversavam e a menina achou a conversa beeeem interessante. Ela queria ir à floresta, mesmo sabendo que era muito perigoso, e o que eles conversavam naquele momento era sobre a possibilidade de usarem os túneis subterrâneos para evacuar ao menos uma parte dos moradores sem precisarem ter de encarar os contaminados na floresta. Leiftan só estava naquele meio porque Lance, que era quem conhecia os túneis melhor, recusou-se a ajudar (mais uma vez).
A menina ouviu a conversa com cuidado, sorte dela de Nevra não estar presente, já que ele seria o único capaz de percebê-la naquele momento. Se algum dia decidisse fazer parte de uma das guardas, a Sombra seria sua guarda com toda a certeza.
Quando enfim aquela reunião terminou, ela saiu de seu esconderijo e foi atrás de cada uma das passagens que ouviu durante a conversa.
Pro seu azar, todas estavam vigiadas de certo modo, só faltava a que ficava na prisão. Sem ser notada por ninguém, ela desceu aquele “mar” de escadas, até chegar à prisão. O lugar lhe parecia escuro e sinistro, mas seu desejo de ir à floresta era cem vezes maior que seu medo. Ela começou a procurar pela passagem sem sucesso.
– O que faz aqui menina?
A garota quase deu um salto com a voz que vinha detrás dela, vinda de um homem preso por várias correntes.
– Lhe fiz uma pergunta. Acaso é muda?
– E-eu não sou muda. Só procuro uma saída pra floresta. – respondeu ela recuperando o fôlego do susto.
– Uma saída pra floresta? Mas a floresta não está cheia de contaminados? É bem perigoso pra uma criança.
– Eu não ligo! – disse a menina – Há algo lá que eu preciso buscar.
– Mesmo ao custo de sua vida?
– Sim. – falou ela determinada.
Lance deu um sorriso que causou calafrios na menina, “quem sabe aquela menina não seria a chave para a minha liberdade”, era o que ele pensava.
– Qual seu nome?
– Anya.
– Bom Anya, a passagem que existia aqui na prisão foi totalmente selada. Sugiro que tente as outras.
– Já tentei todas. Todas elas têm pelo menos uma pessoa atrapalhando de eu atravessar sem ser vista.
– Quais que você tentou? – Anya citou todas as passagens que estavam “bloqueadas” – É... você realmente tentou todas Anya. – a garota estava ficando cabisbaixa – Todas, menos uma.
Isso a animou novamente. – Qual? – perguntou ela. Lance apenas sorriu outra vez dando-lhe o silêncio. – Por favor, me diga! Eu preciso mesmo ir à floresta. – implorou ela.
– O que estaria disposta a fazer por essa informação?
A garota percebeu na hora o que ele estava tentando obter, então apenas respondeu: – Se o senhor está aí cheio de correntes é porque fez algo muito errado, então não posso prometer muita coisa.
Lance ficou surpreso com a esperteza da criança, então decidiu obter o que realmente queria mais tarde. – Se eu lhe pedisse uma refeição decente, além de você me contar como foi seu “passeio” a floresta, você faria?
Anya refletiu um pouco sobre o pedido e não achando problemas aceitou com um sinal de cabeça.
– Combinados então, mas, o que você me dá como garantia de que realmente cumprira o nosso acordo?
A menina refletiu mais uma vez, começando a esfregar as mãos e, sentindo o anel que acabara de receber de presente de sua avó mais querida, se decidiu. – Este anel! Ele é muito importante pra mim porque ganhei de uma pessoa que amo muito. – disse ela lhe estendendo a joia com certo receio em entregar, confirmando seu valor para Lance – Definitivamente eu vou voltar pra buscá-lo.
– Ok. Ficarei com seu anel. E além do mais, essa é uma passagem que só você pode usar mesmo, por ser pequena.
– Onde fica.
– No parque do chafariz, escondida entre os arbustos próximos aos fundos da muralha. A passagem é estreita, por isso é necessário ser bem pequeno para aproveitá-la. Você só precisa seguir reto o tempo todo e chegará à clareira da floresta.
– Direto pra clareira!?! – perguntou ela com um grande sorriso, deixando claro para onde da floresta que ela queria ir.
– Exatamente. Ficarei com isso enquanto espero seu retorno. – confirmou Lance colocando o anel em seu mindinho até a metade.
– Feito! – gritou a menina correndo para cima.
Anya deixou o QG e atravessou seu caminho como uma flecha. Chegou ao parque que estava vazio e se dirigiu ao local explicado encontrando a passagem que realmente só daria para uma criança passar. Ela tirou uma pequena esfera de luz que carregava sempre em um dos bolsos e começou a descer. Correu pelo longo túnel, pois quando mais rápido chegasse, mais rápido voltaria.
***
Estava em mais um treino de Absol, junto das aves-gorila com meu cajado preso às costas. Era a minha merecida pausa e Absol foi buscar agua, quando eu senti uma nova presença naquela clareira. Tirei a venda e vi uma menininha saindo do meio dos arbustos, ela vestia uma calça verde escura com uma blusa de manga até os cotovelos do mesmo verde e sandálias marrons. Seus cabelos compridos de um azul pálido estavam presos em um rabo de cavalo e pelas suas orelhas, devia tratar-se de uma elfa ou algo próximo.
– Quem é você? – perguntei. A menina parecia surpresa por haver alguém ali.
– Sou Anya, e você?
– Sou Cris. O que faz na floresta? Não sabe que ela anda extremamente perigosa?
– Sim eu sei. Por isso que eu precisava vir, custe o que custar. – depois de dizer isso ela foi até uma das arvores que rodeavam a clareira, onde havia um buraco entre as raízes, e de lá ela retirou um ovo de aparência meio viscosa (ao menos de longe). – Eu escondi este ovo ali alguns dias atrás. Era pra ficar aqui por no máximo uns cinco dias, mas aí a saída pra floresta foi proibida e eu estou a semanas tentando resgatá-lo. E você, o que faz aqui?
– Eu estava treinando com Absol e alguns amigos dele, estou na minha pausa agora. Já, já eles retornam para me fazer sofrer mais um pouco. – Anya riu com a minha resposta.
Conversamos um pouco, ela me contou sobre o QG de onde vinha e em seguida eu falei de minhas experiências depois de chegar a Eldarya.
– Então você é humana!?
– Sim eu sou e pelo jeito você é realmente uma elfa.
– Sou sim. Você realmente tem um black-dog?!?
– Absol é meu amigo, meu guardião. Às vezes acho que ele me vê como um filhote dele. E eu só descobri sua espécie graças a um felino que conheci ontem. Ele me traz alguns livros desse mundo, mas nenhum em meu idioma o que me atrapalha de saber mais sobre este mundo.
– Se quiser eu posso lê-los pra você. Ou então arranjar alguns na sua língua! Qual seria o idioma?
– Português. Meu idioma original é o português brasileiro.
– Certo, entendi. Então e... – ela esbugalhou os olhos e eu olhei na direção que a fez ficar muda. Era Absol junto dos pássaros-gorila.
– Oi Absol! Vocês demoraram.
– Era contra eles que você estava lutando? – acendi com a cabeça – Você é incrível! Lidar com um black-dog já não é pra qualquer um, e ainda encarando... – ela contava as aves deixando-a ainda mais surpresa – ...CINCO alcopaféis!?!
– Acopa-o-quê?
– Al-co-pa-féis. O nome do tipo de mascote que está de ajudando é alcopafel.
– Alcopafel... e o nome de uma aranha branca mais ou menos dessa altura – ergui a mão até a altura aproximada da aranha mãe – com mais olhos no corpo do que estrelas no céu?
– Hum... pela descrição, parece que são cheads.
– Chead. Ok. Mas acho que é melhor você voltar agora, não é não? Estamos conversando aqui ha pelo menos meia hora e já devem estar preocupados com você não?
– Tem razão. Era pra eu ter ido assim que recuperasse o meu ovo e acabei ficando. Posso voltar aqui para conversar mais com você?
Refleti por instante e acabei respondendo – Pode. Mas com uma condição.
– Qual?
– Que ao menos por enquanto não fale de mim para o pessoal de Eel. – ela fez uma cara estranha e eu expliquei – Sabe o que é? Eu ainda não conheço bem dizer nada sobre Eldarya e eu também não sei em quem posso de fato confiar ou não.
– Tudo bem, mas você terá que me mostrar onde está morando um dia. É uma troca de segredos.
– Fechado! – apertamos as mãos pra confirmar o acordo – Agora vá antes que fique tarde demais.
– Certo. – ela ergueu-se e correu até os arbustos de onde tinha surgido pra desaparecer novamente.
Absol se aproximou de mim enquanto observava Anya sumir, com uma cara que parecia dizer: “isto ainda vai gerar problemas”. – Qual é Absol. Apesar de Anya ainda ser uma criança, ela parece ser confiável. Sabia que ela estava a dias tentando vir especificamente para esta clareira apenas para resgatar o ovo dela? – “tá falando sério?”, era o que a expressão dele parecia dizer – Você a viu sair daqui com um ovo nas mãos, não viu? Pois quando ela chegou estava de mãos limpas. – ele apenas revirou os olhos e começou a andar em direção à caverna com cara que dizia: “vamos pra casa” – Você quem sabe, Absol. – respondi apenas.
.。.:*♡ Cap.11 ♡*:.。.
Lance aproveitava o sanduíche divino (uma vez comparado à gororoba que Karuto lhe preparava sempre em quantia mínima) que Anya havia lhe levado como pagamento pela informação. Essa era a sua terceira refeição decente que ela lhe trazia após visitar a humana da floresta pela terceira vez. Graças à Anya, ele sabia muito mais sobre a tal da Cris do que qualquer outro membro do QG. Sabia que ela treinava autodefesa com o auxílio de mascotes fortes; que se escondia no fundo de uma das cavernas da floresta; que era Absol o ladrão noturno de comida do QG; as vozes que os outros ouviam no meio da floresta vinham dos itens que a humana havia trazido consigo da Terra, e Anya lhe ensinava a verdadeira história de Eldarya além de alquimia, as guardas e seus líderes e outras coisas.
Ele sentia com clareza a presenta da Cris quando ela estava na clareira, mas a presença dela deixava de ser tão nítida na parte da noite, o que muito provavelmente significava que ela estaria na tal caverna. Anya lhe facilitou sobre o sigilo dessas informações com ela mesmo lhe pedindo segredo já que, de acordo com o trato feito entre ela a Cris, Anya precisava guardar segredo sobre ela uma vez que Cris não sabia em quem ela podia ou não confiar. Isso lhe dava oportunidades de tentar fazer dela uma “aliada”.
***
Anya voltou outras vezes (todo dia pra ser mais exato, pelo menos até agora), hoje é o quarto dia depois que conheci Anya, ou seja, 34 dias em Eldarya. Vamos ver se ela vai aparecer hoje de novo.
Ontem, Absol aceitou levá-la até a caverna, ela acabou por me confirmar sobre a aparência de meu “lar”, comparando-o com algum refúgio de fadas ou esconderijo de uma princesa. Mostrei tudo a ela desde meus itens terrestres até os eldaryanos. Ela ficou de boca aberta com minhas roupas e totalmente incrédula quando disse que as mais bonitas tinha sido Absol quem me trouxera. Ainda falando nas roupas, fiquei espantada de descobrir os conjuntos que eu tinha e não sabia, além dela me mostrar como vestir algumas peças, segundo ela, seus conhecimentos em vestuário eram graças às vezes que acabou ajudando uma purreko chamada Purriry, que era dona de uma loja de roupas dentro de Eel.
Expliquei como foi que “adquiri” os meus móveis e ela me explicou o que era cada coisa que Absol e as cheads (sim, aprendi o nome certo delas, mas ainda as chamo de aranhas às vezes. Nunca vou esquecer a cara que Anya fez ao reparar na quantia que havia delas ali. _risos_), fiquei meio irritada quando descobri que Absol estava roubando a comida terráquea do QG, ainda mais depois de descobrir que a comida da Terra era racionada porque era difícil de obter já que a comida da própria Eldarya não era nutricionalmente saudável (bem que notei que as frutas daqui não me saciavam direito).
Entre os livros que ela conseguia ler, havia um de alquimia para iniciantes e outra também de alquimia só que para mulheres (poções para cabelo, anticoncepcionais, contra cólicas, cuidados com a pele etc.), um que explicava em detalhes sobre cada raça faery existente em Eldarya e outro sobre mascotes. Dentre os que ela não conseguia, havia dois que ela afirmou estarem na “língua original” e como ela ainda estava começando a aprender essa língua, não teria como me ajudar muito com eles (se bem que alguma coisa me dizia que aqueles dois não eram pra ser mostrados a qualquer um).
Quando eu comecei a rezar o meu terço junto ao Cristal Vivo, ela pareceu hipnotizada por ele. Não desgrudava os olhos de seu brilho e olhava com ainda mais atenção à figura em seu centro. Assim que terminei de rezar, ela me pediu o cajado para poder ver melhor o Cristal, sei que ela sussurrou uma palavra que não consegui entender direito.
– Como é que é? – perguntei recuperando o cajado.
– O Oráculo! A figura dentro desse cristal é igualzinha à nossa falecida Oráculo!
– Como assim? O que você está querendo dizer? Quem é... foi essa Oráculo? – foi quando ela me falou sobre o Sacrifício Azul que deu origem à Eldarya e o Grande Exílio (pera! Os faerys nasceram na Terra?! E foram os humanos que os expulsaram?! Cada vez fico mais decepcionada com os humanos do passado...). Pobre Oráculo, e coitada dessa tal Erika que estava mantendo um mundo inteiro em pé no lugar dela. Me pergunto se há um motivo maior para estar em Eldarya depois dessa historia.
Anya ainda comentou que a maana que eu emitia enquanto rezava também lhe parecia estranha, muito agradável e confortável, mas ainda estranha (maana?). Como ela reparou minha expressão de quem não entendia do que se tratava, ela me explicou sobre a maana e como ela era utilizada em Eldarya.
Depois de tantas explicações resumidas, Anya decidiu que seria minha professora de eldaryano e alquimia. Achei graça, mas definitivamente aceitei e Absol pareceu concordar com a ideia também, pelo abanar da cauda. E depois do choque que tive ao ouvir o elogio dela sobre o pêlo de Absol... aí que eu precisava mesmo de aulas sobre Eldarya (ela elogiou o pelo Negro de Absol! E eu sempre o enxerguei Branco! Tanto que resolvi tirar uma foto com o meu celular pela primeira vez, e não a-cre-di-ta-va nas divergências que eu via), nem ela acreditou quando eu revelei que o quê eu enxergava com meus olhos era diferente do que estava diante deles.
Absol e algumas cheads a acompanharam até a passagem da clareira quando o sol ameaçava a começar a se pôr (sozinha que eu não a ia deixar andar naquela floresta, ainda mais anoitecendo) e eu fiquei pra trás para arrumar a nossa “bagunça”. Enquanto arrumava tudo, pensei em um jeito de organizar o nosso tempo juntas, hoje vou ver se ela aceita. Achei melhor dividir nosso tempo em três partes: de manhã eu treinaria luta com Absol e os outros mascotes já que ela sempre chegava mais ou menos no meio (que passaria a ser final) do treino; depois, para que eu pudesse descansar um pouco, eu iria lhe mostrar um pouco das coisas e mídias que tinha da Terra comigo (por causa dela ter comentado querer saber mais sobre elas); e depois ela me daria às aulas sobre Eldarya e alquimia. Tomara que ela concorde.
.。.:*♡ Cap.12 ♡*:.。.
– Com licença, senhorita Erika. – falou uma mulher elfa do refúgio aproximando-se de Erika – Acaso a senhora viu minha filha? É uma menina mais ou menos desta altura, – ela vez o gesto com a mão – pele clara e cabelos bem compridos, quase da mesma cor que os meus. Seu nome é Anya.
– Sinto muito, mas não a vi. Há algum problema com ela? – Erika perguntou ao perceber a aflição daquela mãe.
– Espero que não...
– O que aconteceu?
– É que... já faz sete dias que ela some de manhã e só reaparece quando está anoitecendo. Pergunto-lhe onde ela estava e ela sempre diz que com uma amiga. Mas eu já perguntei a todos os amigos dela e pessoas de Eel, e todos dizem não saber de Anya. Estou meio preocupada...
– Hum... é mesmo um pouco estranho. Vou ver se acho alguém disponível para ajudar a encontrá-la. – respondeu Erika tentando confortá-la.
– Muito obrigada Erika.
***
– Porque você não quer me deixar ver esse tal de Hellsing Ultimate? – perguntou-me Anya quando ela me pediu para ver aquele animê agora.
– Porque você ainda é inocente demais para este tipo de animê! – respondi. Fiquei impressionada com o nível de pureza das crianças de Eldarya. Ainda bem que lhe perguntei se ela sabia como que um bebê nascia, ela não tinha ideia! E eu é que não ia destruir essa inocência já praticamente perdida na Terra.
– Ah, qual é! Eu já sou bem crescida sabia.
– Considerando que você nem sonhava como que uma criança nascia, é óbvio que o conteúdo desse animê aí é um pouco pesado demais pra você. Ele é até mesmo contra indicado para menores de idade na Terra!
– Por favor... deixa vai.
– Olha, os animês que coloquei nas pastas +18 e +16 são todos animês que não te deixarei assistir ainda, terá que se contentar com os das outras pastas ou deletarei essas duas pastas do meu not!
– Ei! Mas isso não é justo!
– A decisão é sua.
Ela não gostou muito, mas acabou por começar a assistir Hantaro ao invés do Hellsing. Ela ia virar uma semi-otako que nem eu, Anya já tinha até começado a pular as aberturas e encerramentos para conseguir assistir mais episódios até minhas aulas de alquimia e eldaryano começarem! E ela nem precisava se preocupar com legendas, assistia entre 6 e 8 episódios por dia. Aprendeu japonês com os kappas, me pergunto se eles me ensinariam também...
Minha mesa parecia pertencer há algum tipo de laboratório e com a ajuda de Anya e dos livros de alquimia, já sabia preparar algumas poções de cura e cosméticos (os que eu trouxe da Terra já acabou há dias!) e já compreendia melhor sobre a criação de Eldarya. Enquanto ela assistia os animês, eu comia um pouco (ela comia enquanto assistia mesmo), arrumava as coisas de minha aula e depois montava o meu próprio livro sobre Eldarya (vocês se lembram do “caderninho” que eu trouxe da Terra, não é?), onde comecei falando sobre a criação de Eldarya e os motivos dela ter sido criada, passando depois para as raças faerys, seguido dos mascotes, também decidi que colocaria as receitas das poções que mais me ajudaria (mas pra esses precisava que Anya me devolvesse o not, pois sempre fui ruim para memorizar coisas complicadas e não queria arriscar uma explosão por conta de algum erro pequeno. Porque eu precisava do not? Eu escrevia o que Anya me traduzia nele para ser mais rápido).
Eu estava copiando os desenhos dos mascotes em meu “livro” do livro sobre mascotes que ela ia me traduzir em seguida. Eu não os copiava tão bem quanto gostaria, mas Anya disse que eu desenhava muito bem (Oh horror que é ser perfeccionista!).
Quando finalmente acabou sua cota de episódios do dia, minhas aulas começaram.
Ah! Sobre a história de enxergar algumas coisas de forma diferente (como no caso do Absol, por exemplo), Anya sugeriu que talvez eu pudesse ser uma faeliana (meio humana, meio faery), sendo estas divergências algum tipo de dom meu que só se manifestou depois de chegar a Eldarya. Ela disse que existe uma poção capaz de comprovar isso e que tentaria obter a receita. Confesso que essa teoria me atrai... e me assusta também.
.。.:*♡ Cap.13 ♡*:.。.
Anya estava no parque do chafariz mais cedo que o de costume, olhava para todos os lados, e o parque estava vazio. Ou era o que pensava...
– Onde pensa que vai senhorita?! – perguntou uma mulher fazendo-a gelar por um instante. Virou devagar para ver que a voz pertencia à Erika.
– Bo-bom dia, Erika. – respondeu Anya nervosa.
– Booom dia. Você é Anya, não é?
– Ham, sim. Me chamo Anya sim... O quê a senhora deseja? – Anya tinha receio no tom de voz.
– Desejo saber pra on...
– ERIKA!!! – uma terceira voz chamou a atenção das duas.
– Nevra? Finalmente! Já estávamos todos preocupados! Onde estão Chrome, Elina e Bell? – disse Erika enquanto Nevra terminava de se aproximar, apoiando uma das mãos sobre o ombro dela para recuperar o fôlego. Anya resolveu aproveitar a oportunidade e principalmente que Nevra não a percebera.
– Bell está levando Elina pra enfermaria; Chrome ficou pra trás por precaução; acho que só temos mais cinco dias até a chegada do exército humano, no máximo, e precisamos reunir a Reluzente urgente para eu repassar o que descobrimos. – respondeu Nevra. Anya andava de costas com extremo cuidado sem deixar de prestar atenção às palavras do líder vampiro. Pois sabia que também a afetaria.
– Nevra, você está me assustando. O que foi que lhes aconteceu? – Perguntou Erika preocupada, sem perceber Anya desaparecendo por entre os arbustos.
– Me ajude a reunir a Reluzente o mais rápido possível e saberá. – disse ele sério.
– Certo. Então An... – Erika finalmente percebeu o sumiço de Anya – Anya? Onde você está?!
– Qual o problema?
– Anya! Ela estava aqui agora mesmo... e sumiu!
– É uma menina elfa de cabelos azulados? – Erika concordou com a cabeça ainda a procurando com os olhos – Ahff! Não temos tempo a perder com aquela elfinha escorregadia! – declarou ele irritado.
– Conhece ela?
– Sim. Não vejo a hora de ela crescer e fazer parte da minha guarda, que é onde tenho certeza que ela vai se encaixar. Mas agora temos que reunir a Reluzente, já!!
***
Anya chegou cedo dessa vez, e com cara de quem correu uma maratona.
– O que aconteceu com você Anya? – perguntei desviando de um golpe no último segundo e removendo a venda em seguida. Normalmente Absol me repreenderia por deixar o treino assim, mas ele parecia tão preocupado com Anya quanto eu.
– Nevra... ele finalmente... exército... cinco dias...
– Calma! Sente, respire e explique direito.
Ela sentou sobre uma das pedras da clareira, respirou umas três ou quatro vezes, e falou: – Nevra que foi atrás de informações sobre o exército humano, chegou agora a pouco.
– E... – disse oferecendo a ela minha garrafa d’água, com ela tomando um gole.
– Eu não pude ouvir muita coisa porque Erika quase descobriu a passagem do chafariz e eu aproveitei que Nevra a distraiu para vir. Parece que o exército humano vai chegar em Eel em cinco dias no máximo. – ela tomou outro gole de agua – Alguém se machucou e Nevra parece desesperado para reunir a Reluzente e repassar o que descobriu.
Já esperava coisa ruim ao vê-la daquele jeito, mas não esperava por isso. E agora que me toquei! Esse exército humano está usando armas brancas ou... Ai. Prefiro nem pensar.
– Acho melhor irmos à minha morada agora, não concorda Absol? – Absol fez um positivo com a cabeça e pediu para os alcopaféis e crowmeros irem embora (sim, estava enfrentando adversários por terra e por ar, e sim, com os olhos vendados. Eu já falei que Absol às vezes me parece um tanto sádico?) e seguimos em direção à caverna.
Caminhamos em silêncio até a caverna, chegando lá dentro, eu sentei Anya em um dos bancos de pedra com almofadas (que eu mesma costurei) de estofado e comecei a falar.
– Deixa eu ver se eu entendi direitinho... – Anya me observava – Você estava a caminho da passagem que te levava até a clareira, mas Erika acabou te surpreendendo, correto? – olhava para ela que me confirmou com a cabeça, continuei – Para a sua sorte, o tal Nevra que havia viajado pra espionar os exércitos humanos chegou, lhe dando uma chance pra fugir, certo? – mais uma vez, ela assentiu. Continuei – Mas antes de você entrar na passagem, você o ouviu dizer que alguém acabou ferido e que o exército chegaria aqui em uns cinco dias, é isso?
– Quanto a essa parte, tem mais.
– Mais o que?
– O grupo que foi os espionar era de quatro pessoas, uma ficou pra trás para continuar espionando enquanto outra ficou ferida, como eu não sei. Nevra parecia desesperado para repassar o que descobriu durante esse tempo.
– Olha, eu até tenho medo de pensar, mas acho que sei aos menos uma parte do porque desse Nevra estar desesperado.
– Você sabe?!? – assenti com a cabeça – E qual é?!
– Armas de fogo.
– Armas de fogo? Tá certo que o fogo é perigoso, mas porque armas feitas de fogo causaria uma grande preocupação?
Revirei os olhos. – Não são armas de fogo, e sim armas com poder de fogo – às vezes Anya era lenta...! – Você viu exemplos quando assistiu Black Cat e Versailles no Bara.
– Mas... uma armadura completa e grossa não seria o suficiente para encará-las?
Jesus, me ajude aqui, por favor. – Se fosse como as armas antigas, até que esse seu método poderia funcionar. Maaas, infelizmente, os seres humanos se aprimoraram muito na “arte” da destruição. Os exemplos que você viu em meus animês até agora, são coisa de criança se comparado ao que se tem nos dias de hoje! – acho que agora ela entendeu de verdade, pois quando terminei de explicar, ela ficou boquiaberta e de olhos arregalados.
– Então... – começou ela – ...você está dizendo que só um daqueles humanos pode ser capaz de... – ela engoliu seco – ...destruir vários faerys?
Eu sentei em minha poltrona, cansada psicologicamente e com um longo suspiro – Sim. É possível.
Agora Anya realmente entendeu de verdade, ela estava claramente assustada. Talvez tanto quanto Nevra. Eu posso não conhecer o pessoal de Eel, mas me importo com Anya e acho que tenho um pouco de compaixão com aquela gente também. Tenho que dar um jeito de ao menos atrapalhar esse exército ainda na floresta.
– Anya... – minha voz soou cansada e preocupada (o que de fato eu estava) – ...acho melhor cancelarmos minhas aulas por um tempo. As coisas aqui podem ficar bastante feias e é melhor você ficar dentro das muralhas de Eel, onde deve ser mais seguro.
– Aaah não! Depois do que você me disse, agora que preciso mesmo lhe ensinar alquimia. Ainda temos cinco dias!
– Ei pensei ter ouvido que tínhamos no máximo cinco dias. E nisso já estou contando hoje.
– Por favor, me deixe ensiná-la por mais três dias então. Eu até deixo de assistir os animês pra me dedicar às suas aulas, mas deixa, vai. – ela implorou. Eu realmente não estava me sentindo confortável com isso, e pela expressão de Absol... nem ele.
Mãe, nos cubra com teu manto, por favor. – Três dias! – acabei por ceder porque sei que ela ia acabar vindo mesmo – Já contanto por hoje, e depois de amanhã é o último dia que você bota os pés nesta floresta. Até esse exército ter se mandado daqui! Aceita?
– Comecemos a aula! – disse ela correndo pegar o livro de alquimia com um sorriso enooorme, e eu fui preparar o not para escrever as novas receitas (e já separar as de cura, que sinto que irei precisar).
.。.:*♡ Cap.14 ♡*:.。.
– 250 soldados que valem por 10? Cada um?! E armados até os dentes com armas de fogo?! – Miiko não estava aceitando bem as noticias trazida por Nevra.
– E ainda por cima carregando bombas e misseis de curto alcance?! – completou Erika as “ótimas” noticias.
Nevra apenas assentiu com a cabeça, deixando todos os presentes assustados e nervosos.
– Isso realmente não é bom. – disse Valkyon observando um mapa – Pelo menos eles estão vindo por terra, podemos tentar algo na floresta. E posso parecer frio agora, mas os contaminados que vem aparecendo, podem acabar nos sendo de grande ajuda nessa situação.
– Valkyon! Como pôde?! – indignou-se Erika, soldando-lhe o braço que segurava.
– Você vai ter que me desculpar Erika, mas o que o Valkyon disse tem bastante lógica. – comentou Ezarel com um sorrisinho malicioso.
– Até você Ezarel! – Erika estava se irritando.
– Erika, – intercedeu Miiko – eu sei o quando você se importa com as vidas dos outros, especialmente agora que apareceu um meio de recuperar os faerys contaminados. – Miiko tentava soar neutra, mas ainda tinha medo em sua voz – Porém precisamos usar tudo o que for possível utilizar.
– Aaahff! – Bufou Erika se apoiando em uma das colunas de braços cruzados e cara amarrada. – Só espero que não cometam erros irreparáveis por causa do medo! De novo. – as últimas palavras só foram ouvidas por Nevra e Ezarel, que tinham as audições mais sensíveis, fazendo-os ficarem cabisbaixos.
– Eu só espero que Chrome e Elina fiquem bem. – comentou Bell, uma das que participaram da missão de espionagem.
– Talvez tenhamos mesmo que evacuar Eel através dos túneis subterrâneos. – apontou Kero.
– É. Talvez. – Erika ainda estava irritada.
A reunião levou horas.
***
– Acho que já está dando a sua hora Anya. – falei quando comecei a dar falta da luz natural.
– Mais já? Nós nem fizemos nada ainda!
– Nada ainda?! – disse rindo – Nós produzimos 25 frascos de poção cicatrizante, 15 analgésicas e 10 soníferas que só durante o preparo colocou meia dúzia de cheads pra dormir. Ou seja, nós duas sozinhas criamos 50 poções e me diz que não fizemos nada?
– Tem certeza dessas suas contas? – ahff, até Absol revirou os olhos.
– Tenho. E você vai pra casa, agora!
– Tá legal, né. – respondeu terminando de engarrafar a última poção, depois de finalmente organizar todas as ervas e ingredientes trazidas pelas cheads.
– Absol, por favor. – Absol, que estava deitado, levantou se alongando para poder acompanhar Anya. Ultimamente nem estou precisando dizer o que eu quero e Absol já começa a fazer, como se ele lê-se os meus pensamentos. Com os dias complicados que estavam vindo, isso seria de grande ajuda.
Anya, Absol e algumas aranhas, deixaram a caverna e como sempre eu fiquei arrumando as coisas.
Quando Absol retornou, decidi compartilhar com ele e as cheads algumas ideias que tive para proteger a floresta e a caverna enquanto arrumava tudo.
Iríamos espalhar armadilhas, algumas armadilhas simples, reforçadas com as poções de sono, usando as teias das cheads, e encheríamos os corredores da caverna com tantas teias que fariam até as sombras ficarem com receio de entrar (assim espero). Minhas ideias acabaram sendo aceitas, já que quase na mesma hora que terminei de falar, todas as aranhas começaram a trabalhar nos corredores.
Agora estava um pouco tarde e não tínhamos muita poção do sono. Então as armadilhas ficariam para amanhã (e ainda tinha que conferir as condições das armas que tinha disponível... Deus nos proteja).
.。.:*♡ Cap.15 ♡*:.。.
– Concordo com a Cris, você não devia mais voltar à floresta. Estou surpreso que a tenha convencido a lhe permitir voltar por mais três dias. Dois, porque hoje já se foi. – disse Lance para Anya enquanto se deliciava com um rico prato de sopa acompanhado de meio pão fresco.
– Mesmo ela tendo Absol e aquelas montanhas de cheads com ela, eu não podia deixá-la sem conhecimentos de defesa ou cura! Ainda mais depois de entender o quão perigoso aquele exército humano pode ser.
– Por isso mesmo... – ele mastigou um pedaço do pão – ...os humanos podem chegar antes do prazo de 5 dias. – Anya apenas deu um suspiro de desabafo e Lance continuou – E por sinal, você ainda não conseguiu a receita do teste pra faeliano dela?
– Ainda não. – respondeu ela apoiando-se sobre os braços apoiados nas pernas – Ezarel praticamente não sai do laboratório quando estou no QG. Não estou conseguindo nem me aproximar do livro, quanto mais obter a receita.
– Não é pra menos. Até eu, que estou preso aqui embaixo, pude notar que as coisas lá em cima estão bem agitadas. – Lance terminava de esvaziar o prato – Tem sobremesa?
Anya deixou escapar um pequeno riso, retirou de seu bolso um pequeno bombom colorido que estava guardando para mais tarde e o estendeu para Lance. – É pegar ou largar! – respondeu ela.
Lance pegou o doce ao mesmo tempo em que entregava o prato vazio e a colher para Anya. Ele a agradeceu com um sorriso.
– Porque você se recusa a ajudar? Quando os humanos atacarem, você também não vai estar em perigo? – Lance ficou impassível e em completo silêncio – Ai, não sei por que te perguntei isso. – ele ficou a observando retirar-se – Até amanhã moço! – despediu-se ela correndo.
Por mais que Lance detestasse aquele lugar e sua gente, ele era obrigado a concordar que, quando os humanos atacassem, uma vez conseguindo invadir o QG, ele podia correr o risco de ser morto. E o desejo de Lance era ser livre.
***
Acordei com Absol me chamando. Droga, eu queria dormir mais! Deu trabalho abrir os olhos (acho que a poção do sono acabou me afetando) e quando consegui olhar pra frente, uma enorme quantidade de ingredientes para poção do sono estava diante de mim! (parece que não fui a única a prestar atenção nas aulas de alquimia) Todas só esperando para serem preparadas. Levantei na hora para poder por a mão na massa.
Apesar de ser o segundo dia de nosso acordo, não fui à clareira para buscar Anya. Absol buscou-a sozinho.
– Porque é que você não foi treinar com a espada hoje Cris? E porque as cavernas estão tão cheias de teias? Senti calafrios ao atravessá-las.
– Estava ocupada fazendo mais poção do sono para umas ideias que eu tive; e se você sentiu vontade de dar o fora enquanto vinha pra cá, quer dizer que minha ideia para defender este lugar está funcionando.
– Acho que nem mesmo um maluco teria coragem de entrar nessas cavernas do jeito que estão. E que ideias são essas que envolvem tanta poção? – Anya aproximou-se para ajudar.
– Absol, as cheads e eu iremos montar armadilhas na floresta! A poção é para impedir os “felizardos” de pedir socorro ou alertar os outros.
– Hum... até que é uma boa ideia. Quando vão fazê-las?
– Assim que terminar as poções.
– Posso ajudar a montá-las também?
– Bem. Acho que é melhor que pelo menos uma pessoa de Eel saiba delas, não é?
– Sim. É sim. – disse Anya entre risos.
Ficamos preparando as poções por umas duas ou três horas, enchendo pequenos frascos redondos muito frágeis que colocávamos com todo cuidado dentro de cestas com folhas, para que pudéssemos carregá-las com mais segurança. Finalmente terminadas as poções (um total de 56 bombinhas para dormir _risos_) partimos em direção à floresta (notei que as cheads realmente fizeram um ótimo trabalho, ui!).
Cavamos alguns buracos com fios de teia próximos para garantir a queda da vítima, a bombinha, ficou pendurada entre os galhos e folhas que ocultavam o buraco. Como a poção era mais poderosa na forma gasosa, era só quebrar para o “sortudo” se abraçar com Morpheus.
Também colocamos redes de teias (essas tinha mais bombinhas) e alguns laços. Anya era boa nesse tipo de coisa, e Absol avisava a todas as mascotes que encontrávamos sobre as armadilhas e estes repassavam para os demais (acho que até os mascotes de Eel vão ficar sabendo das armadilhas assim). Devia ser umas 3hs ou 4hs da tarde quando as poções acabaram. Decidimos voltar pra caverna.
Chegando à entrada da caverna, o Cristal Vivo começou a brilhar em minhas costas (não tô com um bom pressentimento).
– O que foi? – perguntou Anya – Porque seu cristal começou a brilhar?
– Eu não sei, mas seja lá o que for... vai acabar tudo bem. – respondi-lhe dando o sorriso mais tranquilizador que podia.
Continuamos em frente e nossa! Como aquelas teias estavam me dando arrepios! Jesus, Maria e José! Foi quase entrando em meu abrigo que eu vi a causa do Cristal ter se manifestado e de eu ter tido um mau pressentimento. Uma sombra. A vítima era um senhor de idade, ela estava agachada próxima à parede do outro lado da caverna de costas para a entrada e pude ver que o senhor possuía um corte que parecia sério.
– Anya, – sussurrei – fique aqui perto de Absol até que eu diga que é seguro.
– Mas por quê? – ela me perguntou também sussurrando. Como resposta, apenas apontei para a sombra. Ao vê-la, Anya tapou a boca com as duas mãos para prender o grito e eu comecei a entrar devagar com ela esperando escondida.
Como sempre, o Cristal Vivo me “possuiu”, seu brilho começou a me envolver e eu a cantarolar seja lá o que for enquanto que, dentro de mim, só rezava ao Senhor pra que tudo aquilo acabasse logo e para que o senhorzinho estivesse bem. Mais uma vez a sombra ficou com medo de mim, e parecia um tanto fraca se comparada às outras que encontrei antes (será que era por causa do ferimento do velho?). Prossegui como sempre, a sombra foi absorvida pela corrente, que se transformou em cristal, que liberou aquela fumaça negra até ficar branco e se fundir ao Cristal, deixando apenas o velho ferido diante de mim.
– Já pode vir aqui Anya! – a chamei.
Anya se aproximou devagar com as mãos ainda cobrindo a boca e ao ver o ferimento daquele velho cuja raça sabia que conhecia, mas não lembrava o nome (sabe a criatura que treinou Hércules no desenho da Disney ou que era amigo e guardião do Percy, de Percy Jackson? Há! Lembrei o nome. Sátiro!), ela correu até as poções de cura e venho até mim com duas delas. Uma ela me pediu para fazê-lo engolir (pra isso eu lhe ergui a cabeça deixando a garganta reta e tampei-lhe o nariz, derramando a poção devagar,) enquanto ela passava a outra sobre a ferida.
Rapidinho tudo começou a se cicatrizar e a respiração do velho sátiro começou a se acalmar (pois estava acelerada). Eu ajeitei o senhor deitado no chão e Anya colocou bandagens para proteger os ferimentos que levariam um tempinho para terminar de curar.
– O que foi tudo aquilo lá atrás? O que você fez daquele fragmento contaminado? – perguntou Anya depois de terminar tudo.
– Como é que é?
– Este sátiro! Ele estava contaminado com um fragmento corrompido do Grande Cristal, já vi fragmentos contaminados antes. E você só não o fez voltar ao normal como também removeu o pedaço do corpo dele. O que esse seu Cristal fez com ele?
– Acho que estamos com novas divergências aqui...
Expliquei a ela como exatamente eu enxergava aquela sombra, com todos os detalhes que podia lembrar deixando ela boquiaberta. Depois foi a vez dela falar o que ela enxergou, ficando eu boquiaberta dessa vez. De acordo com a visão dela, a sombra era a criatura (se eu já achava a sombra medonha, imagina se eu a enxergasse da mesma forma que ela me descreveu: pálida, cheia de veias negras espalhadas pelo corpo, garras e chifres negros cumpridos, olhos vermelhos como se estivessem em chamas... Ui! Senti até um calafrio!). Já o cristal, continuava sem explicações.
– Desculpe...
– Pelo o quê Anya? – perguntei deixando o velho descansar.
– Por não ter conseguido a receita do teste para confirmamos se você é mesmo uma faeliana ou não...
– Anya, saber se eu sou 100% humana ou não, é o menor de nossos problemas no momento. Relaxa!
– Eu sei, você tem razão, mas... eu realmente queria poder entender esse seu poder. Saber como ele... Tive uma ideia!
– O que é que você vai aprontar? – acabei perguntando ao vê-la disparar para as ervas e itens que carregava para a mesa e começar algum tipo novo de poção. – Ei Anya, o que você está fazendo aí?
– Já, já você descobre. – ela respondeu. Decidi apenas esperar em silêncio pela “ideia” que levou uma hora pra ficar pronta. Quando terminou, ela retirou toda a roupa (Absol chegou a ficar de costas para Anya) e bebeu aquela coisa.
Aos poucos ela pareceu estar sofrendo com algo e uma espécie de vulto começou a se formar ao redor dela. Aquilo era estranho e estava começando a me assustar. Terminado finalmente seja lá o que for que aquela poção devia ter feito, Anya flutuava envolta por aquele vulto que tomava uma silhueta estranha.
– E aí? Como eu pareço pra você?
– ... Deixa eu pegar a câmera um minuto. – tirei-lhe a foto com meu celular e acabei por arregalar os olhos com o que tinha fotografado. Uma espécie de mulher-gafanhoto adulta com asas de fada/ninfa, não sei, e olhos ovais pontudos como dos alienígenas dos filmes antigos. Olhei da foto pra ela e vice-versa várias vezes antes de falar – Mas o que foi que você bebeu?!?
– Me deixe ver a foto e me diz como é que você está me enxergando. – ela me pediu e eu expliquei como que a enxergava. – Interessante, parece que você consegue de alguma forma filtrar a imagem dos seres que estão a sua frente... te deixando ver apenas a verdade sobre o que está diante de você.
– Legal! Isso é bem interessante, mas no que foi exatamente que você se transformou?
– Em uma Batta nojosei.
– Uma o quê?!
– Batta nojosei, é uma espécie de fada. Normalmente elas pesam no máximo uns 50Kg e são capazes que carregar até 5x o seu peso, além de poderem voar por até 16hs seguidas carregando este peso.
– Legal! Ser uma Batta nojosei teve ser bem vantajoso, quero dizer, exceto quando precisa usar as mãos. No caso as patas! – ela concordou gargalhando e eu ria também – Essa poção é permanente? – perguntei enfim.
– Não. Normalmente esta poção dura no máximo 24hs, e eu a preparei de modo que só dure algumas poucas horas.
– Entendi. – Absol começou a reclamar ainda de costas e eu entendi na hora o que ele queria dizer. Corri pro meu guarda-roupa.
– O quê está fazendo?
– Procurando uma roupa pra você. Não acho que as que estava usando antes lhe servirão agora.
– Tem razão, não pensei nisso na hora.
Peguei um vestido azul claro de alcinhas longo e a ajudei a vesti-lo. Me guiei pelo vulto ao redor dela para ajudá-la, depois peguei fitas e cordões para amarrar nas alças e na cintura do vestido.
– Mas o que é que você está fazendo?
– Dando um jeito de o vestido continuar te servindo mesmo depois de voltar ao normal, ou quer arriscar a ficar nua por causa de um vestido grande demais?
– Isso não!
– Pois bem. – eu prendi a fitas às alças do vestido de modo que Anya só precisaria puxar as pontas a frente do corpo para juntá-las e acertar o tamanho no busto. E o cordão à cintura ficaria responsável por acertar o comprimento. – Acho, que agora está tudo ok. – disse ao concluir meu trabalho.
– Concordo. – conferia Anya – Eu devia é voltar agora...
– Pois é. E com seu tamanho atual é melhor usar a porta da frente!
– Tem toda a razão de novo.
– Aproveita e leva também o sátiro pra Eel! Não tenho condições para cuidar dele...
– Certo. Faço isso. Pode me ajudar a pegá-lo?
– Claro. – eu a ajudei e ela parecia carregá-lo como se fosse uma criança de colo. Definitivamente ela estava mais forte agora.
Durante o percurso da caverna, ela me perguntou se eu a autorizava a falar de mim pra mais alguém por conta da situação (ela já conversava sobre mim com um tal de amigo secreto); refleti um pouco e disse que se fosse para uma pessoa de extrema confiança dela, eu deixava. Ela sorriu em agradecimento. Alcançando o lado de fora, ela partiu voando (atravessar a floresta devia ser mais seguro assim) e eu fiquei rezando por sua segurança, mas... algo me encucava. Como foi que aquele senhor conseguiu aquela ferida?
.。.:*♡ Cap.16 ♡*:.。.
Anya Batta nojosei entrou em Eel voando acima da Grande Porta, surpreendendo os guardas que vigiavam. Ela voava direto para o QG com o velho sátiro e alguns membros das guardas a seguindo. Passando a entrada da sala das portas começou a ter uma estranha sensação, o efeito da poção estava acabando. Ela voltou ao normal logo depois de deixar o senhor deitado em uma das macas da enfermaria. Ajeitou o vestido como a Cris havia lhe explicado para fazer até colocar roupas de seu tamanho. Saindo da enfermaria, foi surpreendida pela Reluzente.
– Será que a senhorita poderia nos explicar onde e o quê esteve fazendo até agora e como você encontrou aquele sátiro?? – começou Erika com todos os líderes observando Anya nervosos. Foram para a Sala do Cristal.
Dentro da Sala, Anya não disse nada, apenas abaixou a cabeça como se fosse chorar. Nevra que era o mais próximo da menina naquele meio, aproximou-se.
– Anya, será que poderia ao menos contar pra mim o que aconteceu? – perguntou ele.
Ela apenas sussurrou um talvez sem levantar a cabeça. Sussurrou tão baixo que só o Nevra conseguiu ouvir, fazendo-o dar um de seus sorrisos mulherengos. – Deixem-me falar com ela. – disse Nevra para os demais.
– O que é que você pretende fazer?! – questionou Miiko receosa com aquele sorriso.
– Apenas conversar. – respondeu ele se afastando com Anya para um dos cantos da sala.
Eles conversavam tão baixo que Ezarel, por conta da distância, não conseguia ouvir direito. Leitura labial estava fora de cogitação! Além de Anya estar de costas para eles, estava na frente do Nevra que havia se abaixado para alcançar a altura dela.
Anya contou quase tudo para Nevra. Ocultou apenas seus encontros com Lance, como chegava na floresta e o poder de ver a verdade da Cris. Terminada a conversa, Nevra ergueu-se e se aproximou dos outros que estavam ansiosos com Anya.
– Acho que não precisamos nos preocupar com a floresta por enquanto. – falou Nevra.
– Como é? – perguntou Ezarel.
– Parece que estamos recebendo uma ajudinha da humana que está vivendo na floresta. – Respondeu Nevra.
– Espera! Está me dizendo que Anya estava na floresta?! – perguntou Erika.
– E junto da humana?! – completou Miiko.
Nevra assentiu com a cabeça e Anya se escondendo atrás do vampiro, deixando todos boquiabertos. – Eu disse que essa menina vai acabar fazendo parte da Sombra, Erika.
– Por mim ela já fazia os testes de guarda agora. – comentou Valkyon.
– Valkyon! Ela ainda é uma criança! – criticou Erika.
– Já aviso que não serei babá de ninguém! – reclamou Ezarel.
– Ao que parece, a Cris... – Nevra retornava ao assunto observando Anya que lhe assentiu para continuar – ...só não veio para Eel ainda, pois não tinha certeza se podia ou não confiar em nós.
– E porque isso? – questionou Miiko.
– Talvez seja por causa dos protocolos de segurança... – comentou Erika recordando a sua chegada à Eldarya, fazendo Miiko revirar os olhos e os líderes darem pequenos risos.
– Concordo com você Erika. – disse Nevra com alguns risos ainda – Pressa que não ia poder nos ajudar.
Terminaram a reunião um pouco depois e Nevra acompanhou Anya até sua casa, onde ela ficou ouvindo horas de sermões de sua mãe. Só se sentiu mal por não ter ido falar com Lance. Deixou para vê-lo no dia seguinte, com um desjejum reforçado para compensá-lo.
***
Sentia falta de casa. Mas em que hora que eu vim parar nesse mundo, hein! Já foram nem sei mais quantos dias direito, 40? (por causa da falta de sinal tanto meu celular quando o meu not estavam começando a dar a louca no calendário.) Ainda bem que decidi marcar em uma das colunas que, quando esquecia de marcar, Absol era avisado e ele mesmo marcava pra mim. Até as reclamações repetitivas que me esquentavam os ouvidos de minha mãe estavam me fazendo uma grande falta agora. Absol apoiava a cabeça em meu colo, como que me reconfortando, e eu lhe acariciava. Pensava no quanto eles deviam estar preocupados comigo. Rezava para que todos estivessem bem e para que um dia pudesse retornar para Terra (nem que fosse uma visita rápida!).
Me preparei para mais um dia de treino (o último na clareira e apenas porque Anya viria mais hoje,) acompanhada de Absol e algumas cheads. Todos os outros mascotes pareciam ter evaporado da floresta depois que a noticia das armadilhas se espalhou. Mas mesmo assim... estava tudo quieto demais pro meu gosto.
.。.:*♡ Cap.17 ♡*:.。.
Anya foi sorrateira para se encontrar com Lance. Ele estava claramente irritado com ela por não ter aparecido no dia anterior, mas as torradas com geleia ou mel, os sanduíches de frios, o leite e o suco, mais as castanhas e frutas o acalmou.
Lance pareceu não gostar muito da ideia de ela se unir as guardas (na verdade ele odiou, mas tentou se contiver) e achou interessantes as armadilhas com poção do sono (na opinião dele, elas podiam ter usado veneno no lugar). Alertou-a para tomar cuidado e se fosse possível, aparecesse para conversar mesmo com ela não indo mais a floresta por causa dos humanos (Lance ainda a considerava essencial para escapar, por isso fazia o possível para garantir a confiança de Anya). Despediram-se, e Anya correu para a passagem do parque. Chegando à clareira, não avistou nem a Cris e muito menos Absol, sem falar no silêncio quase assustador... Quando estava prestes a gritar por eles, sentiu mãos tampando lhe a boca e puxando-a para detrás das arvores e arbustos.
***
– Shhiii! Não faça nenhum barulho! – sussurrei para Anya que me olhava assustada depois de puxá-la para nos escondermos.
– Tá tentando me matar por acaso? O que foi que aconteceu? – perguntou-me ela baixinho.
– Eles chegaram. – respondi apenas.
– Eles?! – Anya arregalava os olhos – Fala dos humanos??
– Exatamente. Vamos até a caverna, lá eu lhe explico.
Anya apenas assentiu e seguimos para a caverna o mais silenciosas possível. Enquanto atravessávamos os corredores cheios de teias, ela cobriu a boca com a mão para não acabar gritando com as cheads que carregavam humanos envoltos em casulos de teia deixando apenas a área do nariz de fora para que eles pudessem respirar e bolas de casulo distorcido que ela não soube dizer o que continha. Só quando alcançamos o fundo em que vivia que ela se acalmou um pouco e eu comecei a explicar.
– Quando eu estava indo pra clareira treinar e te encontrar acompanhada do Absol e algumas das cheads, nos deparamos com uma das armadilhas que havíamos colocado no caminho desarmada, com alguns homens inconscientes ao redor e dois dentro dela. Nós caprichamos mesmo naquelas poções do sono!
– Tá, ótimo, mas e aí?! – Anya estava ansiosa (no mal sentido).
– Me aproximei deles devagar. Dormiam feito pedra! E todos estavam armados dos pés a cabeça, com armas de fogo, sem falar que cada um deles parecia valer por 10 ou 20 soldados... – ela estava boquiaberta, continuei – Desarmei eles um por um e pedi pras aranhas que estavam comigo para os prenderem o mais forte possível, só deixaram um espaço para eles respirarem porque reclamei! Enrolei as armas na capa que usava e as amarrei. Voltamos todos pra caverna e acho que Absol pediu para que todas as cheads conferissem as outras armadilhas e fizessem o mesmo que a gente já que do nada todas saíram. Todos os soldados estão sendo deixados nos labirintos da caverna. Enquanto as armas são trazidas pra cá. – falei apontando para uns dez casulos de armas em um canto da caverna. – Acho que com isso já capturamos uns 50 inimigos e Absol me forçou a trocar de roupas.
– Pelo Oráculo! Ainda bem que espalhamos aquelas armadilhas ou Eel teria sido atacada ainda ontem à noite!
– Também pensei isso ao ver o monte de soldados que estavam sendo trazidos.
– E agora? O que pretende fazer Cris?
– Bom, já que comecei... – Senhor, me entrego a ti! – ...minha obrigação é terminar! Pensei em tentar descobrir se há algum acampamento por perto e ver o que mais eu posso fazer. Já, já as armadilhas acabam.
– Isso é verdade. Sem falar que se fosse eu no lado deles, já estaria desconfiando de todo esse silêncio contra Eel... Quer que eu te ajude?!
Ela estava sorrindo quando me perguntou, cocei a cabeça pra falar – Sinceramente, não. Eu não quero arriscar a sua segurança mais o que já está arriscada, mas... querendo ou não, vamos precisar de ajuda. – que todos os santos guerreiros nos protejam!
– Então acho que vou precisar dá um jeito de ficar mais segura, se é assim! – os olhos dela brilhavam – Posso dar uma olhada em suas coisas?
– Claro. O que servir é seu! – disse apenas (anjos de Eldarya nos guardem).
Anya foi até os equipamentos de segurança, vestiu braçadeiras e tornozeleiras de couro; prendeu uma adaga a uma das pernas e duas facas estilo cimitarra à cintura, com uma de cada lado; colocou um colar de couro grosso com pontas para cobrir o pescoço; vestiu uma blusa de malha frente única que em mim ficava justa, mas nela era preciso ajustar (o que ajudei), e pegou uma grande bolsa de ombro onde colocou todo o resto das poções soníferas que havíamos produzido e algumas de cura, além de alimento e agua, dizendo que se íamos ao encontro dos black-dogs, devíamos estar preparadas (claro, ela pediu desculpa à Absol que pareceu não se importar com o comentário).
Partimos logo em seguida. Rondamos a floresta por horas, e aquele excesso de camadas de tecido, couro e metal já estava me perturbando, se não fosse o vento frio e o céu nublado, com certeza já estaria derretendo dentro daquilo tudo. Meu pescoço coçava com o coque baixo que eu fiz para ajeitar o cabelo no capuz, as luvas e botas (se é que podia chamar aquilo de botas) não paravam de querer me pinicar em alguns pontos e as espadas já estavam me pesando (não, você não leu errado não. Absol podia ser sádico nos treinos, mas graças à ele eu era capaz de lutar com duas espadas ao mesmo tempo. só espero que seja o suficiente pra continuar respirando), sem mencionar o meu cajado preso às costas.
Estava prestes a começar a comer umas castanhas que tinha em minha pochete já que estava entardecendo (disse que procuramos por horas) quando ouvimos algo. Seguimos o som e encontramos um acampamento (estávamos bem do lado dos suprimentos e animais pelos cheiros). Anya subiu em uma arvore imensa próxima de nós, com algumas cheads dando-lhe cobertura, para visualizar melhor as coisas. Segundo ela, o acampamento parecia conter uns 200 homens; perto de nós havia um homem que preparava algum tipo de sopa para todos; rawists e shau'kobows estavam presos às arvores um pouco afastadas de onde estávamos; no centro do acampamento havia duas grandes barracas que continham um guarda em cada canto e entrada delas, e todo o acampamento parecia preocupado (provavelmente pela falta de noticia de seus companheiros que estavam nas cavernas).
– E aí? O que acha que devemos fazer? – me cochichou Anya.
– Duzentos homens grandalhões como esses aí e coisa demais para só duas mulheres, ainda mais com uma sendo criança.
– Desculpe se ainda sou nova. – ela se irritou...
– Foi mal aí, mas ainda temos que dar um jeito de diminuir este número sem nos arriscarmos demais, e as barracas no centro teve conter as armas e munições em uma, e os cabeças desse pessoal em outra. O que ainda temos?
– Além das poções que não utilizamos nenhuma, uma garrafa d’água e três frutas? Só nossas lâminas. – disse ela abrindo a bolsa e conferindo o conteúdo.
– Hum... Anya, acho que tive uma ideia maluca. Me confere se é possível cumpri-la.
– Desembucha. – disse ela fechando a bolsa.
Eu expliquei a ideia. Tratava-se de derramar poção do sono na sopa que seria servida por cima deles, algo que só as cheads poderiam efetuar aproveitando as arvores enormes que rodeavam o acampamento. Desenhei na terra para que ela entendesse melhor. As aranhas usariam suas teias para se locomoverem acima deles, derramariam a poção no caldeirão sem ninguém perceber e, aqueles que comessem logo estariam fora do caminho. Aí com quase todos dormindo, invadiríamos de fininho para descobrir qual das barracas guardava a munição onde criaríamos algum tipo de armadilha que explodisse tudo quando estivéssemos bem longe dali.
Anya amou a ideia e disse que conhecia o feitiço perfeito para mandar suas armas para os ares, mas que pelo tamanho da panelona só podíamos usar uma poção para que não percebessem. Absol também pareceu aprovar o plano e deu um sinal às cheads que subiam nas arvores e saltavam entre elas. Quando os “caminhos aéreos” estavam prontos, entregamos uma poção a chead que ficaria responsável por misturá-la na comida enquanto outra se encarregaria de distrair os soldados para que isso fosse feito (me chame de pessimista e sem fé, mas tenho certeza que a coitada vai acabar é morta. Senhor, que isso termine logo).
Começando a operação: “Boa noite Cinderela armada”. As cheads caminhavam de ponta cabeça pelos fios, enquanto a “isca” manteria os soldados longe da comida que estava sendo preparada (acho que eles já estavam cansados de rações ou não encontraria outra explicação para eles estarem preparando a comida. De qualquer forma, sorte a nossa). Ouvimos um grito vindo do lado de onde a comida estava sendo feita, começou.
A chead isca parecia correr desesperada enquanto afastava todos e conseguia desviar bem dos tiros contra ela, e a chead da poção desceu até o caldeirão segurando com a teia o frasco de ponta cabeça, removendo a rolha e deixando o líquido cair e se misturar. Subiu rápido antes que fosse vista. Infelizmente eu estava certa, a chead isca fez um excelente trabalho distraindo os soldados, mas acabou morta com uma chuva de balas quando foi finalmente cercada. Não pude evitar de chorar uma lágrima por ela e Anya me abraçou.
Enquanto esperávamos pelo efeito da poção, Anya teve a ideia de soltarmos os mascotes por trás das arvores e acabei concordando. Como todos os mascotes de Eldarya são bem espertos, pedíamos a eles para esperassem um pouquinho antes de sumirem do acampamento (já que era claro que eles não eram bem tratados ali) para que os soldados não percebessem seus desaparecimentos, e eles entenderam.
Tivemos que esperar quase duas horas para ouvirmos os roncos. Entramos devagar e pelas sombras, com todo o cuidado possível. Eram poucos os que ainda estavam acordados (ou porque não comeram ou porque ainda resistia ao sono). Conseguimos nos aproximar dos barracões. Por garantia, Anya usou um feitiço de agua com a poção para que os guardas a inalassem, não tivemos dificuldades em descobrir qual delas guardava a munição e como havia munição.
Estranhei mesmo foi algumas caixas reforçadas que pareciam proteger demais o seu conteúdo, olhei ao meu redor até bater os meus olhos nos brincos de Anya, compridos, rígidos e finos – Anya! – chamei-a sussurrando e ela se aproximou – Esses seus brincos, eles são importantes pra você?
– Não. – ela me respondeu sem entender – Por quê?
– Você me empresta um? Já aviso que posso acabar estragando.
Ela ainda não parecia entender, mas acabou me entregando um e se manteve perto para ver o que eu ia fazer com ele. (Eu nunca arrombei uma fechadura antes em toda a minha vida, mas Mãe, se o conteúdo dessas caixas for algo que definitivamente não deve ser utilizado, que eu consiga.) Gastei alguns minutos, mas creio que fui ouvida, pois consegui. Até Anya ficou impressionada – Como fez isso? – ela me perguntou.
– Regra de sobrevivência número um que acho que todo ser humano já aprendeu na vida: qualquer coisa pode virar uma arma se usada a imaginação. – respondi apenas em meio a um sorriso que sumiu ao ver o conteúdo da caixa. A caixa era completamente forrada por dentro, cheio de objetos que me lembravam a misseis e com mais estofado entre eles. Gelei ao imaginar aquelas coisas em ação. Deixei a caixa aberta ou do contrário aquelas coisas não seriam destruídas na barraca e comecei a arrombar as outras.
– Agora você pode fazer aquele feitiço que falou que era perfeito pra acabar com tudo isso aqui. – disse para Anya, devolvendo-lhe o brinco meio amassado após sete cadeados que consegui encontrar.
– Certo. Só me dê um minuto e vamos cair fora logo daqui. – disse acendendo algumas chamas nas palmas das mãos enquanto citava alguma coisa. – Pronto. Agora temos meia hora para estarmos o mais longe possível daqui. – falou ela depois de terminar de colocá-las flutuando no centro da barraca e se afastar delas lentamente.
Meia hora... este acabou sendo o tempo para alcançarmos os limites do acampamento sem sermos vistas. A explosão foi escabrosa! Se quiser ter uma noção do que nos vimos, basta ver o vídeo de um vulcão em erupção. Acredito que um dos motivos daquilo ter sido tão assustadoramente poderoso (até mesmo conseguiu cortar o efeito da poção!) era o conteúdo das caixas que arrombei.
Estava noite, porém a explosão fez o lugar virar dia outra vez. Corríamos ouvindo gritos de: “apaguem esse fogo!” ou “os animais sumiram!” e “ajudem os feridos!”, mas o que nos fez apertar o passo mesmo foi o grito de: “aqui! Espiões! E estão fugindo!”. Desesperada, comecei a rezar a oração de Santa Teresinha das Rosas sem parar. Tanto que Anya acabou por ficar a rezando também durante a nossa fuga. Quanto mais eles nos mandavam parar, mais nós tentávamos acelerar. Só não íamos mais rápido porque não tínhamos asas.
Foi então que começamos a ouvir um “argh” ou um “Aaah!” durante nossa fuga, não me atrevi a olhar pra trás para entender o que acontecia com medo de cair, mas Anya o fez, gritou com o que viu e começou a correr mais rápido ainda, tentei segui-la (eu é que não ia ficar pra trás!).
Já havíamos alcançado a floresta de Eel, conhecíamos o terreno então podíamos despistá-los para que recuperássemos nossos fôlegos. Finalmente estávamos com sorte! Ou foi o que pensei. Um dos tiros que havíamos conseguido evitar até àquela hora atingiu Anya de lado fazendo-a cair.
– ANYA!!! – gritei parando para pegá-la em meus braços. O cansaço da corrida somado ao choque do tiro e da queda a fez desmaiar. – Anya, acorde, por favor! Anya! – estava desesperada.
– Finalmente te alcançamos faerys dos infernos! – disse um dos soldados que nos perseguia. Eu não parava de chamar pela Anya e rezava a Deus para que não a deixasse morrer. – Relaxa, vou te mandar pra junto dela nesse instante.
Ele atirou, mas não fui atingida. O Cristal Vivo me envolveu novamente, era como se um campo de força poderoso estivesse me protegendo. Meu desespero foi substituído por calma. Comecei a rezar uma Ave Maria atrás da outra desejando a morte bem longe de nós. Ajeitei-a no chão, eu me ergui pegando minhas espadas, cujas lâminas se afinaram ao pegá-las (elas tinham a largura de uns quatro dedos e agora parecem ter a metade disso) e me pus na direção daqueles soldados que não se intimidaram no começo, mas pareciam nervosos.
Eles descarregaram suas armas em cima de mim inutilmente. Acabadas as balas começaram a me atacar corpo-a-corpo. Não parava de rezar, e meus movimentos fluíam. Eu os atingia com as espadas precisamente e me desviava facilmente de seus ataques. Por mais terrível que meus golpes parecessem, sabia que eles estavam bem, eu não queria mesmo a morte naquele local. Acho que enfrentava uns vinte deles e aos poucos eles começavam a correr me chamando de bruxa e carregando os colegas feridos.
Não fui atrás deles, ainda estava chorando e rezando por Anya (acho que rezei mais de três rosários durante a batalha) , e notei que as espadas voltavam ao normal. Ao me virar na direção dela, um homem pálido de cabelos e vestes (eldaryanas) negras estava com ela nos braços, me observando. Tentei chamar Anya mais uma vez, mas minha voz não saiu. Eu desmaiei.
Psiu!
Capitulo longo não? Mas se quiser entender melhor a minha vestimenta de batalha nesse capitulo, basta vestir sua guardiã com os seguintes itens nessa ordem: Macacão Holy Knight, Botas Nightmare Chivalry, Top Holy Knight, Vestido Nightmare Chivalry, Luvas Nightmare Chivalry, Blusa Winter Warrior, Espada Winter Warrior e Pochete de Viagem. Todos na cor negra.)
Assim:
.。.:*♡ Cap.18 ♡*:.。.
Estava ficando tarde e Anya não retornava, o que deixou Nevra preocupado e com um mau pressentimento, principalmente depois de o Valkyon ter dito que a presença da humana havia “sumido”. Foi até o parque do chafariz onde Erika havia perdido Anya de vista. Procurou até descobrir um pequeno buraco entre os arbustos ao fundo da muralha, na hora entendeu que era a passagem que Anya usava. – Anya, sua pequena verdheleon... – disse ele pra si mesmo sorrindo com a descoberta feita.
Captou com sua audição o que parecia ser uma explosão a muitos quilômetros dali e decidiu ir a floresta procurá-la. Prestou atenção em cada mínimo ruído da floresta que atravessava com cuidado para não cair nas armadilhas daquelas duas, até ouvir um disparo, seguido de um grito feminino chamando por Anya. Nevra sentiu seu coração parar e correu na direção do grito, onde ouviu mais um disparo e alguns segundos depois centenas deles, o fazendo correr ainda mais até o local com suas adagas em mãos.
Chegando finalmente ao local, encontrou Anya no chão e uma mulher vestida de negro envolta por uma luz branca lutando contra vários soldados, os mesmos que ele espionara alguns dias atrás. Foi de encontro a Anya e viu o ferimento, ela ainda respirava então ainda dava tempo de salvá-la. Abriu a bolsa que estava com ela e encontrou as poções, cheirou cada uma delas até encontrar o que queria para salvá-la.
Após os primeiros socorros passou a observar a mulher que lutava. Ela era incrível! Usava duas espadas e parecia dançar entre eles. Uma dançarina sangrenta, sem mencionar a estranha maana que ela emitia. Demorou em perceber que por mais certeiro que os golpes fossem, os soldados continuavam vivos. Como era possível? Aos poucos os soldados fugiam dela carregando os feridos e a chamando de bruxa, ele já estava de pé com Anya em seus braços. Acabada a luta, a mulher olhou para ele segurando Anya, ela chorava e o brilho envolta de seu corpo sumia aos poucos.
Ela tentou dizer alguma coisa, mas Nevra não ouviu nada e ela desmaiou logo em seguida. Antes que ele pudesse fazer algo, um black-dog aparou a queda da mulher e um grupo de cheads usou suas teias para prendê-la nele. – Vocês devem ser Cris e Absol. – acabou dizendo.
Absol pareceu observá-lo como se estive pensando se podia ou não confiar nele, e depois de uns instantes, sumiu floresta adentro. Nevra pensou em segui-los, mas ajudar Anya era mais urgente. Correu de volta para o QG.
Anya ficou inconsciente por quase duas semanas e não houve ataques por parte dos humanos neste período, mas em compensação cheads traziam homens encasulados. Libertaram um deles e Bell que estava junto o pões pra dormir imediatamente. Ela o reconheceu de entre os humanos que pretendiam atacá-los e Miiko ordenou a prisão imediata deles.
No dia em que Anya acordou, ninguém estava acreditando na proeza que elas duas haviam feito. Tanto que Miiko ordenou a imediata ingressão delas na guarda! De Anya (que acabou ficando na Sombra) e da humana, assim que fosse encontrada.
***
Estávamos na floresta, era um dia bonito e tudo parecia calmo e tranquilo. Vi Anya dormindo no colo de uma mulher branca de tão pálida, seus cabelos eram penas coloridas de rosa, amarelo e lilás, grandes asas com as mesmas cores e uma longa cauda de lagarto da cor de sua pele (será que era a tal da Oráculo? Mas ela não estava morta?).
– Anya... – acabei a chamando.
A mulher que a acariciava falou – “Ela está bem. Este homem a salvou.” – disse ela apontando a mão para o lado que virei e vi aquele mesmo homem que segurava Anya antes de eu desmaiar, e que me acenava em cumprimento com a cabeça.
“Vocês fizeram um ótimo trabalho juntas!” – falou uma outra mulher que parecia ser a versão oposta da primeira, com pele morena bem escura e as penas negras, roxas e azuis claras, apoiando uma das mãos em meu ombro – “E sugiro que você dê uma procurada na floresta.” – terminou ela me dando uma piscadela.
Eu estava feliz por Anya. Tão feliz que comecei a cantar a consagração à Nossa Senhora em agradecimento e uma forte luz branca começou a envolver tudo e todos. Abri meus olhos antes de terminar de cantar, mas nem por isso parei de cantá-la. Estava em minha rede na caverna e ficava repetindo as imagens e palavras de meu sonho sem parar pra ter certeza que não esqueceria nada.
Absol e algumas cheads se aproximaram de mim com ar preocupado. – Bom dia pessoal! – acabei por dizer sorrindo e eles vieram pra cima de mim transportando alegria e me fazendo cair na risada. – Calma gente! – acabei dizendo e eles amenizaram na empolgação, senti uma senhora fome em seguida – O que temos pra comer? Sinto que sou capaz de devorar um rawist de tanta fome!
Dito isso, a aranha mãe me entregou uma bacia cheia de pães e frutas que eu literalmente ataquei. Meu corpo tremia de fome, nunca havia me sentido assim antes até parecia que meu corpo não via... parei um instante pra engolir o tinha na boca, e com medo da resposta, perguntei – Ahm, pessoal... há quanto tempo... que eu estou dormindo? – eles se entreolharam sérios e um grupo de aranhas se colocou a minha frente erguendo cada uma, uma pata, contei 14. Porque é que catorze delas ergueriam uma pata cad... já entendi. E meus olhos estão esbugalhados. – Vocês estão me dizendo que eu dormi por 14 dias seguidos?!?!
Todos assentiram com a cabeça. Misericórdia... O máximo que eu já dormi até hoje foi 14 horas seguidas, quando criança. E agora eu dormi 14 dias??
– E quanto aos soldados capturados? O que foi feito deles? – outro grupo de cheads resolveu se juntar criando uma espécie de silhueta medonha assim como... as sombras... Anya havia me dito que os faerys que eu resgatava das sombras estavam sendo levados a Eel. E que isso estava até mesmo gerando confusão. – Vocês os levaram para Eel? Assim como os que eu ajudava? – mais uma vez, todos assentiram com a cabeça.
Terminei de comer digerindo não só a comida como também toda aquela informação. Céus! Espero que Anya esteja melhor do que eu. Anya... aquelas mulheres disseram que Anya estava bem graças aquele homem que vi na floresta... e também pediram para dar uma procurada nela? Procurar o quê exatamente? Anya? Aquele homem? Ou seria alguma outra coisa?
– Absol... – ele ficou atento – ...vou tomar um banho pois devo estar mais que precisando e depois disso, acho que tem alguma coisa na floresta que precisa ser encontrada.
.。.:*♡ Cap.19 ♡*:.。.
Três dias haviam se passado depois que Anya despertou. Sua mãe ficou furiosa com a decisão de Miiko, como ela se atreveu a recrutar sua filha ainda criança?! Nevra que agora era o seu líder, jurou a sua mãe que enquanto ela ainda fosse menor de idade, de forma alguma lhe mandaria para alguma missão de risco e quando recebesse uma missão fora de Eel, ele estaria junto como se fosse a sombra da menina e prometeu que lhe cuidaria como uma filha ou uma irmãzinha. Anya não gostou muito da ideia de ter seu chefe tão colado nela, porém sua mãe acabou aceitando.
Quando Anya conseguiu se encontrar com Lance, sua reação foi semelhante à de sua mãe e dos demais. “Mas o quê aquela kitsune desvairada pensa que tem na cabeça?” Foi o que ele acabou dizendo ao ouvir sobre a ordem da Miiko. Também ficou incrédulo com o que ela e Cris fizeram com o exército humano e lamentou por não saber como que ela estava. Ao menos sabiam que Absol estava com ela, segundo o Nevra.
Podiam considerar que agora estava tudo em paz outra vez, se não fosse por um detalhe: Chrome ainda não retornou. Foram enviados alguns membros da Sombra e da Obsidiana para averiguar o que tinha acontecido. Os humanos sumiram, o que era bom, mas nem um sinal do lobisomem ou de seu mascote.
Também fizeram buscas na floresta por Cris para a levarem ao QG como a Miiko ordenou. Anya se recusou a ajudar alegando que se sua amiga precisava se juntar a eles seria por vontade própria e não por ordens da Miiko. Erika lhe apoiava (e Lance também).
Era noite, e Ewelein estava na enfermaria conferindo os prontuários de seus pacientes e montando alguns kit’s de primeiros socorros para um grupo que faria uma missão na Costa de Jade logo pela manhã que se aproximava. Estava concentrada e foi um rosnado vindo da porta que lhe despertou a atenção.
Quando olhou para trás, um enorme black-dog a encarava. Abafou um grito com as mãos deixando cair o kit pronto que estava em sua mão e que foi aparado por ele antes que tocasse o chão. O black-dog virou-se para a porta e a abriu, ficou observando Ewelein com o kit na boca como se estivesse lhe dizendo: “venha!”.
Ewelein começou a imaginar que estava alucinando, que estava cansada, mas como o black-dog parecia insistir, ela acabou o seguindo. Ela o seguiu até a cerejeira e o viu atravessar a passagem que levava aos túneis subterrâneos, ficou com receio de continuar o seguindo, mas como ele reclamou outra vez continuou andando.
Seguiu pelos túneis até chegar à floresta. E da floresta até um labirinto de cavernas infestadas de teias. “Será que esse black-dog é o Absol?”, pensou ela enquanto continuava o seguindo. Chegando no fundo, ficou maravilhada com o que via, o lugar parecia ter sido decorado por elfos! Se não fosse pelo choramingo dele, lhe chamando a atenção para alguém que estava deitado sobre uma rede, ela ainda estaria admirando o lugar.
Ewelein se aproximou devagar daquela rede e quando percebeu quem que estava deitado nela, começou a examiná-lo e tratá-lo imediatamente. Era Chrome, e ele não parecia nada bem, o ferimento no lado das costelas parecia tratado, mas ele precisava de cirurgia naquela área para ficar bem de verdade. Tinha febre e várias escoriações meio tratadas. Por causa do escuro, estava com dificuldades para atendê-lo e como resposta a suas necessidades, uma luz branca surgiu por trás dela.
Não quis nem saber qual era a fonte daquela luz, apenas começou a trabalhar com mais afinco.
***
Depois do meu banho, Absol e eu fomos à floresta revistá-la. Não tinha ideia do que eu precisava encontrar, então observava tudo com muito cuidado, eu e Absol nos separamos para podermos cobrir uma área maior. Foi ele que achou o que devíamos encontrar.
Absol me guiou até uma arvore rodeada por arbustos e no meio deles... Jesus, misericórdia. Um homem... lobo... lobisomem? Ferido e inconsciente, com roupas pretas e verdes, além de cabelo comprido com as pontas vermelhas. Me aproximei e ele parecia ainda respirar, peguei uma das poções de cura que havia trazido comigo (não sabia o que devia procurar!) e lhe dei. Ele a bebeu com um pouco de dificuldade e precisava dar um jeito naqueles ferimentos.
– Absol... – foi tudo o que eu disse olhando para Absol que saiu correndo na hora. Fiquei dando um jeito como podia naqueles machucados e Absol voltou acompanhado de um crylasm adulto, que nos ajudou a levar o ferido até a caverna.
Lá, tirei-lhe a roupa para lavar as feridas e preparei algumas das poções de cura que aprendi com Anya. O vesti com uma calça larga trazida por uma das cheads e o deixei deitado na rede. Costurei um colchonete para mim e fiz o que pude por ele.
Anya não apareceu nenhuma vez e isso estava me preocupando. Será que ela pensa que eu morri? Não, acho que não. Percebi que enquanto eu lavava o corpo daquele ser, o que minha pele sentia e os meus olhos via pareciam divergir novamente, nem acreditei na foto que tirei. Será que além de ver a verdade, eu também reconhecia a real natureza dos faerys?
Dois dias depois de tê-lo encontrado, ele começou a apresentar febre, não sabia mais o que fazer! Teria ido a Eel buscar ajuda, mas, tinha receio de ir até lá sozinha. Se tivesse a companhia de Anya, por exemplo, me sentiria mais segura (francamente não é mesmo? Enfrentou um bando de mercenários armados até os dentes, mas não tem coragem de enfrentar alguns elfos e brownies. Meu Senhor...).
– Nesse ritmo não conseguiremos ajudá-lo. – comentei pro Absol – Ele precisa de um médico de verdade! Se ao menos Anya aparecesse para ajudar... – Absol pareceu ficar refletindo, eu apenas dei um longo suspiro e fui me deitar um pouco, rezando por um milagre (eu podia não ser a melhor das católicas, mas nunca rezei tanto quanto depois que cheguei a Eldarya).
Ainda era madrugada (eu acho) quando Absol me acordou. Nem tive tempo de dizer qualquer coisa quando vi uma mulher alta ao lado daquele homem. Peguei o meu cajado e me aproximei deles devagar, quando vi que ela estava cuidando dele agradeci a Deus, e na mesma hora, o Cristal Vivo começou a brilhar como se fosse uma lâmpada de LED, o que pareceu ajudar aquela elfa (ao menos me parecia uma elfa, será que era a tal da Ewelein, que Anya me falou?)
– Ele precisa ser operado urgente. – arregalei meus olhos quando ela disse isso, me olhando logo em seguida – Me ajuda a levá-lo ao QG?
Não falei nada. Apenas olhei para Absol que já estava saindo da caverna às pressas. – Se vamos tirá-lo daqui, precisamos nos preparar. – disse-lhe já jogando uma camisa larga e uma coberta para que ela colocasse nele e me troquei também, pela brisa que entrava, estava fria a noite.
Absol chegou acompanhado de um crylasm (acho que o mesmo de antes) onde colocamos o lobisomem junto da rede. As aranhas ajudaram a fixá-lo sob o mascote com suas teias e partimos.
Atravessamos a floresta sem problemas e bem rápido. O Cristal ainda brilhava, o que nos garantia luz e Absol se mantinha ao meu lado. Chegando diante da Grande Porta (e põe grande nisso!) a mulher gritou para os guardas o que acontecia e logo, logo já estávamos atravessando a cidade. Ainda sentia um certo receio em adentrar aquele lugar, mas Absol me empurrava incentivando-me a continuar.
Entramos em um grande prédio ou torre e seguimos até uma sala após algumas escadas onde já havia alguns faerys em nossa espera. Ajudei a retirar aquele moço do crylasm e depois fiquei só os observando trabalhar em um canto daquela sala, rezando um rosário com Absol sentado ao meu lado e o Cristal brilhando pouco agora.
.。.:*♡ Cap.20 ♡*:.。.
“Olá, guardiões!”
“E ai galerinha!!”
– Pera, vocês não são as... Oráculos alternativas?
“Olha aqui oh humaninha, nós não somos alternativas coisa nenhuma! Eu e minha irmã somos autênticas.”
– Tá, foi mal aí. Mas o que é que vocês querem aqui?
“Queremos apenas avisar aos leitores que a forma de ser contada esta história vai mudar um pouco agora.”
– Como é que é!?!
“Foi o que ouviu dona. Até agora a historia ficou dividida entre eventos de Eel, na terceira pessoa, e eventos da floresta e da caverna, na primeira pessoa.”
– Claro! É minha historia afinal.
“Só que você está em Eel agora. E fica meio complicado de continuar a história da mesma forma que antes.” – disse ela gentilmente.
– E... o quê exatamente irá mudar?
“Até agora, oh tantã...” – não estou gostando dessa oráculo negra – “Só você é que expressava seus pensamentos e emoções aqui. Agora é hora dos outros terem vez também. Ah! E os capítulos poderão ficar maiores também.”
– Tá, já entendi. Mas dá pra parar de me tratar como uma burra?
“Sua professora é uma criança!”
“Chega irmã. Anya não é uma criança qualquer e você sabe muito bem disso. Ela não podia ter recebido professora melhor.” – disse a branca a repreendendo (gostei da branca!).
A negra pareceu não se importar com a branca. – De qualquer forma, – comecei a falar – porque foi que vocês apareceram para avisar isso aí? Quem são vocês de verdade?
“Depois. Nós aparecemos para que os leitores não ficassem confusos.”
“E mais tarde você nos conhece direito. É só deixar a historia seguir.”
– Se dizem... Mas eu ainda serei a principal aqui né? – as duas assentiram com a cabeça. – Então... sigamos com ela.
***
Cris
A cirurgia durou o rosário inteiro e eu não sabia bem o que fazer naquele lugar. Era quase como quando cheguei à floresta pela primeira vez. Me sentia desorientada.
– Você nos deu uma ajuda e tanto. – disse a elfa cinzenta tirando as luvas para me cumprimentar – Sou Ewelein, é um prazer conhecê-la.
– Cris. – respondi apertando-lhe a mão – Não creio ter ajudado tanto assim... – ela me sorria – Sem querer ser rude... mas você sabe me dizer o que foi que aconteceu com Anya? – acabei por perguntar. Estava mesmo pensando nela depois de tudo.
– Ela está bem. Assim que o dia amanhecer direito poderá encontrá-la. – ela me respondeu.
Senti um grande alívio. Suspirei e sorri com aquelas palavras e minha reação a fez sorrir também. Mas se era verdade... – Desculpe incomodar de novo, mas se ela estava bem, porque não me procurou novamente?
– Hum... é um pouco complicado. – Ewelein explicava – Acho que seria melhor se você conversasse com ela pessoalmente. E Anya não é a única que deseja falar com você, Cris.
Ok. Agora estou preocupada por ter vindo aqui.
Anya
Levantei da cama antes do sol terminar de mostrar a cara. Estava comendo uma fruta da lua quando ouvi uns guardas que passavam de frente a minha casa (caramba, seria tão mais fácil minha vida na guarda se minha mãe me deixasse mudar pro QG... “Você ainda é uma criança e enquanto for menor de idade, continuará debaixo do meu teto!”, foi o que ela me disse.) conversando sobre a chegada de uma mulher acompanhada de um black-dog. A Cris tá no QG!?!
Corri pra fora a tempo de ainda os ver e fui logo perguntando que historia era aquela que eles estavam falando. Eles me explicaram que durante a madruga, a “forasteira” com o black-dog haviam chegado à Grande Porta acompanhando Ewelein e Chrome, este estava inconsciente e sob um crylasm, e que até onde sabiam, ainda estavam todos na enfermaria.
Fui pra enfermaria o mais rápido possível. Ela não sabia nada da ordem da Miiko e o Chefinho (ou será que vou chamá-lo de becola hoje? Nevra vivia me chamando de verdheleon então em resposta o chamava de becola, agora quando ele me chamava pelo nome, eu o chamava de Chefinho, justo não?) não sabe sobre o poder dos olhos dela (será que ela descobriu mais detalhes disso?) e o mais importante de tudo, estou louca de vontade de vê-la. Eu a teria visto assim que tinha acordado (como fiz com o Lance), mas por causa da nossa líder, estava sempre sendo seguida.
Cheguei à enfermaria e entrei, Ewelein e ela estavam sentadas conversando enquanto Ewe a examinava, Absol observava em um canto afastado. – Cris!
– Anya! – disse ela se erguendo e eu corri para abraçá-la com ela me abraçando de volta bem forte – Anya... graças aos céus, você está bem.
– E graças à Oráculo você também está! – a respondi aproveitando o nosso abraço.
– Me pergunto como é que vocês estariam se uma tivesse acordado mais cedo que a outra... – comentou Ewe.
– Que quis dizer Ewelein?
– Any... – a Cris falava – ...nós duas ficamos dormindo por duas semanas inteiras. – terminou ela meio vermelha.
– Nossa! Então aquela aventura acabou mesmo com nós duas. Mas me diz, o que foi que aconteceu depois que cai? Eu só sei o que Nevra me contou depois de me achar.
– Se você me contar o que foi que ele contou, tudo bem!
Trocamos explicações enquanto Ewelein terminava de examiná-la ouvindo com atenção nossas palavras. Ela pareceu se arrepiar quando disse o que eram os gritos dos homens que nos perseguiam durante a fuga! Absol saltava das sombras derrubando-os. Contei o porquê de não ter ido vê-la depois de acordar e ela não me pareceu muito confortável com a ordem dela se tornar parte da guarda, até Absol que esteve o tempo todo em silêncio acabou deixando um pequeno rosnar escapar. Falei também quais informações sobre ela havia repassado para Nevra, meu chefe agora (nesse ponto ela me deu os parabéns e deu risada quando disse as condições de minha mãe que precisei engolir).
Quando acabei de contar o meu lado, foi a vez dela de contar. Contou de seu sonho e de como encontrou o Chrome e disse também que, muito provavelmente descobriu mais um detalhe sobre seus olhos, mas que precisava se encontrar com mais faerys primeiro, para ter certeza. Ewelein parecia querer nos questionar sobre isso, só que bateram na porta.
.。.:*♡ Cap.21 ♡*:.。.
Cris
Ewelein abriu a porta e um grupo de pessoas entrou. Um bárbaro de cabelos brancos muito bonito; uma kitsune carregando um bastão com uma chama engaiolada (deve ser a tal Miiko de quem Anya tanto me falou nas aulas); um elfo de cabelos azuis; o homem que tinha visto antes de desmaiar!; um rapaz com um chifre na testa e óculos; e dois anjos, uma mulher e um homem (ele estava ferido?).
Esfreguei meus olhos para olhar direito alguns dos que entravam. O bárbaro tinha asas translúcidas azulada nas costas e sua sombra tinha uma forma diferente de seu corpo (não pude ver o formado direito por conta de todo aquele pessoal junto), e os anjos... estavam acorrentados? Uma das pontas estava presa ao pescoço do homem (eram tocos de chifre na cabeça dele?) e a outra ponta estava presa ao pulso da mulher (por acaso ele estava pagando algum tipo de penitência pra ela?). Acho que Anya me observava.
– É ela... – disseram os anjos e o bárbaro juntos e ao que parecia, sem querer, logo depois de entrar.
– Ela? – perguntou o elfo por todos que ficaram observando aqueles três.
– É dela a presença que sinto. – falou o bárbaro com voz calma e controlada (presença?).
– E de minhas visões também! – falou a anja.
– Nossas. – corrigiu o anjo machucado (visões?).
– Ah... Anya? Pode me explicar? – Pedi a ela.
– Acho que eu posso fazer isso. – começou a kitsune – Meu nome é Miiko, sou a líder da Guarda Reluzente.
– Prazer. Sou a Cris, humana terráquea que não tem ideia de como chegou em Eldarya. – houve alguns risinhos que pararam assim que Miiko “limpou” a garganta.
– Bom, depois nos gostaríamos que nos explicasse o que pudesse sobre isso, mas atendendo ao seu pedido, quando você chegou ao nosso mundo, acabou provocando... reações, em alguns dos nossos. Tanto que acreditamos que você não seja exatamente humana.
– Em outras palavras, uma faeliana. Anya já me falou dessa possibilidade. Até me prometeu conseguir a receita para fazermos o teste, mas algumas coisas meio que atrapalharam esses planos. – vi que Anya se encolhia enquanto o elfo parecia olhar feio para nós. A Miiko só nos ergueu uma sobrancelha.
– Continuando... – acho que Miiko está se irritando – ...já planejávamos fazer o teste para ter certeza sobre isso de qualquer maneira e ainda vamos. Normalmente, devíamos ter seguido os protocolos contra intrusos, porém não a encontramos. Anya escondeu, e ainda esconde, – obrigada Anya – a informação de onde você estava exatamente, só que depois do que vocês duas fizeram juntas, além do que você já estava fazendo sozinha, não tinha mais sentido segui-lo! Além de não nos trazer beneficio algum, perderíamos uma preciosa aliada.
– Desculpe interromper já o fazendo. – ela realmente se irritava com isso – Mas o que você acabou de dizer sobre mim, é opinião de todos ou opinião sua?
– Da maioria. – respondeu a anja.
– Enfim! – retomou Miiko respirando fundo – Após ouvir sobre os atos de vocês duas enquanto a Guarda passava por dificuldades, tomei a decisão de torná-las oficialmente membros das Guardas de Eel. Acredito que Anya já tenha falado delas pra você.
– Sim. Se bem me recordo são quatro: a Reluzente, responsável por toda a administração de Eel e as demais guardas, onde só alguns escolhidos podem fazer parte; A Absinto, especializada em poções de todo tipo; a Sombra, que trabalha com espionagem e coisas do tipo; e a Obsidiana, formada por guerreiros. Tudo certo?
– Perfeito! – comentou o rapaz de chifre enquanto todos sorriam satisfeitos. – O que mais Anya lhe ensinou?
– Depois Kero. – cortou-o Miiko – Como você não tem meios de retornar para Terra, aceita fazer parte da Guarda de Eel? A não ser que prefira continuar vivendo na floresta a própria sorte...
Absol rosnou com o comentário de Miiko chamando a atenção de todos que não haviam o notado (além de Miiko dar um pulo quase gritando junto _risos_). – Absol!... – foi tudo o que disse a ele. Como resposta ele apenas “bufou” e desviou o olhar pro lado oposto da Miiko. Eu e Anya rimos sem querer.
– B-bem. Ainda... – ela respirou fundo pra se acalmar do susto – ...espero uma resposta.
– Serei bem franca com a senhora. – comecei – Depois de passar o tempo que passei com Anya e todas as experiências que tive antes e depois de conhecê-la, tive vontade de conhecer Eel. Mas alguma coisa sempre me dizia pra não vir... – eles começaram a me olhar desconfiados – ...ainda. Se Absol não tivesse ficado me empurrando enquanto trazíamos aquele rapaz, – eu apontava para Chrome (segundo Ewelein, este era o nome dele) – eu não teria nem mesmo conseguido passar a Grande Porta, quanto mais entrar na enfermaria.
– E do que exatamente você tinha medo mulher? – perguntou-me o elfo com ironia.
– Sei lá! – ele fechou a cara – Humanos costumam ter medo daquilo que desconhecem, vai ver foi isso.
– Concordo com ela. – disse a anja – Quando cheguei a Eel pela primeira vez estava quase apavorada sem entender nada. Principalmente depois da forma com que fui tratada logo de cara. – ela olhava para a Miiko e o bárbaro a abraçou por trás, beijando-lhe a cabeça, como que a consolando (devem ser namorados ou coisa do tipo... com ela acorrentada a outro?) enquanto Miiko revirava os olhos.
– Certo. Daremos-lhe até o fim do dia para pensar então. – respondeu o rapaz de chifre e todos pareceram concordar – Ah! E meu nome é Keroshane, mas pode me chamar de Kero se quiser. Até lá, você pode aproveitar para nos conhecer e à Eel um pouco melhor.
– Deixa que eu mostre tudo pra ela! – ofereceu-se Anya.
– Muito obrigada! Mas me tirem uma dúvida... – não pude mais resistir – Porque é que os dois anjos aí estão acorrentados? – perguntei apontando para a corrente de uma ponta a outra. Eles começaram a me olhar sem entender minha pergunta e Anya pareceu nervosa, será que era só para os meus olhos de novo?
Anya
Comecei a suar frio quando a Cris fez aquela pergunta. Todos alternavam o olhar entre os aengels e ela confusos enquanto o Chefinho me lançava um olhar me exigindo explicações. – O que exatamente você está vendo Cris? Me diga enquanto apresento cada um dos que ainda faltam, tudo bem?
– Ok. – ela respondeu e fui até o Nevra primeiro. – Um homem pálido, de cabelos e vestes negras, orelhas pontudas e... presas? Você é o que? Pois elfo que não é. – ela disse.
– Este é o Nevra. – apresentei – O vampiro mulherengo, competitivo e líder da Sombra que é meu chefe. – falei e todos seguraram o riso (ele não gostou muito da minha apresentação). Passei pro próximo.
– Esse sim parece ser um elfo. Cabelos azuis longos e... você vai me desculpar, mas está vestindo roupas demais. Só de olhá-lo já estou com calor!
– É o quê?!? – Ezarel reclamou com o comentário dela e eu acabei rindo.
– Este é Ezarel. – disse ainda rindo – O elfo mais cheio de frescura e crianção que conheço. Ele é o líder da Absinto, um gênio nas poções e uma peste nas brincadeiras. – todos exceto Ezarel (que cruzou os braços me olhando feio) riram com a minha apresentação. Me pus entre Erika e Leiftan (já que chamou aos dois de anjo).
– Uma anja, com lindas e grandes asas brancas e uma auréola branca sob a cabeça, e... um anjo meio ferido? Suas asas também são grandes e brancas, mas parecem manchadas e isso saindo de sua cabeça são tocos de chifre? Você era um caído? Por isso essa corrente prendendo seu pescoço ao pulso dela? – novamente todos ficaram se entreolhando por conta das palavras dela.
– Estes são Erika e Leiftan. Ambos são aengels só que Erika é faeliana e Leiftan, é o que podemos chamar de daemon e agora está servindo à Erika e trabalhando de mensageiro no QG como meio de pagar por seus atos do passado. Sobre as asas, correntes e tudo mais, acho que só você pode ver. – ela olhava incrédula, o que já esperava. Fui até o último.
– Hum... um belo bárbaro com asas azuis translúcida e... será que poderia me deixar ver melhor sua sombra? – nem eu entendi essa. Mas nos afastamos do Valkyon para que sua sombra ficasse mais clara, e ela arregalou os olhos – Porque que sua sombra parece ter a forma de um... – ela engoliu seco? – ...Dragão!?
Sério que ela enxergava a sombra dele com uma forma diferente? – Esse é Valkyon e ele é um dragão! Líder da Obsidiana, guerreiro poderoso, não fala muito e sobre o seu primeiro comentário, ele é namorado da Erika. Foi mal. – a Cris ficou de boca aberta. – Ah! E mais uma vez, as asas e o formato da sombra dele também estão só nos seus olhos.
Terminadas as apresentações explicamos para todos sobre a habilidade dos olhos dela, já que estavam bem perdidos. Ela descreveu como que enxergava as coisas, como descobrimos as divergências de sua visão com o que estava diante dela, sobre o meu teste quando me transformei em uma Batta nojosei com uma poção. Se não fosse as descrições assertivas dos que estavam conosco, ninguém iria acreditar em nós duas. Ezarel e Miiko ainda pareciam não acreditar.
– Se o que vocês estão nos dizendo for mesmo verdade, – Leiftan dizia – a corrente que a Cris está vendo entre Erika e eu, deve ser o feitiço que usamos para que minhas ações pudessem ser vigiadas constantemente. – ele explicava – E caso esteja curiosa sobre ele...
– Por isso perguntei o porquê da corrente. – cortou ela prestando atenção.
– ...Certo. Se por acaso eu tentar fazer qualquer coisa que seja de desagrado de Erika, a quem estou confinado, meu corpo recebe um enorme choque me impedindo de mover-me antes de fazer o que pretendia.
– Nossa! E o que foi que você fez para receber uma punição dessas? – a Cris é mesmo curiosa e direta... todos ficaram um pouco desconfortáveis.
– Ahmmm, acho melhor deixarmos isso para um outro dia. – respondeu o Nevra – Agora que tal seguirmos com o seu passeio? – terminou ele com o seu sorriso mulherengo e piscando-lhe um olho.
Ela lhe ergueu uma sobrancelha desconfiada (claro! Ele não era flor que se cheire. Além de vampiro) e antes de responder qualquer coisa, todos ouvimos um enorme barulho.
.。.:*♡ Cap.22 ♡*:.。.
Cris
Abracei o meu estômago com força. Acho até que fiquei vermelha! Estou morrendo de fome.
– Acho que a primeira parada do passeio ao QG terá que ser no salão principal. Alguém aqui está morrendo de fome. – disse Erika e todos estavam tentando segurar o riso. Ai que vergonha... queria ter um buraco pra me esconder agora. – Venha comigo, vamos dar um jeito nesse ocemas aí.
A acompanhei junto de Anya e Absol sumiu nas sombras, acho que os demais permaneceram na enfermaria para saberem mais sobre o Chrome (e provavelmente sobre mim também, já que fui examinada). Descemos as escadas e atravessamos uma enorme despensa que fez meus olhos brilharem! E meu estômago roncar mais uma vez (fica quieto!). Nos aproximamos da cozinha do outro lado do que parecia ser um grande refeitório quase vazio, onde um sátiro cortava alguma coisa cantarolando.
– Bom dia Karuto! – disseram Erika e Anya para ele juntas.
– Muito bom dia meninas!
– Está de bom humor hoje Karuto. Aconteceu alguma coisa? – Anya perguntou.
– Hehehe, isso é segredo por hora, mas... quem é a moça? Não me lembro de já ter a visto. – senti o cheiro de comida e o barulhento reclamou de novo (céus! Que vergonha!) – E pelo visto está com mais fome que um xylvra.
– Esta é a Cris. A pessoa que ajudou Anya a salvar nossas vidas. Cris, te apresento Karuto, o cozinheiro do QG e um de meus amigos mais queridos. – Erika nos apresentou.
– Ela é a outra heroína?! Aquela que vem trazendo os faerys contaminados de volta ao seu normal e nos protegeu do ataque dos humanos?!?
– Prazer conhecê-lo. – disse meio tímida (EU QUERO COMIDA!!!).
– O prazer é totalmente meu!! Só um momento e te dou o que comer por conta da casa!
– Obrigada. – respondemos todas.
Escolhemos uma mesa próxima para sentarmos, Erika ia buscar as bandejas e Karuto já estava a meio caminho de nós, deixando Erika e Anya impressionadas (acho que ele não tem o costume de servir pessoalmente). Enchi a boca d’água quando vi o que ele trouxe: leite, suco, torrada com geleia, bolo, frutas, biscoitos, sanduíches... Ai! Ataquei sem pensar duas vezes e QUE DE-LÍ-CIA!!!
– Hehehehe, parece que minha comida de agradou mesmo. – disse ele.
– Nem me lembro direito qual foi a última vez que comi algo tão bom assim! – falei após engolir um pedaço de bolo e ele sorria de orelha a orelha.
Ele voltou pra cozinha feliz da vida, elas me contaram o quanto era difícil acreditar no que ele acabou de fazer e como ele costuma ser (Agora entendi porque elas ficaram boquiabertas). Não demorou muito e os líderes adentraram o salão, Erika acenou para eles, onde eles acenaram de volta e foram buscar a comida deles para depois se juntarem a nós.
Quando viram a nossa comida (minha na verdade, apenas dividia com Anya e Erika), ficaram indignados com o que receberam pra comer.
– Oh Karuto! Porque é que elas estão sendo tratadas como rainhas e nós como ralé qualquer?!? – reclamou Ezarel.
– Porque elas merecem! Com apenas alguns meses cada uma, já fizeram muito mais por Eldarya inteira do que vocês juntos em séculos! E além do mais Ezarel, você ainda me deve por roubar aquele mel! – gritou Karuto da cozinha.
Nós três rimos. Valkyon sentou-se ao lado de Erika com expressão neutra, Nevra que parecia conformado ficou perto de Anya, e Ezarel que reclamava baixinho sentou à minha frente. Reparei em seus pratos, era quase nada se comparado ao que nós garotas recebemos pra comer, mas o prato do Ezarel... uma espécie de mingau verde azulado quase me fez perder o apetite (quaaase). Conversamos durante a refeição, os rapazes (com exceção de Ezarel) tentavam me convencer a fazer parte da guarda e Karuto se aproximou de nós.
– E então rainha Cris, – Ezarel fez cara feia outra vez – decidiu-se se irá fazer parte das Guardas de Eel?
– Ainda não, se bem que... – engoli uma uva – ...se eu puder desfrutar de refeições maravilhosas assim todo dia, vou acabar aceitando. – ele deu uma gargalhada.
– Está nos dizendo que Karuto está te comprando com comida? – perguntou Nevra sorrindo de jeito sem vergonha – E nós aqui quebrando a cabeça pra lhe convencer a isso.
– Não vou mentir, sou gulosa. Principalmente com doces... – taquei uma das facas que só não acertou a mão do Ezarel, prestes a roubar do meu prato sem sucesso, porque ele foi mais rápido – ...e com exceção dos meus pais, não admito que peguem do meu prato sem que eu autorize. – olhei sério para Ezarel que parecia mais irritado do que antes. Karuto ao contrário, ria.
– Hehehe, estou gostando cada vez mais de você menina. – comentou Karuto voltando pra cozinha.
– Pode deixar que irei tomar nota! – era Nevra quem quebrava o silêncio que ficou por conta da tentativa de Ezarel, causando espanto em quase todos – Eu é que não quero acabar como os soldados que lhe vi enfrentando na floresta quando fui atrás de Anya.
– Nem sei como foi que eu fiz aquilo. – confessei, agora mais tranquila – Aquilo tudo fluiu de uma forma tão estranha... tenho certeza que tudo foi coisa do Cristal Vivo. Não há como o treinamento de Absol ter me deixado boa daquele jeito.
– Treinamento com Absol? Está nos dizendo que você aprendeu a usar uma espada com um black-dog? – perguntou Ezarel cínico.
– Mas é verdade Ezarel! – era Anya – Eu assistia aos treinos deles antes mesmo de decidir ensiná-la sobre Eldarya e alquimia.
– Estou curioso sobre esses treinos. – disse Valkyon.
– Talvez se ela acabar entrando em sua guarda amor, você veja. – comentou Erika acariciando lhe o ombro.
– Estou de saída. – disse Ezarel se levantando.
– Qual o problema Ezarel? Cansou de ver nós rainhas comendo? – provocou-o Anya.
– Não pirralha. Apenas tenho que preparar o teste que você não conseguiu roubar de mim. – respondeu ele sarcasticamente e saindo.
– Que Cristal Vivo é esse? – perguntou Erika.
– É esse aqui. – Respondi retirando o cajado de minhas costas (tinha virado um hábito carregá-lo assim) e mostrando-o a todos – Foi Absol que o encontrou e me trouxe. E no mesmo dia, encontrei a primeira sombra, quero dizer, contaminado.
Eles o olhavam com atenção e admiração, Anya só os observava.
– Essa no centro do Cristal... é a Oráculo? – perguntou Nevra.
– Não temos ideia. – falamos eu e Anya juntas.
– Onde que Absol o conseguiu? – perguntou Erika.
– Não tenho ideia! Terá que perguntar pro Absol se quiser saber.
– E falando nele... aonde ele es... – Absol apareceu dando um latido, sentado entre Erika e eu, interrompendo Nevra e assustando a todos.
– Absol! Onde você estava? – ele apenas baixou a cabeça até os próprios pés para me entregar com a boca um colar, feito de pequenas contas negras de 0,5cm de tamanho com uma ovalada chata, que parecia ser de obsidiana nevada (aquela que é cheia de manchas brancas que lembram a flores ou flocos de neve) de uns 5cm no centro. Fiquei encantada – É lindo Absol! Muito obrigada. – ele abanava a cauda enquanto colocava o colar no pescoço. Anya e Erika também o admiravam.
– Definitivamente não há explorador melhor que Absol em toda a Eldarya. – Anya acabou dizendo e Absol ficou todo orgulhoso.
Anya
Depois de rimos mais um pouco por causa de Absol, terminamos de comer e comecei minha visita com a Cris. Erika não veio junto porque foi chamada pela Miiko e os rapazes tinham tarefas a cumprir com suas respectivas guardas. Foi divertido ver todos se assustando com Absol.
Mostrei tudo a ela, fosse dentro ou fora do QG, os corredores, escadas, salas, laboratório, locais de treino, jardins, o mercado, o refúgio, tudo! (até a passagem que eu usava pra ir à floresta.) Ela reconheceu sereias, lâmias e alguns outros faerys que estavam ocultando sua natureza (ainda bem que ela está do nosso lado. Já pensou um poder desses usado contra os faerys?). Quando chegou lá pras três da tarde, Ezarel mandou alguém nos chamar pro laboratório, a poção do teste estava pronta.
Fomos até lá. Além de Ezarel; Miiko, Erika, Valkyon, Kero e Nevra também estavam lá nos esperando. Erika explicou mais ou menos como o teste funcionava antes que Ezarel falasse besteira.
A mistura foi aplicada em sua palma e alguns segundos depois, a chama surgiu. Não pude deixar de achar graça da reação que ela teve com o surgir dela, arregalando os olhos e afastando a mão do corpo como se pudesse fugir dela. Ezarel gargalhava, mas ficou sério quando Kero comentou que as chamas emitidas pela poção pareciam estranhas (o que havia de diferente?), sério e muito interessado nas chamas que sumiam aos poucos.
– Ao menos confirmamos que ela é mesmo uma faeliana. – falei quando as chamas sumiram de vez. – Tá tudo bem com você Cris? – ela apenas assentiu com a cabeça sem tirar os olhos de sua mão.
– E até já sabemos o que ela é. – disse Ezarel como se tivesse se livrado de um peso.
– Eu não teria tanta certeza. – Valkyon o cortou.
– Que quer dizer? – Ezarel perguntou com uma sobrancelha erguida.
– Apesar de sentir a presença dela claramente, não me parece pertencer a um dragão, e ainda tem as visões de Erika e Leiftan, que são aengels.
– Uma mestiça dos dois? – perguntou Ezarel dando de ombros.
– Não acha isso um pouco conveniente demais, Ezarel. – disse Miiko revirando os olhos.
– Se tudo o que elas disseram terem feito for verdade... não.
A Miiko deu um longo suspiro... – Nós precisamos ter certeza! – disse ela.
– Fáfnir! Fáfnir pode nos ajudar a ter essa certeza, afinal, ele sabia o que eu era desde a hora que me viu pela primeira vez.
– Essa é uma excelente ideia Erika. – disse o Chefinho de braços cruzados com o seu sorriso de sempre.
– Apesar dos problemas que tivemos com os humanos, ainda temos condições de efetuar uma viagem para Memória com um grupo pequeno. – ponderou Kero.
– Tá, mas ainda precisamos saber se essa aí vai ou não fazer parte da guarda. – disse Ezarel apontando para a Cris que ainda olhava fixo para mão que esteve em chamas (ela está bem mesmo?).
– Muito bem Cris. Ezarel está certo, qual é a sua decisão? – Miiko perguntou.
A Cris fechou os olhos e respirou fundo. – Tenho algumas perguntas. – ela disse.
– Pergunte. – Ezarel parecia querer uma brecha para provocá-la.
– Essa viagem de que vocês estão falando, é de longa ou curta duração?
– Longa. – quase todos responderam.
– Ok. Se é longa isso quer dizer que existe uma preparação. Quanto tempo essa preparação levaria?
– De três a cinco dias, se começarmos amanhã cedo. – foi Kero quem deu a resposta.
– Certo... – ela olhou pro alto de novo, no que ela está pensando? – Façamos o seguinte então, amanhã cedo farei o tal teste pra saber de que guarda farei parte. Depois irei me transferir da floresta pro QG, pra me facilitar as coisas na guarda, e após isso eu começo a me preparar pra viagem também. Ficamos acordados assim?
– Perfeito! – Miiko parecia satisfeita – Faremos como sugeriu, pois é um ótimo plano. Só uma curiosidade, você vai voltar pra sua caverna hoje? – acaso a Miiko tem ideia da distância que é de lá pra cá?
– Honestamente esperava poder passar essa noite em Eel... – você não é a única Cris.
– Se quiser, pode dormir em minha cama. – sério Becola que já a está paquerando ela desse jeito? Absol, que estava do lado da porta também não gostou e a Cris ergueu lhe a sobrancelha desconfiada.
– Bom, eu até poderia aceitar... – Tá falando sério? Ele está até sorrindo vitória! – Mas só se aceitar a condição de Absol ficar entre nós e de eu ter uma adaga debaixo do travesseiro pra prevenir gracinhas.
Agora sim. – Parece que ela não será tão fácil assim de conquistar Chefinho. – disse feliz com a substituição do sorriso de vitória dele por um queixo caído de incredulidade.
.。.:*♡ Cap.23 ♡*:.。.
Cris
Mesmo com Erika me explicando como aquele teste funcionava, não pude deixar de assustar-me ao ver minha mão em chamas (depois dessa é melhor eu entrar pra guarda logo). E aquela historia de eu ser um dragão ou uma aengel? Ou os dois?! Aceito que a ideia me atrai, mas quem eles pensam que são para quererem decidir as coisas por mim sem mais nem menos? Questionei como que era aquela viagem para sabermos que tipo de seres decidiram se unir com algum de meus antepassados e depois de alguns instantes, dei minha opinião e sugestão. Que foi aceita na hora.
A Miiko é doida né? A distância que existe entre Eel e a caverna são de uns 40 minutos mais ou menos! E aquele tal Nevra é mesmo abusado. Estava na cara que ele tinha segundas intenções com aquela oferta (pelo menos a minha contraoferta o fez desistir). Passei a noite na casa de Anya, tive de ouvir alguns sermões da mãe dela e eu pedi minhas mais profundas desculpas por ter deixado ela me acompanhar naquela missão suicida. Não sei se ela ficou satisfeita ou constrangida com as minhas desculpas, porque ela só ficou em silêncio.
Eu apaguei! Dormi a noite in-tei-ri-nha. Coisa que só fiz durante os 14 dias em que estive inconsciente. Amanhecido o dia, só acordei por causa da Anya me chamando (tem ideia do que é ficar três noites quase em claro cuidando de um ferido sem saber como ajudá-lo de verdade?). Comemos alguma coisa e seguimos para o QG.
Quando chegamos, Kero estava abrindo a biblioteca que, ao nos ver, foi logo pedindo para eu entrar com Anya aguardando do lado de fora. A biblioteca era incrível, mas as perguntas do teste eram impossíveis! Ainda tinha coisas que não conhecia e por isso apelei ao chutômetro para acabar logo com aquilo, e que historia era aquela de “faca e coragem”? E teve uma pergunta que mais parecia uma pegadinha: opção A, Miiko; opção B, Miiko, e opção C, Miiko (era algum teste de fidelidade ao líder?). No fim, quando ele me perguntou a que guarda eu queria pertencer, Obsidiana era a única que me surgia na mente. Desde nova desejava ser uma guerreira, mas graças à minha deficiência, só em sonho. Mas aqui em Eldarya, as coisas eram diferentes. Recebi minha chance de não ficar apenas no sonho e vou aproveitá-la o máximo que puder.
Resultado: Obsidiana. Sorri de alegria com o resultado! Kero ainda me explicou mais algumas coisas sobre as guardas (ele me pareceu ser bem metódico) e eu acabei por lhe pedir um favor especial. Depois de tudo resolvido, ele me liberou. Quando saí da biblioteca, os três líderes aguardavam o resultado junto de Anya.
– Espero poder contar com suas orientações... – disse olhando suas reações até me curvar diante de Valkyon – ...meu caro líder. – ele sorriu, enquanto Nevra parecia decepcionado e Ezarel, aliviado. Vi Nevra entregar alguma coisa pro Ezarel (Acho que fizeram algum tipo de aposta) e Anya correu até mim.
– Parabéns Cris, pegou o líder mais legal de todo o QG. – disse Anya me abraçando e causando revolta em Nevra e Ezarel – E como você já está acostumada com Absol, nem vai ter muitos problemas.
– Pra você me dizer isso significa que o Valkyon é bem durão com os seus, não é?
– De fato! – respondeu os outros dois líderes e acho que Valkyon não gostou muito.
– Vocês não tem o que resolver em suas guardas não? – Valkyon disse apenas. Os dois sorriram maliciosamente e saíram quase em silêncio (Nevra assoviava) – Ainda tenho tempo antes de começar a cuidar de minha própria guarda, o que acham de informamos à Miiko e a Erika sobre o seu resultado?
– Por mim, tudo bem. – respondi apenas.
– Ótimo. E há mais alguém lá que vai adorar te conhecer. Ela chegou de surpresa durante a noite. Vocês duas serão as primeiras a vê-la. – não sei quanto à Anya, mas eu fiquei curiosa.
Seguimos até a antiga Sala do Cristal, apesar de Anya ter me mostrado a entrada ontem, nos não tínhamos entrado (não sei por que e foi o único lugar em que não entramos). Logo que entramos, senti o Cristal Vivo se manifestar outra vez me envolvendo, e depois... nada.
Valkyon
Vai fazer um mês que Erika decidiu se mudar para o meu quarto em definitivo. O antigo quarto dela, que Ezarel decorou foi repassado para uma nova recruta na semana seguinte. Minha Erika... ela parecia tão bela dormindo. Podia até passar dias que eu não me cansaria de admirar ela.
Mas bateram na porta, acordando ela.
– Valkyon! Erika! – chamaram na porta batendo outra vez.
– O que quer. – respondi meio mal humorado.
– Desculpe acordá-los, mas a Miiko está lhes chamando na Antiga Sala do Cristal.
– Tudo bem. – Erika bocejava enquanto respondia – Estaremos lá em breve.
A pessoa foi embora e nós nos levantamos depois de um longo beijo. Em poucos minutos estávamos na sala e quase não acreditei em quem estava junto de Miiko.
– Huang Hua!! – Erika correu para abraçá-la – Mas que surpresa você aqui! Quando chegou? E a Fênix? Ela já se recuperou?
– De madrugada. Pedi para Miiko guardar segredo por que queria mesmo fazer uma surpresa, principalmente depois de todos os perrengues que vocês viveram e sim, a atual Fênix recuperou a saúde dela. Eu ainda sou apenas uma aprendiz ou você acha que eu teria a coragem de não chamá-la para estar presente em minha sucessão?
Elas continuavam conversando – Feng Zifu está com você? – interrompi.
– Deve estar com Karuto na cozinha. Miiko me disse que ele era o único no QG inteiro que sabia de nossa visita.
– Isso explica o bom humor dele ontem. – acabei dizendo.
– É verdade. – concordou Erika sorrindo – Mesmo depois de Ezarel ter roubado mel da despensa, o Karuto só lhe deu mingau no café da manhã, as demais refeições foram normais.
– Hahahahaha! Esse Karuto gosta mesmo do meu tutor, o Zif. – riu a Huang Hua – Mas me diz, é mesmo verdade o que a Miiko me disse?! Há mesmo uma nova humana no QG?! – perguntou ela animada e Erika apenas assentiu com a cabeça, deixando Huang Hua ainda mais eufórica – Aaah! Não vejo a hora de poder conhecê-la!
– Ela deve estar a caminho da biblioteca para o teste das guardas... – comecei a explicar, mas acabei interrompido.
– Senhorita Huang Hua?! Você por aqui?!? Quando que chegou? – questionou Ezarel entrando na sala acompanhado de Nevra, tão surpresos quanto Erika e eu.
– Você poderia ao menos nos ter avisado. – Nevra sorria, malandro como sempre.
– Huang Hua me mandou uma carta avisando. Vocês só não estavam sabendo por que foi a própria Huang Hua que pediu segredo para poder fazer uma surpresa ao QG. – esclarecia a Miiko – Karuto sabia e me ajudou a organizar tudo para a chegada deles.
– Feng Zifu está com você? – questionou Nevra e Huang Hua respondeu que sim com a cabeça.
– Agora tá explicado! – exclamou Ezarel revirando os olhos, todos riram.
– De qualquer forma... – retomei a palavra – ...como dizia antes, a Cris, deve estar a caminho da biblioteca para fazer o teste de guarda. Se quiser, depois que ela descobrir com quem de nós... – indicava com o polegar para Nevra, Ezarel e eu – ...ela vai ficar, posso trazê-la até aqui para que a conheça.
– Aaah... eu adoraria se puder fazê-lo Valkyon! – Huang Hua respondeu.
– Então é melhor irmos indo, conhecendo Anya como conheço, tenho certeza que a Cris já está lá! – disse Nevra com um sorriso de canto.
– Então vão logo vocês três. – disse Miiko nos empurrando pra fora – A razão de os terem chamado foi pra avisá-los que Huang Hua está aqui, e já que já sabem, vão cuidar logo de seus afazeres. Anunciarei a presença de Huang Hua no QG para todos daqui uma hora, é o tempo que vocês têm para ajeitarem tudo o que precisam.
– Sim senhora. – responderam Nevra e Ezarel juntos enquanto me mantive calado.
Estávamos quase saindo do corredor quando Ezarel começou a resmungar consigo.
– O que é que você está resmungando aí, Ezarel? – perguntou o Nevra.
– Obsidiana ou Sombra.
– É o quê? – perguntei.
– A guarda em que a Cris vai cair. Ou vai ser na Obsidiana, ou vai ser na Sombra.
– Mas e quanto a Absinto? – questionou Nevra.
– Não... com certeza não corro esse risco. – ele ria nervoso – Não depois de tudo que Anya nos contou.
– Ah! Eu adoraria que ela caísse na minha guarda... – falava Nevra ao terminarmos de subir as escadas para a biblioteca – ...Ih, olha a Anya ali!
Anya andava de um lado para o outro em frente à biblioteca.
– Bom dia Anya! – cumprimentei – A Cris já está lá dentro?
– Está. E eu a estou esperando.
– E não acha que está um pouco nervosa demais? – perguntou Ezarel cruzando os braços.
– Pelo pouco que a conheço, ou ela vai pra Sombra ou pra Obsidiana. – nos três nos entreolhamos – Por mim, ela cairia na Sombra, mas conhecendo o pouco que sei dela, é melhor que caia na Obsidiana.
– E você pensa assim por que... – começou Nevra.
– Porque ela detesta homens mulherengos. Cris dá muito valor à fidelidade de um homem para com a mulher, o que não é o seu caso Becola. Se por algum pesadelo ela cair na Absinto, não haverá um dia nesse QG sem confusão entre ela e o Ezarel. O único confiável entre vocês três é o Valkyon! Mesmo ela já o tendo como favorito, uma vez que ele já seja comprometido, ela vai respeitá-lo com toda a certeza.
Não sei se Nevra ficou chateado por ser chamado de becola ou por conta das palavras de Anya sobre a Cris, pois fechou a cara e cruzou os braços. – Tomara então que caia na Sombra. – foi tudo o que ele disse.
– Eu não contaria com isso Nevra. – Ezarel sorria – Aposto que ela vai pra Obsidiana.
– Eu realmente gostaria de tê-la na minha guarda. – confessei – Estou curioso sobre como um black-dog pode ensinar alguém a usar uma espada.
– 500 maanas que ela cai na Sombra. – apostou Nevra.
– Tá apostado. – aceitou Ezarel – Não vejo a hora de ela sair daí.
– Você vai me desculpar Chefinho, mas essa você já perdeu. – Anya finalmente se acalmou um pouco e Nevra apenas ficou em silêncio aguardando. Ezarel (que parecia nervoso) e eu o imitamos.
Não demorou muito para ela sair, estávamos apreensivos e ela sabia como nos deixar ainda mais nervosos, mas não consegui esconder minha satisfação em tê-la sob minha tutela quando ela revelou ter caído na Obsidiana.
O comentário de Anya não me agradou muito (o quê ela quis dizer ao me comparar com um black-dog?). Dispensei Nevra e Ezarel que bancavam os engraçadinhos e convidei as meninas para verem a Huang Hua.
Seguimos até a antiga Sala do Cristal e logo depois da Cris terminar de adentrar a sala, o cristal do cajado que ela levava às costas começou a brilhar. Esse brilho a envolveu por completo e ela começou a cantar em outra língua. Todos estavam impressionados.
Enquanto ela cantava, os pedaços de cristal desvitalizados que estavam no fundo da sala, junto dos contaminados que guardávamos no meio deles, começaram a flutuar em direção da Cris que continuava cantando e emanando uma maana incomum. Os cristais se liquefizeram junto do cristal que pertencia a Cris, formando um único cristal branco depois de uma fumaça negra deixar os fragmentos contaminados.
– Ela está orando na língua original... – comentou Huang Hua de olhos arregalados quase sussurrando.
Mas o mais impressionante de tudo isso, foi a aparição de uma Oráculo branca, que começou a falar conosco enquanto a Cris ainda cantava, ambas na língua original.
“A Oráculo não pode mais cuidar de Eldarya como antes, por isso deixou as sementes. Quando as sementes forem reunidas, sob a tutela dela, elas renasceram o Grande Cristal. Ela...” – ela apontava para Cris – “...é o catalisador atraído pelas sementes e a conexão que Eldarya precisava.” – agora ela olhava fixo para a Miiko – “Deixem-na viver como ela precisa viver.”
Depois ela estendeu uma das mãos para a Cris e uma pequena parte do Novo Cristal se transformou em um colar em volta de seu pescoço.
A Oráculo branca entrou no Cristal que agora tinha a mesma aparência do cristal que a Cris carregava só que em maior escala. A Cris parou de cantar ao mesmo tempo em que a Oráculo sumiu, desmaiando e sendo aparada por Nevra logo em seguida (quando foi que eles chegaram aqui?) com Ezarel petrificado atrás dele.
– Mas o quê foi tudo isso?!? – perguntou Nevra segurando a Cris nos braços.
– Desde quando vocês estão aí? – perguntou Miiko.
– Desde que os pedaços de cristal começaram a se transformar com essa aí brilhando. – respondeu Ezarel apontando para Cris inconsciente.
– Eu me esqueci de passar à Anya uma tarefa, por isso voltei aqui. Ezarel me seguiu pra me perturbar. – explicou-se Nevra.
– Eu sabia que o cantarolar dela me parecia familiar. – comentou Anya como que para consigo mesma.
– O que você quer dizer com isso Anya?? – questionou Miiko.
– Lembram quando eu trouxe o último descontaminado? Durante o processo, ela estava cantando como agora! Eu não reconheci a língua porque eu mal comecei a aprendê-la, mas sabia que era familiar.
– Ah, é verdade. Você é péssima em idiomas!
– Cala a boca Ezarel! Só porque eu gastei quase dez anos para aprender a língua dos kappas? A Cris nem tem consciência que conhece a língua original, ela acha que apenas cantarola qualquer coisa enquanto reza em seu coração. Ao menos foi isso que ela me disse. – terminou ela de explicar meio emburrada por culpa do Ezarel.
Todos estavam sem saber o que dizer ou fazer. Foi Erika quem interveio naquela situação.
– Aquela Oráculo Branca... É a mesma que apareceu em meus sonhos, talvez ela e a Oráculo Negra sejam as sementes que ela mencionou e seus espíritos devem estar habitando em fragmentos específicos. Como a Branca estava no Cristal Vivo da Cris, é possível que a Negra esteja habitando em outro fragmento em algum lugar de Eldarya.
– E que aparentemente só a Cris é capaz de reuni-las da devida forma, por isso que elas a atraíram pra cá. – complementava Huang Hua – Mas para que isso aconteça, ela precisa fazê-lo naturalmente, sem ser forçada a nada. Foi o que eu entendi.
– Acho melhor ela não ficar sabendo de tudo isso por enquanto. – declarou-se Miiko – Vamos deixá-la descansar por hora. Nevra, tente obter pistas desse possível fragmento com o espírito da outra Oráculo... – Miiko olhava fixo para Cris nos braços dele – e aproveite para deixá-la na enfermaria. Em que guarda ela entrou?
– Obsidiana. – respondemos Anya e eu juntos, enquanto Nevra saía com a Cris para a enfermaria.
– Certo. Isso facilita então. Valkyon, gostaria que você ficasse de olho nela junto de Erika. Como ela parece ser uma possível mestiça de aengel e dragão, vocês dois são as melhores opções para esta tarefa.
– Como desejar Miiko. – respondi e Erika assentiu com a cabeça em concordância à ordem.
Nevra retornou em seguida, discutimos mais um pouco sobre a Cris e Anya foi para junto dela, esperando-a acordar.
.。.:*♡ Cap.24 ♡*:.。.
Cris
Voltei a mim na enfermaria (mas eu não entrei foi na Sala do Cristal?? Como é que fui parar aqui?), Anya cochilava perto de mim. Esfreguei as mãos no rosto para despertar direito, deslizando-as até o pescoço onde senti um colar (que colar é este??). Confusa, me levantei devagar e fui a um espelho que havia ali. O colar era... feito de cristal? Uma corrente fina de cristal branco sem fecho (como e quem o colocou em mim?!) com uma pedra ovalada também meio branca no centro. A pedra tinha uma pena desenhada em seu centro, até parecia uma versão menor do Cristal Vivo. Alguém poderia me explicar o que se passa aqui?
– Cris?...
– Anya. – ela acordou – Pode, por favor, me dizer o que foi que aconteceu? A última coisa que me lembro foi de estar sendo outra vez envolvida pelo Cristal Vivo ao entrar na Sala do Cristal e depois, nada.
– Talvez nós possamos responder isso. – foi Erika quem falou acompanhada de uma mulher negra que parecia ser uma modelo ou uma atriz famosa de tão bonita (quando foi que elas entraram?).
– Por favor! – disse gesticulando para que entrassem.
– Antes de qualquer coisa, esta é a Huang Hua. Era ela quem Valkyon queria lhe apresentar antes de tudo isso acontecer. Miiko acabou de avisar sobre a presença dela em Eel para todos.
– É um prazer conhecê-la Cris! – disse a Huang Hua pegando carinhosamente em minhas mãos e com um largo sorriso.
– O prazer é meu. – lhe fiz uma reverência – Agora... quanto ao o quê que aconteceu...
– Onde está Ewelein? – a Erika perguntou.
– Ela foi ao mercado atrás de algumas ervas. – respondia Anya – Disse que não demoraria e eu fiquei com a Cris.
– Compreendemos. – falou Huang Hua com ternura – Agora... você realmente não se lembra de nada fora de ter sido envolvida pela luz de seu cristal? – apenas neguei com a cabeça e todas elas se entreolharam – Bom. Como podemos lhe explicar...
– Você reconstruiu o Grande Cristal. Uma pequena parte dele pra ser honesta. – começou Erika.
– Eu o quê?!?
– Você começou a agir que nem quando fazia com os infectados. Começou a cantar e os pedaços de cristal começaram a flutuar, se fundindo como se fossem líquido. Os fragmentos corrompidos que estavam sendo guardados entre eles fizeram igual aos fragmentos que você removia dos faerys contaminados, ficando brancos após liberarem uma fumaça negra que partia não sei pra onde. – falou Anya, eu estava de boca aberta.
– Eu percebi que sua canção na verdade era uma oração entoada na língua original. Recebemos a aparição de uma outra Oráculo que acreditamos ser uma das sementes deixadas pela nossa Oráculo original. – prosseguiu a Huang Hua.
– Ao que parece, nós duas já sonhamos com essas oráculos pelo o que Anya nos contou. – agora era Erika que explicava – E segundo o que a Branca nos revelou, elas estão de certa forma envolvidas em sua vinda para Eldarya, pois necessitam de sua ajuda para ressuscitarem o Grande Cristal.
– Além de nos alertar que sua ajuda deve ser natural. Você precisa fazer as coisas que precisa fazer no seu tempo e sem ninguém a pressionando em nada. – concluiu Huang Hua.
Eu estava transtornada com todas aquelas informações, nunca gostei de enrolação e por isso sempre preferi que me dissessem as coisas na lata, mas aquilo era um pouco demais. Achei que tinha ficado chocada com a forma que meu teste faery se realizou, mas me enganei. Chocada estou agora! – Quero vê-lo. – foi tudo o que eu consegui dizer.
– Ver... quem? – perguntou Anya.
– O Cristal. Eu quero vê-lo. – respondi.
– Você tem certeza? – perguntou-me Erika apoiando uma das mãos em meu ombro e como resposta, apenas assenti com a cabeça. – Então vamos. – disse ela em meio a um longo suspiro.
Ao terminarmos de descer as escadas, nos encontramos com Ewelein que, ao saber para onde íamos, quis nos acompanhar. Ela deixou as ervas compradas na enfermaria e correu ao nosso encontro. Seguimos até a Sala do Cristal e eu estava nervosa. Ainda não tinha engolido toda aquela história que as meninas me contaram. Ao colocar o pé pra dentro da sala (por favor, Senhor, que eu continue desperta dessa vez...) nada aconteceu (ufa!... _suspirando_).
A sala era enorme e um cristal branco mais ou menos do meu tamanho (tenho 1,65m) se encontrava no centro da sala. Me aproximei devagar dele para observá-lo melhor. Miiko estava lá o examinando e ficou me observando junto das outras. A largura do cristal tinha pelo menos 3x o meu tamanho e pude enxergar a pequena anja que devia ser a tal Oráculo bem no meio do cristal. Rezei uma Ave-Maria com toda a devoção possível e ele brilhou deixando todas elas surpresas. Um Cristal Vivo gigante, era isso que resumia aquela pedra enorme.
– Contem-me exatamente o que a Branca falou. – disse enfim quebrando aquele silêncio atrás de mim. Elas pareciam receosas, mas repetiram tudo (catalisador? Como assim? E que tipo de conexão eu seria?), refletia sobre tudo aquilo e Ezarel nos interrompeu.
– Ewelein, preciso dos resultados de sua análise para poder usar a poção nos humanos... Interrompo alguma coisa? – ele nos observava meio desconcertado pelo grupo de mulheres.
– Não. – respondi – Esses humanos que mencionou, são os que foram pegos nas armadilhas da floresta?
– Exatamente. – disse Ewelein – Eles estão prontos sob a minha mesa, vou buscá-los. Com licença. – e ela saiu.
Antes que Ezarel a seguisse, voltei a perguntar. – O que exatamente vocês estão fazendo com eles? E o que aconteceu com os demais Ezarel?
Ele olhou para a Miiko como se estivesse lhe pedindo o consentimento para falar, recebendo-o. – Os que nos foram entregues pelos cheads, estão sendo mantidos na prisão enquanto não decidimos o que fazer com eles, já que Erika os protege. – pelo jeito que ele falava, acho que a punição dele seria morte (obrigada Erika) – E quanto aos que se salvaram da explosão que você e Anya causaram no acampamento deles... – engoli seco (espero que não tenha muitos mortos. Não estou a fim de carregar almas nas costas) – ...segundo Nevra, por causa da perda, eles voltaram pra Terra, abandonando os que estão conosco.
– Nós tentamos interrogá-los para descobrir como é que eles conseguiam chegar em Eldarya,... – era a vez da Miiko falar – ...mas eles se negam a colaborar com qualquer informação. Então pedi à Ezarel que criasse uma poção que os fizesse esquecer tudo sobre Eldarya já que a única poção que conhecemos apaga as memórias sobre aquele que a bebe, e o que queremos é o contrário.
– Erika não permitiu o uso de nenhuma poção que não fosse aprovada pela Ewelein e o Ezarel está doido pra se livrar dos humanos. – comentou Anya e Ezarel lhe fuzilava com os olhos.
– Tudo bem se eu vê-los? – perguntei sem saber se olhava para Miiko ou para Ezarel pra obter a autorização.
– Eles não deixam nem a mim! – reclamou a Anya – Tá certo que ainda sou criança, mas fui eu quem ajudou com aquelas armadilhas. Tenho direito de saber como são os homens que ajudei a capturar. – terminou ela com os braços cruzados e fazendo bico. Ezarel revirava os olhos.
– Acho que não há problemas em deixá-las vê-los. – opinou a Huang Hua, deixando Ezarel louco, Erika e Miiko abismadas, e Anya e eu esperançosas – Quero dizer, como foi graças às duas que aqueles homens foram capturados, é um direito e dever delas saber como eles estão sendo tratados já que faz parte da responsabilidade delas. E sei que tudo lá embaixo está seguro o suficiente para que elas possam vê-los.
Diante dos argumentos de Huang Hua, Miiko acabou concedendo, deixando Ezarel bem mal humorado já que ele é quem deveria nos acompanhar até a prisão.
Ewelein chegou em seguida, entregando a Ezarel os resultados de suas análises (não senti confiança nela sobre aqueles resultados) e autorizando o uso da poção. Ezarel resolveu juntar o útil ao agradável quando exigiu que Anya e eu o ajudássemos na prisão.
A caminho de lá, esqueci que pra chegar à prisão era necessário passar por uma infinidade de escadas (ai minhas pernas...), mas como Huang Hua havia dito, era minha obrigação e direito vê-los, pois parte da responsabilidade sobre eles era minha!
Nós mal adentramos a prisão e ouvi um estalo. Ezarel batia na própria testa dizendo que esquecera algo importante no laboratório e que precisava buscar. Tanto Anya como eu nos recusamos a subir aquela montanha de escadas para descemos de novo logo em seguida.
– Tudo bem. – falou ele – Me esperem aqui. – ele apontava para o chão próximo à saída – Eu não me demoro. – e saiu correndo.
Nós duas nos olhamos e sorrimos cúmplices (até parece que eu ia obedecer aquele chato). A prisão era escura e úmida, com uma espécie de grande lago ou poço esverdeado (que de certa forma parecia ser a maior fonte de luz daquele lugar) que sem dúvida devia estar ligado ao lado de fora em seu centro, começamos a olhar as celas com prisioneiros com Anya seguindo por um lado e eu pelo outro. Os soldados nos encaravam em silêncio. Eles não me pareciam maltratados, mas com certeza precisavam de alguma higienização. Não sabia e nem conseguia falar.
Continuei os observando e ouvi um som que parecia correntes vindas mais do fundo (estranho, ninguém ali estava acorrentado), chegando em frente à cela (que era a última) de onde parecia ser a origem do barulho, ela estava... vazia? Esfreguei os olhos para ter certeza e a cela realmente parecia vazia (mesmo ouvindo claramente as correntes ali). Fiz sinal para Anya que venho logo até mim. – Anya... – sussurrava – ...são os meus olhos ou esta cela está vazia? – a reação dela me deu a resposta: são meus olhos.
– Esta cela possui a capacidade de neutralizar todo e qualquer poder mágico de quem estiver dentro. – ela me explicava sussurrando – Será que ela também tem a capacidade de bloquear a sua visão especial?
– Se for isso mesmo, é melhor ficar só entre nós duas por enquanto.
– Boa ideia. Pois eu aposto que, se for isso mesmo, Ezarel vai tentar tirar proveito! – deixamos escapar um riso abafado.
Dei mais uma olhada na cela “vazia” e me afastei. Anya ficou conversando com quem estava lá (será ele o amigo secreto dela que a ajudou a ir pra floresta? Isso não me cheira muito bem). Passou-se o que? 10 ou 15 minutos? E Ezarel estava de volta, brigando com nós duas por não o termos obedecido (ele deve ter se aproveitado das pernas longas para ter ido tão rápido).
– O quê exatamente você foi buscar? – perguntei.
– Uma contra-poção universal. Caso essa não funcione como deve. – comecei a suar frio com a resposta dele e acho que os soldados que puderam ouvir reagiram da mesma forma.
– Está me dizendo que esta poção pode acabar sendo como algum tipo de veneno para eles? É isso que eu entendi? – perguntei nervosa e ele apenas assentiu com a cabeça como se falássemos da coisa mais banal do mundo. Aquilo me irritou. Aqueles soldados podiam não ser os melhores exemplos da humanidade, mas ainda eram vidas! – Me dê essa poção! – exigi estendendo a mão.
– Ficou louca? – respondeu ele e Anya se afastou ao perceber minha irritação. Os soldados só prestavam atenção.
– Louca ficarei no momento em que você ferir qualquer um deles com suas misturas malucas. Não é à toa que não senti segurança na Ewelein quando ela lhe autorizou usar essa poção. – ele preparava uma seringa com a tal poção.
– Olha aqui, oh mulher, quanto mais rápido eu ficar livre da responsabilidade de cuidar deles, mais rápido vou poder voltar a me ocupar com o que realmente me interessa.
– Eu não estou nem ai com o que ti interessa ou não. ME. DÊ. ESSA. POÇÃO! – esse cara está me provocando...
Ele me ignorou e começou a se dirigir a primeira vítima, (não mesmo!) dei-lhe uma rasteira que fez a seringa quebrar, o soldado ao qual ele se dirigia parecia aliviado. Ezarel veio furioso para o meu lado.
– Agora sei que está louca. O que pensa que está fazendo?! – disse ele de forma ameaçadora.
– Assumindo minha responsabilidade! – respondi sem me acovardar (ele realmente me deixou irritada) – Foram as minhas armadilhas armadas junto de Anya e das cheads que capturaram esses homens. Vivos! E não vai ser um alquimista qualquer que vai colocar a vida deles em risco.
Agora ele parecia tão irritado quanto eu, foi para a mesa onde tinha colocado a tal poção e equipamentos, mudando de expressão ao dar falta de algo – Onde está a minha poção?!?
– Aqui! – disse Anya saindo de trás de mim com o frasco na mão.
– Me devolva! – ele ordenava.
– Não! – disse ela deixando-o vermelho – Concordo com a Cris. Criamos aquelas armadilhas para proteger Eel, não para tirar vidas. Prefiro entregá-la à Cris. – ela me entregava a garrafa que peguei antes que ele pudesse recuperá-la.
No instante que toquei aquela poção, o colar de cristal começou a brilhar e sua luz me envolver como o Cristal Vivo fazia. Tudo escureceu (de novo?!?!).
Lance
Tudo parecia ser mais um dia monótono, fazia os exercícios que as correntes me permitiam para não perder a forma física com um ou outro humano reclamando das correntes. Foi quando que comecei a sentir a presença da possível dragoa se aproximando.
Parei tudo e comecei a observar, logo o elfo da Absinto apareceu junto de Anya e de uma mulher que percebi na hora se tratar da tal Cris por conta de sua presença cada vez mais forte e... (meus olhos devem estar me pregando peças) há duas Oráculos fantasmas atrás dela?!?
Uma versão branca e uma negra. Esfreguei os olhos e ainda me belisquei para ter certeza que não estava sonhando. Olhei de novo e as duas me encaravam, a branca com expressão que lembrava uma monja e a negra, de uma criança travessa (ela me acenava um tchau?).
Parece que Ezarel esqueceu-se de algo e saiu deixando as duas pra trás. Elas começaram a andar por entre as celas ignorando as ordens do elfo. A Cris seguia para o meu lado com as Oráculos flutuando atrás dela (só eu as estava enxergando?). Ela era uma mulher de altura média, longos cabelos cacheados e castanhos escuros, pele clara e parecia que os grandes olhos também eram castanhos, uma mulher bonita no final de tudo ao que dava pra perceber em suas roupas justas e capa. Acabei me mexendo e fazendo barulho com as correntes, barulho que chamou a atenção dela e ela começou a se aproximar de onde eu estava.
Antes que ela pudesse me ver, a Oráculo branca cobriu seus olhos com as mãos translúcidas (porque motivo?) e a negra fazia sinal de silêncio para mim (ela estava me dando ordens!?). Quando a mulher ficou de frente a mim, era claro que alguma coisa estava errada, ela parecia não me ver (como a branca estava fazendo isso?) além de ficar nítido que eu era o único que estava vendo aquelas duas já que a mulher diante de mim parecia não notar que a branca lhe cobria os olhos.
Tentei falar com ela, mas minha voz não saía, por mais que eu forçasse tudo o que conseguia era fazer barulho com as correntes a qual ela reagia. A negra parecia estar segurando uma gargalhada com a situação e aquilo estava me deixando irritado. Ela fez sinal para que Anya se aproximasse e elas começaram a cochichar entre si e pelas suas reações, acho que sei o motivo. Ela se afastou, deixando Anya diante de mim e conversamos em voz baixa (acho que não conseguia falar por culpa daquela Oráculo negra).
– Ela é a tal da Cris, não é? O que cochichavam? – perguntei.
– Sim é ela e... por algum motivo ela não estava conseguindo te ver. Acho que pode ser por causa dessa cela.
Eu sabia – Não creio que seja culpa dessas grades... – elas realmente não estão enxergando aquelas Oráculos grudadas na Cris, mas... por outro lado... – ...e ainda bem que ela não pôde me enxergar nesse estado.
– O que quer dizer?
Acho que minha chance de fuga está mais perto – Tenho meu orgulho. – respondi sorrindo – Não acho que ela ia gostar de me conhecer nesse estado. Até você assustou-se quando me viu pela primeira vez!
– É, bem... você pode ter razão.
Estava prestes a lhe pedir algo para “consertar” a minha “situação” quando o elfo chegou fazendo Anya afastar-se depressa (porcaria de elfo!).
O elfo se preparava pra injetar alguma coisa nos humanos, a Cris se mostrou contra e pude perceber Anya roubando a garrafa com uma tal poção bem debaixo dos narizes deles enquanto discutiam. Não pude evitar de rir quando o elfo levou uma rasteira da mulher (a negra se segurava para não dar uma gargalhada ecoante) que, apesar daquele papinho meloso de proteção ao que é vivo dela, me surpreendeu com aquela demonstração de ousadia e coragem.
Ééé... Ela não é qualquer mulher mesmo. Anya estava do lado dela, estava adorando ver aquele elfo cada vez mais vermelho. Mas tudo mudou no momento em que a mulher pegou naquela poção.
O colar que a Cris usava começou a brilhar e as Oráculos... possuíam ela!?! Aquelas fantasmas entravam juntas no corpo da humana por trás dela e a luz que saía do colar que usava evolveu-lhe todo o corpo (acho que não havia um que não estivesse abismado e isso sendo eu o único a enxergar aquelas Oráculos).
Ela começou a cantar estendo a poção diante de si. A poção que antes era verde amarelada foi aos poucos tomando uma aparência azul cristalina. A tampa que fechava a garrafa sumiu e a poção começou a flutuar se transformando numa espécie de névoa, que flutuou até cada um daqueles humanos presos (o que exatamente elas estão fazendo?). Alguns dos homens tentaram fugir da névoa em vão, todos eles a aspiraram aceitando ou não.
Consumida toda a poção (Ezarel parecia uma estátua de boca aberta) um dos soldados se aproximou de suas grades e estendeu uma das mãos que continha... Isso é possível? Durante todo esse tempo ele escondia um pedaço do Grande Cristal?!... Um pedaço limpo, azul e brilhante (como ninguém, e nem eu, o percebeu?), Ezarel estava branco e Anya parecia cada vez mais excitada com tudo o que via. Antes que o elfo assumisse qualquer ação, a mulher estendeu a mão para o cristal que flutuou até ela, no instante em que ele estava em suas mãos, todas as celas que continham os humanos se abriram.
Na hora Ezarel pegou na espada que carregava, mas Anya o impediu de sacá-la (ela devia querer saber o que mais ia acontecer, como eu) e um a um, aqueles homens deixavam suas celas (porque eu também não era liberto?), esperava por algum tipo de rebelião naquele momento, mas não houve nada. Cris emanava uma maana tão estranha e suave enquanto cantava que estava conseguindo acalmar até a mim! Os homens agiam como se estivessem diante de seu líder.
Ela se aproximou do poço de agua da prisão, estendeu as mãos, contendo o cristal, mais uma vez e... um portal se abriu?!? Aqui na prisão?!? Quem era aquela mulher?? O que aquelas Oráculos que a possuíram planejavam?
Aberto o portal, todos os soldados o atravessaram, um de cada vez. Após a passagem do último, o portal foi fechado. O cristal na mão dela tornou branco e fundiu-se com seu colar. As Oráculos deixaram-lhe o corpo e sumiram, com a luz que a envolvia sumindo junto. Ela só não se esborrachou desmaiada no chão porque Ezarel a segurou a tempo e Anya parecia estar preocupada com ela. – Ela deve ter gasto maana demais! – ouvi o elfo dizer – Vamos levá-la de novo à enfermaria e reportar a Miiko. – de novo? Algo assim já aconteceu hoje?
Eles saíram às pressas da prisão. Terei de esperar a boa vontade da Anya de retornar à prisão para conversarmos.
.。.:*♡ Cap.25 ♡*:.。.
Cris
Abri os olhos já os revirando, olhei para os lados sem erguer a cabeça (estou outra vez na enfermaria... o que fiz dessa vez?), sentei devagar na cama procurando alguém para iluminar-me sobre os fatos, mas parecia que estava sozinha dessa vez. Ia chamar por alguém quando a porta abriu com Ezarel entrando.
– Mas vejam... A senhorita mistério acordou outra vez! – eu não estava com muita paciência para ironias.
– Desembucha! O que foi que eu fiz dessa vez? Porque precisei ser trazida pra cá de novo?
– Vai me dizer que não se lembra. – o elfo tinha um sorriso irritante na cara.
– Lembro-me de lhe dar uma rasteira e da sua cara quando Anya disse-lhe que estava do meu lado lá embaixo. – falei. O sorriso dele sumiu (e o meu surgiu).
– E quanto ao que fez ao ter a poção em suas mãos? – Ewelein que surgia dos fundos, perguntou. Um negar com a cabeça foi a minha resposta.
– Está de brincadeira conosco, né? – Ezarel reclamava com sarcasmo – Acha mesmo que vamos acreditar nessa baboseira? – ele tem o dom de me irritar com as piores coisas.
– Muito cuidado ao me chamar de mentirosa quando eu disser a verdade, seu canalha. – respondi contendo a minha raiva e vontade de esganar lhe, ele perdeu o sorriso.
– Ezarel, deixe de brincadeiras e apenas conte à ela o que aconteceu. – a ordem veio da Miiko que estava ao lado de Ewelein (desde quando ela estava aqui dentro?).
Ele apenas cruzou os braços em protesto e começou à contar tudo. Eu adulterei a poção e a transformei em névoa para os prisioneiros a inalarem? E... abri um portal por onde todos eles passaram? E ainda usando um pedaço do Grande Cristal que eles escondiam e que se fundiu com o meu colar? (pensando bem, a pedra no meu pescoço parece mesmo maior). Mas o que é que me acontece neste lugar?
– Pra onde exatamente eu os mandei? – perguntei.
– E eu que vou saber? – reclamava Ezarel – Esperava que você nos desse essa resposta!
– Eu teria o maior prazer de responder, se eu soubesse.
– Ok vocês dois, já chega. – Ewelein intrometeu-se – Isto é uma enfermaria e não uma esquina de rua! Deixem as discussões inúteis lá pra fora!
Respirei fundo e nós dois pedimos desculpas a ela. Como era a minha segunda “visita” à enfermaria naquele dia, Ewelein me examinou rigorosamente. Não constando nada de estranho após me recolher uma amostra de sangue (detesto agulhas e ver Ezarel rindo de mim antes de sair, reanimava a minha raiva) para estudá-la mais tarde, liberou-me em seguida.
Huang Hua e Erika me aguardavam do lado de fora, Miiko me seguia – Ainda tenho algumas perguntas pra você. – disse ela depois de fechada a porta.
– E o que mais deseja saber... – meu dia não está lá sendo algo muito animador.
– Você sabia sobre o Cristal que estava com aqueles humanos? – perguntou a Miiko enquanto íamos não sei pra onde com Erika e Huang Hua junto.
– Não. Nem sonhava pra dizer a verdade. E como foi que vocês não perceberam? – Miiko não respondeu, nenhuma delas pra dizer a verdade. – E aí? Eu sou obrigada a responder e vocês não? Um pouquinho injusto não acha?
– Eles souberam esconder bem. – falou Erika coçando a cabeça – Quando nos foi tido que aqueles homens faziam parte dos soldados que queriam nos atacar revistamos um por um e não encontramos quase nada. Apenas um canivete ou outro ainda estava com eles.
– As cheads não devem ter acreditado que se tratassem de armas ocultas quando os desarmaram... – falei e Erika concordou-me.
Estávamos no corredor onde o quartos começavam – Onde estamos indo exatamente? – acabei por perguntar e Absol apareceu do nada ao meu lado todo carente e causando um pequeno susto em todas nós.
– Ah, bom... – Miiko pigarreava – Estamos indo para o seu quarto.
– Meu quarto?
– Sim. – agora era a Erika – Por causa de uma certa missão que fracassou, perdermos alguns dos nossos e... apesar de termos recebido novos recrutas, dos três quartos ainda disponíveis, só um tornou-se aceitável para entregá-lo a você.
– E porque isso? – perguntei e tanto Erika quanto Miiko dirigiram o olhar para Absol que caminhava colado ao meu lado – Entendi. Ninguém aqui está acostumado a presença de um black-dog.
– Geralmente os black-dogs são 0% confiáveis então...
– Talvez Absol seja uma ovelha negra. – comentei sorrindo. Erika riu já Miiko e Huang Hua ficaram por entender.
Nós praticamente subimos a torre inteira, Miiko explicou que meu quarto seria o último da torre (mas que maravilha...) e que ele havia pertencido a um titã que se recusava a dormir ou banhar-se sem o seu mascote e, como ele gostava de dormir em sua forma original (Erika explicou que ele tomava poções para assumir uma forma menos gigantesca no QG) o quarto seria forte, espaçoso e seguro o suficiente para abrigar Absol e a mim uma vez que o tal do Celsior era muito preocupado com isso, e como eu estava habituada a viver em uma caverna (comecei a desconfiar nesse ponto) o quarto deveria me agradar. Como o cara era sozinho e sem parentes ao que ela sabia, me autorizou a vender as coisas dele para que eu pudesse reunir algum dinheiro de imediato (a consciência queria doar as coisas ao invés de vendê-las mas a razão lembrou-me que se eu ia mudar o meu quarto, ia precisar de dinheiro).
Ao chegarmos finalmente diante da porta do meu quarto, Anya, Ezarel e Nevra estavam tentando arrombar a porta. – Vocês ainda não conseguiram abrir isto?! – reclamou a Miiko (eles perderam as chaves?).
– Celsior levava a segurança do quarto dele a sério. Havia uma montanha de encantamentos de proteção nessa porta! Só agora é que conseguimos remover todas para arrombar lhe, aquele titã tinha que ter perdido os pertences no mar?!
– Cuidado ao insultar os mortos... – falei – Vai que ele decide lhe tirar satisfações! – Ezarel me fez cara feia enquanto Anya e Nevra sorriam quase rindo e as mulheres comigo mantinham-se neutras.
Ouvimos um click – Consegui! – exclamou Nevra.
– Até que fim! – falava Ezarel – Vamos logo trocar essa fechadur... – todos nós cobrimos a boca e o nariz quando a porta foi aberta. Um fedor enorme de mofo e podridão saía do quarto.
– Agora entendo porque Celsior me pedia poções de purificação do ar além das de encolhimento e crescimento. – comentou Ezarel.
Só aquele cheiro horrível já estava me deixando com mais medo de olhar o quarto e quando fiquei diante da porta, minha vontade foi de chorar (de desespero!!). O quarto era um enorme breu (as paredes deviam ser brancas, mas pareciam cinza), todos os “móveis” além de serem enormes pareciam todos apodrecerem e sem falar que o piso parecia chão batido (nós não estávamos no topo de uma torre?) a parede de pedra que fazia divisão com um outro espaço estava coberta de mofo e musgo escuro, o chão tinha (aquilo vermelho era uma mancha de sangue?!?) sujeira e plantas espalhadas além de rachaduras e teias por todos os lados.
Quarto Celsior:
Fiquem a vontade para piorá-lo em suas imaginações. Não consegui desenhar exatamente o que tinha imaginado...
Entrei para abrir a janela imunda e com alguns vidros quebrados para que algum ar pudesse circular ali, Nevra precisou me ajudar, pois ela estava emperrada. E quando cheguei perto para ver o que havia do outro lado daquela divisa, quase vomitei. A luz não funcionava, mas pude enxergar o banheiro mais asqueroso e nojento que podia ter conhecido em toda a minha vida. Todos entraram sem se afastarem da porta.
– E eu que achava que o meu era ruim quando você me entregou Miiko. – comentou Erika tão horrorizada quanto os outros.
– Miiko. – Huang Hua estava séria (e meio irritada) – Esse! É o quarto que pretende entregar à menina?
– Juro Huang Hua. Não tinha ideia que aquele titã vivia em um ambiente assim!
– Pois devia! – repreendeu Huang Hua.
A “cama” que mais parecia uma almofada gigante se não era amarela daquele jeito mesmo, estava encardida. Eu abri o guarda-roupa e tive uma surpresa (não esperava que existissem traças em Eldarya) nunca que esperaria ver roupas tão grandes e capazes de sobreviver aquele caos.
– Ao menos as roupas podem nos render uma quantia melhor. – disse Anya ao meu lado conferindo as roupas e armaduras junto.
– Olha... – falei – Eu não me importo de ficar neste quarto, mas só se me ajudarem a deixar este lugar... habitável.
– Eu não me importo de ajudá-la depois de tudo que fez por nós. – ofereceu-se Nevra.
– Nem eu! – disse Anya e Erika quase ao mesmo tempo.
– Miiko e eu também ajudaremos, não é verdade Miiko. – falou Huang Hua com um olhar requisitor sobre a kitsune que assentiu meio a contragosto.
– Quanto a mim, vocês po...
– Também vai ajudar! – proclamou Miiko cortando a fala de Ezarel que ficou tão injuriado quanto ela.
– Santo Oráculo!! – uma voz vinda da porta chamou a atenção de todos. Era Ewelein – Este é o quarto que você disponibilizou para ela Miiko? – sua expressão era de horrorizada e tornou-se branca ao receber a confirmação de todos – Como representante da Reluzente, em nome de toda a Guarda de Eel, suplico-vos o mais sincero perdão, Cris. – pediu ela com uma reverência em minha direção deixando todos (especialmente eu) sem graça.
– Não acha que está exagerando um pouco? – perguntou Ezarel incomodado.
– Conheceu o lugar onde ela estava morando até agora? – ele negou – Então não pode reclamar. – Absol e Anya concordavam com ela.
– Porque veio aqui Ewelein? – cortou Miiko – Você não deixaria a enfermaria apenas para conferir um quarto.
– Oh, sim. – Ewelein retomou a postura – Chrome acordou e eu vim chamá-la. Karenn está com ele agora.
– Chrome acordou! – Nevra parecia exaltado e aliviado. Ele estava prestes a sair quando Huang Hua o impediu.
– Um momentinho só, senhor Nevra. – ele congelou no lugar – Miiko, você pode ir com Ewelein para conferir o estado do Chrome, sortuda. Mas ainda vai ajudar com isso! – ela apontava para o quarto ao redor, tirando a pouca animação que Miiko tivera ao ser “dispensada” do trabalho – Anya e Erika ficarão responsáveis de vender o que for possível para conseguir algum dinheiro para Cris, e vocês dois – ela apontava para Nevra e Ezarel – ficarão responsáveis de limpar e consertar este lugar, Miiko lhes ajudarão quando retornar.
– E quanto à senhora e a Cris? – perguntou Ezarel ainda contrariado.
– Eu e a Cris vamos ao mercado em busca de móveis decentes. Podem pedir ajuda à Anya enquanto ela separa as coisas pra vender ou quando ela voltar, já que conhece bem melhor que qualquer um de nós os gostos da Cris.
– Mas Huang Hua, eu... não tenho dinheiro para os móveis...
– Pode por na minha conta! – eu encarei Nevra desconfiada – Relaxa, é sem compromisso. Eel... não, Eldarya toda te deve um imenso favor! Eu em particular lhe devo a vida! O que eu puder fazer para ajudá-la farei.
Antes que eu pudesse rejeitar a oferta, Huang Hua agarrou-me pelo braço dizendo um “Resolvido!”, guiando-me para o mercado. Saindo do QG, um grande grupo de faerys cercou Huang Hua e eu ouvi um “psiu” me chamando por trás de alguns arbustos e árvores próximas.
Era S, e antes de pronunciar o seu nome, ele me fez um sinal de silêncio e me aproximei dele desconfiando daquele comportamento.
– Olá de novo S. O que faz aí escondido? – disse quase sussurrando.
– Miau, é um prazer revê-la também, mas preciso lhe pedir para que nunca me chame de S perto de outras pessoas. – respondeu ele mantendo o mesmo volume.
– E eu poderia saber o por quê?
– Minha profissão. Ninguém pode saber que eu sou S, este é um segredo que lhe confiei como gratidão por salvar-me a vida. Todos os outros que tiveram acesso a essa informação antes já não se encontram mais entre nós, se é que me entende.
Senti um calafrio com a revelação do bichano – Hum... se é assim... por qual nome devo chamá-lo então?
– Aqui? Pode me chamar de Sirius.
– Esse não é o seu nome verdadeiro, é? – ele começou a ronronar.
– Não. Mas o meu nome verdadeiro também começa com ‘s’. Era para eu ter deixado Eel no dia seguinte em que me salvou, mas...
– Mas...?
– Os ex-contaminados, aqueles que você salvou das “sombras”, contataram-me para que eu pudesse compensá-la em nome deles! O que você ia fazer com a dama Huang Hua?
– Olha... pela consciência eu não posso aceitar a oferta, mas...
– Mas pela razão você não pode rejeitar, acertei? – eu apenas dei um longo suspiro – Miau. Parece que acertei. E então, o que ia fazer?
– Comprar móveis decentes para mobiliar o quarto que recebi no QG.
– Vai se mudar para Eel?! – assenti com a cabeça – Perfeito! – disse ele e retirou de um dos bolsos um pedaço de papel onde escreveu alguma coisa que não pude compreender – Toma, pegue. Aconselho a fazer suas compras apenas com os purrekos, basta apresentar esse papel ao purreko responsável da loja e estará tudo resolvido.
– O que é isso exatamente?
– Algo que só nós purrekos podemos compreender. A dama Huang Hua parece procurá-la.
Eu me virei para o lado em que deixei a Huang Hua e ela realmente parecia estar me procurando. Voltei para me despedir de S... quero dizer, de Sirius, mas ele tinha sumido (pra onde ele foi?). Resolvi então juntar-me à Huang Hua.
– Onde você estava? – ela perguntou.
– Conversando com um purreko que salvei quando estava morando na floresta. Contei a ele o que fazia com você e ele me deu isso. – mostrei-lhe o papel – Disse-me para procurar as lojas chefiadas por purrekos durante as compras.
– E o papel?
– Devo apresentá-lo ao purreko responsável antes de qualquer coisa ao que entendi.
– Se é assim, vamos seguir lhe o conselho então.
E partimos para a procura.
Eu não sabia o quanto poderia estar gastando naquelas compras já que sempre que questionávamos o preço de algo após mostrar o papel aos gatos negociantes eles sempre nos respondiam a mesma coisa: “já está pago” ou “é um presente, como agradecimento” e coisas do tipo. E sendo assim eu só podia usar duas das três conquistas que me convenciam a comprar algo (1. Brilho nos olhos; 2. Acelerar do coração; 3. Disponibilidade do bolso; já está claro com qual não dava pra contar né?) então precisei usar uma quarta para me controlar: necessidade.
Muitos dos bichanos tentaram me convencer a comprar coisas de que não precisava, mas apenas um conseguiu me convencer a comprar um biombo de cerejeira que achei lindo! (e que talvez me pudesse ser útil mais pra frente).
Minhas compras começaram por uma janela nova (a que tinha no quarto precisava ser trocada por inteiro, não só os vidros) e fiquei encantada com uma grande janela branca com vidrais de anjos, estrelas e flores, o purreko da loja me explicou que, depois que a verdadeira historia do Sacrifício Azul foi revelada, muitos foram os que decidiram homenagear de alguma forma os aengels injustiçados e aqueles vidrais era uma dessas formas. Informei a ele sobre as reformas de meu quarto e ele se prontificou de instalar a nova janela pessoalmente antes que o dia terminasse.
Prosseguimos com as compras, durante o trajeto nós acabamos encontrando Ezarel que tentava negociar alguma coisa com um purreko para ajudar na reforma. Conversei com o gato mostrando-lhe o papel que Sirius havia me dado e ele não cobrou mais nada já que era pra mim. Ezarel ainda brincou dizendo que iria acabar tomando aquele papel pra si quando fosse fazer compras com os purrekos novamente, mas o gato cortou-lhe a artimanha avisando que, se ele fizesse isso teria de pagar o triplo do preço.
Ele saiu injuriado com seus pacotes enquanto eu e Huang Hua ficamos a rir. Era umas 14hs quando passamos diante de uma loja de doces que me fez lembrar que minha última refeição tinha sido o café da manhã na casa de Anya. Fizemos uma pausa para um lanche pelo menos e não pude resistir a encomendar um pote de doces (foi difícil escolher entre tantas maravilhas de encher a boca d’água).
Já era tarde quando concluímos as compras e Huang Hua me disse ter ficado impressionada com o meu gosto para decoração. Tudo (com exceção da janela, armário de banheiro e do imenso guarda-roupa) seria entregue e montado no dia seguinte, logo pela manhã.
Quando chegamos de volta ao quarto, já era outro! Miiko e Ezarel terminavam de limpar o chão e o cheiro da tinta rosa pálida, argamassa e cimento ainda eram frescos (a janela ficaria aberta, mas a porta fechada durante a noite) e a parede de pedra foi mantida (sem o mofo é claro) além de um pequeno jardim ter sido construído ao redor dela no lado de fora do banheiro que lembrava os jardins de dentro da caverna (Anya...). Nevra me pediu explicações sobre a historia dos purrekos que Ezarel havia lhes contado e eu expliquei que aquilo tudo era a retribuição que os contaminados que salvei queriam me dar por meio de Sirius e que não tive muita escolha a não ser aceitar (quando ele pediu-me as explicações pareceu chateado, mas ao final voltou a querer me paquerar. Mulherengo). Para que desse tempo de todos os móveis chegarem, ficou decidido que buscaríamos minhas coisas na caverna no dia seguinte depois das 10hs. Nevra e Huang Hua me convidaram a passar a noite com um deles, mas eu preferi continuar com Anya.
Ezarel
Ainda não acredito que a Huang Hua e a Miiko me fizeram trabalhar no quarto daquela mulher. Maldito Celsior! EU fiquei responsável de cuidar do banheiro (não era à toa que ela pareceu prestes a vomitar ao olhar para aquele lugar, terei pesadelos por anos!) enquanto Nevra e Miiko cuidavam do quarto enorme auxiliados por Anya que foi bem rápida em levar todas as coisas que conseguia pro leilão com o auxílio da Erika, e ainda retornar com um bando de purrekos para buscar o resto.
Não acreditei na janela que um grupo de faerys liderados por um purreko tinham trazido para substituir a atual (não imaginei que a selvagem poderia ter um gosto tão refinado) e o guarda-roupa que chegou mais tarde? Ocupando uma parede inteira? (quanta coisa ela queria colocar ali dentro?) Já planejava desculpas para não ajudar na mudança da caverna.
Precisei ir ao mercado para comprar mais produtos de limpeza pra dar um jeito naquele apocalipse (de verdade, o que é que Celsior fazia para deixar tudo naquele estado?), tentava negociar com o Purroy e elas apareceram, Cris e Huang Hua. Onde diabos ela conseguiu aquele papel?? Me arrependi de insinuar tomá-lo para mim depois da ameaça que o purreko alquimista me fez e saí do mercado o mais rápido possível antes que que o Purroy mudasse de ideia e me cobrasse por tudo aquilo. Não pude deixar de ouvir as risadas delas. Argh.
Ao contar ao Nevra e à Miiko sobre as compras da Cris eles me mandaram parar de fazer piadas e trabalhar (uma coisa eu tenho que concordar com aquela esfaqueadora, ser chamado de mentiroso quando se fala a verdade é realmente irritante), mas o meu comportamento durante o trabalho pareceu deixar uma pulga atrás da orelha do Nevra.
Quando elas chegaram finalmente, já tínhamos terminado de transformar aquele inferno em um quarto. Nevra não esperou nem 10 segundos para tirar satisfações sobre a minha historia (sabia que ele tinha se intrigado! _sorriso_) e fiquei quase boquiaberto com a verdade sobre aquele papel que lhe garantiu o que quisesse de graça dos purrekos.
Quarto arrumado:
Combinamos de buscar as coisas dela no dia seguinte. Eu até tentei fugir da tarefa, mas eles acabaram é chamando mais gente pra ajudar naquilo tudo (filhos de um black-dog!). Acabou que Valkyon e mais dois membros da Obsidiana se juntariam ao grupo; Miiko conseguiu escapar por conta de suas responsabilidades no QG como líder (sortuda).
Nos encontramos no quiosque e dali partimos para a floresta, Absol correu na frente e nós seguimos com calma. Estava explicado porque a Cris preferira se mudar pro QG ao invés de continuar na caverna dela, ela estava mesmo morando longe e escondida (não era à toa que não a achávamos).
– Definitivamente, com exceção do cheiro, essa caverna não me parece muito diferente do que o quarto de Celsius era. – acabei por dizer por conta de todas aquelas teias, ao atravessarmos os corredores.
– Essa é a segurança! – disseram Anya e Cris em uníssono, seguindo a frente do grupo.
– Admito que cheguei a suspeitar dessas cavernas quando eu estava a sua procura na floresta. – declarava Valkyon (como?) – Mas esta montanha de teias não me permitia imaginar ninguém além de aracnídeos vivendo nelas, principalmente depois das teias terem quintuplicado.
– Como é que é? Está nos dizendo que havia bem menos teias quando as viu pela primeira vez? – acabei por questionar e ele apenas me assentiu com Erika grudada em seu braço.
Não pude evitar deixar um suspiro me escapar. – Ainda falta muito? – Acabei perguntando, mas nem foi preciso receber resposta delas, segundos depois começamos a enxergar uma luz nítida vindo do fundo da caverna. Não acreditei no que tinha diante dos meus olhos quando finalmente alcançamos a morada dela.
– A Ewelein não estava mesmo exagerando quando lhe fez aquele pedido de desculpas Cris, este lugar é maravilhoso!! – falou Erika ao deslumbrar aquela morada e todos concordavam (até eu).
– De fato o lugar é lindo, mas onde estão Absol e as cheads que viviam com você?
– Absol está perto do que acredito serem as estantes falando com uma chead. – disse Nevra apontando para os dois.
– Só uma? – falei – Pela montanha de teias pensei que eram bem mais.
Todos vimos o sorriso malicioso que Cris e Anya tinham no rosto depois das minhas palavras e foi o grito de um dos obsidianos que nos fizeram olhar para cima. Santo Oráculo, acho que fiquei branco diante de tantas cheads! Aquela caverna seria uma armadilha perfeita se não fossem pelas teias no caminho. Nunca iria imaginar algo tão tenebroso em um lugar tão belo.
– Acho que entendi melhor porque é que aqueles humanos que você enfrentava a chamavam de bruxa. – comentou Nevra com uma expressão tão horrorizada quanto a dos demais.
– Tá, ok. Já chega dessas caras de quem viu fantasmas, temos trabalho a fazer. – falava Cris com dificuldades para não rir de todos nós (Anya também se segurava, malditas) – Absol, já terminou de falar com a “mãe”?
– “Mãe”? – perguntou Valkyon próximo a algumas armaduras (Cris era mesmo uma obsidiana).
– A Cris me disse que quando chegou nesta caverna pela primeira vez só existia uma chead adulta, logo, a mãe. – explicou a Anya e a chead “mãe” começou a fazer barulhos que fez aquelas centenas penduradas no teto descerem e criarem “cestos” de teia – Por onde começamos Cris?
– Pelos mais frágeis. – disse ela.
– Imagino que sejam os ovos então. – sugeriu Erika com a Cris assentindo e aproximando-se deles com todos nós a seguindo.
Fiquei surpreendido pela terceira vez, ela tinha muitos ovos! E não eram quaisquer ovos...
– Isso é um ovo de ocemas? – perguntou Huang Hua.
– Se acaso se refere a uma espécie de grande urso polar revestido de gelo, sim. – respondeu aquela bruxinha da Cris.
Por todos os deuses, não acreditei no que eu vi em meio aqueles ovos – Como conseguiu este?!? – perguntei com Anya arregalando os olhos para o que tinha em mãos.
– Isso é um ovo de chiromagnus? – todos pararam para ver o ovo.
– Chiromagnus? – questionava Cris – Fala de um grande touro-centauro com asas? – Anya e eu assentimos – Aaah, Absol o trouxe pra cá no segundo dia em que cuidava do Chrome. Achei estranho ele trazer apenas um adulto ao invés de um grupo de filhotes acompanhados da mãe como sempre fazia.
– Isso porque o chiromagnus não é um mascote comum, é um mascote criado por alquimia. – disse a ela sorrindo de lado (e como assim grupo de filhotes?).
Ela pareceu meio surpresa – Então... acho que deve ter acontecido alguma coisa com o antigo mestre dele, pois quando chegou aqui, além de andar com o auxílio de um bastão, tornou-se um ovo assim que me fez uma reverência. – foi o que ela disse (que tipo de demônio aquelas “sementes” atraíram??).
Colocamos os ovos nas cestas para levarmos ao QG. Durante o percurso a Cris nos explicou como que havia conseguido cada um daqueles ovos à pedido de Erika e Huang Hua já que quase todos aqueles ovos eram extremamente raros e a maioria nem era da região. Eu e Nevra aproveitamos para aconselhá-la a não chocar alguns deles se ela quisesse evitar dores de cabeça ou problemas mais graves.
Já no quarto dela (sinto que essas viagens vão acabar comigo), a cama e uma estante que ela havia comprado, além de um lustre já estavam instalados no quarto. Depois do que eu vi na caverna, não iria esperar por nada menos... sofisticado.
Íamos deixar os ovos sobre a cama (que prontamente seria o lugar mais seguro até tudo estar no lugar) e Anya correu para o canteiro de jardim que ela me impediu de plantar algumas flores, com o que pareciam sementes que ela estava encantado antes de plantá-las.
– O que está fazendo Anya? – a Cris perguntou por mim.
– Já vai descobrir. – foi a resposta da pivete enquanto jogava a poção de crescimento que havia me tomado ontem para ter certeza que não jogaria nenhuma semente floral ali.
Trepadeiras de grandes flores azuis, algumas mais abertas que outras, mas todas assumindo uma forma “vasal” que se cristalizava logo em seguida surgiram. – Imaginei que podíamos guardar os ovos dentro delas! – foi a resposta dela depois da Cris se aproximar das flores de boca aberta, admirando-as e as examinando.
– Ovos guardados entre as flores... – Huang Hua falava – Esta é uma ideia bem poética Anya!
– Concordo. – a Cris e a Erika disseram mesmo isso juntas?
Sobrou para mim e para Huang Hua colocar os ovos nas flores mais altas já que ainda não haviam cadeiras no lugar. “Guardados” todos os ovos, voltamos para a caverna buscar o restante das coisas. Gastamos um total de quatro viagens para transferirmos todos os itens, roupas e equipamentos para o QG, e a cada chegada, mais móveis estavam montados.
Antes de deixarmos a caverna de vez, pude ouvir um pequeno grito de surpresa vindo da Cris. Virei-me para ela e ela estava segurando uma harpa assombrada nas mãos (não acredito, mais um mascote?) e a chead “mãe” acompanhada de um grupo de filhotes que pareciam recém-nascidos se aproximou dela. Cris abaixou-se e estendeu a harpa para os pequenos e um deles se aproximou convertendo-se em um novo ovo (ainda bem que sobrou flores vazias), e ohh despedida melosa entre ela e as cheads (Huang Hua até chorou!).
As meninas cuidaram de guardar as roupas, Valkyon e os outros obsidianos cuidaram das armas e proteções, e Nevra e eu ficamos responsáveis pelos itens restantes. Tava explicado o porquê de ela precisar de um armário tão grande, ocupamo-lo todo com tudo aquilo. Além de ela ter optado por guardar todos aqueles tecidos, mantas, kits de costura e semelhantes dentro de um imenso baú de madeira que foi posicionado a frente da cama.
Quarto decorado:
A Miiko chegou depois que tudo estava finalmente em seu devido lugar. Nem ela acreditou no resultado final daquela transmutação de ambiente! Do inferno para o paraíso! Ou, do calabouço para o pequeno palácio, era essa a minha visão daquilo tudo. Isso sem comentar que agora a Cris se dispunha de mais de 2500 maanas e 300 moedas de ouro graças a Celsior (Anya negociou bem no leilão e nas vendas que ainda não haviam acabado).
Para agradecer por toda a ajuda recebida, ela abriu um dos quatro potes de doce (potes que a deixaram confusa já que ela foi clara ao dizer que só havia encomendado um e não quatro. O sorriso de Huang Hua me explicava tudo) e dividiu-o com todos nós. Eu fui quem mais aproveitou os doces já que da última vez quase perdi um dedo.
Acabados os doces, nos despedimos aos poucos, mas não antes da Miiko avisar que a viagem para Memória iria ser daqui dois dias e que este era o tempo para Cris se preparar.
Valkyon, Erika, Anya (e consequentemente Nevra) iriam acompanhá-la. Huang Hua insistiu para que lhe permitissem participar também e precisou de muito para convencer Feng Zifu para conseguir a autorização (com ele a acompanhando é claro).
Terminadas enfim todas as discussões, deixamos a Cris sozinha aproveitando o novo quarto.
.。.:*♡ Cap.26 ♡*:.。.
Cris
Ontem foi mesmo um dia e tanto. Minhas pernas ficaram moídas depois de quatro viagens entre a caverna e Eel para efetuarmos a mudança (graças a Deus que tive bastante ajuda, ou sabe-se lá quantas teriam sido.), ofereci a todos um dos potes extras (não sei direito de onde saíram ainda, mas agradeço) de doce que me foi entregue e todos aceitaram, especialmente o Ezarel (ele levou o pode com os últimos junto! Aproveita guloso...). Quando todos se despediram a primeira coisa que eu fiz foi tomar um banho. Um banho de chuveiro quente. Aaah... não pude nem resistir a lavar minha cabeça naquela agua quentinha em que eu não precisava ficar agachada, mesmo sendo tarde para isso (sempre evitei dormir com o cabelo molhado uma vez que cachos e secador de cabelo não são compatíveis).
E que saudades eu já estava de poder dormir sob um colchão macio... Não que eu não goste de dormir em uma rede (sempre que tinha que ceder minha cama à parentes eu gostava de dormir na rede) ou que a cama que dividi com Anya nas duas noites passadas fosse ruim, não. É que não há nada como dormir sob a sua cama, com um maravilhoso colchão (acordei sem qualquer rastro de dor de ontem).
E além do mais, segundo a Miiko, eu só tenho mais hoje para terminar de fazer tudo o que não pude fazer ontem e anteontem (com a cortesia do Cristal Vivo, que agora é o Novo Grande Cristal, e de Celsior, por conta do estado em que ele havia deixado seu antigo quarto) como me apresentar oficialmente à minha guarda: a Obsidiana, por exemplo.
Quanto a viagem, deixei minha mochila pronta ontem mesmo (estava inquieta e precisava deixar o cabelo secar um pouco) com umas três mudas de roupa e itens básicos. Carregarei meu celular e o carregador solar junto para poder tirar fotos de Eldarya (já que estou em um outro mundo, vou aproveitar) além de também me ajudar a reconhecer o que de fato estará diante dos meus olhos (quem sabe assim evito novas confusões como foi com a Erika e o Leiftan, concordam?).
A única coisa que estranhei foi o pedido de Anya antes de sair pra casa dela... porque foi que ela me pediu para usar um vestido solto no dia da viagem? (e sem a roupa íntima...) Espero que essa surpresa dela não me faça ficar arrependida e que alívio eu senti quando ela me garantiu que não havia risco de um certo vampiro me fazer uma “visita noturna”. De forma alguma irei baixar minha guarda com aquele sedutor sem descobrir ao menos um meio de mantê-lo longe de minhas veias, mas ainda assim... preciso falar com ele.
Só acordei cedo porque Absol me chamou já me entregando uma roupa própria para treinar (ele está ansioso demais pro meu gosto) que não demorei a vestir. Arrumei a cama, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo, deixei tudo mais ou menos no lugar e tranquei o quarto para ir ao salão atrás do meu café da manhã.
Encontrei Nevra no corredor durante o caminho. – Bom dia Nevra. – disse e ele se virou na hora para mim.
– Muito bom dia, minha bela guerreira! – respondeu ele com um enorme sorriso e uma reverência cavalheiresca (já tão cedo!?).
Não conseguia dizer o que eu queria à ele e ele parecia estar ocupado pois não se demorou pra começar a ir embora. Respirei fundo pra tomar coragem – Obrigada... – foi tudo o que eu consegui dizer.
– Não precisa me agradecer quando eu lhe disser uma verdade. – falou ele se voltando de novo para mim.
– Não é por isso que eu agradeci.
– É pelo quarto então? Aquilo não foi nada... Disse que todos nós lhe devíamos. – ele agora se aproximava (o que ele planeja?).
– Também não é por isso.
– Está me agradecendo pelo o quê então? – (ele está quase me colocando contra a parede?? Respira Cris).
– Por Anya. – falei enfim e agora ele parece ter ficado sério e me encarava em silêncio – Sei que estou meio atrasada para agradecer-lhe por isso, mas... No dia em que Anya e eu sabotamos aqueles mercenários, enquanto nós fugíamos, se não fosse por você talvez Anya... – as lágrimas começaram a querer se formar com as lembranças e tremia – Quando vi Anya cair com aqueles homens atrás de nós, eu entrei em um desespero tão grande, mas tão grande... Sabia que havia poções dentro da bolsa que ela carregava, mas minha mente estava travada, em branco! Não conseguia fazer mais nada além de chamá-la. – acabei engolindo seco enquanto enxugava um pouco das lágrimas – E... mesmo que eu me lembrasse o que precisava fazer para salvá-la, aqueles soldados não me permitiriam. – o Nevra continuava me ouvindo, sério e em silêncio – Tanto que eles não hesitaram em derramar uma chuva de balas sobre mim enquanto o meu Cristal me protegia. E se não fosse pelo Cristal, nem mesmo eles eu teria conseguido encarar. Se não fosse você... – agora eu o encarava nos olhos – ...muito provavelmente, Anya não teria resistido o suficiente para que eu pudesse ajudá-la. Por isso... muito obrigada, Nevra.
Assim que eu consegui terminar de falar o que precisava, ele me abraçou. Um abraço reconfortante que aos poucos me tranquilizava e que não pude deixar de retribuir. – Eu é que lhe devo gratidão Cris... – disse ele sem me soltar e me surpreendendo – Se eu consegui encontrá-las naquele dia, foi graças aos tiros que aqueles homens lançaram em você, e você têm razão! Eu só pude ajudar Anya dando-lhe as poções de que necessitava porque você estava mantendo todos aqueles mercenários ocupados. – minhas lágrimas vieram de novo – Eles estavam tão ocupados te enfrentando e depois fugindo, que nem perceberam que eu estava lá, socorrendo uma das mulheres que eles tentavam matar. – ele se afastou um pouco para poder me secar as lágrimas com uma das mãos – E não é só por Anya que eu lhe devo e muito... – voltei a lhe encarar nos olhos – Eu tenho uma irmã mais nova, Karenn, ela é um pouco instável emocionalmente, principalmente em certas épocas, além de noiva do Chrome, o rapaz que você salvou. – estou começando a achar que ele realmente não vai querer me ferir intencionalmente se isso continuar – Pra ser mais sincero, eles ficaram noivos duas semanas antes de sua chegada e... se não fosse por todos os problemas por conta dos contaminados, do exército humano e do desaparecimento dele, hoje estaríamos comemorando a união deles.
Comecei a me sentir meio culpada – Então... de certa forma eu atrapalhei com as vidas de vocês...?
– Atrapalhar? – ele me sorria – Podemos não estar comemorando um casamento hoje, mas graças a você, não iremos precisar nos preocupar com um velório. Um não, vários! Pois com certeza nós teríamos sido massacrados por eles se não fossem você e Anya. – reparei que Absol nos observa sentado – E como líder da Sombra, sempre me considerei responsável por cada vida que está sob a minha tutela, como Anya e Chrome, e você as protegeu para mim. Obrigado.
Comecei a chorar outra vez emocionada (como é duro ser uma manteiga derretida!) e ele me deu um novo abraço que outra vez retribuí. Aquele abraço teria demorado se eu não o tivesse sentido cheirando o meu pescoço (ele pode até me dever o mundo como gratidão, mas ainda é um vampiro e eu não posso me descuidar das minhas artérias), afastei-o delicadamente.
– É melhor eu ir logo ao salão para comer ou nunca irei me apresentar oficialmente à minha guarda, coisa que já devia ter feito há muito tempo. – falei terminando de me afastar de seu corpo.
– Eu realmente queria que você tivesse caído na Sombra. Você me parece ter um cheiro interessante. – disse ele sorrindo. Engoli seco.
– Te vejo uma outra hora então. – falei andando de costas pelo corredor com Absol me acompanhando.
– Tudo bem se eu acompanhá-la na refeição? – ele me seguia de braços cruzados.
Travei com sua pergunta – Que tipo de refeição? – Absol o observava de lado, aguardando a resposta.
– Do mesmo tipo da sua. Relaxa, nunca lhe tomaria o sangue sem o seu consentimento. – isso me acalmou – Apesar de não resistir a querer beijar uma bela mulher. – porque me devolveu o nervoso?
Pelo calor que sentia, sei que estava vermelha, só não sabia se era só de constrangimento ou se de raiva também (Não quero saber de galinhas!). Absol se manteve entre nós dois o tempo todo, o que parecia incomodar à Nevra, sempre o vigiando (eu não enxergo o Absol como um guardião à toa).
Chegamos ao salão principal, era cedo e havia poucas pessoas, logo vimos Erika e Valkyon em uma das mesas que nos acenaram para que nos juntássemos a eles. Nevra foi avisá-los que iríamos pegar nossa comida primeiro com eu indo à frente.
– Bom dia dama Cris! O que vai querer pro café? – Karuto estava de bom humor.
– Muito bom dia Karuto. Poderia me ver um copo de leite levemente adoçado com chocolate e alguma coisa que me ajude a aguentar um treino da Obsidiana pra acompanhar?
– Hehe, Obsidiana hein. O que acha de um belo sanduíche? Prefere doce ou salgado?
– Doce de quê? – perguntei com os meus olhos brilhando.
– Geleia de chocoamoras com morango-pistache, você vai amar.
– Quero! – eu não sei que frutas são essas e nem que gosto tem, mas já estou com água na boca.
Nevra chegou para fazer o pedido dele com Karuto entregando o meu. Sentei-me à mesa em que meu chefe estava e Nevra sentou-se ao meu lado cinco minutos depois. Conversamos sobre o que eu achei da minha primeira noite em meu quarto e também sobre a viagem que faríamos no dia seguinte logo pela manhã. Fiquei surpresa de saber que o tal de Fáfnir era bisavô de Valkyon (e mais ainda de ele ser um tipo de fantasma). Nevra me questionou sobre o porquê de eu não comer enquanto tomava o meu leite e eu expliquei que era muito raro eu misturar líquidos com a refeição de forma que ou eu bebia primeiro, ou eu comia primeiro (e que delícia de doce!!). Valkyon pareceu animado de eu querer me apresentar à guarda quando terminássemos.
Acabada a refeição, terminávamos de atravessar a dispensa e penetrar o Salão das Portas, quando voltei meu olhar para o Corredor das Guardas.
– Algum problema Cris? – perguntou-me Erika.
– Tudo bem se eu der uma olhadinha no Cristal antes? De repente senti vontade de vê-lo.
– Problema algum! – afirmou Erika.
– Vocês duas podem ir ver o Cristal enquanto Nevra e eu nos dirigimos aos locais de treino das nossas guardas. Anya lhe explicou onde a Obsidiana costuma treinar? Qualquer dúvida Erika pode acompanhá-la, ela também já foi uma Obsidiana. – Valkyon tinha uma expressão serena.
– Obrigada. Logo estarei com o senhor.
Tomamos nossas direções e logo estava diante do Cristal e, mais uma vez Miiko parecia estudá-lo. Erika e eu a cumprimentamos juntas e Miiko devolveu a saudação. Questionei-a do porque dela examinar tanto o Cristal (muito mais que os outros) e ela me explicou que além de líder da Reluzente, ela também era a sacerdotisa do Cristal junto de Erika e que as duas estavam trabalhando para compreender melhor o Novo Cristal e as “sementes” do Oráculo original.
Eu realmente não entendia muito sobre a realidade religiosa de Eldarya, e desde que comecei a ter aulas com Anya, passei a acreditar que muitos dos deuses pagãos (como os greco-romanos e os egípcios) talvez tivessem sido faerys que acabaram sendo adorados por esses povos (o que explicaria tanta confusão nada divina entre eles) e que a tal Oráculo que eles veneravam, era algum tipo de anjo escolhido do Senhor para vir a ser o regente de Eldarya, uma vez que foi parte da distorção dos ensinamentos de seu filho que auxiliaram na perseguição aos faerys (porque é que a arte foi uma das poucas heranças históricas que se salvou na era medieval, heim?).
Porque eu pensava isso sobre a Oráculo? Que outra explicação você consegue me fornecer para justificar a reação do Cristal mediante as minhas orações? Reação que se repetiu mais uma vez quando me aproximei dele e fiz a oração de São Bento e do Santo Anjo, novamente ouvindo um som de admiração vindo da Miiko e da Erika. Outra coisa que aconteceu foi uma parte do meu colar se transferir para o Cristal, provavelmente o equivalente do Cristal que estava com os prisioneiros (pro meu alívio), me permitindo relaxar sobre o possível tamanho que a pedra de meu pescoço assumiria. Mas ainda gostaria de saber quando e como eles tinham conseguido aquele pedaço.
Despedi-me finalmente da Miiko avisando-a que eu tentaria ver o Cristal pelo menos uma vez por dia. Ou quando eu sentisse uma grande vontade de vê-lo como foi hoje.
– Me estenda sua mão, por favor. – a Miiko me pediu e eu o fiz.
Ela ergueu o bastão com a chama azul engaiolada e removeu-lhe uma parte que ela colocou sobre a minha mão enquanto recitava alguma coisa. – O que está fazendo? – perguntei ao sentir minha mão arder com aquilo tudo.
– Às vezes precisamos selar a entrada desta sala... – começou a explicar a Miiko depois da chama ter sido “absorvida” pela minha mão (até a chama do teste faery foi mais confortável) – ...e esta chave que lhe dei, lhe permitirá poder entrar nela sempre que desejar, caso ela esteja selada.
– Entendi. – respondi analisando a minha mão que não parecia ter nada de diferente – Agora é melhor eu ir logo me apresentar à minha guarda. Valkyon está esperando, não é mesmo Absol? – ele que observou tudo sentado em um canto e em silêncio, assentiu com a cabeça se erguendo para fora da Sala.
Erika nos acompanhou até o quiosque central. De lá ela seguiu para os seus afazeres enquanto eu e Absol seguimos para a cerejeira que era o lugar onde a Obsidiana costumava treinar. Já havia bastante gente treinando e Valkyon (de costas para mim) observava a todos.
– Recruta Cris e Absol se apresentando senhor. – falei chamando-lhe a atenção.
– Bem vinda. – e deu um longo assobio com os dedos para chamar a atenção de todos – Atenção! – o que ele está fazendo?! (detesto ser centro da atenção) – Esta é a Cris, nossa nova recruta e Absol, o seu...
– Guardião. – cortei ele – O senhor ia dizer que Absol era o meu mascote, não ia? – ele apenas assentiu meio sem graça, respirei fundo – Por favor, que fique bem claro agora: eu não capturei Absol. Ele veio até mim no meu primeiro dia em Eldarya e têm cuidado de mim desde aquele dia. Ele NÃO É MEU MASCOTE! É meu amigo e também meu guardião, espero não precisar mais fazer esse tipo de correção. – todos ficaram me olhando.
– E onde ele está agora? – perguntou alguém em meio aos membros da guarda.
O procurei do meu lado (quando foi que ele sumiu?) e ele mesmo se anunciou com um latido no meio deles, causando gritos e descomposturas dos que estavam próximos. Valkyon fez uma expressão que parecia ser de decepção (me pergunto se era da atitude de Absol ou da reação de seus subordinados) e Absol parecia sentir-se igual (esse eu sabia que era decepção da reação deles).
– Bom... – Valkyon tomava a palavra – ...já que as apresentações e explicações já foram feitas, é hora de você nos mostrar o que sabe, para que eu possa decidir como prosseguir com seu treinamento Cris.
Voltei meu olhar para Absol que se dirigia até as armas de treino, Valkyon e os demais fizeram o mesmo. Absol farejava e erguia as espadas de madeira como que procurando por uma específica (isso não me cheira bem...) até parar na quarta espada que trouxe até mim. Quando eu peguei na espada, eu estava certa.
– Aumentou o peso de novo?! – Absol apenas soltou um leve rosnado de “não reclame e use!”, correndo até um certo canto de onde retornou com uma venda na boca. – E de olhos vendados!?! – ele fungou um “sim!”.
Todos nos observavam curiosos e/ou injuriados. Vendei meus olhos e comecei a me concentrar na espada para me acostumar logo ao peso, e na minha volta para quando o primeiro ataque viesse que, ou seria rápido ou ia demorar. Me pergunto como que será o treino dessa vez, já que não temos mais os amigos de Absol para me ajudar com os treinos (será que ele vai por os membros da guarda para me enfrentar? Espero que não).
Pelo visto, Absol testará minha paciência hoje. Alguns dos que me observavam começaram a reclamar, mas não estou nem aí pra eles (da última vez que perdi a paciência pelo primeiro ataque quase tive a perna cortada, nem pensar que cometerei o mesmo erro outra vez).
Valkyon
Estava curioso sobre a forma que a Cris e o Absol iria nos mostrar o que sabiam fazer. Não esperava que meus membros pudessem ser tão covardes como se mostraram quando Absol se denunciou entre eles, depois da Cris deixar bem claro que o mesmo não era mascote dela.
Fiquei interessado na forma como ele escolhia a espada de treino (e que pela reclamação da Cris, ele trocava o peso da espada de tempos em tempos) depois de pedir para que eles nos mostrassem do que eram capazes e mais ainda quando vi que o treino dela seria de olhos vendados (são poucos os que conseguem treinar assim).
Vi Absol ir até um alcopafel com um crowmero sobre as costas que deviam estar em exploração e passava por perto e, ao contrário do que eu esperava, os mascotes não correram de Absol, eles conversavam. O crowmero saiu voando, enquanto o alcopafel se aproximou (com uma certa distância da Cris) junto do Absol.
Tudo estava quieto entre eles. Quieto demais, tanto que alguns dos membros que assistiam reclamavam. Estava prestes a reclamar também quando o mesmo crowmero de antes chegou acompanhado de uma ciralak, um lapy, um maulix, um homúnculo e... Shaitan? Todos se reuniram com o Absol e o alcopafel de antes, pareceram conversar sobre algo, e logo em seguida começaram a cercar a Cris (eles iriam atacá-la em conjunto?), Absol (que resolveu ficar do meu lado) ficou observando a todos.
Depois que Absol deu um sinal de cabeça para os mascotes, o alcopafel que estava às costas da Cris foi o primeiro a atacar. Cris se desviou do golpe com maestria como se nem estivesse vendada (nada mal.), e um atrás do outro a atacava sem qualquer pena dela. A Cris era mesmo impressionante, até o momento, desviou-se de todos os ataques feitos pelos mascotes e aparou alguns sem perder a espada que manejava com dificuldade ou cair no chão (ela parecia dançar entre eles!). Alguns dos que passavam por perto acabaram por parar para assistir a tal luta.
Uma hora se passou mais ou menos, e só agora que a Cris estava dando os primeiros sinais de cansaço por conta da falta de costume com a espada. Desviei meu olhar dela ao ouvir um de meus subordinados reclamar da mesma forma que haviam feito mais cedo, e Absol estava ao seu lado (quando foi que ele se afastou de mim?). Absol parecia querer que o brownie raposa se juntasse a batalha. O mesmo me olhou como se estivesse aguardando a minha aprovação, que dei com um aceno de cabeça. Ele pegou a espada de treino que o próprio Absol lhe oferecia e se aproximou da batalha, esta foi a primeira vez que a Cris caiu após um golpe, e os mascotes não cessavam os seus ataques! Mais dois de meus homens (um elfo e um lâmia) foram convidados por Absol a participarem da luta.
Eu era exigente nos treinos de meus soldados, mas aquilo era demais! Agora entendo o que Anya quis dizer quando fez aquele comentário no dia do teste para as guardas. Quem aguenta um treino de Absol, aguenta o treino de qualquer um! Absol era extremo demais para o meu gosto, e ela só teve uma pausa depois de mais uma hora de treino após a adição de meus homens (ela lidava incrivelmente bem com os mascotes, mas já estava mais do que claro que lhe faltava experiência contra faerys). Já tenho uma boa noção do que eu posso fazer por ela.
– Eu sempre sou rígido com os meus, mas Absol me pareceu sádico com você. – disse me aproximando dela que ofegava no chão.
– Absol sempre sabe como piorar os treinos. – respondeu ela removendo a venda – Quem eram meus adversários?
– Shiroiyoru, um brownie raposa (apontei para onde ele descansava sentado), Thueban, um lâmia (este estava do lado de Shiroiyoru) e Réalta, um elfo (apontei para ele que estava sentado bem aos pés da cerejeira). Já os mascotes foram: um alcopafel, um crowmero, uma ciralak, um lapy, um maulix, um homúnculo do meio-dia e um black gallytrot. Este último era a Shaitan, mascote do Nevra.
– Sério? Essa Shaitan devia ser a que estava me dando mais trabalho... Algum dos outros mascotes era o seu? – ela continuava deitada.
– Não. Minha Floppy não é capaz de provocar nem um centésimo do dano que todos os outros quase lhe causaram. Você lutou muito bem!
– Bem até Absol acrescentar os seus homens... – nós dois rimos – Você pode me ajudar com as lutas humanoides, não é?
– É exatamente sobre isso que pretendo trabalhar com você. Você já domina a capacidade de batalhar em qualquer situação, só falta aprender contra qualquer adversário. – tomei um susto quando Absol deu um latido bem do meu lado (pelo santo Oráculo, se ele não fosse dócil...) abanando a cauda.
– Absol concorda com você. – explicou ela – Será que poderíamos começar essa nova etapa de treino sem vendar os olhos? De preferência depois de retornamos de Memória!
Não pude evitar dar uma risada e Absol revirava os olhos por conta do pedido que a Cris fez. Cinco minutos depois retomamos o treino, mas desta vez sem os mascotes e sem a venda (o que a agradou e muito). Bem, quase sem mascotes, eu e Absol fomos os seus adversários dessa vez. Absol era frio porém gentil, nunca tentava acertar os pontos vitais, e eu, sem dar mole algum, dava-lhe sugestões e conselhos o tempo todo. Ela pegava rápido as coisas.
Os outros só não ficaram assistindo ao treino da Cris porque eu havia lhes ordenado que seguissem com seus próprios treinos antes de começarmos, ressaltando o meu desgosto pela covardia que muitos deles tinham mostrado mais cedo com Absol.
Treinamos até o meio-dia. A Cris ainda precisava trabalhar um pouco mais a resistência, já que ela mal se mantinha em pé. Absol e eu a ajudamos a se sustentar até chegarmos à enfermaria (era óbvio que ela estava coberta de dores e além do mais, fui ordenado a ficar responsável por ela junto de Erika) onde Ewelein lhe deu uma poção para as dores e passou uma pomada sobre as pernas, braços e costas.
Depois de alguns minutos, acompanhei a Cris até o salão principal (o Absol sumiu) para almoçarmos. As poções da Ewelein são ótimas para recuperar o físico, mas nada substitui uma boa refeição para reaver a energia. Deixei-a na mesa e fui buscar comida para nós dois.
– O que foi que você fez com ela? – Karuto me fazia cara feia.
– Ela quem? – perguntei.
– A Cris. Vi vocês entrando e ela me parece acabada, o que foi que você fez com ela? – ele estava sério (acho que Absol não será o único guardião dela aqui).
– Parte da culpa da condição dela é de Absol, nós apenas treinamos e a primeira metade do treinamento foi todo orquestrado pelo black-dog dela, por isso ela está assim acabada.
– Como que foi esse treinamento. – ele inqueriu. Respirei fundo e comecei a descrever o treinamento que ela teve desde o começo, Karuto não parecia acreditar, mas pra minha sorte uma das ajudantes de Karuto assistiu ao treino e confirmou a minha historia.
O Karuto ficou boquiaberto, quase horrorizado, e preparou um senhor almoço pedindo pra que eu entregasse rápido a ela. Quase que sou obrigado a fazer duas viagens para pegar o meu próprio almoço (Feng Zifu bem que podia estar ajudando na cozinha também).
Quando cheguei à mesa com a comida, Cris cochilava apoiada em uma das mãos (ela estava mesmo acabada) e acordou assim que pus as bandejas na mesa. Vi Erika entrando no salão.
– Demorei muito com a comida?
– Não! – ela esfregava os olhos – Eu apenas estou exausta, Absol pegou realmente pesado dessa vez. – ela não demorou a comer depois de observar o prato por alguns instantes (ela estava admirando a comida?) – O que você disse ao Karuto para ter tanta comida assim?
– Apenas expliquei como foi o seu treino, que por pouco não acreditou em mim.
– E ele não acreditou em você porque Valk? – perguntou minha Erika, sentando ao meu lado com a bandeja de comida na mão.
Expliquei mais uma vez sobre o treino dela e foi a vez dela de ficar com aqueles lindos olhos lilases arregalados, com a Cris me confirmando ou dando alguns detalhes.
– Então era com vocês que Shaitan estava hoje cedo? – Nevra chegou (tomara que tenha ouvido a historia toda) sentando-se próximo a Cris, que se afastou um pouco dele (acho que ela não confia muito em vampiros).
– Ouviu a conversa ou foram outros que contaram pra você? – Cris perguntava ao Nevra.
– Seu treino fez sucesso. – ele respondia – Os boatos estão se espalhando feito um incêndio, ouvir a historia direto de vocês dois apenas me filtrou os exageros.
– Que tipo de exageros? – perguntei e pelo o que ele contou, alguns faerys misturaram os treinos, e outros confundiram sobre quando a Cris estava vendada. Mudamos de assunto sobre como tinha sido o dia de Erika e como estava a saúde de Chrome, que no momento não podia sair da cama (Cris pareceu ter ficado vermelha quando falamos de Chrome, já que Nevra não dava uma folga para ela com seu “charme”), sem falar que o mascote dele finalmente apareceu carregando um bilhete de Chrome, repassando os detalhes que ficaram faltando em seu relato, e outro de um algum faery que ficou cuidando do chestok que havia sido ferido ao tentar escapar dos mercenários.
– Cris! – Anya nos surpreendeu abraçando a Cris por trás com Kero atrás dela segurando alguns pergaminhos – Como foi o seu treino? Ouvi vários boatos!
– Horrivelmente terrível, – não pude evitar de rir – como sempre. Hoje Absol foi especialmente cruel! – respondeu ela, arrastando Anya para o seu lado – Ainda estou toda dolorida, e olha que nem pensei duas vezes em aceitar a medicação da Ewelein!
– Não gosta de remédios? – perguntou o Nevra sorrindo pra Cris.
– Prefiro não precisar deles.
– E por quê? – perguntei.
– Para evitar resistência. Tomar remédio demais faz seu organismo se acostumar e os remédios deixam de fazer o efeito deles.
– Você prefere só tomá-los em última necessidade, não é? – Cris afirmou com a cabeça para responder Anya – Queria ter assistido seu treino, mas o Chefinho me colocou pra trabalhar na biblioteca. – queixou-se ela.
– Não foi tão ruim. – declarou Kero já sentado.
– Realmente, não foi ruim... foi maçante! – Kero pareceu magoado – Ah! E Cris, falei sobre os livros que Absol lhe trouxe à Kero e ele ficou bem interessado.
– Verdade?! – Cris parecia meio surpresa.
– Bom, sim. Quero dizer... – Kero, nervoso como sempre... – Fiquei curioso sobre os livros que Anya me falou, e gostaria de saber se não há problemas em eu dar uma olhada. Quem sabe não há uma cópia em seu idioma na biblioteca?! – a animação de Kero nesse ponto pareceu ter influenciado a Cris, julgando pelo brilho dos olhos dela.
– É uma ótima ideia! Acabei de acabar de comer, vai almoçar agora? – Kero assentiu para Cris junto de Anya – Tá certo então. Você já sabe onde é o meu quarto aqui no QG, não é? Depois que terminar de comer, você pode me encontrar lá e eu lhe mostro os livros, combinados assim? – sugeriu ela se levantando.
– Combinado. – foi a resposta do Kero.
– Eu o acompanho até o seu quarto. – falou Anya – Nossas aulas de “eldaryano” ainda continuam, não é?
– E porque é que eu iria procurar outra professora se já tenho você?! – a Cris respondeu sorrindo, o que fez Anya (e todos nós) ficar com um enorme sorriso no rosto.
Cris se despediu e foi para o quarto dela. Nevra ainda tentou acompanhá-la, mas ela o dispensou afirmando que o Absol tinha sumido e por isso não podia aceitar, deixando Nevra pra trás disfarçando a decepção (o que terá acontecido entre eles?).
Anya e Kero comeram às pressas para não deixarem a Cris esperando muito, Nevra decidiu ir com eles para o quarto da Cris, usando a desculpa de querer supervisionar as aulas, já que não havia conseguido acompanhá-la. Quanto a mim, depois de conversar um pouco com minha amada na sala do Cristal sobre o ritual de amanhã, voltei aos meus afazeres em minha guarda.
.。.:*♡ Cap.27 ♡*:.。.
Cris
Aquele Nevra... não desiste de tentar me ganhar. Ele que tire o cavalinho da chuva, pois eu não irei ceder a ele. Gastei uns 15 minutos do salão até o meu quarto (tinham mesmo que me darem o último de cima?), mas pelo menos tinha o meu próprio banheiro, o que a maioria não tinha.
Ao entrar encontrei Absol dormindo sobre a nova cama dele (o treino de hoje deve ter sido mesmo puxado) e reparei uma roupa nova sobre a cama (então ele sumiu para explorar também?).
Era um vestido longo de amarrar atrás do pescoço, batendo o calcanhar, branco com um decote em V e costas nuas. Peça única e totalmente rodado (será que foi feito com alquimia?) e havia bordados dourados de arabescos ao redor do decote e da beirada da saia. O tecido parecia algodão e brilhava como cetim (será algo parecido com algodão egípcio?). Arranquei logo aquelas roupas suadas e passei uma agua no corpo por causa daquele suor todo que já me pregava, para poder provar o vestido.
O vestido era maravilhosamente confortável, e do tamanho certo! Me olhava no espelho com ele quando bateram à porta. – Entre! – disse sem desviar o olhar.
– Já chegamos Cris,... e que vestido lindo é esse?! – perguntou Anya com Kero entrando atrás dela.
– Você está mesmo muito bonita! – disse Kero meio corado.
– Obrigada. – respondi – Foi Absol que o trouxe para mim depois do treino.
– Diga que você vai usar ele para a viagem de amanhã, ele é perfeito para o que estou planejando para nós duas!
– O que exatamente você está querendo me aprontar amanhã Anya? Eu ainda não me esqueci do outro pedido que você me fez. – perguntei cruzando os braços.
– Se eu dizer agora, não será mais uma surpresa. E é apenas algo que eu tenho certeza que você irá gostar de experimentar, além de servir para ajudar a matar o tempo. Dois ou três dias no meio do oceano pode ser bem entediantes.
– Sei. Assim como me ajudar na biblioteca, não é verdade?
Acabei rindo – Certo, tudo bem. – Anya me parecia bem sem graça – Deseja ver todos os livros de uma vez ou prefere examiná-los aos poucos Kero?
– Vou querer dar uma olhada por cima de todos para conferir se há algum outro exemplar na biblioteca, e quem sabe, na sua língua. Depois irei selecionar os que me forem mais interessantes para que possa fazer uma cópia para a biblioteca.
– Você pode muito bem fazer uma cópia de todos na minha língua e ficar com os originais se quiser. – disse para ele.
– Fala sério? – ele parecia contente.
– Claro que ela deve estar falando sério Kero, que utilidade ela poderia dar a um livro que ela não consegue ler? – Nevra? Quando foi que ele entrou?
– E você está aqui por que... – insinuei.
– Queria saber como eram as aulas que minha subordinada lhe dava. Problema?
– Não. – respirei fundo – Se sua intenção for mesmo de só assistir e não me paquerar pra nos atrapalhar... você pode ficar. – terminei por dizer e ele apenas me sorriu enquanto fazia uma reverência (Senhor! Daime paciência!). – Anya, tudo bem se eu colocar música pra evitar distrações?
– Claro que não! Vai ajudar a mim também.
– E música ajuda a evitar distrações? – perguntou Kero. – Como vai conseguir tocar instrumentos enquanto estuda?
A inocência de Kero fez a mim e a Anya sorrir. Abri o meu not e o liguei, tanto Nevra como Kero pareciam curiosos com o meu notebook; ligado, fui logo abrindo o mídia player e colocando-o para tocar todas as músicas que tinha no aleatório (agora que não estava mais vivendo com as cheads, não precisava mais tomar cuidado com o tipo de música. Talvez tivesse que velar pelo volume, mas só), os dois ficaram de queixo caído.
– A tecnologia da Terra evoluiu o suficiente para que você só precise tocar uma música uma vez, para poder ouvi-la quantas vezes quiser e onde quiser. Sobre as distrações, foi confirmado cientificamente que a música ajuda a evitar que você pense em coisas aleatórias enquanto tem que se concentrar em algo. Comigo sempre funcionou! Esclareci suas perguntas Kero? – falei, e ele apenas assentiu com a cabeça, voltando-se para os livros e os examinando em minha cama. Anya e eu ficamos ocupando a mesa e Nevra a poltrona nos observando.
A aula seguiu de forma tranquila. Nevra realmente ficou quietinho no canto dele e Kero me disse que iria querer todos os meus livros, pois todos eram obras raras, algumas até haviam sido consideradas “sabedoria perdida” (imagino o que ele falaria dos dois que mantenho escondido debaixo de meus travesseiros... vocês lembram não é? Que tenho dois que, por algum motivo, sinto que não posso estar mostrando pra ninguém, né?) e deixou o quarto carregando metade deles para começar a traduzi-los e me fornecer as cópias traduzidas no lugar dos originais.
Na aula de alquimia, Anya me ensinava poções para serem utilizadas como proteção contra faerys do tipo sombrio, como um certo vampiro que não largava do meu pé (acho que o Nevra estava bem distraído com as músicas, já que não se importou com o que Anya estava me ensinando).
– Será que eu poderia vir aqui às vezes para poder ouvir de suas músicas? – perguntou-me Nevra ao serem dadas como acabadas as aulas.
– Gostou tanto assim delas ou só está arranjando uma desculpa pra ficar no meu quarto? – Perguntei.
– Confesso que essa seria mesmo uma boa desculpa... – ele estava sorrindo ao falar (Jesus!!) – Mas eu realmente gostei de ouvir algumas de suas melodias e canções. Me ensinaria a usar este seu aparelho? – agora ele parecia sério.
– Hum, eu realmente preciso de meu not, é mais rápido digitar do que escrever. Sem falar que a energia está sempre perto do fim quando essas aulas terminam e por isso fico incapacitada de utilizá-lo até o dia seguinte, quando uso o recarregador solar para recuperar a energia consumida. – falei enquanto deixava meu not em suspensão, desligando o player antes.
– É só me explicar tudo o que eu preciso saber e eu sempre o deixarei pronto pra você. – ele estava quase me abraçando por trás (credo! O andar dele é silencioso demais!), ainda bem que Absol havia acordado e já estava rosnando pro Nevra, que se afastou de mim com as mãos erguidas na hora (obrigada Senhor!).
– Olha aqui Chefinho, – Anya parecia tão incomodada quanto eu – se você quiser aproveitar da música durante as aulas, por mim tudo bem. Mas se você continuar perturbando minha aluna e amiga desse jeito, vou abrir queixa de você para a Miiko e a Erika. O senhor está me entendendo?
Ele apenas deu de ombros como se não se importasse. Os dois deixaram meu quarto (Nevra primeiro, Absol não parava de vigiá-lo _sorriso_) com Anya me reforçando o pedido de usar aquele vestido na viagem, sem roupas íntimas (mas o que raios ela pretende?). Reabri o meu not e comecei a transcrever o que considerei importante para o meu “livro de Eldarya” até ele pedir por bateria, que foi quando eu de fato o desliguei já que ficaria ao menos uma semana sem mexer nele. Tomei um banho de verdade e dei uma última olhada em minha mochila para a viagem, fiz minhas orações (o colar de Cristal brilhava da mesma forma que o Cristal em si) e dormi.
Chegado o grande dia, acordei com alguém me batendo a porta. Estava cedo e me levantei meio sonolenta, até Absol bocejava enquanto se espreguiçava em sua cama. Quando abri a porta, levei um susto!
– Chrome? É você mesmo? – ele estava lá, apoiando na patente da porta, me sorrindo.
– E você deve ser a Cris, minha salvadora. – ele realmente devia estar de pé?
– Desculpe, mas você não devia estar na enfermaria, de cama?
– Lobisomens se recuperam depressa. – foi o que ele disse, mas ainda não estava convencida.
– E Ewelein, ela sabe que você está aqui? – ele mudou para um sorriso sem vergonha (eu sabia!) – Ela não sabe não é. O que veio fazer aqui nessas condições?
– Soube que você ia viajar hoje, e eu não podia deixar que partisse sem antes lhe agradecer por me salvar a vida. – respondeu ele, meio sem graça.
– Se o que diz for mesmo verdade... – não tenho paciência pra com quem age feito pirralho – ...você estaria na cama da enfermaria se recuperando ao invés de estar aqui, arriscando todo o trabalho que eu e Ewelein tivemos para te salvar. Quase perdi meus cabelos por conta da preocupação que tive com você naqueles três dias por não saber o que fazer! Vai voltar já para lá!! – falei.
– Gostei de você! – falou uma voz feminina que chamou a atenção de nós dois, era uma mulher mais ou menos da minha altura com vestes negras e vermelhas além de cabelo preso em marias-chiquinhas, sendo metade rosa e metade preta – Tem ideia do susto que levei quando não te vi deitado naquela maca Chrome? Se Ewelein descobre que você está aqui ao invés de lá, ela vai surtar!
– Mas Karenn...
– Mas nada! Você vem comigo agora! Já vi que vou ter muitos problemas com você toda vez que ficar doente, mas que noivo eu fui arranjar hein! – vi Chrome baixar as orelhas com a bronca dela, quase senti pena dele. Quase porque ele havia me irritado ao ser inconsequente.
– Então... você que é a Karenn? A irmã mais nova de Nevra e noiva desse lobo inconsequente? – ele revirava os olhos.
– Eu mesma. – ela se aproximou para apertar-me a mão, mas acabou a cheirando, aquilo meio que me arrepiou – Meu irmão tem razão, seu cheiro é bem interessante.
– Interessante como? – perguntei.
– Como posso dizer... Ao mesmo tempo em que ele é extremamente sedutor, ele é repulsivo. Como se você fosse uma flor de precioso perfume, e também de um veneno mortal.
– Ao ponto de você preferir não arriscar-se a me tomar o sangue? – ela apenas assentiu – Então... corro risco apenas de ser beijada pelo Nevra? Meu pescoço está a salvo? – ela riu.
– Não se preocupe. – ela começou a fornecer apoio para Chrome – Meu irmão pode ser mulherengo, mas nunca morderia uma mulher sem pensar muito antes. Ou se estiver à beira da morte como aconteceu com a Erika uma vez. – arregalei meus olhos – Relaxa, ela que se ofereceu para salvá-lo! – suspirei de alívio. – De qualquer forma, obrigada por ter salvado a vida do meu lobinho. – ela lhe afagava a cabeça e percebi o abanar da cauda (ele fugiu de propósito é?) – Desejo-lhe boa sorte na viagem!
– Igualmente com esse seu lobo. – Karenn deu uma risada alta enquanto Chrome parecia evitar de sorrir (devia estar sentindo dores até pra rir).
Esperei perder os dois de vista no corredor balançando a cabeça negativamente para a situação (hoje o dia promete). Antes que eu pudesse fechar a porta, a Anya chegou.
Anya
Eu praticamente madruguei, não via a hora de alcançar o mar aberto para poder tomar os Filtros de Syronomajie que preparei para nós duas. Se bem que... é melhor eu ir vê-la pra ter certeza que ela vai vestida de um jeito que não vai destruir as próprias roupas com a transformação.
Peguei minhas coisas e corri até o quarto da Cris. Não acreditei quando vi a Karenn carregando o Chrome no corredor em direção à enfermaria (com ela dando broncas neles, ele deve ter fugido) e por muito pouco não dou com a cara na porta.
– Bom dia Cris!
– Bom dia Anya. Você madrugou, tudo isso é ansiedade é? – apenas lhe sorri e entrei no quarto. Até Absol já estava acordado.
– Vi Chrome e Karenn nos corredores, eles estavam aqui?
– Estavam... – aquilo foi um suspiro de cansaço? – Chrome, que foi quem me acordou, venho para me “agradecer” – ele fez aspas com os dedos – por ter salvo a vida dele. Me disse que não podia me deixar partir antes de fazê-lo. – não pude evitar de rir.
– Te conhecendo, você deve ter dado uma bronca nele, não é? – ela apenas me assentiu.
– Mas e você, porque é que veio tão cedo me ver?
– Vim pra ter certeza que você vai fazer o que eu lhe pedi!
– Anya. Eu posso até usar o vestido que Absol me trouxe ontem como me pediu, mas... sobre a roupa íntima...
– Prefere que elas sejam destruídas? – ainda bem que eu vim.
– Como assim destruídas? O que é que você está planejando? – até Absol parecia curioso, vou mesmo ter que deixar escapar alguma coisa.
– Lembra quando eu me transformei em uma Batta nojosei? O que eu fiz antes de tomar aquela poção?
– Como esquecer! Até Absol ficou constrangido por você tirar a roupa daquele jeito... Pera, você arrancou a roupa daquele jeito para que ela não acabasse destruída por conta da transformação? – assenti com a cabeça e a cara que ela assumiu cobrindo a boca com a mão quase me fez gargalhar – No que exatamente você está querendo me transformar?
– Apenas direi que é um ser das aguas e que tenho quase certeza que você irá gostar. – ela pareceu refletir antes de decidir aceitar ou não.
– Vai ajudar a manter os homens longe de mim para que não percebam que estarei apenas com o vestido como vestimenta, e nada mais?
– Claro! Nenhum homem ficará perto demais de nós duas, até eu estou de vestido folgado pra ter certeza que não vai se despedaçar durante a transformação. – falei mostrando a roupa que vestia.
– Você já se transformou em muitas criaturas diferentes da sua raça?
Essa é com certeza minha última chance de convencê-la. – Tantas quanto posso me lembrar. Fugir de certas obrigações pode ser uma tarefa difícil, principalmente se o Ezarel estiver te bloqueando o acesso ao laboratório de alquimia. – uma risada abafada escapou dela (acho que consegui).
– Tá tudo bem. – maravilha! – Mas se eu não gostar dessa transformação, nunca mais faço isso, fui clara?! – disse ela bem séria (lembro que ela me disse que detestava sentir dor, espero poder lhe fornecer uma experiência que supere os desconfortos da transformação...).
– Certo. Prometo fazer todo o possível para que não se arrependa.
E ficamos acertadas assim. Ajeitamos tudo mais que faltaria ser acertado sobre o quarto dela e achei ótima a ideia que ela teve de deixar uma garrafa com a tampa furada de ponta cabeça para manter o jardim regado, apesar do trabalho para furar as rolhas das outras garrafas (só uma não daria conta dos dois jardins) aquelas flores com certeza não passariam sede até a nossa volta.
Descemos para poder tomar o café da manhã e pegar os nossos suprimentos de viagem com o Karuto. Quando passamos em frente à entrada da Sala do Cristal (que estava selada), a Cris quis vê-lo e me perguntou o porquê da sala estar selada naquele momento e eu lhe expliquei sobre o ritual que Erika sempre fazia ao menos uma vez por semana com o auxílio de Valkyon e Leiftan. Não fiquei surpresa de ela ter recebido uma chave para acessar a sala (afinal, foi ela que reconstruiu parte do Grande Cristal) e assim entrar – aproveitei a chance para dar uma passada rápida no salão principal e corri até a prisão para ver o Lance.
– Bom dia Lance. – ele parecia perdido em pensamentos, sentado olhando para o teto.
– Ora se não é a minha elfinha preferida...! O quê te impediu de me ver ontem dessa vez? – aquele sorriso dele sempre me causa calafrios.
– Desculpe. Fiquei tão ansiosa por hoje, que acabei te esquecendo... – ele sabia como fazer me sentir meio culpada.
– Ansiosa pelo quê? O que você fará hoje? – perguntou ele naquela expressão indecifrável que me deixava em dúvida sobre o quanto eu podia contar.
– Vamos para Memória. Cris, Valkyon, Erika, Nevra e eu. Vamos ao encontro de Fáfnir para confirmarmos a descendência faery da Cris. – (será que eu falei demais?) ele pareceu refletir sobre a minha informação – Aqui, pegue. – disse lhe estendendo o meu pacote de provisões para a viagem. – Acha que consegue escondê-lo?
– O quê é isso? – ele perguntou pegando o pacote.
– São as minhas provisões. Pode não ser muita coisa, mas tenho certeza que ainda é melhor que a gororoba do Karuto. Ou prefere comer o mingau dele até eu retornar da viagem?
Ele fez uma cara de nojo – Consigo esconder isso sem problemas, mas e você? Vai comer o quê?
– Tenho alguns lanches escondidos em minha mochila, e qualquer coisa posso pedir para a Cris dividir um pouco comigo.
– E porque ela dividiria com você? Além de vocês serem amigas é claro.
– Ela sabe que eu tenho um amigo na prisão que me ajudou a chegar à floresta no dia que a conheci, e que forneço comida decente para ele quase todos os dias desde então. Como eu tirava da minha cota o que lhe trazia, ela nunca me negou comida. – ele me olhava meio incrédulo. Observou o pacote por um momento antes de voltar a falar.
– Quanto a essa viagem... – ele começou – Não tenho dúvida alguma sobre o sangue dragão dela.
– E sobre o possível sangue aengel?
– Sobre isso, eu precisaria passar mais tempo com ela. Os poucos momentos em que ela esteve aqui embaixo não foram suficientes para que eu pudesse confirmar isso.
– E você conseguiria confirmar isso? – eu não estava totalmente convencida dessas palavras.
– Talvez. Não tenho plena certeza, mas se Fáfnir consegue, há uma chance que eu consiga também.
– Porque você também é um dragão, não é? – a única coisa que ele me deu como resposta foi um sorriso frio. – Você... (espero não me arrepender de perguntar isso) ainda deseja vingar-se dos faerys e destruir Eldarya? Quero disser,... – ele voltou à expressão vazia. – ...enquanto ensinava sobre Eldarya para Cris, acabei descobrindo mais sobre você. – ele continuava em silêncio. Percebendo que ele não iria me responder nada, resolvi ir embora – Tudo bem. – eu me ergui – Não precisa me responder agora. Até a volta. – disse com a mesma expressão dele antes de começar a correr.
Respirei fundo para recuperar o fôlego (e a calma) antes de entrar no salão. (Essas escadas matam!) E entrando, encontrei a Cris junto de Valkyon e Erika. Cumprimentei-os e começamos a tomar o café, eles estavam conversando sobre o Ritual de Maana que estava mantendo Eldarya de pé (agora era a Cris que sabia mais sobre ele do que eu) e estranhei o Nevra ainda não ter aparecido para paquerar a Cris. Foi Valkyon que disse que ele estava confirmando o nosso barco (o que me facilitava a esconder sobre as vestimentas íntima da Cris, como ela me pediu, já que Valkyon é meio desligado quando o assunto é outras mulheres. Nevra notaria na hora!).
Acabada a refeição, nos colocamos a caminho do barco na praia. Cris não deixava de abraçar o próprio corpo para disfarçar a falta de roupas que a convenci a não usar. Assim que chegamos à praia, Miiko, Jamon e Colaïa ajudavam Nevra com os últimos detalhes (não demorei nem um segundo para me por entre o Becola e a Cris, depois que ele nos viu), Huang Hua e Feng Zifu já estavam a bordo. O Jamon ajudou a Cris e eu a embarcarmos enquanto Valkyon ajudava Erika que ainda estava bem cansada por causa do ritual, e Absol já estava no navio (quando e como ele embarcou?) que demorou ainda menos que eu para proteger a Cris do Nevra (pela cara dele, o Chefinho com certeza acreditava que Absol ficaria para trás, coitadinho... _risos_ Já Feng Zifu não lhe tirava os olhos). Partimos depois que a Miiko e companhia deixou o navio, que claro, não deixou de dar um mar de avisos e recomendações antes de voltar à praia. Gastamos umas duas horas para alcançarmos o mar aberto.
Cris estava sentada na beira da proa, observando o horizonte sozinha, com Absol de guarda.
– Já esteve em um barco antes Cris? – perguntei me aproximando dela e trazendo-a de volta à terra.
– Não. Esta é minha primeira viagem no mar. Espero que o que disseram sobre como evitar enjoos realmente funcione.
– E o que é?
– Observar o horizonte... Já que não importa o quanto um barco balance, o horizonte sempre parecerá firme no lugar.
– Saquei. Um ponto firme contra todo o resto.
– Exatamente. – eu lhe estendi um dos Filtros de Syronomajie que havia preparado – O que é isso Anya?
– É a poção que preparei para nós duas. Essa é a sua, tomarei a minha em seguida. – disse mostrando a minha.
– Isso vai doer? – ela perguntou após cheirar a poção com desagrado.
– Nenhuma transformação é muito agradável, principalmente se houver grandes diferenças físicas.
– Que quer dizer?
– Por exemplo, se você usa uma poção para transformasse em algo cujo tamanho é claramente maior que o seu natural, há o desconforto do corpo esticar-se a força, mas, se a transformação for para se tornar algo menor que o seu tamanho original, você mal sente a transformação.
– E essa transformação vai afetar-me de que forma exatamente?
– Se eu dizer, a surpresa já era. Bebe logo! – falei tentando encorajá-la.
Ela ainda encarou o frasco não muito convencida, mas acabou por virar tudo de uma vez. Peguei o frasco vazio dela e aguardei pelos primeiros sinais que não demorou nada para ela levar as mãos à garganta e, aproveitando que ela já estava sentada na borda do barco mesmo, empurrei-a para cair na agua só com uma mão.
– Mas o que é que você está fazendo?!? – ouvi Nevra correndo com Huang Hua logo atrás até mim, que já estava sentada na beirada assim como a Cris estava e destampando a minha poção.
– Dando à Cris uma experiência especial. – disse após virar a poção assim como a Cris e entregando o frasco vazio a ele (que arregalou os olhos ao descobrir pelo cheiro o que eu havia bebido) – Prometo que nos manteremos perto do barco. – e me joguei de costas para a agua aos primeiros sinais de falta de ar.
.。.:*♡ Cap.28 ♡*:.。.
Cris
Anya conseguiu me convencer a deixar o quarto sem estar usando roupa íntima (por favor, Senhor, que eu encontre qualquer um MENOS o Nevra!), ela me ajudou com algumas últimas preocupações e seguimos pelos corredores sem mais problemas.
Novamente senti vontade de ver o Cristal e quando paramos de frente a entrada, havia uma espécie de parede transparente, cheia de círculos e símbolos que imaginei serem runas ou algo do tipo. Anya me explicou que a sala estava selada, e só quem possuía uma chave era capaz de entrar.
– Porque selaram a sala do Cristal? É para protegê-lo? – perguntei.
– É bem provável que passe a ser por isso também uma vez que voltamos a ter um Cristal, mas agora é porque a Erika deve estar efetuando o Ritual de Maana com a ajuda do Leiftan e do Valkyon.
– E como é esse ritual?
– Sei tanto quanto você.
Coloquei minha mão sobre a barreira com um pouco de receio, e a atravessei com um pequeno formigamento por onde a barreira me tocava. Anya pareceu surpresa de início, mas logo pareceu conformada.
– Vai lá! – ela me incentivava – Você pode assistir se quiser já que tem uma chave.
– Na verdade, o que eu queria era ver o Cristal...
– Aproveita para ver os dois! Vou só me acertar com algumas coisas e te encontro no salão. Normalmente o Chefinho fica longe daqui durante o ritual, então não precisa se preocupar.
– Certo... – respondi a ela sorrindo e atravessei o resto da barreira enquanto Anya corria para fora do corredor com Absol a seguindo (pela cara dele, acho que não consegue atravessar a barreira).
Ao entrar, vi Erika de pé perto do Cristal “segurando” uma enorme esfera de luz azulada que crescia lentamente enquanto ela parecia estar recitando alguma coisa. Valkyon e Leiftan estavam de joelhos perante ela de mãos estendidas para a esfera de luz (era a energia deles que a estava fazendo crescer?) cabisbaixos como se estivessem diante de uma santa ou uma grande soberana. Huang Hua, junto de um senhor oriental, observavam tudo como se estivessem inspecionando o ritual.
– Bom dia Huang Hua. – cochichei-lhe após me aproximar devagar, prestando atenção ao tal ritual.
– Bom dia Cris. – respondeu ela também cochichando e sem tirar os olhos dos três – Veio ver o Cristal de novo?
– Também. O que eles estão fazendo exatamente? – mantive o tom de cochicho para não atrapalhar.
– Os rapazes estão doando a sua maana que será amplificada pela senhorita Erika e distribuída por toda a Eldarya. – respondeu o senhor oriental em voz baixa – Miiko está ocupada e pediu para que a Dama Huang Hua lhe assistisse com este ritual. E por sinal, sou Feng Zifu, guardião e conselheiro de Fen Huang Hua.
– Prazer, sou a Cris. E obrigada pelas explicações.
– Disponha. É uma honra conhecer aquela que está ressuscitando o Grande Cristal.
Se a intenção dele era me colocar o peso da responsabilidade sobre as costas, estava conseguindo. Acho que Huang Hua percebeu, pois ela olhou o homem com repreensão no olhar. Voltei a me concentrar naqueles três e a bola de energia (maana) que Erika segurava acima da cabeça, parecia ser do tamanho das bolas que apareciam no seriado do Chaves, e sua tonalidade de azul era mais densa; Valkyon e Leiftan estavam de mãos juntas como em oração agora, sem mudar a posição de antes.
Erika continuava recitando alguma coisa enquanto mantinha o olhar fixo na esfera. De repente, a grande esfera encolheu-se até o tamanho de uma bola de vôlei e explodiu em uma onda horizontal poderosa que atravessava tudo como se a onda fosse fantasma. Eu já havia sentido aquela energia antes, quando ainda estava vivendo na caverna, e sempre a sentia a cada sete dias mais ou menos (então era desse ritual).
Dispersada a onda por toda a Eldarya, Erika caiu sentada no chão, exausta. Foi Valkyon que ergueu-se para ajudá-la, enquanto Leiftan se erguia dando um longo suspiro com a cena a sua frente (deve realmente ser bem difícil amar alguém que gosta de outro...). Huang Hua aproximou-se de Erika e eu segui até o Cristal, Leiftan resolveu juntar-se a mim.
– O que foi que você achou do nosso ritual? – Leiftan me perguntou olhando fixo para o “anjo” do Cristal.
– Interessante. – respondi o observando pelo reflexo no Cristal – Agora sei o que era aquela onda que sentia de tempos em tempos na floresta. – ele pareceu sorrir.
– Estive observando o novo Cristal, assim como também fui até a caverna em que você vivia. – ele me parecia sério no reflexo – A maana que sinto fluir do Novo Cristal e que eu senti ao redor da morada das cheads é idêntica à sua, que é de certa forma, estranha para todos nós.
– Estranha como. – segurava meu terço.
– Mais poderosa se me permite dizer. – acabei por o olhar diretamente ao invés de pelo reflexo – Sua maana parece ser capaz de fornecer o equilíbrio que faltou à Eldarya em sua criação. Reparei que os frutos que nasciam onde morava são nutricionalmente melhores que os demais.
– Eu realmente notei que as frutas que eu havia plantado lá me satisfaziam melhor, mas não havia ligado isso à minha... maana (o termo ainda me soava meio estranho), enfim, devo acreditar que você supõe que eu possa ser a verdadeira salvação de Eldarya, já que a Erika apenas a está mantendo de pé? – um sorriso lhe escapou ao rosto.
– Talvez. Eu bem que gostaria de acompanhá-los na viagem, mas Fáfnir me detesta.
– Por quê?
– Porque eu sou um daemon. E também ajudei o bisneto dele a cometer atrocidades impronunciáveis. Graças a isso, por mais que me esforce para me redimir de meus erros, ele nunca confiará em mim. – seu rosto era triste mesmo sorrindo.
– Ver a mulher amada nos braços de outro não é castigo suficiente? – perguntei sem pensar, o que o fez olhar meio assustado para mim – Desculpe. Não tive a intenção. – preciso trabalhar ainda este meu defeito de falar sem pensar – É que... pude aprender um pouco da historia de alguns membros da guarda enquanto Anya me ensinava sobre a historia de Eldarya, então... – caramba, eu devia estar vermelha considerando o calor que me subiu agora.
– Tudo bem. – seu rosto parecia melhor agora, o que me aliviou um pouco – Agradeço a sua preocupação, e independente de minhas teorias estarem certas ou não, assim como a nova Oráculo nos avisou, é preciso que tudo aconteça no seu devido tempo, ninguém pode forçá-la a fazer nada. – ele apoiou uma mão em meu ombro – Ainda mais porque você nem tem controle sobre o próprio poder direito, e forçá-la só irá lhe prejudicar. Talvez eu tenha compreendido o que ela quis dizer ao chamá-la de catalisador, mas ainda estou tentando entender a parte sobre você ser a “ligação” que precisávamos.
Não conseguia mais conversar sobre o assunto, então apenas dei início ao meu terço, fazendo o Cristal brilhar e emanar mais maana.
Dirigi-me ao salão junto de Erika e Valkyon enquanto Huang Hua e Feng Zifu ficaram na sala do Cristal com Leiftan. Toda aquela historia do Ritual de Maana havia feito me esquecer por um momento sobre minha roupa íntima, coisa que só me recordei com o elogio de Karuto sobre o meu vestido quando lhe pedi meu desjejum.
– Obrigada Karuto, mas não acho que eu esteja tão bonita assim.
– Se Memória não fosse quente se comparada à Eel nessa época, eu te aconselharia a vestir um casaco; mas me diz, o que irá querer comer hoje?
– Pode ser um copo de leite levemente adoçado com chocolate como ontem?
– Acaso leite é seu favorito? – Karuto tinha um enorme sorriso malandro no rosto.
– Na Terra, quase sempre meu café da manhã era apenas um copo de leite adoçado com chocolate. Dificilmente eu comia alguma coisa junto, e quando comia, era alguns momentos depois.
– Certo, já tá anotado. O que achou do pão com creme de chocoamoras e morango-pistache que lhe servi ontem?
– DI-VI-NO!! – minha boca encheu d’água só de lembrar – Amoras são uma das minhas frutas favoritas, e eu não resisto ao chocolate... a adição doce dos morangos então...!
– Hehehe, já vi que você é boa de garfo. Só me preocupo se será tão gulosa quanto o Ezarel...
– Já passei fome antes e eu sempre me controlava na Terra por causa de problemas de saúde que me obrigavam a controlar o meu peso se eu quisesse dispensar o uso de remédios... – Anya já havia me contado da fama de Ezarel com os doces e pude confirmar na primeira vez que comi no QG – ..., por isso pode ter certeza que nunca me atreveria a roubar nada. Principalmente sabendo que a comida daqui é racionada.
– É muito bom saber disso. – disse ele entrando para prepara-me o meu leite – Já bastam os ladrões que nos aparece de vez enquanto. – acabei me lembrando de Absol – Aqui. – ele me entregava a bandeja com o leite que pedi e um pequeno sanduíche de frios – E aproveite para já levar isso também. – ele me entregava um pequeno embrulho.
– O que é isso?
– Suas provisões para a viagem. Será quase uma semana longe da minha comida! – disse ele convencido.
– Muitíssimo obrigada Karuto! – falei sorrindo e me dirigi à mesa onde Erika e Valkyon me aguardavam.
Anya chegou instantes depois e não demorou a perguntar sobre o Nevra. Senti um grande alívio ao saber que só o encontraria no barco. Pedi à Erika que me explicasse mais sobre o Ritual de Maana e assim que terminamos de comer, partimos em direção à praia, que era onde estaria o nosso barco. (é impressão minha ou o inverno está se aproximando? Esfria cada dia mais!)
Notei que Huang Hua e Feng Zifu já estavam no barco. Miiko, Jamon e uma sereia (provavelmente sob o efeito de uma poção) estavam com Nevra que, se não fosse Anya, não teria pensado duas vezes em tentar me cortejar (só a consciência de como eu estava vestida já me deixava nervosa, ele perceber isso seria um pesadelo). Foi Jamon quem me ajudou com o embarque, vi Absol assim que entrei e quase voei para junto dele (sinto muito Nevra). Miiko nos deixou um monte de explicações e recomendações antes de deixar o pequeno barco com Jamon e a tal da Colaia (é esse o nome que ela disse mesmo?), para depois partirmos.
Huang Hua ficou cuidando de Erika que ainda parecia exausta e Feng Zifu averiguava nossa rota junto de Valkyon. Resolvi sentar-me na beira da proa (era perigoso cair, mas como Anya ia me transformar em alguma coisa da água mesmo, só precisava ter a certeza de ter bebido a poção antes) e lá fiquei até perdermos Eel de vista. Concentrei-me no horizonte para ter certeza que não ficaria enjoada, estava perdida na brisa e no cheiro do mar quando Anya apareceu.
– Já esteve em um barco antes Cris? – ela me perguntou.
– Não. Esta é minha primeira viagem no mar. Espero que o que disseram sobre como evitar enjoos realmente funcione.
– E o que é?
– Observar o horizonte... Já que não importa o quanto um barco balance, o horizonte sempre parecerá firme no lugar.
– Saquei. Um ponto firme contra todo o resto.
– Exatamente. – ela me estendeu um frasco com poção – O que é isso Anya?
– É a poção que preparei para nós duas. Essa é a sua, tomarei a minha em seguida. – ela me mostrava a dela.
– Isso vai doer? – perguntei após cheirar a poção que me parecia ter gosto ruim.
– Nenhuma transformação é muito agradável, principalmente se houver grandes diferenças físicas.
– Que quer dizer?
– Por exemplo, se você usa uma poção para transformasse em algo cujo tamanho é claramente maior que o seu natural, há o desconforto do corpo esticar-se a força, mas, se a transformação for para se tornar algo menor que o seu tamanho original, você mal sente a transformação.
– E essa transformação vai afetar-me de que forma exatamente?
– Se eu dizer, a surpresa já era. Bebe logo! – ela me encorajava.
A ideia de engolir aquela coisa ainda não me agradava muito, então virei o líquido (que realmente tinha um gosto horrível) goela abaixo e entreguei o frasco vazio à Anya.
Não demorou a eu começar a sentir que minhas pernas grudavam igual a quando estamos com os dedos sujos de supercola, mas o que realmente me perturbou foi a sensação de sufocamento que só me lembrava de ter sentido duas vezes em minha vida (uma durante o ensino fundamental em que um colega quase me estrangulou por conta de um mal entendido; e outra quando minha sinusite resolveu atacar-me enquanto dormia e que precisei me sentar para voltar a respirar), levei as mãos à minha garganta tentando respirar e senti uma outra mão me empurrar para a agua.
Ao cair na agua, a sensação de sufocamento foi substituída por litros de agua que bebia sem parar, mas não parecia querer me afogar. Comecei a sentir um formigamento em meus braços, orelhas, costas e cintura, e quando as sensações ruins acabaram resolvi abrir os olhos finalmente.
Quão grande foi a minha surpresa quando vi que as minhas pernas eram uma cauda agora, uma imensa cauda rosada com reflexos lilases e azuis sobre o rosa perolado e nadadeiras translúcidas, e... tinha asas em minhas costas?? Elas eram feitas de penas das mesmas cores que minha cauda (parece que algumas sereias realmente tiveram asas no passado, como contam as lendas).
– Cris!?! – olhei em direção a voz de Anya que me olhava de olhos arregalados, ela parecia ter tido uma transformação muito mais simples que a minha, já que ela não tinha asas e nem aquela montanha de nadadeiras espalhadas pelo corpo como eu. Sua cauda e suas escamas, além de mais singelas, eram azuis escuras.
– Porque minha transformação parece ser tão diferente da sua, Anya? – perguntei desamarrando o laço de meu vestido que agora me incomodava (e para me ver melhor).
– Não tenho ideia. A poção que preparei para nós duas devia ter funcionado de maneira igual. Talvez sua verdadeira natureza faery tenha interferido nos efeitos para que assumisse a forma de uma espécie de sereia em específico. – disse ela me rodeando e removendo o próprio vestido do corpo ao mesmo tempo. Com um movimento de minha cauda, removi o meu também.
Me observando melhor, vi que meus seios estavam cobertos por escamas das mesmas cores de minha cauda e asas, e que elas pareciam desenhar um maiô vulgar em meu corpo seguindo quase o mesmo formato de meu vestido. Várias nadadeiras rodeavam minha cintura como se formassem uma saia de tamanho médio, feita de “pétalas” translúcidas. Minhas orelhas haviam sido substituídas por guelras, mas nem por isso deixava de ouvir bem (acho que estava ouvindo até melhor agora), comecei a sentir uma sensação semelhante a quando o Cristal Vivo me assumia o controle. A diferença? Não estava sendo comandada por nada, simplesmente sentia como se toda a vida que havia no mar me envolvesse e preenchesse cada milímetro de meu ser (Obrigada Senhor por me permitir experimentar uma sensação tão maravilhosa). Comecei a ouvir o que parecia ser gritos vindos do barco nos chamando.
O momento
(outra vez não consegui desenhar como eu queria. Sinto que estraguei o desenho quando fiz esses contornos )
– Alguém nos viu caindo na agua, Anya? – voltei-me para ela.
– O Chefinho. Ele me viu lhe empurrando instantes antes de eu tomar a minha poção. Acredito que ele saiba o que fiz assim que sentiu o cheiro do frasco vazio que entreguei para ele. – nós duas olhávamos para cima.
– Será que ele saberia que tipo de sereia é a em que me transformei?
– Não sei. Pode até ser que ele saiba, mas não tenho muita certeza. O pessoal lá em cima com certeza deve estar preocupado com a gente.
– Então é melhor mostrarmos que estamos bem! – falei sorrindo
Eu não sabia quais poderes eu tinha como sereia. Acabei imaginando uma espécie de tromba d’água nos erguendo até o barco (e não é que surgiu mesmo?). Nós duas fomos erguidas até uma das beiras do barco onde nos sentamos. Lá, pude notar que a transformação de Anya em sereia era menos evidente do que dentro d’água, podia ver suas pernas envoltas por algum tipo de saco, casulo, sei lá o quê transparente que mantinha suas pernas juntas. E pela reação de Anya diante da tromba d’água que criei, aquilo também não deveria ser possível para mim. Huang Hua, Feng Zifu, Nevra e Valkyon se aproximavam da gente tão surpresos quanto Anya (espero que ao menos um deles saiba que tipo de sereia acabei me tornando).
– Mas o quê...? – Nevra parecia estar sem palavras.
– Não acredito... Uma evigêneia... – disse Huang Hua com Feng Zifu boquiaberto ao seu lado.
– Uma o quê? – perguntamos Anya, Nevra e eu juntos.
– Uma evigêneia. – explicava Feng Zifu – Uma espécie de sereia considerada a mais poderosa de todas por conta de sua grande resistência fora da agua, além de sua capacidade de voar e de seu grande controle sobre as aguas e criaturas marinhas. Acreditasse que todas dessa espécie tenham sido extintas durante as guerras que seguiram o Grande Exílio. Há poucos registros sobre elas na biblioteca de nosso templo e são todos antiquíssimos.
– Sério!?! – ter me transformado em uma sereia já era uma grande emoção para mim, já que vivia me imaginando como uma quando praticava natação na Terra, e transformar-me em uma espécie especial de sereia era no mínimo, incrível! – Quanto tempo dura o efeito da poção Anya? Pode cuidar disso para mim, Huang Hua? – perguntei observando melhor minha transformação e entregando meu vestido molhado a Huang Hua que o pegou com um sorriso.
– Geralmente? Umas sessenta horas. Voltaremos a ter pernas quando estivermos chegando em Memória.
Lance
Será mais difícil fazer Anya me ajudar a escapar já que ela aprendeu mais sobre mim, mas ainda não está tudo perdido. Eu só preciso dizer as palavras certas para convencê-la que já não tenho certeza se ainda quero ou não destruir Eldarya e os outros faerys. Sem falar que ainda tem a Cris e essas “oráculos” que só eu posso enxergar, realmente quero saber mais sobre essas três antes de planejar qualquer coisa. Não quero cometer os mesmos erros que cometi por não procurar aprender mais sobre meus possíveis obstáculos, como fiz com a Erika.
Eu sabia que Erika estava ligada ao Cristal (já que ela chegou em Eldarya surgindo logo na sala do Cristal e só não morreu quando eu quase consegui destruir o Cristal de vez, por que meu ex-sócio a salvou) e quando a usei de escudo e refém pude descobrir que ela também era uma aengel (o que me deixou mais que claro o interesse de Leiftan nela) ao me encontrar com Fáfnir em Memória, me permitindo saber mais sobre a verdade do Sacrifício Azul e sobre os dragões (em especial os meus pais e parentes) e os aengels.
Memória... (_riso_) Então é pra lá que eles estão indo para confirmar a descendência da nova faeliana. Isso quer dizer que tenho uma semana para planejar um meio de fazer com que Anya me ajude a escapar, já que pelo jeito, apenas dando o fora dessa prisão que poderei descobrir mais sobre meus três enigmas: Cris e as Oráculos branca e negra. Preciso pensar com cuidado, e é possível que eu tenha que cumprir promessas que vou detestar fazer.
.。.:*♡ Cap.29 ♡*:.。.
Cris
Anya e eu voltamos para a agua, onde pretendíamos ficar durante o dia todo, retornaríamos para dentro do barco durante a noite por segurança. Anya se mantinha vigiando o barco para ter certeza que não ficaríamos para trás.
Passávamos por alguns rochedos cobertos de recifes lindos que quase me faziam esquecer do barco (se não fosse por Anya...). Um brilho vindo de uma cavidade entre os corais acabou me chamando a atenção.
– Onde é que você está indo dessa vez, hein Cris?! – Anya se colocava no meu caminho.
– Uma coisa me chamou a atenção entre os corais, só quero confirmar o que é.
– Nós quase perdemos o barco de vista umas três vezes, ser sereia te animou tanto assim?
– Qual é Anya... Façamos o seguinte então, você me deixa conferir o que foi que me chamou a atenção, e eu até deixo a agua se você quiser pra ter certeza de que não perderemos o barco. Aceita?
Anya pensou um pouco enquanto vigiava o barco – Tudo bem! Mas você vai ter que sair da agua depois, eu sou sua amiga, não sua babá. – ela me apontava um dedo com a outra mão na cintura.
– Fechado! Já volto! – e fui até o espaço que me chamou a atenção o mais rápido que pude.
Na caverninha, rodeada de corais arredondados, notei que a fonte do brilho era uma ponta de cristal semi enterrada na areia e, de acordo ia afastando a areia, a ponta revelava na verdade ser uma concha, um búzio, daqueles que dizem ser possível ouvir o mar dentro se colocado ao ouvido.
Um grande búzio de cristal furta-cor transparente enterrado no meio da areia. A ponta do búzio parecia ter sido quebrada (por acidente ou de propósito, não sabia dizer) o que transformava a concha numa espécie de corneta ou flauta, já que pude notar alguns furos no correr da concha, uma ocarina de concha enfim.
– Ei Cris!!
O grito de Anya me fez acordar, e como promessa é dívida... estava na hora de deixar a agua. Imaginei uma nova tromba d’água para poder retornar ao barco com Anya ao meu lado (notei que bastava eu imaginar para a agua agir exatamente como eu queria, será que tem a ver com minha natureza faery?).
– O que aconteceu? – perguntava Huang Hua com Erika ao seu lado (Erika ainda não tinha me visto transformada e por isso estava impressionada comigo) – Cansaram-se da agua?
– Quem dera tivesse sido isso. – respondi.
– Essa aí não parava de se afastar do barco e como não sou babá de ninguém, a fiz prometer que deixaria a agua por hoje se a permitisse averiguar o que chamou a atenção dela lá embaixo. – explicou Anya – Vai nos mostrar o que foi que você achou aí? – as outras se aproximavam do que tinha em mãos com curiosidade e eu lhes estendi a concha cristalina que deixou todas maravilhadas, assim como eu.
– Mas que linda! – elogiou Erika.
– Como foi que a encontrou? – perguntava Huang Hua.
– O brilho de um dos espinhos dela me chamou a atenção. – envolvi meu dedo ao redor de um dos espinhos – Isso era tudo o que estava para fora, o resto da concha estava enterrada na areia de uma pequena cavidade entre os corais por onde estamos passando.
– Nossa! – era Erika – Você deve ter uma visão e tanto para encontrar essa concha linda com apenas um pedacinho à vista!
– A Cris é como um lapy! Se brilha, ela encontra. – declarou Anya. Huang Hua deu uma forte risada que acabou por chamar a atenção dos rapazes.
– Já voltaram? O que as trouxeram de volta para o barco tão cedo? – perguntava Nevra com Valkyon o seguindo.
– Isto. – mostrei a concha.
– A nossa lapy precisava de uma pausa nas explorações antes que perdêssemos o barco de vista. – disse Anya a quem fiz cara feia e todos os outros riam de leve.
– Permita-me vê-la? Oh, bela evigêneia... – pediu-me Nevra com seus galanteios e eu apenas lhe entreguei a concha.
Ele a examinava com cuidado e muita atenção. – Até parece que essa concha foi criada para ser algum tipo de instrumento musical. – dizia ele – Como ela foi criada... só consigo pensar em alquimia ou algum feitiço específico, para poder criar algo tão complexo assim. – todos nós o observávamos – Posso tentar? – perguntou ele antes de levar o “bocal” a própria boca.
– À vontade. – disse dando de ombros.
Ele tentou soprá-la, mas não saiu som algum (nem mesmo um apito!). Erika e Huang Hua tentaram também, mas infelizmente tiveram o mesmo resultado de Nevra. Apenas Anya (que por sinal, precisei invocar um pouco de agua sobre ela para que não se ressecasse) que teve sucesso em tirar algum som daquela ocarina de concha (apesar do som não ter sido muito bom). Terminei por pegar a concha de volta e tentei eu mesma.
Antes respirei fundo e deixei o meu eu sereia tomar conta de mim, do mesmo jeito que fazia na agua. A melodia que saía de dentro da concha era semelhante a uma flauta; tranquila, intensa e suave, como o mar tranquilo (créditos da poção! Nunca toquei instrumentos musicais, especialmente de sopro!), estendendo-se por milhas aquele som delicioso de se ouvir.
– Onde aprendeu a tocar desse jeito?! – perguntou-me Huang Hua quando parei de tocar, com todos sorrindo para mim.
– Foi a poção. – confessei – Nunca toquei flauta, semelhantes ou qualquer outro instrumento.
– Parece que as evigêneias são verdadeiras caixinhas de surpresa. – comentou Valkyon com uma expressão serena.
– A concha deve ser encantada... – ponderava Erika – ...para que apenas sereias, evigêneias para ser mais exata, pudessem ser capazes de tocá-la. Esta concha é definitivamente um tesouro perdido!
– Concordo contigo Erika. – dizia Nevra. Todos concordavam para ser mais direta.
Como estava proibida de voltar para a agua naquele dia, permaneci sentada na ponta da proa, onde tinha mais apoio, e lá fiquei tocando aquela flauta de som tão agradável. Anya voltou para agua, já que não tinha a mesma resistência que eu fora dela, e Nevra permaneceu na proa junto de Huang Hua, me ouvindo tocar. Erika e Valkyon voltaram para dentro saindo de lá apenas para comer (estranho, porque é que eu não estava com fome depois de tudo?).
Tudo parecia estar indo às mil maravilhas. Devia ser umas três da tarde já quando, de olhos fechados, comecei a sentir o que parecia ser gotas de chuva enquanto tocava a minha melodia. Abri os olhos devagar e surpreendi-me com um imenso polvo (correção lula) gigante, olhando diretamente para mim.
Ele aproximou a ponta de um de seus tentáculos, acariciando-me o rosto. Devolvi o carinho com um pouco de receio e vi que em um outro tentáculo, ele segurava Anya pela cintura, que parecia um fantasma de tão branca.
– Pode devolver minha amiga? – não sei se aquela criatura podia ou não me compreender, mas pedi mesmo assim. Ele olhou um pouco para ela e depois a sentou do meu lado e Anya, assim que se viu livre dos tentáculos, agarrou-me a cintura como um náufrago agarra-se a uma boia. – Obrigada. – agradeci, e ele me fez um novo carinho no rosto que novamente retribuí. Um terceiro tentáculo se ergueu até mim e este continha um pequeno baú de madeira claramente antigo, que apanhei com as duas mãos assim que apoiei a concha de forma segura em meu colo. Depois dele o soltar, deu-me um novo carinho no rosto e foi embora.
Nevra
A concha-flauta que a Cris achou era bem misteriosa, assim como tudo o que envolvia a transformação dela. Evigêneias, sereias que possuem asas e um grande poder sobre as aguas, além de poderem ficar quanto tempo quisessem fora d’água. Eu geralmente não sou fã de sereias (é difícil não estarem cobertas com cheiro de peixe), mas a Cris era diferente. Seu cheiro continuava igual e ela era a sereia mais bela que eu já havia visto em toda a minha vida! Nunca vi alguém sob os efeitos de um Filtro de Syronomajie dominar logo de cara os poderes de uma sereia como ela (se bem que ela não parecia saber usar as suas asas).
A melodia que saía daquela concha, que só ela conseguia de fato tocar, era incansável de se ouvir. Realmente Anya fez muito bem em produzir aquelas poções, a viagem não foi nada monótona até aqui, levei um enorme susto quando vi ela empurrar a Cris para fora do barco, mas graças a isso pude conhecer uma espécie rara (e linda!) de sereia. Encontramos um tesouro perdido graças a ela e agora tínhamos uma melodia divina para nos entreter. Tudo estava praticamente perfeito, só não estava sendo melhor porque a Cris se recusou a almoçar conosco (porque sereias podiam ficar tanto tempo sem comida, hein?), não tive a Cris do meu lado, mas tive a sua música.
Como disse, tudo quase perfeito... até o que parecia ser uma possível tempestade querer se aproximar de nós, literalmente. A Cris parecia bem concentrada na sua música, pois não vacilava as notas em momento algum; Valkyon e eu tentávamos nos desviar da tempestade em vão; Erika tentava encontrar Anya na agua e Huang Hua, junto de Feng Zifu, vigiavam a Cris (onde está aquele black-dog?).
Já estava achando aquela tempestade estranha preocupante, mas a revelação da causa daquilo me apavorou: um Kraken. A criatura estava sozinha e apareceu bem a frente da Cris que continuava tocando, e pior, segurava Anya apavorada em um de seus tentáculos. Valkyon e eu pegamos em armas e disparamos para a proa ao resgate delas.
– Espere. – Huang Hua nos parava junto de Erika, quase sem desviarem o olhar da criatura.
– Esperar pelo quê? – falei – É um kraken!
– Vai matar as duas! – completou Valkyon.
– Olhem de novo. – Huang Hua estava de olhos impressionados – Ele não veio para nos atacar.
Minha mente travou. Comecei a observar melhor a situação e não conseguia acreditar no que via. Ele estava fazendo... carinho na Cris?
– Pode devolver a minha amiga? – a ouvi pedir pra criatura que, por mais incrível que pareça, atendeu-a (isso era o poder de uma evigêneia?) colocando Anya ao seu lado e ela agradeceu. Eles trocaram mais carinhos e o kraken pareceu entregar alguma coisa à Cris, sumindo finalmente logo em seguida e levando o tempo ruim com ele.
Quando ela se virou para nós, estávamos todos estáticos por conta daquela cena.
– Porque é que vocês estão assim, petrificados? – a Cris nos perguntava – Até posso entender o pavor de Anya, mas e vocês?
– Você sabe o que era a criatura que lhe acariciou agora a pouco? – perguntou Feng Zifu com uma calma e seriedade incompreensível na voz.
– Ahm... Um kraken? – chutou ela.
– Exatamente. – falava Huang Hua – E o “alimento” favorito dos krakens são sereias. – Cris ficou surpreendida – Mas parece que evigêneias são uma exceção.
– O que é isso que ele lhe deu? – perguntava Erika à Cris que parecia estar em dificuldade em segurar um pequeno baú, sua concha e Anya que parecia estar grudada nela agora.
– Não sei. Está trancado. – ela estendia o baú à Erika – Acha que uma faca ou algo do tipo é capaz de abri-lo sem danificar muito?
– Pode ser que sirva. – comentei ao reparar na condição do baú depois de me aproximar delas, e quase dei um pulo de susto com Absol surgindo do meu lado com ferramentas na boca (acaso ele estava adivinhando tudo é?) que entregava à Erika.
– Obrigada Absol. – agradeceu Erika sentando no chão para abrir o baú enquanto a Cris acalmava Anya que ainda estava em choque, confiando sua concha à Huang Hua, que não tirava os olhos do baú.
Eu me ofereci para abrir o baú, mas Erika insistiu em fazê-lo ela mesma, e quando finalmente conseguiu, dei um belo de um assobio. O baú estava cheio de moedas de ouro e gemas preciosas (mas que sorte era essa que a Cris tinha! Ou é coisa das evigêneias?)!
– Porque será que o kraken lhe deu isso? – Anya pareceu finalmente voltar ao normal.
– Adoração, talvez? – todos nós olhamos para a Huang Hua – Vi a aura dele brilhando enquanto lidava com a Cris. Ele realmente a amava.
– Essa é boa! – soltei – Só espero que ele não retorne e descubra que a Cris não é uma evigêneia de verdade.
– E se foi a minha música que o atraiu até nós? – não gostei da ponderação dela, mas era uma possibilidade – Talvez o presente também seja um agradecimento por ela. – a Cris estava tentando ser otimista?
– Se este for o caso... – Huang Hua observava a concha em suas mãos – ...É melhor não tocá-la mais, para prevenirmos novos visitantes que podem acabar nos prejudicando.
Cris pareceu chateada, mas acabou aceitando. Na verdade, todos nos sentimos do mesmo jeito. A música que a Cris tocava com a concha era maravilhosa... Mas não ao ponto de estarmos dispostos a arriscar a nossa segurança. O dia terminou com as garotas conversando na proa. Erika contava de sua experiência quando se transformou pela primeira (e última) vez em sereia e Anya contava as delas de dentro de um barril cheio d’água (ela se recusou a voltar pro mar por causa da poção depois de quase virar comida de kraken).
Imaginei que depois disso tudo não teríamos mais preocupações nos dois dias restantes de viagem. Quanta ilusão!
Logo cedo, Cris assistia a aurora oceânica com a concha nas mãos. Me aproximei dela aproveitando que Absol estava dormindo no porão.
– Acordou cedo, linda sereia.
– Bom dia pra você também Nevra. – um fio de agua veio umedecê-la – Na verdade... eu nem dormi noite passada. Não me lembrava de poder ver tantas estrelas no céu como ontem.
– Se eu soubesse que você ficaria em claro só para observar as estrelas, teria lhe feito companhia.
– Para ter aberturas para me conquistar? – ela me erguia uma das sobrancelhas – Foi melhor assim.
Não pude deixar de rir, e acabei por pôr os olhos sobre a concha nas mãos dela – Você não pretende tocá-la, né? – agora era ela que deixava escapar um sorriso.
– Não vou negar que estou com vontade de fazê-lo. Ainda mais com esse nascer tão bonito.
Acabei me sentindo triste por ela. Se ao menos entendêssemos melhor sobre a transformação dela e aquela concha que ela achou... O dia já estava bem claro, resolvi deixá-la e retornar a cabine de comando, mas no meio do caminho, o som de várias trombas d’água se erguendo ao redor do barco me fez parar, além de acordar todos que ainda dormiam e fazê-los irem até a proa, como foi com o kraken.
.。.:*♡ Cap.30 ♡*:.。.
Cris
Eu realmente queria entender mais sobre aquela concha e sobre as evigêneias, a conversa que tive com as meninas até altas horas me ajudou a entender um pouco mais sobre as sereias (em especial, a minha falta de apetite) e também um pouco preocupada quando chegasse a hora de voltar ao normal. Não tive sono como elas e fiquei a noite inteira observando as estrelas que quase conseguiam iluminar a noite com a ajuda das aguas. Atraía pequenas “cordas d’água” para me manter úmida enquanto Anya dormia dentro de um barril com agua no porão, sob a vigília de Absol a meu pedido (ela realmente ficou apavorada depois de quase virar refeição por causa de uma de suas transformações).
Perdida em memórias e imaginações dos últimos eventos, fui surpreendida com uma aurora magnifica. Senti uma vontade enorme de tocar a concha que ainda mantinha em minhas mãos (o baú Huang Hua guardou junto de minha mochila) e não demorou para Nevra aparecer.
Aquele “Don Juan”... Não demorou em lamentar por não me ter feito companhia à noite, mas acho que a nossa troca de palavras acabou o calando. Ele ainda continuou do meu lado, em silêncio, até o sol iluminar o bastante para sumir com todas as demais estrelas. Ainda ouvia os seus passos pela proa com direção para dentro, quando um grupo de evigêneias, femininas e masculinas, se ergueram da agua em meio à trombas d’água, cercando o nosso barco.
Fiquei sem reação. Estava encantada e confusa com todos eles (Feng Zifu e Huang Hua não disseram que as evigêneias estavam extintas?) todos estavam usando joias de pérolas, conchas e corais. Alguns portavam tridentes e o que poderia vir a ser considerada uma armadura marinha. A mulher no centro deles era magnifica! Suas asas e escamas eram brancas com um reluzir perolado muito delicado, e suas joias me faziam acreditar que ela era uma rainha. Ouvi um enorme número de passos atrás de mim.
– Το κόσμημα της θάλασσας! – disse a “rainha” com os olhos brilhando sobre a minha concha – Βρέθηκε τελικά!
– É o quê? – falei envolvendo a concha em meus braços.
A mulher pareceu perceber que eu não havia entendido bulhufas do que ela falou e chamou por um evigêneia homem (qual é o termo correto para sereias do sexo masculino mesmo? Sereio? Tritão? Sereia macho?) que começou a falar na minha língua com um sotaque estranho.
– Saudações cara irmã. – ainda não senti confiança... – Meu nome é Kyrius, e somos evigêneias como você.
– Não sou uma de verdade. – falei – Só acabei me transformando por acaso em uma com uma poção de Syronomajie. – ele arregalou os olhos – O que querem exatamente?
O sereio(?) repassou o que falei aos outros e todos tiveram a mesma reação que ele. Senti uma mão sobre meu ombro e vi que era Huang Hua.
– Quem são? – cochichou ela.
– Não tenho ideia. – respondi em mesmo volume.
– Minha cara... – Kyrius voltou a falar-me.
– Cris. Meu nome é Cris.
– Sostá, cara Cris... Acaso tem consciência do que segura em suas mãos?
– Não...
– E suponho que você seja uma dragoa com a bênção de Anfitrite. – até Huang Hua ficou boquiaberta com essa.
– Na verdade... Estamos à caminho de nos encontrarmos com o espírito de um dragão para confirmamos as minhas antecedências, pois sou faeliana. – e ele espantou-se de novo, assim como os seus companheiros ao traduzir minhas palavras (aquilo acaso era grego?).
– Αγαπητέ μου, δεν ξέρετε πόσο χαρούμενοι είμαστε που βρήκαμε τον μεγαλύτερο θησαυρό μας, που χάθηκε πριν από χιλιετίες. – falou a mulher com ar de rainha, aproximando-se de mim. Eu apenas entortei a cabeça para o lado de Kyrius, olhando-o diretamente.
– Nossa rainha disse: – (sabia que era uma rainha) – “Minha querida, não sabe o quanto ficamos felizes por ter encontrado o nosso maior tesouro, há milênios perdido.” – explicou Kyrius.
– Falam dessa concha? – deixei-a mais à mostra. Todos assentiram com a cabeça.
– Nós a chamamos de Thalássio Kósmima, Joia do Mar. – continuava Kyrius – Ela foi perdida durante as guerras que nasceram após o Grande Exílio, é um tesouro sagrado para todas as evigêneias.
– Διακόψαμε την επαφή με όλα τα άλλα faerys, μετά την γελοία τους απόφαση να προσπαθήσουν να προσφέρουν ισορροπία στο Great Crystal του Eldarya. – falou a rainha com ar revoltado – Και παρεμπιπτόντως, το όνομά μου είναι η Μαργαριτάρη, 20η βασίλισσα των Ευγενιών. – outra vez, olhei para Kyrius.
– Dessa vez, ela disse: “Nós cortamos contato com todos os demais faerys, depois da decisão ridícula que tiveram para tentar fornecer equilíbrio ao Grande Cristal de Eldarya.” E também disse: “E por sinal, meu nome é Margaritári, 20ª rainha das evigêneias.”
– É uma honra. – falei fazendo uma reverência junto de Huang Hua (será que os outros estão o fazendo também?).
– Nos explique umas coisas: – falou Anya, surgindo do meu lado (como ela chegou?) – Qual é a relação de vocês com os krakens? E como foi que nos acharam? – quase que eu esquecia de fazer essas perguntas...
Kyrius não pareceu gostar muito do jeito de falar da Anya, e a rainha Margaritári riu após a tradução das perguntas de Anya (acho que ela já imaginava o que tinha acontecido).
– Vou explicar-lhes em nome da rainha. – começou Kyrius – Algo que hoje quase ninguém mais sabe, por conta de nosso isolamento, é que para os krakens, somente as evigêneias são consideradas criaturas por conta de nossas asas, o que nos permite recebermos uma grande afeição e respeito por parte deles. As demais tribos e clãs sereianos são apenas... peixes grandes para eles, mera comida ou bichos de estimação de nós evigêneias. – não sabia se me sentia lisonjeada ou insultada com a explicação dele – Quanto ao fato de conseguirmos os encontrar, isso foi graças a você. – ele me estendia a mão para indicar-me a todos – Nossa Thalássio Kósmima, foi criada pela primeira rainha das evigêneias com encantamentos muito especiais e que ficaram perdidos com o decorrer do tempo, para que fosse utilizada corretamente apenas por uma evigêneia e na intenção de reunir todas nós sempre que necessário. Quando você Cris, a tocou, nós que estávamos escondidos no mais profundo dos oceanos eldaryanos, a ouvimos, e na mesma hora partimos para que pudéssemos recuperar este tesouro precioso. – e eu achando que apenas tocava uma melodia bonita... – Ficamos perdidos quando paramos de ouvir o chamado, mas foi graças a um kraken, que já os havia contatado por reconhecer o chamado, que pudemos encontrar este barco.
A explicação toda de Kyrius me deixou pasma, realmente fui eu que atraí o kraken, além de todos eles, e tava explicado o motivo de só eu ter conseguido tocar aquela concha. Olhei para Anya, Huang Hua e todos os demais que pareciam tão impressionados quanto eu.
– O quê quis disser quando supôs que ela era uma dragoa com a bênção de Anfitrite? – ouvi Valkyon perguntar.
Valkyon
Eu sabia que essa viagem estaria cheia de surpresas só pelo motivo de a estarmos fazendo, mas não esperava tantas como as que estávamos tendo. Primeiro a transformação incomum da Cris, seguida da concha misteriosa, para depois um kraken “amigo” que havia presenteado a Cris com um pequeno tesouro, e agora um grupo de evigêneias (que deveriam estar extintas) aparece dizendo serem os donos originais da concha que a Cris achou e que nos encontrou por causa da música que ela havia tocado e do kraken que a havia presenteado apenas porque ela havia se transformado em uma deles. Tudo parecia ser coincidência demais para o meu gosto.
– O quê quis disser quando supôs que ela era uma dragoa com a bênção de Anfitrite? – acabei por perguntar, aquilo realmente me intrigou.
– E quem você seria? – perguntou o tal de Kyrius com desdém.
– Meu nome Valkyon, sou um dragão de fogo. – eu não costumava declarar minha raça assim, mas senti que seria necessário naquele momento. E como foi, o Kyrius ficou branco com a minha revelação e todos os evigêneias pareciam maravilhados com a tradução dele.
– Είναι τιμή να στέκεται μπροστά σε έναν νόμιμο δράκο, ακόμα ζωντανός! – dizia a rainha após entrar no barco, curvando-se diante de mim, o que me deixou bastante desconfortável, e pelo olhar de Erika, não era o único.
– “É uma honra estar diante de um legítimo dragão, ainda vivo!” são as palavras de minha rainha – traduzia o Kyrius – E peço-lhe perdão por minha falta de respeito antes. – ele se curvava.
– Vocês ainda não lhe responderam a pergunta... – comentou Erika segurando o meu braço (a ação da rainha a deixou com ciúme por acaso?).
– A senhora também é uma dragoa? – perguntou o Kyrius com cuidado.
– Não. Sou uma faeliana aengel. – ele parecia pego de surpresa – E acreditamos que a Cris possa ter um pouco de aengel no sangue também. O que os faz ter certeza sobre o lado dragão dela?
Todos pareceram bastante surpresos com a tradução do que minha Erika havia dito. A rainha que se mantinha curvada diante de mim, se ergueu e foi para junto de onde Kyrius estava, fazendo algum tipo de pedido de forma gentil. Kyrius voltou-se para nós mais uma vez.
– Antes de qualquer coisa, minha rainha deseja saber quem e quais são as raças de cada um de vocês. – inquiriu Kyrius respeitosamente.
– Eu apresento! – ofereceu-se a Cris – Como dito antes, Valkyon é um dragão; Erika e eu somo faelianas, sendo que ela é uma aengel e eu sou suspeita de ser mestiça de dragão e aengel; Anya, a sereia transformada em meu lado, é uma elfa; Nevra, o rapaz moreno é um vampiro; Huang Hua, a morena de vermelho, é uma fenghuang, aprendiz de fênix e favorita ao título; e finalmente Feng Zifu, também um fenghuang, guardião de Huang Hua.
Cada um de nós fez uma reverência após a apresentação da Cris, causando algumas comoções entre eles com alguns de nós de acordo Kyrius traduzia as apresentações feitas.
– Ok, – chamei a atenção deles – agora que as apresentações estão feitas e vocês sabem exatamente com o que estão lidando aqui, já podem responder a minha pergunta de antes: o quê os leva a crer que a Cris é uma dragoa com a bênção de Anfitrite?
Kyrius traduziu-me e, com o assentir de cabeça da rainha, Kyrius começou a falar.
– Nós, evigêneias, sempre tivemos um profundo respeito e amizade pelos dragões, em especial os dragões de agua. Toda vez que um dragão se utilizava de uma poção de Syronomajie, ele se transformava em um de nós, sem mencionar que eles nunca tinham dificuldades em utilizar os poderes sereianos que recebiam com a transformação. Acredito que isso não tenha chegado a ser uma exceção com a sua amiga. – todos ficamos sem palavras – E acredito também que vocês estejam a caminho de Memória para verem Fáfnir, já que mencionaram viajar para se encontrarem com o espírito de um dragão.
– Vocês conhecem meu bisavô?! – aqueles faerys me impressionavam cada vez mais, assim como eles quando revelei minha ligação com Fáfnir.
Margaritári pareceu falar algo sério para Kyrius que parecia receoso em nos traduzir, mas como ela “insistiu” acabou cedendo – É costume das evigêneias que a cada mil luas, a atual rainha se aconselhe com um dos guardiões espirituais de uma das três grandes raças. Os aengels foram exterminados, ou quase; – ele olhava para Erika e de soslaio para a Cris – A Fênix, dos fenghuangs, está muito longe do mar, sem ofensas; – agora ele reverenciava a Huang Hua e ela sorria – o que só nos restou o Grande Fáfnir, dos dragões, vivendo na ilha de Memória. – ele olhava para a rainha e ela parecia mandá-lo continuar, o que fez a contragosto – E por coincidência ou não, esta será a milésima lua, ou seja, nossa rainha já ia se encontrar com seu bisavô em breve.
– Acho que qualquer dúvida que ainda tenhamos, pode esperar agora. – falou Nevra coçando a nuca. Um momento de silêncio desconfortante nos envolveu.
– Vocês vão querer reaver o seu tesouro? – perguntou Huang Hua, quebrando aquele silêncio.
– De fato gostaríamos. – falava Kyrius – Agora senhorita, será que poderia?
– Entregar-lhes a minha concha?! – ela realmente gostou daquela concha. Anya não exagerou em compará-la com um lapy – Bem, eu...
Era claro o apreço dela pelo tesouro e acho que a rainha percebeu. Ela chamou uma das mulheres que a acompanhava que sumiu por alguns momentos depois dela pedir-lhe algo. Quando voltou, carregava um grande baú que fez Kyrius arregalar os olhos. Não ficamos curiosos por muito tempo, pois a própria rainha o abriu revelando uma enorme quantidade de joias impressionantes.
– Καθώς φαίνεται ότι σας αρέσει πολύ ο θησαυρός μας, θέλω να επιλέξετε ένα κόσμημα που θέλετε να το αντισταθμίσετε επειδή πρέπει να το επιστρέψετε σε εμάς. – falou a rainha Margaritári apresentando o baú à Cris.
– “Como você parece gostar muito de nosso tesouro,” – Kyrius traduzia outra vez a contragosto – “quero que escolha uma joia de seu agrado para compensá-la por tê-lo de nos devolver.”
– A senhora tem certeza?! – isso pareceu agradar a Cris e a rainha puxou ela para mais perto do baú após ouvir a tradução de Kyrius, ela demorou uns quinze minutos para escolher. – Este,... – ela pegava um colar azul, pousando a concha sobre as outras joias – ...gostei deste colar. – Kyrius arregalou boca e olhos com a escolha dela (o que aquele colar tinha de tão especial?).
– Έχεις υπέροχο μάτι. – falava a rainha enquanto a ajudava a colocar o colar – Αυτό το κολιέ φτιάχτηκε από έναν εξαιρετικά ταλαντούχο τεχνίτη δράκο με την ευλογία του Αμφιτρίτη. Χρησιμοποίησε τις δικές του ζυγαριές για να το δημιουργήσει, τα μαργαριτάρια και το κέλυφος ελήφθησαν από τους υφάλους της Ατλαντίδας, και οι πολύτιμοι λίθοι έσκαψαν στον πυθμένα ενός γκρεμού.
Todos nós olhamos para Kyrius (até mesmo Margaritári) – “Você tem um ótimo olho.” – começou ele a traduzir – “Esse colar foi feito por um dragão artesão extremamente talentoso com a bênção de Anfitrite. Ele usou as próprias escamas para criá-lo, as pérolas e a concha foram tiradas dos recifes de Atlântida, e as gemas foram escavadas no fundo de um precipício oceânico.” Um tesouro tão precioso quanto a nossa Thalássio Kósmima. – comentou ele, em voz baixa no final (agora entendi o desgosto).
É... a Cris tinha mesmo um gosto refinado.
Seguimos com a nossa viagem, onde a rainha Margaritári, Kyrius e mais três evigêneias nos acompanharam até Memória, o restante do grupo retornou para o seu lar carregando a Thalássio com eles. Uma das três sereias que ficou falava mais ou menos a nossa língua e por isso ensinava a Cris a controlar melhor seus poderes sereianos caso viesse a usar da poção novamente (já tínhamos a comprovação de seu sangue dragônico e até o tipo de dragão dela, mas ainda precisávamos conferir o aengel).
Kyrius continuou servindo de tradutor para o nosso grupo e para a rainha, onde foi conversado sobre os acontecimentos dos últimos oitenta anos (ainda bem que meu irmão não se encontrou com as evigêneias, ou metade delas teriam lhe ajudado).
O efeito da poção acabou algumas horas antes de chegarmos à Memória, com Anya voltando ao normal primeiro. Absol e Feng Zifu é que ficaram responsáveis de velá-las enquanto não estavam... “apresentáveis”.
.。.:*♡ Cap.31 ♡*:.。.
Cris
Nunca imaginei que uma viagem de barco pudesse ser tão assustadoramente emocionante. Com a ajuda de Erika tirei várias fotos incríveis dessa viagem (ninguém nunca vai acreditar que elas são reais) e quase que eu havia conseguido aprender a voar usando as minhas asas de evigêneia. Ainda estava na agua quando comecei a me sentir estranha e retornei para o barco, de acordo com Anya, o tempo de duração das poções estava para acabar em algumas horas. Resolvemos aguardar o fim da poção fora d’água e cercadas pelas mulheres que havia no barco, foi Erika quem buscou nossas roupas para quando voltássemos ao normal (Absol e Feng Zifu vigiavam os homens, especialmente o Nevra).
O voltar ao normal não foi muito agradável, assim como a transformação. Minhas pernas começaram a se “desgrudar” o que foi um alívio, mas minhas nadadeiras ardiam. O retroceder das asas para o meu corpo pareciam agulhas me fincando, me fazendo chorar de dor. E como já estava fora d’água há algum tempo, apenas comecei a vomitar agua (devia ser o que ainda estava nos meus pulmões). Vesti-me instantes antes de finalmente estar humana outra vez.
Ainda foi preciso aguardar umas duas horas para avistarmos Memória, e nesse tempo, Erika nos contava sobre as coisas que viveu naquela ilha. Margaritári pareceu horrorizada com sua historia (e não era pra menos!).
Um grupo de brownies (que passaram a viver na ilha um ano após a Guerra do Cristal, para tentarem resgatar o conhecimento da biblioteca que tinha na ilha, além da ligação entre os faerys e os dragões) nos recebeu na praia. Nem preciso dizer que eles ficaram impressionados com as evigêneias e felicíssimos com a Huang Hua presentes em nosso grupo.
Atravessamos a ilha até chegarmos ao povoado construído (aparentemente de modo a reconstruir as ruínas que nos rodeavam) para os faerys que estavam vivendo ali e explicamos sobre as evigêneias e os nossos motivos de estarmos em Memória. Aquela historia de eu ter sido “trazida” para Eldarya já estava começando a me incomodar, e se não fosse por Erika e Huang Hua, estaria sob uma imensa pressão agora, pela forma com que todos me olhavam com esperança.
Depois que tudo havia sido esclarecido (e de estarmos reacostumados com terra firme), nós nos dirigimos ao encontro de Fáfnir todos juntos (menos Nevra que ficou para cuidar do barco). Me senti de volta a caverna enquanto seguíamos por todos aqueles túneis sem fim e não pude esconder a minha admiração perante a Porta dos Dragões, pena que não entendi um A do que Valkyon falou para que ela abrisse...
Ao passarmos o Portão, demos logo de cara com uma imensa esfera cristalina que parecia viva! Segui os outros que me chamavam até uma sala que ficava ao lado. Aquela enorme balança sobre o que parecia ser um altar de fogo me deixou intrigada (pra que servia?) e fiquei com um pouco de medo ao ver que cada um deles sumia em meio às chamas daquele altar.
– Não precisa ter medo. – dizia Erika atrás de mim – Pode parecer assustador logo de cara, mas não lhe acontecerá nada. Te garanto.
Ainda tinha receio, mas segui em frente. Passei de olhos fechados, não senti nada e quando abri meus olhos... Minha imaginação era bem fértil às vezes, mas nunca que iria sonhar com uma visão daquelas, especialmente com o imenso dragão fantasma que apareceu instantes depois de nossa chegada (esse era o bisavô de Valkyon!?!), eu estava cheia de fascínio por aquela criatura.
– Bem vinda, Pequena Eldarya! – (oi??) disse o grande espírito, me tirando do meu fascínio e me fazendo olhar para os lados à procura da qual ele se referia – É você mesma, criança. – voltei a olhar para ele apontando um dedo para mim, pra confirmar o que ele dizia, e ele assentiu com a cabeça sorrindo.
Eu não pude prestar muita atenção nos outros com essa revelação e foi Valkyon quem pediu a “luz” para aquilo tudo – O que quis dizer com isso, Fáfnir? Porque chamou a Cris de “pequena Eldarya”?
– Porque ela é o que Eldarya deveria ter sido se Dogon não tivesse feito o que fez com Lilith e seus partidários.
– Então, ela é mesmo uma mestiça de dragão e aengel? – perguntou Erika e ele assentiu.
– O poder que emana dela é extremamente poderoso, mesmo adormecido. Acredito que vocês tenham achado a maana que ela emite um pouco estranha, não? – todos admitiram – Isso se deve ao fato da combinação do sangue dragônico e aengel ter dito sucesso em se combinarem em uma forma de vida.
– Um minuto! – o interrompi – Está me dizendo que o motivo de eu quase não ter conseguido nascer é por que tenho sangue aengel e dragão dentro de mim?!
– Precisamente minha cara. Dragões e aengels são criaturas poderosas demais, e a combinação de tais poderes possui uma grande dificuldade para obterem a harmonização entre eles. Principalmente na gestação de mulheres, que são espiritualmente mais poderosas.
– Então, está dizendo que minha mãe teve menos dificuldade no parto de meu irmão porque ele era homem, e a razão dela ter precisado de medicação para me manter até o fim da gestação, era porque eu era mulher?
– Correto outra vez. – disse ele (e eu achando que a causa dos problemas de gestação dela era o fato de minha mãe possuir o útero virado...).
– Quais as chances de um dos pais dela também ser mestiço de dragão e aengel? – Perguntou Huang Hua.
– Nenhuma. – respondeu ele – Um deles é descendente direto dos dragões enquanto o outro, dos aengels. Se um deles fosse mestiço de dragão e aengel, o aumento do sangue humano não permitiria a formação de vida por um deles. Posso dizer isso pelo poder que sinto de você, Pequena Eldarya.
– Será que pode me chamar de Cris ao invés de Pequena Eldarya? – aquilo de pequena Eldarya estava me incomodando – E... como assim o aumento de sangue humano deixaria um dos dois inférteis?
– O sangue humano enfraquece o poder faery, e quanto maior a porcentagem humana, maior é a possibilidade de tornar o faeliano estéril, para que ocorra o fim definitivo da herança faérica entre os humanos, de forma que se algum dia você vier a querer ser mãe, terá de ter um faery como parceiro. – pronto; minhas opções de relacionamento estavam limitadas a Eldarya – E também... hum?
– O quê? – de repente Fáfnir parecia estar olhando para algo um pouco acima de mim – O quê que foi? – ele me ignorou e todos ficamos tentando achar o que ele olhava. Até parecia que... (pirei de vez) conversava com alguém invisível pra nós e em pensamento, julgando por suas reações e pela forma que me olhava às vezes (Mãezinha, pode pegar o meu juízo de volta?).
– Preciso cuidar de alguns assuntos delicados, se importam de continuarmos outra hora? Βασίλισσα Μαργαριτάρι, θα σας πείραζε αν συνεχίσουμε αργότερα? – perguntou Fáfnir a nós e à Margaritári.
– Não vemos problema. – disse Huang Hua (se bem que todos pareciam querer explicações tanto quanto eu).
– Καθόλου, υπέροχο Fáfnir. – respondeu a rainha já se retirando.
Mas o que foi que aconteceu?
Fáfnir
Quando Erika chegou à Eldarya como escolhida da Oráculo, tive minhas dúvidas sobre confiar na aengel. Eu sei que a fizemos sofrer quando testamos sua pureza e lamentei por não ter impedido o Lance de cometer tantos crimes. Ele até mesmo tentou matar a escolhida e o irmão! Nunca irei perdoar o daemon por ajudá-lo a cometer todos aqueles crimes, não importa o que ele faça para se redimir de seus erros.
Estava preocupado com a escolhida, o ritual que ela desenvolveu durante a Guerra do Cristal não iria sustentar Eldarya por muito tempo, já que aos poucos lhe consumia a vida. Nem quero pensar no quão arrasado Valkyon ficará quando ela não puder mais continuar entre nós.
Perdido em pensamentos sobre como poderia ajudar sobre isso, recebi uma esperança. Senti a chegada de uma nova faeliana em Eel, e ainda mais poderosa que Erika, pois ela era mestiça das duas raças mais poderosas que já existiram (só por este fato ela já era um milagre).
Observei-a à distância e senti a pequena área em que ela vivia obter aos poucos o equilíbrio e poder que nós dragões, não conseguimos sem o poder dos aengels. Ainda tinha uma certa desconfiança de seu sangue aengel, mas as habilidades que ela manifestava ao lado das sementes da Oráculo, junto de suas ações auxiliadas por aquele black-dog revixit e a criança elfa, me fizeram enxergar que ela era confiável (sem mencionar que tinha uma esperança de que ela conseguisse fazer por Lance o que eu não consegui, já que a elfa estava em contado com ele).
Pus-me a me preparar para a sua chegada quando percebi que ela se aproximava de Memória. Graças à jovem elfa, agora sabia até mesmo o tipo de bênção que a Pequena Eldarya havia recebido. E a julgar pela época, logo eles se encontrariam com as evigêneias (só não espera ouvir a Thalássio Kósmima das evigêneias, após tantos séculos...). Era inevitável, a Pequena Eldarya mudaria este mundo mais uma vez.
Quando eles finalmente chegaram, fiquei os observando de longe. Aquele vampiro desrespeitoso fez bem em não vir ao meu encontro novamente (era possível que eu o matasse dessa vez se me faltasse com o respeito de novo), e percebi a admiração que a Pequena Eldarya demonstrava com tudo aquilo que estava ligado a nós, os dragões.
Achei graça, a forma como ela reagiu quando apareci diante deles na Sala dos Dragões e da forma como me referi a ela. Respondia e explicava suas dúvidas e perguntas, ela me pediu para chamá-la pelo nome ao invés de Pequena Eldarya. Ainda lhe tirava algumas dúvidas quando uma das sementes da Oráculo apareceu acima dela.
“Shhiii!! Ela não pode saber de mim ainda. Preciso aconselhar-me com o senhor, por favor conversemos em particular ou telepaticamente, sim?” – ela me pediu. Dispensei todos para que pudéssemos conversar sem problemas.
– Agora diga, o que a preocupa ao ponto de desejar aconselhar-se comigo?
“É sobre o guardião faery que tenho que fornecer à ela. Absol não é capaz de protegê-la de tudo.”
– E quem você planeja usar como guardião?
“Dos três possíveis, apenas um pode ser considerado. O problema está em seu passado.”
– Esclareça, por favor.
“É necessário que o guardião seja da mesma raça dela, ou seja, dragão ou aengel” – acho que já sei aonde ela quer chegar – “E dos três disponíveis, dois só tem cabeça para Erika, o que nos reduz para apenas um.”
– Lance.
“Sim. Apesar de um certo detalhe que eu minha irmã enxergamos, acha que ele cuidará dela como deve? Ou ele vai acabar por tentar feri-la?”
Suas dúvidas eram válidas, mas também pude observar bem Valkyon e Lance enquanto cresciam – Não creio que ele lhe faltará com o respeito como mulher... – refletia – E também não acho que ele conseguirá feri-la de fato, não com seu sangue dragão correndo nela.
“Mas ele ainda pode querer abandoná-la.”
– Assim como ele também pode acabar desistindo de fazê-lo ou até mesmo tentar fazê-la atender suas vontades.
“O que seria muito mais perigoso.”
Não importa o modo que olhasse a situação, sempre havia um grave risco. – Quais são as chances de ela conseguir mudar o Lance? – ainda nutria essa esperança.
“Honestamente?” – assenti – “São as mesmas de ele a prejudicar.”
– O que torna a relação entre eles uma aposta.
“Que tanto poderá nos fazer muito bem, quanto muito mal.” – ela coçava a cabeça.
Uma ideia me passou pela cabeça. – Como exatamente planeja reunir os dois? Sua irmã não tem uma opinião sobre o assunto?
“Minha irmã só conseguiu obter o poder que tem agora, graças à interferência da Cris. Ela não conseguia atrair os fragmentos até ela como eu, por isso combinamos que eu me encarregaria de encontrar guardiões para a Cris, enquanto ela lhe trabalharia os dons.”
– E quanto ao encontro dos dois...
“Hum... O que você acha... de torná-lo prisioneiro dela?”
– Que quer dizer?
.。.:*♡ Cap.32 ♡*:.。.
Cris
Ficamos esperando pelo Fáfnir no antigo ágora, um pequeno espírito de dragão veio ao nosso encontro chamando a rainha Margaritári para ter sua audiência com ele, o que levou algumas horas. Ela foi acompanhada de duas das três guarda-costas que estavam com ela, permanecendo Kyrius e Siece conosco. Siece era a evigêneia que me ensinou um pouco sobre os poderes que tinha como sereia (quando ouvi o nome dela, logo lembrei de Circe, a bruxa que transformava os homens em animais na Odisseia) e Kyrius era um legítimo poliglota, falava com todos em seus devidos idiomas (ele podia me xingar que eu nem iria notar) sem qualquer dificuldade.
Aproveitei para conhecer as ruínas junto de Huang Hua com Erika e Valkyon (Feng Zifu se mantinha alguns passos atrás de nós). Valkyon contou que de tempos em tempos, ele vinha para Memória para poder treinar e aprender mais sobre seus poderes dragônicos e ainda se ofereceu para ajudar-me quando os meus despertassem (os meus olhos já não eram o suficiente não? O resto não pode continuar dormindo? Quanto mais poderes, mais problemas!) e Absol pareceu gostar da oferta. Erika também se ofereceu a ajudar-me com o meu lado aengel, mas deixou claro que o Leiftan me seria de mais ajuda do que ela para a sua tristeza.
Agradeci a ambos e apenas tentei aproveitar a ilha (eu já sou doida, se não tiver um descanso dessa montanha-russa de emoções e descobertas ia ter um colapso!). O mesmo dragão fantasma que havia chamado a rainha evigêneia para junto de Fáfnir, veio nos chamar para o encontro deles mais uma vez (será que Fáfnir conseguiu resolver o que havia nos interrompido?).
Ao adentrarmos a Sala dos Dragões, recebemos a notícia de que as evigêneias iriam reaver o seu contato com os demais faerys, assim como era antes do Grande Exílio e convidaram a Huang Hua para ser a intercessora da rainha junto à Eel (aquela guarda realmente cuida desse mundo todo!), o que ela aceitou com um imenso prazer.
– Então... – tentei retomar o assunto de antes – ...Você explicou que se eu quisesse ter família precisava de um parceiro faery e o que mais?
– Me diga Pequena, – ao menos não completou com “Eldarya” – de que tamanho é a sua família?
– De que tamanho!? – isso sempre acabava impressionando a quem contava – Só de tios e tias, irmãos de meus pais, tenho 22. – como esperava todos ficaram surpresos, boquiabertos e de olhos arregalados (_riso_) – 11 do lado meu pai, sendo ele o primeiro dos 12, e mais 11 do lado da minha mãe, sendo ela a sexta dos 12, e por muito pouco que não foram 24, pois as minhas duas avós tiveram um aborto cada uma. Não tenho ideia de quantos tios-avôs eu tenho e nem vou perder meu tempo contando os primos, já que minha avó materna já é até Tataravó!
– Santo Oráculo! – falava Huang Hua – Só a sua família já é uma enorme esperança para os dragões e aengels!
– A sua família tem um pouco de coelho no sangue também? – brincava Anya.
– Seus avós eram do campo, eu aposto. – comentou Erika tirando um pouco da atenção deles sobre mim.
– Pois acertou. – eles voltaram a me encarar – Dá pra contar nos dedos quais tios, ou primos já adultos, que tiveram só um ou dois filhos, e estes todos vivem na cidade. Mas me diz Fáfnir, quando é que eles irão ficar inférteis? – todos passaram a olhar para ele.
– Não vão.
– É o quê!? – (ele está se contradizendo??).
– A infertilidade chega à aqueles que nascem com um imensurável poder adormecido, se comparado aos demais de sua espécie. Acredito que você seja a primeira de sua família a depender de um faery para prosseguir com a sua linhagem. Só sua existência já é um milagre. – ele está brincando comigo, não é? – Outra pergunta, como é a saúde de seus familiares?
– O que exatamente deseja saber?
– Quando senti sua chegada em Eldarya, havia vestígios de selamento sobre você e eu também soube que você era portadora de uma doença na Terra.
– Ou seja...
– A sua doença na verdade era um selo especial para bloquear totalmente o seu poder.
– Mas, o meu problema era ósseo! Como uma má formação óssea pode selar um poder que se concentra nos olhos? E como uma doença pode ser um selo?
– Entre os faeliens, se algum deles nascer com poder suficiente para poder destruir todos a sua volta,... – isso me é familiar – ...o próprio corpo desenvolve uma forma de bloquear tudo ao limitar as capacidades físicas do faelien em questão. Quanto maior a limitação, maior o poder.
– Está nos dizendo que todos os deficientes físicos da Terra são faelianos portadores de grande poder?? – Perguntou Erika antes de mim.
– Não exatamente, Guardiã.
– Então nos deixe tudo às claras, por favor!! – estou começando a me desesperar com toda essa enrolação.
Fáfnir soltou um longo suspiro antes de voltar a falar – Algumas doenças, assim como algumas mutações físicas são sinais de sangue faery junto ao sangue humano. Sendo as doenças selos de poder e as mutações sinais de descendência. – tanto eu quanto a Erika acabamos por cruzar os braços diante dele com uma sobrancelha erguida – Nem todas as doenças que causam deficiência física são selos, já que em primeiro lugar elas precisam ser congênitas e preservar o corpo do faelien inteiro, limitando porém não incapacitando a vida do mesmo. – definitivamente era o meu caso – Quanto aos sinais que denunciam a presença faery, eles sempre são pequenos detalhes a mais que não costumam aparecer com frequência entre os humanos ou habilidades consideradas paranormais. No caso de Erika, são seus olhos lilases.
– Meu irmão não tem nenhum desses sinais aí, a menos que doenças hereditárias como pressão, coração, diabetes e câncer possam ser selos também. – desabafei e Erika me arregalou os olhos. Na minha família era possível achar de tudo!
– Quais problemas mais é possível encontrar entre seus parentes? – perguntou o pequeno dragão fantasma.
– Acho que dá pra adicionar paralisia infantil, vícios, distúrbio de ansiedade, problemas respiratórios e como disse antes, má formação óssea. – respondi contando nos dedos (será que esqueci alguma coisa?).
– Que tipo de vício? – perguntou Anya.
– Bebida e jogatina. A bebida está do lado de minha mãe, meu avô faleceu por conta de cirrose alcoólica; já a jogatina reina sobre o lado do meu pai, ou pelo menos na maioria dos homens. Meu pai não faz parte!
– Quanto maior a família, maiores os problemas, eu acho. – refletia Anya.
– Dentre os problemas que mencionou, apenas o de má formação óssea tem a possibilidade de ser um selo sem sombras de dúvida. – disse Fáfnir.
– Então só há mais um como eu na família que, devido a inconvenientes durante seu nascimento, também é deficiente mental.
– De qual lado? – nem sei quem foi que perguntou.
– Paterno. – quer saber, cansei! – Vamos ficar falando de doenças até quanto?
– O que você quis disser com “detalhes a mais”, Fáfnir? – questionou Erika.
– Olhos incomuns, caudas, membros extras e semelhantes. – respondeu ele. – Mais alguma dúvida sobre como reconhecer um faelien? – nós duas negamos com a cabeça (ao menos por hora, eu não tinha) – Pois voltemos ao que realmente interessa então.
– E isso seria...? – será que é agora que eu descubro minha missão em Eldarya?
– Sua maana. Que pode salvar tanto Eldarya quanto a vida de Erika.
– Como?!?! – ouvi Valkyon disser quase que em desespero e todos os outros pareceram tão surpresos quanto ele, só Erika parecia indiferente.
– Sinto disser meu filho, mas o ritual desenvolvido por ela lhe consome a vida aos poucos... – Valkyon estava branco com as palavras de Fáfnir – Mas a maana que a Cris é capaz de emitir tem a capacidade de restaurar a vitalidade perdida de Eldarya, incluindo a que Erika sacrificou, e fornecer o que nós dragões não conseguimos durante o Sacrifício Azul. – isso pareceu trazer um pouco de esperança aos olhos de Valkyon (e mais peso pra mim) – Ser-lhe-ia pedir muito Cris, que rezasse junto à Erika durante o Ritual de Maana? Afinal, você só emite a sua maana quando ora.
– Não! Claro que não. Mas... O que a minha maana tem de tão diferente? Todos me dizem que ela parece estranha... estranha em quê?
– Como dragão, você recebeu a bênção de Anfitrite; como aengel, o poder da luz; e para finalizar, seu espírito carrega os dons da terra. Resumindo, sua maana carrega o poder da vida. – (Poder da vida?!?!) todos ficaram surpresos, mas não tanto quanto eu.
– É por isso que sou a única capaz de ajudar a ressuscitar o Grande Cristal?
– Não só isso. – acaso ele sabe de mais? – Você também será capaz de reunir todos os faerys novamente, assim como começou a fazer com as evigêneias.
– Mas tudo o que fiz foi achar o tesouro delas!
– E será com ações parecidas que você unirá a todos. As evigêneias não são o único povo que se isolou de todos os outros faerys.
– E como é que vou fazer para achar todos eles?! – sério, isso já está sendo trabalho demais!
– Tudo ocorrerá no seu devido tempo. Sua maana já funciona como um poderoso catalisador para a revitalização de Eldarya. A caverna em que você esteve vivendo até pouco tempo por exemplo; a maana daquele lugar ficou quase completa com a sua passagem!
– Só de viver um pouco mais de dois meses lá? – Fáfnir assentiu (talvez não demore tanto assim...).
– O senhor conseguiria nos dizer uma estimativa de que quanto tempo seria necessário para que ela pudesse consertar a maana de Eldarya? – perguntou Huang Hua séria.
Fáfnir pareceu refletir um pouco antes de responder – Eu diria... alguns anos... – (adeus Terra... _suspiro_) – Mas se as sementes da Oráculo puderem ser unidas, alguns meses.
– Sabe onde está a outra!? – tenho mais esperança de poder voltar à Terra (nem que seja só uma visita rápida) com o prazo de meses.
– Não posso dizer com certeza, mas acredito que ela possa estar em algum lugar de Apókries, as terras sombrias.
– Naquele pesadelo?!? – perguntou a Erika e todos pareciam temerosos (o lugar é tão ruim assim?).
– Que tipo de lugar é esse? – perguntei.
– É uma terra de Eldarya que reúne todos os tipos de sombra e escuridão que você possa imaginar. – explicava-me Anya – As criaturas mais sombrias e sórdidas vivem lá, e a energia sombria emitida por elas é tanta que, por mais forte que o sol brilhe sobre Apókries, sempre parece estar de noite naquele lugar.
– Um eterno Halloween, onde as roupas não são fantasias. – disse Erika (já quero distância de lá! Não consigo confiar nem na minha própria sombra quanto estou na rua de noite!!).
– Nevra ou alguma outra pessoa da Sombra pode ir até Apókries investigar. E uma vez identificada a localização exata, podemos ir até lá buscar a outra Oráculo. – sugeriu Valkyon recebendo a concordância de todos (será que vou mesmo poder tirar férias do galanteio de Nevra?).
Falamos mais um pouco sobre Apókries e depois conversamos sobre o encontro das evigêneias com a Guarda. Assim que tudo ficou acertado entre nós, nos recolhemos em uma casa preparada pelos faerys locais e partimos de volta pra Eel ao amanhecer.
No barco, durante o caminho de volta, o pessoal se reuniu para repassar entre si todos os eventos de Memória (ainda haviam informações a serem trocadas entre nós que o cansaço não permitiu antes) e ver quem ficaria responsável pelo quê quando chegássemos (relatórios, apresentações etc.).
A viagem de volta pareceu beeeem mais longa que a ida (o uso daquela poção fez mesmo uma grande diferença naquela viagem) e olha que a rainha usou um pouco de seu poder sobre as aguas para reduzir o tempo do percurso! Quando finalmente pudemos por nossos olhos sobre a praia de Eel, não sabia se me sentia aliviada ou preocupada. Miiko estava à nossa espera andando de um lado para o outro. Nem tivemos tempo direito de colocarmos os pés na areia para ela começar a dar ordens.
– Jamon, já sabe o que fazer! – disse ela sem nem reparar nas evigêneias e Jamon foi logo me lançando sobre os seus ombros.
– Mas o que é que está fazendo?!? – relutei.
– Cris precisar ir à prisão com Jamon.
– Pra quê? – perguntei, Anya e Erika se aproximavam de nós.
– Chegar lá, Cris saber. – e ainda sem me soltar continuou – Erika e Anya nos acompanhar se quiser.
Miiko
Se eu soubesse que esta viagem iria acabar nos trazendo problemas teria pedido para eles irem voando ao invés de barco (assim seriam mais rápidos). O Novo Grande Cristal ainda era um grande mistério para mim, e graças à Anya e ao Leiftan pudemos desvendar o motivo dele brilhar quando a Cris está longe: “o colar que a Oráculo branca cedeu à Cris deve garantir o contato entre elas quando a Cris ora. O Cristal só brilha desse jeito quando ela reza junto a ele e, agora que ele adquiriu este tamanho, é impossível para a Cris carregá-lo para cima e pra baixo como fazia antes”. Foi o que Leiftan me afirmou depois de conversar com Anya sobre as vezes em que ela viu o Cristal da Cris brilhar, e também justifica ele ter brilhado daquele jeito enquanto ela e os demais lidavam com os humanos na prisão.
A chave estava nas orações da Cris, e ela parecia rezar muito (qual seria o motivo maior?). De um lado até que era bom, confirmamos que a nova maana que era emitida pelo Cristal estava revivendo a terra e melhorando-a até! O problema era o extra que aquela maana trazia...
– Miiko! Capturamos mais um em frente a Grande Porta! – um dos guardas me reportava.
– Sério? Não se passou nem um dia de viagem deles ainda e dois contaminados apareceram em Eel? Como se já não bastasse todas as preocupações que já temos...
– Coloco-o na prisão em uma cela isolada como o outro até o retorno deles?
– Sim. E avise a todos para que façam o mesmo sempre que encontrarem um contaminado. Agora que existe uma forma de salvar os faerys da contaminação sem precisar matá-los como antes, – o que sempre me foi um grande peso – é melhor apenas os mantermos encarcerados até o retorno da Cris.
– Como desejar senhora Miiko. – reverenciou o guarda e saiu com Leiftan entrando atrás dele.
– Já terminei de entregar as mensagens que me ordenou sobre os preparativos do Baile de Máscaras do Solstício e... eu fiquei sabendo. Dois novos contaminados apareceram em Eel? Pensei que a chegada deles havia acabado quando os humanos tentaram nos atacar.
– Somos dois, mas parece que os humanos apenas os atrapalharam de chegar até nós.
– Pelo o que ouvi dos guardas, os contaminados capturados pareciam estar sendo atraídos por alguma coisa.
– Atraídos? Atraídos pelo quê? – Leiftan não disse nada, apenas começou a olhar para o Cristal (ele não pode estar pensando nisso!) – Acha que é o Cristal que está os atraindo?
– É possível. Afinal, eles só começaram a aparecer depois da Cris se apossar do fragmento da Oráculo. – não dava para discordar dele neste ponto, mas mesmo assim...
– Digamos que você esteja certo. – a ideia ainda não me agrada – Isso significa que não teremos de ir encontrar parte dos fragmentos, eles virão até nós! Mas como estarão dentro do corpo de faerys, ainda nos fornecerão um risco considerável.
– Se pudermos capturá-los antes que tenham oportunidade de causarem problemas... Não acho que teremos que esquentar nossas cabeças.
– Jamon!
– Jamon aqui.
– Quero que você leve a Cris até a prisão para ela purificá-los, assim que eles chegarem. Entendeu?
– Como Miiko desejar. Jamon impedir se alguém quiser atrapalhar?
Conhecendo o modo gentil de Jamon, aquela era uma pergunta válida – Não é necessário. E se por acaso Anya, Valkyon ou um dos nossos aengels quiser acompanhar, pode permitir. – Jamon deixou um guincho com riso sair.
– Huang Hua não podia ter escolhido momento melhor para visitar Eel, o baile já ia ser uma promessa de reconforto por tudo o que estávamos passando, com a presença dela então...
– Tem toda a razão Leiftan. Mesmo ainda faltando três semanas para o baile, temos muito que resolver. Ajude-me a lembrar de montar um plano de segurança contra os contaminados assim que Nevra e Valkyon aportarem.
– Como desejar Miiko.
No decorrer da semana comecei a ficar cada vez mais preocupada. O número de contaminados capturados aumentava e foi observado (assim como Leiftan suspeitava) que toda vez que o Cristal brilhava, eles agiam de forma estranha, parecendo atraídos por algo. Nós precisamos montar rápido um esquema eficaz de captura deles, já que éramos nós (ou melhor, o Cristal) quem estava os trazendo à Eel.
Chegado o dia em que eles provavelmente retornariam, fui cedo até à praia (mesmo sabendo que se eles chegassem, seria entre a tarde e a noite) acompanhada de Jamon por conta de um pressentimento. A mensagem que recebemos por meio de um mascote assim que eles chegaram em Memória, me deixou confusa com algumas coisas (que historia era aquela de sereias raras?) e eu não via a hora daqueles faerys serem limpos. Já tínhamos 15 ocupando a prisão! (de onde é que eles estavam saindo???) E para a minha surpresa, eles realmente haviam chegado cedo.
Nem esperei que eles terminassem de desembarcar direito quando mandei Jamon cumprir minha ordem e, assim como esperado, a Cris não gostou muito dos modos de Jamon (ao menos ele a estava carregando e não a puxando pelo braço. Era óbvio que ela precisava se firmar sobre a terra) e Erika e Anya acabaram por os acompanhar, só notei as sereias que estavam junto deles depois disso.
– Mas o que é que o Jamon vai fazer com a Cris, Miiko? – perguntava Huang Hua meio irritada.
– Ele está a levando até a prisão. Vários contaminados apareceram durante a ausência de vocês. – ouvi cochichos entre as sereias que estavam atrás de Huang Hua que ficou boquiaberta com minha revelação – E eles? Quem são?
– São evigêneias. Uma tribo de sereias que acreditávamos estarem extintas até o nosso segundo dia de viagem, graças à Cris. – como foi que a Cris os encontrou?? – Esta é Margaritári, – dois representantes das sereias se aproximavam – 20ª rainha das evigêneias e Kyrius, seu tradutor.
– Sejam bem vindos a Eel. Sou Miiko, líder da Guarda de Eel. – reverenciei-os e eles me devolveram a cortesia.
– Fui convidada por eles a coordenar, como embaixadora, o recontado das evigêneias com o restante dos povos de Eldarya, o que aceitei. – Huang Hua me parecia bem feliz – Temos uma longa conversa pela frente, podemos nos acomodar logo?
– Claro! Mas... acho melhor pedir para Ezarel preparar algumas poções para eles antes não é? Quanto tempo eles conseguem resistir fora d’água?
– Hahahahaha, isso não será problema Miiko!
Eu não entendi o que Huang Hua quis disser com isso, mas compreendi quando olhei para as evigêneias outra vez. Era incrível. Cada um deles atraía a agua de maneira a formar uma espécie de segunda pele sobre todo o corpo deles. Não pude evitar ficar boquiaberta.
– Vamos logo até a Sala do Cristal ou onde quer que queira se reunir com elas para conversarem, estou faminto! – comentou Nevra carregando três mochilas com ele enquanto Valkyon e Feng Zifu carregavam duas cada um (as extras devem pertencer às meninas e com certeza a da Cris está com o Nevra).
– Sim, vamos.
.。.:*♡ Cap.33 ♡*:.。.
Cris
Eu queria mesmo era firmar os pés no chão, não ficar sendo carregada pela Eel inteira feito um saco de batatas. Mas uma coisa que acabei notando entre os que nos viam atravessar a cidade era a expressão de alívio deles com a nossa chegada (o que foi que aconteceu?).
Perguntávamos à Jamon porque é que eu tinha de ir até a prisão, mas a única resposta que ela dava a nós três era: “Meninas saber quando chegar em prisão”. Ahff! Só espero que ele me carregue escadas acima depois. Graças à ele, minhas pernas ainda estavam bambas (e logo, logo, dormentes).
Quando estávamos quase entrando na prisão, senti meu Cristal se manifestar. Sua luz me envolvia o corpo e ainda estava consciente (tinha contaminados ali?!?). Um guarda que estava com um imenso molho de chaves preso à cintura nos aguardava, Jamon me colocou com cuidado no chão e eu pude finalmente descobrir o porquê de eu ser levada às pressas para lá.
Haviam mesmo contaminados lá, e não eram poucos! Anya e Erika pareciam horrorizadas com todos eles, já eu, envolta pela luz do Cristal, estava tranquila. Aproximei-me da primeira cela, onde o faery (todos na verdade) começou a afastar-se o máximo possível de mim. Estava em silêncio ainda e olhei para o molho de chaves que devia conter aquela que me permitiria entrar na cela.
– A chave. – falou Anya para o guarda – A Cris precisa entrar nas celas para ajudá-los.
O guarda arregalou os olhos e correu até onde eu estava já pegando a chave daquela cela. Aberta as grades, comecei o meu canto gregoriano, me aproximando e abraçando aquela kitsune diante de mim.
Sinto que terei um grande desgaste aqui.
Lance
Será que alguém poderia me explicar o que raios está acontecendo? Desde que Cris e Anya partiram pra Memória a prisão não tem mais sossego, todos os dias contaminados são trazidos até a prisão (porque não se livravam logo deles como sempre fizeram?). Toda vez que tentava consumir as provisões que Anya me deixou, um novo contaminado chegava. Que inferno! Até perdi o número das contas de tantos que eram.
Só conseguia comer decentemente mesmo quando os guardas estavam distraídos com o comportamento estranho que aqueles contaminados tinham às vezes e na hora que me serviam aquela porcaria que chamavam de mingau (o guarda esquecia-se de me vigiar comendo ao ficar observando aquelas criaturas _sorriso_).
Sempre que perguntava de onde haviam saído aqueles contaminados e porque os estavam deixando lá, era ignorado (se Anya estivesse aqui, ela me contaria). No sétimo dia, ainda de manhã, comecei a ouvir um alvoroço vindo da entrada da prisão e, ao ver que Jamon trazia a Cris sobre os ombros, também pude notar a Branca possuir a Cris, sozinha, ao mesmo tempo em que a luz que era emanada pelo colar dela lhe envolvia o corpo (o que é que vai acontecer aqui dessa vez?!). Cris que antes estava agitada, de repente ficou calma e muda. E todos aqueles contaminados pareceram ter ficado com medo dela.
Ela se aproximou de uma das celas que só foi aberta por causa de Anya, e depois disso, a Cris começou a cantar na língua original e se aproximar daquele contaminado que eu via aos poucos se transformar em uma kitsune de acordo ela o abraçava; além de um cristal contaminado deixar-lhe o corpo, ficando o fragmento branco após liberar uma fumaça negra e fundir-se ao colar da Cris. Notei que Erika (que também a acompanhava) havia sumido.
O processo se repetiu várias vezes, e no quinto contaminado, Erika retornou acompanhada por um grupo de faerys que começou a carregar os já descontaminados para fora da prisão. Quando a Cris já estava no nono, pude ver o quão cansada ela já estava. Os outros estavam maravilhados e ocupados demais com os descontaminados para perceberem o suor que lhe escorria no rosto.
“Porque não ajuda ela?”
Virei-me para onde ouvia a voz e era a Negra de novo.
“Você percebeu, não é? A Cris está exausta e você é o único a notar isso. Porque não doa um pouco da sua maana pra ela!?”
– Eu não consigo nem acumular pra mim mesmo, como poderia sequer oferecer a alguém? – perguntei a ela (agora consigo falar?).
“Não estou o impedindo de falar agora” – (ela está lendo a minha mente?) – “E você tem maana mais que suficiente para ajudá-la, sem falar que essas grades não lhe serão problema. E sim, eu posso ler sua mente.”
– E porque motivo eu iria ajudá-la se o que diz for verdade?
“Você ainda deseja deixar de vez essa prisão, correto? Pois bem, só o conseguirá se ela permanecer viva e com saúde! A Cris não vai parar até ter resgatado todos ou acabar morta.” – ela encostou as costas às grades de braços cruzados – “Está mesmo disposto a perder a sua segurança de liberdade?”
Se o que ela me dizia era verdade ou mentira não tinha como comprovar, mas não estava afim de me arriscar. Concentrei toda a maana que eu estava guardando para escapar daquele lugar e tentei direcioná-la para a Cris. Realmente as grades não me forneceram problemas para ajudá-la, e pude notar rápido o recompor da Cris com a maana que lhe enviava até acabar o que podia oferecer.
– O que você estava fazendo? – olhei para a entrada de minha cela onde Anya me observava.
– Fornecendo maana à Cris antes que ela desmaie. Vocês não estão enxergando o quão cansada ela está ficando com isso aí não? – Anya arregalou os olhos como se tivesse sido pega fazendo algo errado sem saber, e ainda pude ouvir uma risada divertida da Negra.
– Você... se preocupa com a Cris?
– Um pouco. – (principalmente se for mesmo verdade que ela é importante para a minha fuga).
“E é. Você verá.” – (não te perguntei nada Negra) – “Hunf!”
– Sobre a pergunta que lhe fiz, antes de viajar... – acaso é a minha chance? – ... você... agora pode me dar um resposta?
Preciso ser cauteloso, e o mais “honesto” possível – Já estou nessa prisão há muito tempo. Não tenho mais muita certeza se quero a destruição de Eldarya, – comecei e ela me olhava desconfiada – mas ainda sinto um pouco de rancor da guarda. Quanto à Cris, apenas não quero que ela acabe enganada, ou pior, – pousei meu olhar sobre a Cris – prejudicada por essa guarda. – Anya observava a Cris, agora lhe prestando atenção de verdade.
– Quando tudo isso acabar, – dizia ela – volto para lhe falar sobre a viagem. – e afastou-se.
(Será que a minha preocupação com a Cris é o que me dará o que preciso para fugir daqui?).
“Em breve irá descobrir.”
Argh!!!
.。.:*♡ Cap.34 ♡*:.。.
Leiftan
Estava no corredor das guardas quando vi Miiko acompanhada de Huang Hua e um grupo de... sereias aladas? A caminho da Sala do Cristal (Já não é uma surpresa eles terem conseguido chegar tão cedo?). Com toda a certeza a Cris já devia estar cuidando dos contaminados na prisão. Vi Nevra carregando duas mochilas consigo ao sair de seu quarto.
– O que são essas mochilas e como é que foi a viagem?
– A viagem foi uma tremenda caixa de surpresas! E quanto às mochilas, são as bagagens da Cris e da Anya. Vou levá-las até a morada das mesmas e escrever o relatório dessa viagem o mais rápido possível. O que foi que aconteceu para que a Cris fosse levada à prisão?
– Permita-me acompanhá-lo e lhe explicarei no caminho.
Acompanhei o vampiro até o quarto da Cris primeiro para depois à casa de Anya. Ele quase não me acreditou quando falei o número de contaminados que havíamos capturado na prisão, muito provavelmente por causa do Novo Cristal, assim como eu também quase não acreditei nas descobertas meio que miraculosas que surgiram na viagem deles. Separei-me dele na biblioteca, onde ele iria escrever o relatório da missão à Memória (que não seria nada pequeno) e fui para a Sala do Cristal.
– Até que fim resolveu aparecer Leiftan. – repreendia-me a Miiko.
– Desculpe, estava com Nevra até agora pouco, adiantando-lhe os últimos eventos de Eel.
– Tá, tá, tudo bem. Apenas me entregue essas mensagens pra ontem, por favor. – ela me entregava uma pilha de pergaminhos – E depois auxilie Huang Hua com tudo o que ela precisar de Eel.
– Como desejar. – deixei a sala para começar o meu trabalho.
Ezarel com toda certeza ainda não tinha deixado o laboratório desde ontem à noite, ou do contrário não teria me questionado o pedido de tantas poções para pernas, pois já teria visto as evigêneias (será que Miiko convidará a rainha para o baile?). Também entreguei mensagens ao Karuto, à segurança, aos purrekos e à Ewelein. Ewelein estava bem ocupada cuidando de todos os faerys resgatados pela Cris (espero que elas não fiquem cansadas demais com tudo isso).
Terminadas as entregas, acompanhei Huang Hua e as evigêneias até a loja da Purriry (aproveitando também para apresentar-lhes Eel).
– Huang Hua, é uma honra tê-la em minha loja! Como posso serrvi-lhe, miau?
– Olá Purriry. Viemos em busca de roupas para as evigêneias usarem depois de receberem as poções para pernas de Ezarel. – explicou Huang Hua.
Purriry observou as sereias aladas com cuidado – E o que exxatamente eles têm em mente?
Ouvi a rainha falar algo em que parecia ser grego arcaico (não sou muito bom nessa língua) e o tal de Kyrius nos falou que a rainha se daria por satisfeita com algo que fosse parecido com o vestido branco que a Cris havia vestido minutos antes de voltar à forma humana.
– Acaso é o mesmo vestido que ela usou quando partiu para Memória? – questionei e Huang Hua me confirmou assentindo.
Eu me lembrava bem daquela roupa, era linda e eu imaginava a Erika dentro dele. Descrevi a roupa em detalhes para a Purriry e ela não demorou em trazer algo parecido com ele, além de opções que atendiam às mesmas necessidades daquelas sereias (até peças com menos detalhes para Kyrius, que lhe agradou muito). Acabadas as compras, pagas por mim e por Huang Hua, receberíamos as poções solicitadas à Ezarel no salão principal.
Não importava aonde íamos, mesmo já vestidas antes mesmo de adquirirem as pernas, principalmente as mulheres, as evigêneias não paravam de chamar a atenção por sua beleza. Não pude deixar de escapar um riso quando ouvi um casal discutindo porque o rapaz havia as seguido com o olhar, provocando o ciúme em sua companheira.
Fomos ao salão para aguardarmos pelas poções. Erika estava lá, ajudando Karuto na cozinha para poderem servir as evigêneias e um prato reforçado para a Cris por conta do esforço que a obrigou a ser carregada depois de terminar de resgatar os faerys da contaminação (já imaginava algo assim por conta do número de contaminados que apareceu). Deixei Huang Hua e as sereias conversando em uma mesa e fui ajudar na cozinha também (cada minuto que pudesse estar junto de Erika era precioso pra mim) com Karuto me vigiando, é claro.
Cris
Aqueles contaminados iam mesmo acabar comigo, mas enquanto ajudava o nono deles, senti algo renovar-me as forças. Isso foi um alívio, acho que eu ia acabar desmaiando em breve se não tivesse recebido esse reforço, mas será que irá durar até o fim?
Foi por pouco, se tivesse mais dois ou três, desmaiaria com toda a certeza depois de tantas horas. Jamon me carregou nos braços até o meu quarto. Destrancado por Anya, que ficou cuidando de mim até conseguir me levantar outra vez (o que só aconteceu lá pra hora do almoço) e onde minha mochila me aguardava do lado de fora (quem será que a trouxe? Tenho que agradecer).
Quando finalmente conseguia andar novamente (meio cambaleando como se tivesse acabado de acordar, mas andava), Anya e eu descemos para almoçarmos. Chegando lá, logo vimos Huang Hua e as evigêneias sentados em uma mesa com Ezarel junto delas (acho que acabaram de receber as tais poções para pernas que Anya me falou).
– Tudo bem se nos juntarmos a vocês? – perguntei com Huang Hua e Ezarel, que estavam de costas, se virando para mim.
– Olha se não é a bruxinha favorita de todos! – Ezarel brincava.
– Claro que pode querida. Como se sente? – Huang Hua me puxava uma cadeira.
– Com fome. – respondi – Pensei que ia desmaiar de cansaço antes mesmo de terminar de cuidar de todos os contaminados.
– É só você ficar em Eel até que todos os contaminados de Eldarya acabem! – Ezarel sorria de lado ao falar. – Capturar um contaminado é bem difícil sabia!?
– Ela encarou mais contaminados em um mês do que você em um ano, acha mesmo que ela não tem ideia do problema que um contaminado é capaz de causar? – defendia-me Anya – E quanto à ela ficar sempre em Eel, graças ao que descobrimos em Memória, não vai rolar. – Ezarel acabou por revirar os olhos.
– Dê espaço elfo! Não posso entregar a comida da Cris à ela se você ficar parado no caminho. – Karuto pedia com uma bandeja cheia de comida nas mãos.
– A rainha aqui é a evigêneia de nome Margaritári! – reclamou Ezarel ao ver minha comida – E não a Cris.
– Reclame menos e trabalhe mais Ezarel. – requisitou a Erika que vinha logo atrás com outra bandeja que colocava em frente de Anya. – Você não viu o quão exausta ela ficou depois de gastar tanta maana sem parar para ajudar aqueles faerys!
– E chegou a aengel mais amada de Eldarya. – Ezarel não tem limites não?
– Há algum problema Ezarel? – disse Leiftan apoiando uma das mãos sobre um dos ombros de Ezarel, com um sorriso inquietante no rosto que pareceu fazer Ezarel tremer.
– Leiftan... – Erika lhe chamou a atenção e Karuto ria disfarçadamente da expressão de Ezarel.
– Nenhum. – Ezarel se afastava com um novo sorriso – Se me permitem, tenho de voltar ao laboratório para terminar algumas poções. Mais tarde volto para comer. – e deixou o salão quase correndo (acho melhor tomar certo cuidado com Leiftan).
– Mas então Cris... – Karuto me observava comendo – Já encontrou algum par para o baile do Solstício? – quase engasguei.
– Baile? Que baile?!
– Não falou do baile para ela ainda Anya? – questionou Erika.
– Acho... que me esqueci. – encolheu-se Anya no lugar.
– Será que podem me explicar que raio de baile é esse? – perguntei olhando para todos eles.
– É o Baile de Máscaras do Solstício. Um evento que comemora a chegada do inverno e o início de um novo ano, e que acontecerá daqui duas semanas. – explicava Huang Hua (sabia que estava esfriando demais).
– As máscaras são para nos lembrar que não importa qual é a raça ou aparência de um faery, todos somos seres vivos... com os mesmos direitos à vida. – seguia Erika.
– Não é obrigatório estar com um acompanhante para esse baile, mas é quase um costume que os rapazes façam o convite, quando já não se é um casal declarado. – prosseguiu Leiftan, olhando de lado para Erika no final (e com um pouco de tristeza na voz). Pobre Leiftan...
– Imagino que Nevra só não lhe convidou ainda por estar ocupado. – disse Anya apoiada em um dos braços sobre a mesa (Nevra como par?? Nem pensar!!).
– Hehe, conhecendo aquele vampiro, ele vai é preferir convidá-la pra dançar durante o baile, e não para ser seu par nele. – comentou Karuto, fazendo Anya despertar para algo.
– Que quer dizer? – perguntei.
– Isso é porque se um rapaz tem seu convite rejeitado, ele é obrigado a deixar aquela que tentou convidar em paz até o fim do baile! – esclareceu Anya.
– Realmente o Nevra nunca convida ninguém para lhe ser par. – Valkyon apareceu – Erika me contou como foi tudo lá na prisão, está tudo bem com você Cris?
– Estou muito bem. Obrigada pela preocupação.
– Não tem como ela ficar fraca por muito tempo depois de comer da minha comida, hehe. – disse Karuto – Melhor voltar pra minha cozinha agora, antes que os tontos que estão lá façam alguma besteira.
– Muito obrigada Karuto. Ah! E só pra você saber, está uma delícia! – falei colocando mais uma garfada de comida na boca, ele voltou ao trabalho sorrindo. Notei que as sereias (agora com roupas e provavelmente com pernas também, já que ainda lhes enxergava as caudas e nadadeiras) não pararam de cochichar e rir durante toda a conversa. – Acaso nossos novos amigos também irão participar do baile? – Siece me sorria.
– Sim, elas participarão. – respondia Huang Hua – Miiko as convidou para podermos ganhar tempo em reunir representantes de outras nações e assim readicioná-los à lista de raças faerys que habitam Eldarya.
– Amanhã retornaremos ao nosso lar para repassarmos ao restante de nosso povo as decisões tomadas por nossa rainha junto à Fáfnir, e depois retornaremos para participarmos do baile. Além de efetuarmos a reunião mencionada. – declarou Kyrius.
– O que me faz lembrar! – Anya acabou chamando a atenção de todos da mesa – Temos que procurar uma roupa apropriada para você usar no baile Cris!
– Tenho mesmo que participar? Eu não sei dançar... – confessei.
– Não acredito. – era Valkyon agora – Não depois de como a vi lutar, você literalmente dançava enquanto manipulava a espada! – fiquei vermelha.
– Isso será muito interessante! – falou Huang Hua com um largo sorriso no rosto.
.。.:*♡ Cap.35 ♡*:.。.
Cris
Por algum motivo, aquela historia de baile não me agradava muito, como se pressentisse que algo meio ruim fosse acontecer nele. Depois que acabei o meu almoço, estava forte e em forma de novo. Pensei em treinar um pouquinho com Valkyon, de leve, mas Anya me tinha planos diferentes. Ela me arrastou para o meu quarto para que pudéssemos confirmar se havia algo “digno” em meu armário, Absol pareceu ter tido a mesma ideia. Roupas espalhadas pra tudo o que é lado foi o que encontramos ao entrar no meu quarto, e Absol não parecia satisfeito com nada do que via.
– Parece que o Absol quer escolher o que você irá vestir pro baile.
– Concordo Anya. Absol, precisava fazer essa zona?
Ele apenas olhou para as roupas ao seu redor insatisfeito. Foi até uma das gavetas do armário e pegou a bolsa em que guardava o meu “dinheiro” (só em um mundo de fantasia mesmo para energia vital ser vista como moeda) e foi até a porta nos chamando com um balançar de cabeça. É... está na hora das compras...
Seguimos direto até a loja de uma purreko de nome Purriry (a mesma que Anya ajudara algumas vezes) que quase pulou até o lustre da loja ao ver Absol entrando.
– Oi Purriry! Deixe-me apresentar, estes são Absol e Cris. Viemos atrás de um vestido para o baile!
– E-entendo. – tentava a gata malhada recuperar a compostura. Absol me entregou a bolsa de dinheiro e começou a rodear a loja, causando um pouco de indignação na felina – Mas o que ele está fazendo?!
– Escolhendo um vestido. – dissemos eu e Anya juntas.
– Está me dizendo que aquele black-dog é capaz de escolher uma roupa?! – Purriry permaneceu incrédula mesmo depois de Anya e eu lhe assentirmos. – Miau. Essa eu quero verrr!
Absol andava de um lado para o outro, percebia quando ele queria ver melhor alguma peça e a erguia para que ele pudesse vê-la melhor e quase sempre ele balançava a cabeça negativamente. Purriry já parecia impaciente até que finalmente ele começou a assentir sobre algumas peças (ele até retornou para algumas que havia rejeitado antes!). Decidida quais vestes ele tinha gostado (acho que ele estava me montando um vestido ao estilo medieval para encarar o possível frio da noite mais confortavelmente), uma a uma ele me dava para vestir no provador.
Quando finalmente sai do provador, até a gata pareceu surpreendida. Absol me fez vestir: uma blusa branca de gola alta e manga comprida com detalhes em dourado; um vestido branco de tecido metalizado, perolado, não sei, também de gola alta e de manga cumprida, além de uma abertura no busto, expondo a cruz dourada da blusa embaixo; uma meia-calça azul escura; sapatos azuis com uma gema dourada; um vestido longo de decote ousado do mesmo azul da meia, com detalhes em dourado e penas azuis e douradas; luvas que iam até o ombro (aparentemente de pele) também azuis com uma capa translúcida com penas brancas e douradas que combinavam com o vestido azul fixa a elas e com o que parecia ser uma camada fofa de lã branca cobrindo a região ao redor dos ombros; mais um colar azul, brinco dourados iguais as gemas dos sapatos, conjunto de pulseiras de argola dourada em cada pulso e uma máscara dourada com detalhes em preto que pareciam se desenhar e desfazer-se com mágica. Soltei os cabelos.
– Preciso dizerrr... – virei-me para Purriry (toda essa roupa está começando a me dar calor, mas quando for o dia talvez seja o bastante) – ...este black-dog tem mesmo estilo para moda. Está linda!
– Concordo plenamente com ela Cris. Você vai arrasar no baile com toda a certeza! – fiquei um pouco vermelha com o argumento de Anya (não me sentia tão incrível assim...).
– Purriry, preciso falar com você um momen... Quem é essa princesa linda?! – entrava um novo purreko laranja de olhos cromáticos me deixando ainda mais envergonhada.
– Essa é a Cris, a faeliana que vem rrresgatando os faerys contaminados. – apresentou-me Purriry – E ela está comprando o vestido para o baile, miau.
– Ela!? – ele me olhava de cima abaixo de queixo caído – Espere um instante! – ele tirou a sacola de pano que carregava aos ombros com uma vareta e abriu-a revelando outras menores que, farejava ou sentia-lhes o peso até encontrar a que queria. Acabou por abrir duas de onde retirou um ornamento dourado de uma e uma presilha de rosas violetas de outra. Vi Anya arregalar os olhos com a ação daquele gato.
– Dei-me isso aqui, Purral. – falou a Purriry pegando nos ornamentos e, com a ajuda de Absol que lhe servia de escada, colocou os dois em minha cabeça – Ficou perrrfeito! – Absol balançava a cauda em concordância.
– Você está realmente incrível Cris. – elogiou-me Anya mais uma vez, acabei por pegar um leque azul com flores rosa para esconder mais o rosto, o que pareceu tirar um sorriso de todos – Adicionando um toque de mistério é? Assim vai acabar roubando os pares das outras garotas! – Os elogios que eles não paravam de me dar já estavam me fazendo começar a suar frio.
– Me diga Purriry, – falava o tal do Purral – quanto pretende cobrar da nossa bela dama pelas roupas?
– Acho que... – ela me analisava – ...3.000 maanas.
– 3.000!? Acaso está lhe cobrando os meus presentes também?! – disse o gato meio irritado.
– Tá! Tudo bem, 1.800 então. – cobrou ela a contra gosto (de 3.000 para 1.800? Quão gananciosa aquela gata podia ser?).
Voltei a vestir minhas roupas de antes e Anya não só escolheu uma roupa para ela nesse meio tempo (que infelizmente não pude ver como era), como também efetuou o pagamento por mim enquanto Purriry embrulhava tudo. Retornamos ao meu quarto e arrumamos a bagunça que Absol havia feito. Anya cancelou nossas aulas do dia para poder organizar as coisas dela também, eu nem me importei.
Dei uma limpada por cima na poeira do meu quarto (ainda preciso planejar a faxina dele) e aproveitei que Anya colocou meu notebook pra carregar enquanto estava incapacitada e assisti a um filme, pra me distrair.
Eu não sei por que, mas desde que começaram a me explicar essa historia de baile, tive um mau pressentimento que me persegue até agora. Espero que seja apenas coisa de minha cabeça ou quem sabe, apenas medo do Nevra ficar em cima de mim no baile (te peço Senhor).
Anya
Me senti mal pela Cris por não ter percebido o cansaço dela quando salvava aqueles contaminados. Ainda bem que Lance não só percebeu, como também a ajudou (não posso deixar de falar com ele hoje). Decidi compensar minha falha cuidando dela.
Fazia tudo o que ela dizia precisar fazer enquanto não conseguia se levantar, como arrumar a bagagem dela (que aposto que foi o Chefinho que a deixou em frente à porta) e por o not dela pra carregar a bateria. Acabei conseguindo um acordo com ela para poder assistir o tal do Hellsing Ultimate (tenho quase certeza que ela me fez essa promessa sem nem perceber de tão cansada, sorte Absol ter sido testemunha) pra disfarçar meu sentimento de culpa que ela parecia estar notando.
No almoço, eu não acredito que me esqueci de falar do baile pra ela... É simplesmente um dos eventos mais esperados de Eel! Fomos até o quarto dela verificar se ela tinha alguma coisa que servisse para ser usado e, (Pelo Oráculo!!) que furacão foi aquele que passou dentro do quarto?
Acabamos foi é deixando aquele caos de roupa pra trás e fomos à loja de Purriry encontrar o vestido perfeito pra Cris (tive de me segurar para não rir de Purriry quando ela viu o Absol). Absol parecia ser pior que a própria Purriry no que se refere a montar o look ideal e que belo trabalho quando ela finalmente deixou o provador! A Cris estava simples, mas rica em detalhes; ousada porém comportada (e duvido que ela vá passar frio no dia do baile). Ela estava bem a cara dela mesmo, mas o toque final foi dado pelo Purral que chegou para falar com a Purriry e se encantou com a Cris, presenteando-a com alguns ornamentos de cabeça. Esperteza dela adicionar aquele leque (pode ajudar contra o Chefinho).
Enquanto a Cris se livrava daquela montanha de tecidos que a protegeria belamente do frio, fui questionar o Purral.
– Porque foi que você presenteou a Cris com aquelas coisas, Purral?
– Nos dias em que a Cris mudou-se para Eel, eu estava fora da cidade mocinha linda, e por isso não pude dar a minha retribuição por tudo o que ela fez por nós e pela sociedade dos purrekos.
– E o completar do look de baile dela, além de nos garantir um bom preço, é a sua forma de contribuir?
– Eu teria lhe presenteado com um ovo, miau. Mas fiquei sabendo que ela já tinha vários!
– 20! Para ser mais preciso, e alguns são bem raros...
– Miau, mais um motivo para presenteá-la com algo que ela use ao invés de um ovo, não concorda mocinha linda?
– Sim, concordo sim.
– A propósito... – Purriry nos interrompia – A senhorita também não vai comprrrar um vestido para o baile?
– Se você tiver alguma coisa que me faça parecer mais adulta e que consiga competir com a Cris... – respondi a Purriry.
– Preferência de cor? – ela perguntou com um sorriso largo no rosto.
Verde sempre foi minha cor favorita, mas aprendi a também gostar do preto depois de entrar na Sombra. Acabei convencida a comprar um vestido preto e esverdeado escuro, brilhoso de alças que realmente me deixava mais adulta; uma longa capa verde de gola com detalhes dourados forrada por dentro; botas e luvas longas verdes com detalhes dourados, combinando com a capa; quis copiar a ideia de Absol sobre várias camadas para aquecer o tronco e acabei adicionando uma blusa preta de renda (ou será que ela é verde escura?) cujas mangas iam até os cotovelos, a mesma altura da capa nos braços; para ajudar ainda mais a modelar a cintura, Purriry ainda me escolheu um cinto aramado dourado. Gastamos menos da metade do tempo que Absol para escolhermos tudo, tanto que quando Purriry começou a embrulhar meu vestido, a Cris ainda estava terminando de vestir as roupas dela.
Não foi fácil convencê-la a me permitir usar os acessórios que eu já tinha ao invés de comprar novos (o que ganho de salário não é tanto assim) e se não fosse pela intervenção de Purral, aposto que ela ia tentar me assaltar assim como quase fez com a Cris. Fui eu quem fez o pagamento das nossas compras pra ter certeza que a Purriry não ia tentar bancar a esperta pra cima de nós duas nos fazendo comprar algo mais.
Voltamos para o quarto da Cris e demos um jeito na bagunça que Absol fez. Pedi a Cris para cancelarmos nossas aulas do dia para que eu pudesse arrumar minhas próprias coisas e ela aceitou sorrindo. Deixei-a sozinha com Absol e corri para casa. Assim que cheguei, minha mãe já havia arrumado minha mochila, entregue por Nevra (ela não podia ter me deixado responsável por minhas próprias coisas não?) e ficou furiosa comigo por ter gastado com roupas novas para o baile, isto é, até ela me ver vestida... Ela não parava de chorar emocionada: “Minha menininha já é uma moça linda...!” (ahff!) foi o que ela acabou dizendo depois de lhe mostrar a roupa que comprei pra mim e que completei com um colar de camadas e um par de brincos, ambos dourados com detalhes verdes, o chapéu e a máscara dos meus uniformes da Sombra e uma coroa de flores que usei alquimia para eternizá-la.
Guardei tudo para o grande dia e disse à minha mãe que havia esquecido uma coisa com o Nevra e por isso precisava voltar rapidinho pro QG (ainda preciso conversar com o Lance). Pequei uma porção de biscoitos, um sanduíche, uma maçã e um pouco de leite escondida de minha mãe, pra poder levar pra ele. O treino da Sombra realmente me fez bem (fiquei bem mais sorrateira, hihi!), não tive dificuldade alguma pra chegar à prisão, e quando fiquei de frente à cela do Lance, ele parecia dormir (ele realmente se esgotou pela Cris??).
– Já estava pensando que você tinha se esquecido de mim, mais uma vez. – ele dizia ainda de olhos fechados.
– E eu que você estava dormindo. O quanto de maana você deu para a Cris?
– O suficiente para que eu pudesse continuar acordado. – ele se erguia do chão devagar – Até aquela gosma que o Karuto me manda foi bem vinda para recuperar o que dei a ela.
– Aqui. – lhe estendia a comida que havia pegado às escondidas, que ele não demorou nem um pouco pra pegar e devorar. Aquilo me fez entender o quanto ele quis ajudar...
Talvez... (só talvez!) Seja seguro confiar nele agora. Contei a ele sobre a aventura que foi nossa viagem à Memória e sobre nossas descobertas. A reação de surpresa e choque dele já me era esperada (todos ficamos iguais!).
– O que vocês viveram e descobriram nessa viagem daria um ótimo livro. Que historia! – falava ele me devolvendo o tecido que utilizei para carregar a comida.
– Não tenho como discordar.
– Anya, posso lhe pedir um favor?
– Vai depender do favor.
– Pode me dar algo para poder corrigir minha aparência?
– Como!? – eu não esperava esse tipo de pedido dele.
– Pode ser qualquer coisa. – ele falava neutro – Só quero poder dar um jeito nessa juba que se formou na minha cabeça. – ainda não estou convencida... – Eu não quero que a Cris me conheça com essa aparência deplorável, quer dizer, caso eu consiga me apresentar algum dia à ela...
– E porque exatamente você deseja conhecê-la? Além de já se preocupar com ela...
– As coisas que você me contou sobre ela, além das que eu já testemunhei me deixaram com uma imensa vontade de tê-la como... uma amiga. Enfim, quero compreendê-la melhor. E pra ser sincero, sabe a maana que doei para a Cris?
– O que tem ela?
– Eu estava acumulando para fugir dessa prisão. – (ele o quê!?!) – Mas priorizei o bem estar da Cris ao invés do meu. – suas palavras me atordoavam – Isso não é o bastante para que eu lhe convença que não desejo mal para a Cris? E sim o contrário, que lhe desejo o bem?
Acabei por coçar a cabeça sem saber direito se o ajudava ou não a realizar sua vontade de ajeitar o visual – O quê exatamente você quer que eu lhe forneça? – acabei perguntando.
– Como eu disse... – ele sorria tímido? – Pode ser qualquer coisa... como uma pequena faca por exemplo.
Ainda não estava confiante nessa situação. Peguei a pequena faca que mantinha escondida dentro de minha bota (outro truque que aprendi na Sombra) e a observei por um momento. Lance parecia ansioso e decidi bater com tudo a ponta da faca contra a rocha em que estava sentada para lhe quebrar a ponta.
– Apenas me prometa uma coisa... – só quebrar a ponta não me dava segurança o bastante para lhe entregar uma faca.
– O que desejar. – foi a resposta dele aproximando-se das grades para receber a minha faca.
– Que de forma alguma irá utilizá-la para machucar alguém. – pedi ainda não soltando a faca.
– Juro por todas as almas dos dragões que participaram do Sacrifício Azul, esta faca não vai sequer provar o sangue de alguém enquanto estiver em minhas mãos. – prometeu ele.
Resisti um pouco ainda à lhe entregar a faca danificada, mas terminei por soltá-la. Me despedi e saí correndo pra casa (Santo Oráculo, que eu não tenha cometido um erro letal!).
.。.:*✧ Capitulo especial – Sonhos ✧*:.。.
Pesadelo 1
Era noite de lua cheia, estava no meio de uma floresta de arvores mortas, com uivos ao longe podendo ser ouvidos de tempos em tempos. Eu caminhava com cautela, pois estava perdida. Perdida... e sozinha.
Caminhei e caminhei por um caminho que não parecia mudar ou acabar e pra piorar, me sentia observada. Comecei a ouvir gravetos e folhas secas se quebrarem por passos, passos que não me pertenciam...
Acelerei o meu próprio passo na tentativa de me afastar de seja lá o que for que estivesse perto sem ser notada, mas os passos misteriosos me acompanharam. Quanto mais eu andava, mais eu acelerava, tanto que quando me dei por mim já estava correndo e não mais andando, e o pior, o que me seguia continuava me seguindo. Não queria olhar para trás enquanto fugia de sei lá o que, mas mesmo assim eu olhei, e tudo o que vi foram vultos, sombras, de vários seres não definidos me seguindo. Acabei dando um grito e correndo ainda mais rápido.
Corri até me trombar com alguém que me segurou firme nos braços.
– Olá Cris. – ergui o rosto para ver quem era, pois não tinha reconhecido a voz.
– Nevra? – olhei ao redor. Não estava mais sendo perseguida por nada, era apenas eu e o Nevra, e estávamos em uma enorme clareira.
– É uma bela noite não acha? – ele me acariciava o rosto (porque sua voz parece diferente?).
– Eu não acho. – não estou gostando disso – Alguma coisa estava me perseguindo até agora a pouco.
– Ninguém vai lhe tocar, não comigo aqui. – ele me aproxima cada vez mais de seu corpo.
– N-Nevra, v-você está me assustando... – meu coração parece que vai sair pela boca!
– Não se preocupe... – ele me sussurrava ao ouvido e eu ofegava – Não vai doer nada...
Arregalei meus olhos ao ouvir isso, e comecei a tentar me livrar de seu abraço, mas ele me segurava forte. Me desesperei mesmo quando o senti fincar as presas em meu pescoço – Nevra... – não havia dor, mas algo era sugado de mim – Por favor, pare... – sentia a sua respiração assim como o ouvia engolir meu sangue – Já chega... – chorava, e quanto mais ele continuava, menos conseguia relutar – Pare Nevra! – ele continuava a me ignorar e também me sentia cada vez mais fraca em seus braços – Ne...vra... – tudo começou a escurecer, a sumir, a desaparecer...
.。.:*♡ Cap.36 ♡*:.。.
Oráculos
“E então? Fez o que Fáfnir nos sugeriu?”
“Já está feito. Mas ainda não acho o bastante para confiar nele.”
“Tente usar suas necessidades pessoais contra ele!”
“Já o estou fazendo. Mas não consigo deixar de temer a ideia de ele cometer uma burrice antes de enxergar o mesmo que nós! Vai demorar muito pra ela conseguir usar os poderes dela, sem precisar de um empurrãozinho nosso?”
“Enquanto ela não aprender a falar a língua original conscientemente, ela vai continuar dependendo de nós para cumprir suas “obrigações”. O poder que nasceu nela é realmente impressionante!”
“É... não é qualquer um que já nasce sabendo falar a língua original... É realmente incrível que o poder dela tenha conseguido extrair este conhecimento das profundezas de seu sangue. Hum... Posso tentar fazer ele a ensinar.”
“Falando em sangue...”
“O quê?”
“Acho que já sei quem podemos usar para garantir a segurança dela no começo.”
“Quem?!”
Cris
Tive uma noite horrível. Pesadelos me perturbaram a noite inteira! Enquanto assistia ao filme ontem, Kero me bateu à porta entregando a cópia traduzida de dois dos oito livros que ele havia levado (como ele conseguiu tão depressa se está sempre ocupado?) e ainda por cima era a cópia dos maiores! Aproveitamos para falar da viagem que tive, onde ele acabou falando um pouco mais de Apókries pra mim. Só o pouco do que eu havia ouvido em Memória não era nada se comparado ao que Kero me contou. Definitivamente não quero ir para lá, e olha que o Kero nem falou sobre os seus habitantes, ao perceber minha inquietação!
Os pesadelos combinavam o que Kero havia me contado com a minha preocupação sobre o Nevra e o baile: ambientes sombrios, sombras me perseguindo, Nevra me consumindo todo o sangue, enfim, não descansei nada! Foi a pior noite em que eu consigo me lembrar, e pelo jeito que Absol parecia estar ansioso pelo treino de hoje, isso seria apenas a ponta do iceberg.
Me levantei a contragosto e me vesti para treinar após comer alguma coisa como Absol queria (parece que não há nenhuma desculpa que possa funcionar com ele hoje para fugir do treino...). Desci a torre e entrei na sala do Cristal sem nem perceber... a sala estava vazia e eu sentia o colar pesar em meu pescoço (vai ver é por isso que entrei automaticamente assim), me aproximei do Cristal, apoiando-me sobre ele. Cantei o Pai-nosso que conhecia e gostava (pude conhecer uma terceira versão dele enquanto pesquisava cantos gregorianos) fazendo o Cristal brilhar ao mesmo tempo em que todos os fragmentos coletados ontem se transferiam do colar para ele.
– Bom dia Cris! Já tão cedo visitando o Cristal!? – virei-me para ver Erika que entrava acompanhada da Miiko.
– Bom dia _bocejo_ pra vocês também.
– Aconteceu alguma coisa? Sua cara está péssima! – questionou a Miiko, então lhes contei da “bela” noite que tive.
– Nossa! – falava Erika quando terminei de contar – Mas que noite a sua hein? Não acha melhor descansar um pouco mais por hoje? Apesar das “férias” – Erika fazia aspas no ar – que Memória nos deu, você se desgastou muito ontem!
– Não acho que Absol concorde, ou do contrário ele teria me deixado dormir mais.
– Esse black-dog realmente parece um guardião. – comentava a Miiko – Te cuidando, protegendo e ensinando. Soube que até os mascotes gostam dele!
– Isso é novidade. – acordei finalmente – Tá certo que na floresta todos os mascotes pareciam amigos de Absol, mas até os de Eel?
– Absol é mesmo uma ovelha negra entre os seus. – afirmou Erika com um sorriso.
Ouvi o latido do Absol vindo do lado de fora e elas me disseram que a sala estava selada naquele momento (e eu nem percebi) por isso que ele não havia entrado. Me despedi delas e fui até o salão para comer o meu desjejum. Algum desastrado derrubou suco no chão do refeitório e eu quase caí ao escorregar no líquido (o dia está prometendo...). Tomei o meu leite e comi uma porção de salada de frutas com pedaços de chocolate e castanhas (ao menos Karuto tentava me amenizar o dia).
No treino as coisas não estavam melhores... Não estava vendada e eram apenas Valkyon, Absol e eu, mas nem por isso deixei de cair umas três vezes durante os golpes deles.
– Não está muito concentrada hoje, – falava Valkyon em nossa primeira pausa – o que foi que aconteceu?
– Tive uma noite ruim. – respondia – E parece que o dia quer seguir o mesmo caminho.
Falei a ele sobre os pesadelos e do quase acidente no salão principal, ainda lhe falava quando notei um Ezarel fantasma se aproximando de nós. Esfreguei meus olhos pra ter certeza do que estava vendo.
Ele estava vestindo apenas uma túnica e estava translúcido nos pés e mãos, com um enorme sorriso de quem está planejando algo. – O que foi que aconteceu com você Ezarel?! – perguntei. Ezarel travou no lugar, perdendo o sorriso quando lhe fiz a pergunta.
– Do que está falando Cris? – perguntou o Valkyon. Foi quando notei que era a única que o estava vendo.
– Me diz Ezarel, o que foi que você fez? Isso é alguma poção que tomou ou alguma forma de projeção astral? Porque está parecendo um fantasma? – isso chamou a atenção de Valkyon e dos que estavam próximos.
– Você está mesmo me vendo? – ele me perguntava ainda incrédulo.
– E te ouvindo também. Vai falar logo o porquê de estar assim ou não?
– Ezarel? Você está mesmo aqui? – perguntava o Valkyon sem saber para onde olhar direito.
– Sim estou. – ele cruzava os braços, indignado, e fornecendo à Valkyon um ponto para olhar.
– Explique-se, por favor. – Valkyon exigiu. Ezarel revirava os olhos.
– Quis testar essa habilidade dela enxergar as coisas de uma forma diferente, por isso optei por tomar uma poção de invisibilidade.
– E o que pretendia fazer se eu tivesse perguntado nada? Ou pior, se eu tivesse fingido não lhe enxergar. – alguns dos obsidianos se juntavam às minhas costas como que para me protegerem.
– Nada de mais. – agora ele colocava os braços às costas (vou fingir que acredito) – Apenas pensei em me divertir um pouco durante o teste.
– Se divertir... como? – Valkyon parecia nervoso.
– Só ia atrapalhar o treino um pouco. – (pra piorar ainda mais o meu dia?!?) – Não tenho intenções de feri-la.
Eu respirei fundo. – Quanto tempo para o efeito da poção acabar?
– Tenho mais duas horas.
– Então Ezarel, – nunca vi Valkyon tão sério – sugiro que permaneça bem longe de nossos treinos durante as próximas duas horas. Para o seu bem!
Ezarel cruzou os braços outra vez e fechou a cara, segui-o com o olhar até perdê-lo de vista e me prontifiquei de avisar se o visse entre nós outra vez. Valkyon ainda elogiou minha habilidade já que ela me ajudaria a nos proteger de muitos problemas. Ele até brincou em querer me colocar para fazer vigília à noite! (sorte minha não ter treino suficiente pra isso) O treino foi retomado até chegar a hora do almoço, onde pude colecionar calos e conduções por pelo menos duas semanas (ai...!).
No almoço tudo estava correndo bem, até um grupo de uma mesa próxima começar a discutir e um de seus membros jogar um prato frio de sopa que acabou acertando a mim por trás (e enfurecendo o Karuto). O prato em si não me acertou, mas fiquei uma verdadeira meleca lá, o elfo que me acertou sem querer ainda tentou me ajudar a me limpar pedindo mil desculpas. Karuto deu uma senhora bronca em todos eles, obrigando-os a limpar toda a sujeira que eles haviam provocado além de lhes prometer dar-lhes apenas mingau como refeição pelos próximos trinta dias! Ele me levou até a cozinha onde me limpei da sopa.
Uma tal de Twylda me ajudava a me limpar ainda quando um par de guardas chegaram dizendo que haviam capturado cinco contaminados de uma vez e que era para eu ajudá-los (mas que maravilha de dia...!). Acompanhei-os até os que precisava ajudar no porão e acabei exausta como sempre. Um deles me forneceu apoio escadas acima até a sala das portas e me virei sozinha até chegar em meu quarto (acho que Absol está explorando outra vez. Ele sempre ia e vinha quando queria).
Estava um bagaço ao entrar no quarto. Anya chegou cinco minutos depois e estava tão cansada quanto eu. Nevra também não lhe poupou no treinamento de hoje. Trocamos nossas más experiências do dia e optamos por assistir animês ao invés de termos aulas de eldaryano, já que ambas não tínhamos cabeça pra isso. Assistimos a metade da primeira temporada de Sword Art Online (um de meus favoritos) e decidimos por encerrar o dia. Ela foi pra casa e eu fui tomar banho após desligar o not, foi uma dureza desembaraçar os meus cabelos durante o banho, parecia que estava a pelo menos um mês sem lavá-los de tão embaraçados que estavam! Metade dele me pareceu ter saído na escova. Pude notar algum tipo de algazarra vindo de fora ao deixar o banheiro só de lingerie (não quis arriscar sujar uma roupa limpa antes de eu mesma estar limpa ao entrar no banheiro) e não demorou para que me batessem à porta (queria não ter reconhecido o dono da voz...).
– Cris? Você está aí?
– O que quer, Nevra?
– Desculpe perguntar, mas algum estranho entrou no seu quarto? – ele tá de brincadeira comigo, né?
– Acabei de sair do banho, não estou apresentável, e acha mesmo que se alguém tivesse entrado aqui, eu estaria tão calma assim?! – ele está me irritando.
– Posso entrar?
– Ficou louco?!? Cai fora daqui!! – gritei à ele, jogando uma almofada na porta.
– Tá, tudo bem! Esqueça o que falei! Mas poderia ajudar a procurar por um fugitivo perigoso depois?
– Ok, eu ajudo. MAS SE MANDA! – o ouvi se afastar.
Mais essa agora. Como se não bastasse todas as provações do meu dia, agora tinha de me preocupar com um criminoso foragido? Respirei fundo achando que não tinha mais como as coisas piorarem, mas (doce ilusão...!) do nada um par de mãos me agarrou pra fechar o meu dia com “chave de ouro”. Uma mão me agarrava à garganta enquanto a outra me cobria a boca. Mãos grandes e fortes (e meio frias) pertencentes à um homem de aparência psicopata que me gelou a espinha...
Obs
Sword Art Online ou S.A.O., anime legendado do gênero ação +14, com mais de 100 episódios se somadas todas as temporadas e especiais/filme (ainda estava em lançamento no momento em postei esse capitulo). Quem gosta de jogos e de animes, com certeza gostará desse anime de sucesso, não só pela ação, mas também pela historia bem trabalhada.
.。.:*♡ Cap.37 ♡*:.。.
“Olá meu bando de curiosos favorito!”
“Irmã...!”
– Vocês de novo? Porque foi que apareceram dessa vez? E que conversa era aquela no último capitulo?
“Viemos para avisar sobre o início da terceira etapa dessa historia...” – ela se espreguiçava – “E quanto a conversa que tive com minha irmãzinha querida... Por hora... Não te interessa!”
_boquiaberta_
“Irmã... Um pouco mais de educação não faz mal a ninguém!”
“Ah...!”
– Que querem dizer com terceira fase? Quando começou a segunda?
“Começou quando aparecemos diante dos leitores pela primeira vez. Quando você veio para Eel, lembra?” – (e como esquecer...).
– Vocês vão aparecer toda vez que uma nova fase começar?
“Talvez” – as duas responderam juntas.
“Ah! O ritmo da historia vai mudar de novo.”
– Outra vez?! Assim os leitores vão pensar que sou incapaz de manter um estilo de escrita!
“Isso não é verdade, minha querida...”
“Olha aqui Cris, se tudo na vida pudesse ser regrado sempre, não teria sido necessário um Sacrifício Azul e muito menos um Grande Exílio para garantir a sobrevivência dos faerys!”
O que a Negra disse até podia parecer não ter sentido, mas pensando bem, nada se mantêm na mesma forma pra sempre. Animês “vitalícios” como One piece, Dragon Ball e Detective Conan, que evoluíram seus traços com o decorrer do tempo; diferentes métodos de governo, de acordo trocavam seus governantes, e até mesmo a tecnologia! São todos exemplos disso, tudo acaba mudando em certos momentos. Até nossas vidas! (a minha que eu o diga...).
– Ok. O que é que vai mudar dessa vez.
“Uma coisa que podemos adiantar, é que minha irmã e eu estaremos bem mais presentes na historia agora.”
– E o que mais...
“Os capítulos serão mais fragmentados daqui por diante, e com vários pontos de vista!”
“E isso é o máximo que podemos adiantar no momento...”
Respirei fundo – Certo então... Vamos em frente!
***
Lance
Estava esgotado. Ainda espero não me arrepender de dar à Cris toda a maana que tive tanto trabalho para acumular, principalmente com a demora de Anya de me trazer comida.
Fiquei impressionado com a viagem que elas tiveram quando Anya me contou. Quem diria... Então a Cris tem o poder da vida, por isso sua maana era tão diferente... (agora que preciso saber ainda mais sobre ela) e quase não acreditei na quantia de parentes faeliens que ela havia revelado ter, em Memória. Sou obrigado a concordar com Huang Hua.
Quando o assunto tornou-se a maana que dei para a Cris, me deu um enorme trabalho convencer Anya de me fornecer uma faca. Precisei bancar o santo para que ela não notasse minha fúria quando ela quebrou a ponta da faca que escondia em sua bota (ficará muito mais difícil abrir minhas algemas) e como imaginei, precisei fazer promessas que vou detestar cumprir para poder convencê-la de vez a me entregar a faca.
Comecei a trabalhar em meus grilhões. De vez enquanto a Negra aparecia me mandando parar o que fazia, na primeira eu fiquei irritadíssimo, mas como guardas apareceram assim que eu parei com o barulho, só tive tempo de esconder a faca (porque está me ajudando?).
“Ainda é cedo para que eu possa lhe dizer.” – detesto quando ela fica lendo a minha mente!
Continuamos daquele jeito até eu conseguir abrir todas as correntes (e o que me gastou a noite toda). Sempre que alguém se aproximava, ela me avisava instantes antes. Não pude evitar de sorrir com satisfação ao abrir a última trava das correntes. Agora, só me faltava a cela em si. Não tinha visão para a fechadura e por isso seria difícil arrombá-la.
“Relaxa! A chave já está a caminho!” – como é?
Não demorou muito, e o guarda que possuía o molho de chaves de todas as celas era quem me trazia o café da manhã.
“Não faça nada ainda!” – ela me pedia, mas o quê que ela está planejando? Tudo o que ela fez foi me sorrir, aquele mesmo sorriso de uma criança traquina prestes a aprontar uma. Como ela só me ajudou até agora, resolvi obedecer.
O guarda afastou-se me levando aquele prato nojento que acabei limpando de tanta maana que precisava recuperar, e uma chave caiu em meu colo ao perdê-lo de vista.
“Espere o meu sinal pra sair.” – não tive vontade de aceitar, mas toda vez que tentei sair sem o consentimento dela, meu corpo parecia congelado no lugar, assim como a minha voz quando a Cris esteve diante de minha cela pela primeira vez.
Já era tarde quando a Negra finalmente me deu permissão pra sair (deixei a faca de Anya na cela, podia criar a minha própria agora que estava livre pra usar o meu poder, mesmo limitadamente), e ela continuou me ajudando a escapar, sempre me mandando esconder-me quando alguém aparecia. Tentei sair do QG quando alcancei a sala das portas, mas ela me impediu.
“Você não pode deixar o QG ainda, está sem maana!” – (e o que sugere que eu faça?) – “Apenas me siga.” – fiz a contragosto.
Nevra
A conversa que tive com Ezarel e Valkyon sobre o teste de Ezarel em relação à habilidade da Cris deixou o jantar bem interessante. Anya não exagerou quando nos disse que poções não conseguiam enganar os olhos dela! Ver através de uma poção de invisibilidade era para muito poucos, até eu tinha dificuldades às vezes.
Havia acabado de deixar o salão quando vi algo que mais parecia uma alucinação: Lance passava para o corredor das guardas. Não tinha como eu acreditar em meus olhos, e quando corri para diante de onde eu o vi, não havia ninguém. Tinha que ser uma alucinação causada por algo que comi ou bebi, mas precisava ter certeza.
Desci até a prisão e acho que fiquei branco ao ver a cela de Lance vazia. Avisei a todos imediatamente sobre sua fuga e corri pelos corredores por onde o perdi de vista enquanto o restante dos membros vasculhava ao redor do QG. Será que os olhos da Cris podem nos ajudar?
Lance 2
Assim que entrei nos corredores que levavam aos quartos dos residentes do QG, aquela Negra resolveu agarrar-se ao meu pescoço.
– Mas o qu...
“Shhiii! Não diga nada se não quiser ser pego.” – estou mesmo ficando irritado com ela – “Agora vá até o último quarto, que é onde vai poder se esconder por um tempo.”
Não tinha vontade de segui-la, mas meu corpo parecia obedecer somente a ela (está me controlando por acaso?).
“Apenas siga em frente, está bem?!” – revirei os olhos, e uma coisa estranha eu pude perceber. Durante o percurso, as pessoas passavam por mim como se eu nem estivesse ali, só tinha que me desviar delas para prosseguir sem problemas (elas estão cegas ou o quê?) – “Estou o ocultando deles, por isso me agarrei ao seu pescoço, mas não posso fazer isso pra sempre. Tente se apressar!” – ela me ordenava. Ao menos estava seguro.
Chegando ao tal quarto, usei meu poder de gelo para criar uma chave e entrei, a Negra me soltou assim que entrei. O quarto parecia um pequeno palácio e havia alguém tomando banho, prestando um pouco mais de atenção, notei que tratava-se do quarto de uma mulher pelas roupas jogadas no chão. (Pra onde exatamente fui levado?).
“Psiu! Vem pra cá!” – a Negra chamava de trás de um biombo – “Ela já vai sair, aí você descobre de quem é esse quarto.”
Fui até o lugar esconder-me e a mulher saiu logo em seguida, apenas de roupa íntima (teoricamente, ela está em um quarto trancada e sozinha), de dentro do banheiro, mas, aquela é a Cris?!? (Você me trouxe para o quarto dela?!?).
“Ué? Não era você quem vivia dizendo que queria estar um pouco com ela?” – nem tive tempo de me enfurecer com aquela Negra ao ouvir uma balburdia vinda de fora que não estava pra perturbar só a mim.
Nevra 2
Eu verifiquei todos os quartos de todos os andares dessa torre, só falta o quarto da Cris. Já estou sabendo que o dia dela foi ruim hoje, então é melhor eu ser mais cauteloso com ela.
Bati-lhe a porta. – Cris? Você está aí? – perguntei da forma mais gentil que podia.
– O que quer, Nevra? – pelo seu tom de voz, ela ainda estava bastante nervosa.
– Desculpe perguntar, mas algum estranho entrou no seu quarto?
– Acabei de sair do banho, não estou apresentável, e acha mesmo que se alguém tivesse entrado aqui, eu estaria tão calma assim?! – se nesse tom ela está calma, não quero estar perto quando ela estiver nervosa.
– Posso entrar?
– Ficou louco?!? Cai fora daqui!! – gritou ela, jogando alguma coisa contra a porta.
– Tá, tudo bem! Esqueça o que falei! Mas poderia ajudar a procurar por um fugitivo perigoso depois?
– Ok, eu ajudo. MAS SE MANDA! – me afastei com calma.
Pretendia recomeçar as minhas buscas (será que deixei passar alguma coisa?), porém tive um forte pressentimento que me dizia para retornar ao quarto da Cris. Forte o bastante para fazer me arriscar a conhecer sua verdadeira fúria.
Cris
Minha Nossa Senhora... o que foi que eu fiz para merecer tanto azar de uma vez? Não! Eu já sei. Lei do retorno! Depois de tantas experiências maravilhosamente incríveis durante a viagem à Memória, eu já esperava algumas experiências ruins para compensar... Mas tudo de uma vez só? Não podia ser aos poucos não?
A forma com que aquele homem, que me lembrava um pouco o Valkyon, me olhava me constrangia. Não pude evitar de tentar cobrir ao menos meu busto enquanto lhe segurava os pulsos (é óbvio que não tenho força física suficiente para enfrentá-lo, mas o meu pescoço já teve traumas demais em vida).
– Façamos o seguinte... – ele começou a falar – Eu irei tirar minha mão de sua boca e você ficará bem quietinha. Ou do contrário, seu lindo pescocinho vai experimentar a força da minha outra mão, tudo bem? – minha respiração estava acelerada e eu assenti com a cabeça em concordância (não pretendo morrer tão cedo...).
Ele afastou devagar a mão de cima da minha boca e passei a segurar o pulso em meu pescoço com as duas mãos – O que quer de mim. – questionei o mais calma e fria que podia ficar naquela situação (lágrimas queriam me escorrer pelo rosto, mas fiz o possível para segurá-las e continuava com a respiração intensa).
– Muito bem. – sua voz era tranquila, mas seu sorriso era pior que o de Nevra – Como pode perceber preciso me esconder por um tempinho. Ao menos até me recuperar... só um pouquinho.
Eu sabia que tinha uma pequena adaga escondida entre as roupas sujas perto de meu pé, por isso aproveitei que ele olhava fixo pro meu rosto para tentar pegá-la sem que ele percebesse (não sou capaz de enfrentá-lo, mas espero ser capaz de fugir). Meu pé estava quase com a adaga entre os dedos quando chamaram na porta.
– Cris! – não acredito – Sei que você me mandou ir embora... – droga Nevra! O que é que você está fazendo aqui? – ...Mas está tudo bem com você?
– Não. – respondi com aquele homem começando a querer me apertar a garganta – E se você entrar aqui, estarei ainda pior! – (por favor, vai embora!) aquele homem me observava curioso.
Não ouvi nada por uns segundos (por favor meu Deus, que ele tenha finalmente ido embora...), mas começaram a mexer na maçaneta e a porta abria com cautela (mas eu não a tranquei?!? Ela foi arrombada?!? Foi assim que aquele homem entrou aqui?!?).
– Cris? – Nevra estava pra entrar. Além de não querer ser vista seminua por mais gente (principalmente por Nevra) e de ter a certeza que seria feita de refém se ele acaba-se entrando, acabei não pensando duas vezes. Mais rápida do que jamais pensei ser capaz, peguei a adaga com o pé levando-a à mão e a atirei contra a porta, quase acertando o nariz de quem tentasse entrar, fazendo a porta fechar-se bruscamente. – T-tudo bem! Tudo bem! – (droga Nevra!) – N-não vou mais incomodá-la!
A mesma surpresa clara na voz de Nevra, parecia igualmente presente no olhar daquele homem que ainda me segurava o pescoço (céus!! Que o Nevra não tenha estragado tudo!). Ao mesmo tempo em que era claro o afastar do Nevra de meu quarto, aquele homem, antes concentrado na porta, substituiu a surpresa do rosto por um sorriso malicioso em minha direção. Acabei me esquecendo da raiva de Nevra...
O homem começou a dizer alguma coisa em uma língua diferente. Não tive de esperar muito pra saber o que ele havia feito, o som de algo craquelando vinda da porta forneceu-me a resposta da pergunta. Gelo parecia formar-se pelas frestas, selando a porta. E não só a porta! O armário, a janela e até as gavetas da penteadeira foram seladas também (nem o baú escapou de ser selado!).
Senti meu pescoço ser libertado – Espero que não se importe de me prevenir de visitas ou surpresas indesejadas. – ele se afastou devagar (ele é um dragão?!?) e de costas foi até a porta. Pegou a adaga da parede (mais precisamente sobre o interruptor, que acabou por apagar a luz do quarto quando atingido) examinando lhe a lâmina – Acredito que não precisará disso por hora. – ele se aproximava outra vez – Importa-se se eu tomar um banho? Afinal, não estou com uma aparência digna para se estar no quarto de uma bela mulher...
Senti o calor me subir. Neguei com a cabeça para disser que não me importava, e ele sumiu para dentro do banheiro com a adaga em mãos. Minhas pernas cederam; sentia minha pressão caindo e engatinhei, quase me arrastando, até a penteadeira onde havia um pequeno pote com sal dentro. Pus uma pitada dele debaixo da língua antes que eu desmaiasse, e permaneci agachada no chão, encolhida entre a cama e a penteadeira. As lágrimas que antes continha, agora caíam feito cachoeiras (Mãe Celeste... o que é que vai acontecer comigo?!?).
A luz vinda da lua cheia pela janela era tudo o que iluminava o quarto na hora e vi Absol sair de dentro de uma sombra (então é assim que ele entra e sai de onde quiser...) e depois se aproximar de mim com uma expressão que misturava confusão e preocupação.
– Absol... – foi tudo o que consegui disser, abraçando-o forte até não sei que horas enquanto chorava. Acho que adormeci ali.
Obs.
One piece, Dragon Ball e Detective Conan são animes lançados nos anos 90 (Dragon Ball foi em 86) e que continuam recebendo novos episódios até hoje, passando dos 1000 episódios. Seus gêneros são ação (+14), ação (+14) e mistério (+14). Acho bem difícil ninguém conhecer ao menos dois desses animês, onde cada um tem uns 20 filmes lançados e sabe-se lá quantos especiais, mas... pro caso de haver alguém aqui que não os conhece...
.。.:*♡ Cap.38 ♡*:.。.
Lance
Após um merecido banho, comecei a me livrar daquele excesso de cabelo usando a adaga da Cris enquanto recordava meus pequenos momentos com ela no quarto: a surpresa misturada com o medo e raiva em seus olhos quando lhe agarrei o pescoço, cobrindo-lhe a boca; o rubor de seu rosto enquanto analisava o seu corpo (como será que ela havia conseguido aquela cicatriz enorme no quadril?) focando em seus olhos o tempo todo depois; a forma curiosa como ela tentou se livrar do vampiro (nunca fiquei tão surpreso com uma mulher como fiquei hoje! Ela era uma sacola de truques); e sua expressão quando selei todas as saídas e esconderijos? Não posso negar que tudo foi de certa forma... divertido _sorriso_.
Durante aquilo tudo, a Negra apenas me pediu de forma bem clara para que eu não machucasse a Cris (o que já não pretendia fazer mesmo. Assustar talvez, mas não machucar). Destruí todo o cabelo que cortei ao invés de apenas jogar fora (se a Sombra ainda estava trabalhando direito, só aquele cabelo seria o suficiente para eles me encontrarem) e vesti aqueles maltrapilhos encardidos a contragosto (pela diferença de tamanho, duvido que exista entre as roupas dela uma que me sirva, eu não ia ficar nu diante de uma mulher), ao acabar, fui-me encontrar novamente com ela.
Deixado o banheiro, as luzes ainda estavam apagadas (ela realmente estava mirando quando lançou aquela adaga?) e não a encontrei de imediato no quarto. Dirigia-me até o centro dele para procurá-la melhor já que não lhe deixei qualquer escapatória, e um imenso black-dog começou a rosnar vindo em minha direção (aquele era o famoso Absol? Como ele entrou?), se tivéssemos uma batalha longa ali, com toda a certeza denunciaria onde eu estava. Preparei-me para dar um fim rápido à ele se me atacasse.
“Absol, não!” – a Negra apareceu (e ele a obedecia? Por quê?) – “Precisamos que ele fique aqui. Pelo menos por um tempo.” – ele parou de rosnar, mas sem perder o olhar de desconfiança, e parecia até dizer alguma coisa para a Negra – “Eu sei que você não confia nem um pouco nele, já que ele tentou destruir Eldarya uma vez...” – espera, eles realmente estão conversando? (ele é capaz de entendê-la?) – “Todos os mascotes são capazes de ver a mim e a minha irmã. E principalmente, nos compreendermos.” – agora ela voltava a falar comigo... – “Agora Absol... tente não denunciar o Lance, por favorzinho, sim?”
O tal do Absol ainda parecia contra a minha estadia e o vi ir até um canto do quarto onde encontrei a Cris, encolhida, adormecida e com o rosto úmido. Uma versão muito mais frágil da que encarei momentos atrás.
“Ela teve um dia bem difícil hoje... Porque não a deita direito na cama?”
– Eu?!?
“E tem outro alguém capaz disso aqui?” – ela apoiava as mãos na cintura – “Absol não pode fazê-lo sem machucá-la e eu não tenho poder ainda para me materializar... Acaso tem medo de mulheres para não querer fazê-lo?”
Isso me irritou. Não tenho medo de mulheres, só não quero ser mal interpretado! Faltar-lhes sem querer com o respeito e ser julgado como depravado.
“Anda logo, põe ela na cama! Isso pode amenizar o que ela deve estar pensando de você agora...” – (não gosto de suas ordens. Porque é que tenho que ficar nesse quarto?) – “Sua maana está fraca, não é verdade? Se ficar perto da Cris enquanto ela erradia a maana dela, vai poder recuperar muito mais do que conseguiu acumular com a ajuda de Anya! E em bem menos tempo também. Anya não explicou as descobertas sobre ela não?” – claro que já estava sabendo sobre o poder da Cris.
Acabei por ceder e me aproximei dela. Afastei as cobertas da cama para deitá-la direito e tomei o máximo de cuidado possível para não tocá-la em partes inapropriadas (ainda mais considerando as poucas “vestes” que ela tinha no momento) para depois cobri-la. Enquanto a ajeitava, encontrei dois livros debaixo de seus travesseiros.
“Já encontrando os tesouros dela?” – (tesouros? Estes livros velhos?) – “Na Terra tem um ditado que diz: “Nunca julgue um livro pela capa”. Considerando o que realmente tem em mãos, sugiro que o siga...” – ainda estava incrédulo – “Ah e, te aconselho a não deixá-la pegá-lo com eles na mão!” – agora eu fiquei curioso.
Anya
Mais uma vez, madruguei. Espero que o dia de hoje seja bem melhor do que ontem... Tomei meu café como sempre e corri pro QG. A movimentação me pareceu estranha.
– O que foi que aconteceu Chefinho? – perguntei me aproximando dele (ele passou a noite em claro?).
– Lance fugiu. – (ele o quê?!?!) – Tudo o que conseguimos encontrar foi essa faca danificada dentro de sua cela... – ele me mostrava minha faca – ...Ela é sua não é? – eu estava em choque – Fiz-lhe uma pergunta, é sua essa faca?
– Talvez. – era quase impossível mentir para o Nevra sem ele perceber (ainda bem que já estava aprendendo alguns truques da Cris desde a caverna...) – Ontem me dei falta de algumas coisas minhas... – (não pude encontrar minha coleção de cristais que ia mostrar para a Cris hoje) – Não sei dizer com certeza porque ela foi encontrada lá... – (o Lance podia muito bem a ter levado consigo, né?).
– Ele não deve estar muito longe. – falava um dos guardas da prisão – Nós o alimentávamos minimamente para que não tivesse forças pra fugir... – (ops!) – ...e segundo Valkyon, ele ainda está no QG.
– Alguém sabe da Cris? – ouvi alguém, não sei quem perguntar, e eu me toquei: será que ele deu um jeito de conseguir ficar perto da Cris??? Pus-me a correr.
– Pra onde está indo verdheleon?! – me gritou o Becola.
– Pra junto da Cris saber se ela está bem! – respondi aproveitando que ele estava “amarrado” e por isso não podia me seguir de imediato.
Corri o máximo que conseguia, para conseguir o maior tempo possível para averiguar minha hipótese (espero estar enganada. E se estiver certa... santo Oráculo, que a Cris esteja bem). Bati na porta.
– Cris, você está aí? – sem resposta, bati de novo – Sou eu! Anya! Abra por favor! – ainda sem resposta (estou preocupada). Bati uma última vez – Cris? – estava prestes a pedir por socorro quando a porta abriu.
Entrei devagar, sem fechar a porta – Cris? Está tudo bem com você? – notei que ela ainda estava na cama e Absol estava ao lado dela (quem foi que abriu a porta?), tomei um enorme susto ao ouvir a porta sendo fechada. Virei-me na direção da saída e lá estava ele, senti raiva (de mim mesma).
– Lance.
Lance 2
Não acreditei no conteúdo daqueles livros, eram grimórios. Um dragônico e um aengel. Verdadeiros tesouros lendários.
“Agora entendeu o valor desses livros...” – a Negra se achava – “Ela notou seu valor na hora! E olha que ela nem consegue lê-los.”
Eu no lugar dela, também os esconderia (em um cofre com proteções mágicas). E eram grimórios de uso quase exclusivo dela (o dragônico era em especial para dragões com a bênção das aguas, como ela. Como será que ela conseguiu estes livros?).
“Foi Absol quem os encontrou para ela.” – o black-dog?! – “Assim como quase todos os tesouros mais preciosos que há nesse quarto! Não escolhi Absol como guardião dela à toa, sabia.”
– Como assim, escolheu? O que exatamente você e a Branca planejam para ela?
“No momento você já sabe muito mais do que deveria. Quando a hora certa chegar, tudo vai ficar às claras.”
Acabamos por encerrar o assunto naquele ponto. Aproveitei que ela dormia para remover o gelo que nos mantinha presos no quarto e tranquei a porta com a verdadeira chave dessa vez. Absol ficou me observando de cima da cama durante todo o tempo, protegendo aquela mulher. Passei a noite em claro lendo o grimório dragônico em uma poltrona de pele felpuda clara, averiguando pela janela vez ou outra, o que acontecia lá fora (realmente teria de ficar naquele quarto por um tempo, gostando ou não).
O dia já começava a amanhecer, devolvi os livros para o lugar em que os encontrei antes que a Cris acordasse (se eu ia ficar, tinha que convencê-la a me aceitar hoje, e para isso, precisava conquistar cada gota de confiança que pudesse dela). Estava em dúvida se a acordava ou a deixava acordar sozinha, quando bateram na porta.
– Cris, você está aí? – maldição. Isso é hora de aparecer alguém?
“Não vai abrir a porta? Você conhece muito bem quem está do outro lado.” – (não me lembro de lhe ter perguntado nada...)
– Sou eu! Anya! Abra por favor! – Anya?
“Vai precisar de mais aliados... Só Absol não será o suficiente para ajudar a Cris a mantê-lo escondido aqui. Faça Anya lhe ajudar também!”
– Cris? – estava claro que Anya ia acabar chamando alguém se não a deixa-se entrar. Acabei por abrir para Anya.
Usei meu poder ilusório para me esconder no início (não sei se está acompanhada ou não) e a vi entrar com cuidado, sozinha e deixando a porta aberta. Esperei que ela penetrasse o quarto mais um pouco antes de trancar a porta por trás dela.
Com o som da porta trancada, ela se virou com tudo para me ver – Lance. – era óbvio que havia raiva na voz dela.
– Bom dia Anya. – eu lhe sorria e ela me olhava de cima abaixo com expressão fria.
– Seu rosto está mesmo melhor, se comparado a antes... e minha faca parece ter lhe ajudado mais do que deveria.
– Eu mantive minha palavra. Aquela faca não provou do sangue de ninguém, e apenas porque a abandonei. Queria também dar um jeito nessas roupas, mas... não é algo possível no momento.
– O que planeja? Porque é que está se escondendo no quarto da Cris? Ou melhor, como descobriu qual era o quarto dela? – ela não baixava sua guarda durante seu interrogatório, o que por algum motivo, me deixou satisfeito.
“Sugiro que não fale de mim à Anya. E nem à Cris também! Ao menos por enquanto...”
– Estou esperando. Dessa vez você não pode deixar de responder minhas perguntas. – cobrou-me Anya.
Esfregava o queixo, sem tirar meus olhos dela e de Absol que me vigiava com bem mais intensidade agora, pensando em uma resposta satisfatória que me beneficiasse.
“É só você dizer a verdade. Quero disser... Parte dela!” – (e estaria ocultando apenas você, eu imagino...) a Negra me assentiu. Do jeito que Anya era esperta, só com a verdade para conseguir o que desejo.
– Minha maana está bem fraca para que eu seja capaz de me virar sozinho lá fora... – Anya me erguia uma das sobrancelhas – ...e fiquei sabendo que estar perto da Cris me ajudaria. Quanto a como eu ter chegado a este quarto... eu apenas segui até o último nos corredores e não tinha ideia que ele pertencia à Cris até vê-la saindo do banho.
– Você não a machucou por acaso, machucou?
– Bom... – comecei a andar um pouco pelo quarto com Anya me seguindo com o olhar – Tivemos uma conversinha um pouco... intensa, eu diria, mas ela está totalmente bem. E Absol ainda ficou me vigiando a noite inteira. – essa foi a primeira vez que Anya se desviou de mim para olhar Absol, que lhe confirmou o que eu dizia com um assentir de cabeça.
– E como que planeja permanecer aqui? Não senti que isso ficou acertado na sua explicação.
– Porque não tivemos tempo.
– Que quer dizer?
– O porcaria do seu chefe nos impediu de conversarmos propriamente tido. Ele quase invadiu o quarto com ela seminua. – pela primeira vez Anya mostrava alguma outra expressão, espanto – Ela conseguiu se livrar do vampiro antes que ele o conseguisse e, como ela parecia bastante nervosa, pedi seu consentimento para que eu pudesse tomar um banho e recebi. Quando acabei, ela já estava dormindo.
– Ela devia estar muito cansada... – dizia ela em meio a um suspiro – Como pretende convencê-la a lhe permitir aqui? E mais importante, porque é que eu deveria permitir isso?? – alarguei meu sorriso com as perguntas dela.
“Acaso vai chantageá-la?” – (e há outra maneira?) – “Cuidado na escolha de palavras! Cris tem lhe ensinado muitos truques sobre isso.” – (me pergunto o quão seguro é, até para elas, confiar em você...) – “Sou cem vezes mais confiável do que você.”
– E então Lance, o que me responde? – vê-la impaciente me agrada, não sei por quê.
– Planejo fazer algum tipo de acordo com ela.
– Um acordo...! Como? Manipulando-a!?
– Bom... Isso vou ter de ver com ela, quando acordar. – apontei para a Cris atrás dela (ela dorme como uma pedra!) – E se eu tiver sucesso nisso, sei que ela precisará de ajuda. Ajuda que eu só vou aceitar se for vinda de você! Afinal, se eu estou aqui, parte é graças a você.
Vi Anya mudar de cor várias vezes. Branca, azul, vermelha, verde... Tudo enquanto andava de um lado para o outro, procurando um meio de resolver aquela situação. – O que pretende fazer quando estiver totalmente recuperado? – perguntou ela quando finalmente parou.
– Não posso lhe dizer com certeza. Isto vai depender do meu tempo aqui.
– Me deixe sair.
– Para?
– Vou verificar tudo o que a guarda já conseguiu descobrir de você. Se, e apenas se, você conseguir um acordo com a Cris, eu irei ajudar... À ELA! E ai de você se machucá-la! Porque se o fizer, posso até ser expulsa de Eel que não me importo, EU VOU te entregar. Fui clara?
Não respondi nada. Apenas me mantive sorrindo tranquilamente e abri a porta para ela, gesticulando para que saísse. Apesar de Anya ser uma elfa, seu andar até a saída parecia ser a de uma ogra (me segurei para não rir). Desisti de acordar a Cris depois de trancar a porta, peguei um dos livros da estante dela e sentei na poltrona em que havia usado para ler o grimório antes, fiquei lendo até ela acordar (o estado dela ontem devia ser muito pior do que imaginei, ou do contrário já teria acordado várias vezes).
Cris
Dormi uma noite tranquila. Sem sonhos, interrupções, ou qualquer outra coisa que fosse. Ao contrário de ontem, hoje eu acordei super bem.
Absol me deixou acordar por conta dessa vez (obrigada meu Jesus...!) e como ele estava ao lado, acabei o abraçando. Eu estava me sentindo ótima... Até as minhas últimas memórias de ontem retornarem... (eu não estava no chão quando adormeci? Como foi que cheguei na cama?).
Lance 3
Finalmente ela resolveu acordar!
“Não fale com ela ainda!” – (como!?) – “Ela precisava muito de todo aquele descanso. Espere ela se lembrar de ontem a noite primeiro. E POR-FA-VOR! Seja gentil...” – (se há alguém aqui que está devendo na gentileza é você!). – “Sei. Assim como você foi, ao segurar o pescoço dela ontem.”
Essa Negra ainda vai me fazer perder a paciência... fechei o livro que lia em silêncio e fiquei a observando acordar. Falei com ela apenas depois que ela começou a levantar-se sem sair da cama.
– Bom dia, bela dama.
Cris 2
Não fazia sentido e... comecei a me lembrar de que eu não deveria estar sozinha... não por causa de Absol ao meu lado (já que ele sempre prefere dormir na cama dele), mas por causa do homem que entrou em meu quarto ontem (ele ainda está aqui ou será que já se foi?). Sinto que eu só estou bem agora por causa de Absol (e eu ainda estava só de calcinha e sutiã!? Naquele frio que está só aumentando a cada dia mais!? Oh, meu Jesus amado, o que foi que me aconteceu ontem?).
Comecei a me levantar sem sair propriamente da cama. – Bom dia, bela dama. – ouvi um homem dizer, o que me fez congelar. Virei para a origem da voz me cobrindo outra vez e me sentando o mais perto possível da cabeceira de minha cama tão rápido quanto agi com aquela adaga ontem à noite.
– O que você quer... – questionei ao homem sentado em minha poltrona com um livro fechado entre as mãos e sorrindo. De cara não parecia ser o mesmo homem que me atacou ontem, mas pelas roupas e pelas asas translúcidas atrás dele, é definitivamente ele.
– Se eu quisesse machucá-la, já o teria feito. – ele levantou-se – Relaxa! Vamos conversar... – ele guardou o livro e sentou-se em uma das cadeiras à mesa, Absol o observava – Melhor... eu aguardar que se vista primeiro? – corei. Realmente acho que me sentiria um pouquiiinho melhor se tivesse mais pano sobre o meu corpo.
Ele virou a cadeira para ficar de costas para mim com um enorme sorriso de uma malícia que não sei se preferiria os sorrisos conquistadores do Nevra nessa hora, e Absol ficou a sua frente vigiando-lhe os movimentos. Conferindo de tempos em tempos, corri para vestir uma calça e uma blusa, além de um agasalho (está friozinho...). Absol se aproximou quando eu terminei, fazendo o homem se virar para mim novamente.
– Por favor... – ele me apresentava a outra cadeira para que eu me sentasse (ainda tenho receio de chegar perto dele) e acabei sentando o mais distante possível dele na mesa. Absol se pôs do meu lado. – Meu nome é Lance. Fico feliz de poder finalmente te conhecer e... quanto à ontem... desculpe-me os modos.
Seu nome me parece familiar... – Como entrou em meu quarto ontem? E pra quê? Alguém te falou algo em especial sobre mim? – ele não parava com aquele sorriso arrepiante.
– Digamos que temos uma amiguinha em comum, que me contou tudo o que sabia e podia sobre você. E por sinal ela já esteve aqui.
(Amiguinha? Será que... não pode ser.) – Acaso você... é o “amigo secreto” de Anya?
– Interessante... o que ela lhe falou sobre mim?
– Que pode ser bastante perigoso, considerando a forma como era mantido preso e... – comecei a observá-lo de cima abaixo (acho... que acabei de lembrar de onde ouvi o nome “Lance”...) – Você... não é o mesmo Lance que criou a Guerra do Cristal, é? – tudo o que ele fez foi apoiar-se no braço direito sobre a mesa me olhando satisfeito com aquele sorriso sinistro. Se a intenção dele era me assustar, estava conseguindo. Fechei os olhos e respirei beeeem fundo, antes de voltar a perguntar – Já não sei mais quantas vezes lhe perguntei e você ainda não me respondeu. Por favor, me diga, o que quer de mim?
– Gostaria que me deixasse ficar escondido aqui por um tempo. – quê?!?!? Me diz isso com a maior cara de pau que já vi na vida?!?!
Comecei a tremer de nervoso. Medo, raiva, confusão, tudo e mais um pouco estava querendo se juntar dentro de mim naquele momento. Juntei as mãos ao rosto, (todos os anjos e santos da Terra e de Eldarya, me ajudem a pensar!!) e fiquei respirando fundo para tentar me acalmar – E pra quê exatamente, você: um dos seres mais perigosos que Eldarya já viu; deseja ficar aqui? O que espera conseguir comigo de verdade?
– Antes de mais nada, porque não tenta se acalmar um pouco? Está tremendo a mesa!
– Ajudaria se você tirasse esse sorriso arrepiante do rosto. – raiva está começando a ser o sentimento principal em mim agora.
– Certo. – ele finalmente passou a ficar sério – Estou fraco, quase sem maana. Fiquei sabendo, não por Anya! – (menos mal) – Que se eu me mantivesse perto de você por tempo suficiente, poderia reaver toda a maana que perdi naquela guerra. Por isso, uma certeza você pode ter: enquanto eu precisar de você, não farei e nem permitirei que aconteça nenhum mal à você.
– E se eu recusar?
– Bom, se você recusar... não vai poder reclamar se começar a aparecer corpos pelo QG... – (como consegue dizer isso tão levianamente assim?!) – Nem MORTO que retorno para aquela prisão. – terminou ele com uma seriedade assustadora.
O medo começou a querer me dominar outra vez. Ele não estava me deixando muita escolha! Ou estava... – Está me dizendo que quer trocar a prisão por uma “gaiola dourada”? Sendo ela o meu quarto?
– Gaiola dourada?
– É um termo usado para: prisão de luxo. Uma prisão confortável que não parece ser uma prisão propriamente tida. – ele pareceu refletir minhas palavras.
– Acho que isso significa que você me permitirá ficar, contanto que eu lhe garanta que não irei deixar este quarto, não é isso?
– Ao menos sem supervisão minha ou de Absol, não. – ele refletia mais um pouco.
– Tudo bem. É justo.
– Tem mais alguns detalhes, se não se importa... – (alguma vantagem vou ter que ganhar aqui!) ele fez gesto pra que eu prosseguisse – Se vou mesmo te deixar ficar aqui, vamos ter de estabelecer algumas regras...
– Diga-as. – ele se mostrava tranquilo e eu respirei fundo mais uma vez.
– Primeira:... – erguia um dos dedos – ...para me ajudar a escondê-lo, tenho que seguir minhas rotinas como se você não estivesse aqui, ou seja, além de não sair deste quarto, não poderá fornecer qualquer sinal de que está aqui.
– Isso é um pouco óbvio. Segunda?
– Segunda:... – erguia mais um dedo – ...alimentação; você vai ter que se contentar em receber apenas metade de minhas porções. Não vou e nem irei admitir o roubo de comida ou qualquer outra coisa que seja! – ele não pareceu gostar muito...
– É um pouco desagradável, mas compreensível. Mais alguma?
– Sim, terceira:... – ergui outro dedo, agora é que vem o mais importante – ...higiene; já tenho preguiça de cuidar da minha própria sujeira... – que por sinal, sou beeeem preguiçosa para limpeza – ...e agora vou ter de cuidar da sua também? Não. Você vai ter de ajudar com a faxina e limpeza daqui dentro. – agora sim que ele não gostou.
– Está tentando me fazer seu escravo?!
– Escravo não, colaborador! Qual o problema em ajudar na manutenção do seu próprio esconderijo? – ele realmente não gostou da ideia de ter que trabalhar – Eu também não sou escrava, sabia?
– Acabou ou tem mais alguma? – ele estava mesmo irritado, e é agora que vou tentar garantir minha segurança.
– Acho... que só mais uma...
– Que seria? – ele me erguia uma sobrancelha.
– Quarta regra de convivência; você terá que manter sempre a distância de pelo menos dois passos entre nós. – eu não sei se essa regra o deixou interessado ou apenas mais calmo – Uma proximidade sua de mim maior que isso, só mediante consentimento meu ou de Absol. E o mesmo vale para as minhas coisas! Quero que, por favor, peça permissão antes de pegar qualquer coisa minha. – sinto-me mais calma agora, mas não aliviada ainda – Aceita todas essas regras?
.。.:*♡ Cap.39 ♡*:.。.
Anya
Maldito miserável, como que aquele crápula do Lance se atreve a me enganar daquele jeito? Ainda tenho muito que aprender sobre as palavras. A cada dia que passa, eu acredito mais no que a Cris me ensinou na caverna: “as palavras conseguem ser mais poderosas do que qualquer arma que você possa imaginar, desde que as certas sejam ditas na hora e no lugar correto.” E também: “só a verdade é mais poderosa que a verdade. Por isso, sempre que precisar esconder alguma coisa, use meias verdades para ocultar a verdade inteira, assim ninguém poderá te chamar de falsa ou mentirosa!”
As lições da Cris sobre este assunto, me foram extremamente úteis em todos os momentos. Nevra sempre foi capaz de descobrir se alguém lhe mentia ou não (só queria saber como...), mas graças à essas lições, eu não precisava mais me preocupar com ele _sorriso_. E falando nele...
– E então Anya, está tudo bem com a Cris? – nos encontramos bem na entrada dos corredores.
– Talvez. Ela ainda estava dormindo quando cheguei em seu quarto. O que descobriram sobre o Lance? – preciso dessas respostas.
– Por enquanto, só que ele ainda está no QG. Como é que ela está se sentindo hoje? – espero que ao menos parte do que Lance me disse seja mentira...
– Eu não sei. Quando a deixei ela ainda estava dormindo.
– Ainda estava? – (pra que a incredulidade?) – Não foi ela que lhe abriu a porta?
– Absol está com ela. – (...e Lance também).
– Quer mesmo que eu acredite que um black-dog é capaz de abrir portas?! – ele não precisa de portas... descobri isso no barco.
– Acredite no que quiser! Agora se me der licença... – ainda não sou boa o suficiente pra conseguir enganá-lo por muito tempo.
– Porque a sua primeira preocupação ao saber que Lance fugiu foi a Cris? – ele me segurou o pulso (está me irritando becola...!)
– Você está de brincadeira, né? – ele ainda não percebeu (como pode?!) – Não foi uma e sim duas vezes em que a Cris esteve na prisão... usando o poder dela! – pela cara de espanto, acho que ele acordou – E é por isso. Ele viu do que ela é capaz, e qualquer um com desejo de poder será o pior dos idiotas, se não acabar correndo atrás do poder dela. Ainda acha que estou errada em me preocupar com a Cris?
Nevra
Fiquei enrolado por uns 20 minutos depois que Anya correu para ver a Cris. Sempre confiei em minha audição para analisar os batimentos cardíacos de quem interrogo, mas quando questionei Anya sobre aquela faca... não pude perceber mentiras nela, mas era claro que escondia alguma coisa. Encontrei-me com ela entre o corredor e a Sala das Portas, e outra vez não encontrei mentiras no que ela me falava.
Ela estava nervosa, falava a verdade e eu sabia que ela ainda me escondia as coisas. Não acredito no quão cego eu pude ser quando lhe questionei do porque de ela estar tão preocupada com a Cris quando a impedi de ir embora para arrancar minhas respostas.
– Ô becola... – chamou-me ela instantes depois de se soltar de mim – Você...
– Eu o quê? – vi que ela tomava coragem (qual era o motivo do medo em falar?).
– Você não tentou invadir o quarto da Cris, tentou? – (como ela descobriu?).
– Acho que isso me seria um pouco arriscado, não? – tentei disfarçar.
– No dia em que o fizer, acho que ela vai querer matá-lo. – disse Anya correndo para fora (ela quase o fez).
Aquela sensação que me fez quase perder o outro olho, ainda me invadia até agora. E depois dos motivos de Anya, ela parecia muito mais forte (espero que ela já esteja acordada, depois de ontem, nunca mais que a provoco estando irritada!). Atravessei os corredores até o seu quarto prestando o máximo de atenção em cada ruído que ouvia, Anya podia estar certa, Lance poderia estar sim se escondendo em um dos quartos.
Acabei por gastar quase uma hora pra chegar de frente ao quarto dela (e ainda não sei se quero bater-lhe a porta).
– Por favor... – comecei a ouvir antes de bater na porta (conheço essa voz...) e resolvi continuar em silêncio – Meu nome é Lance. – Lance!?!?! – Fico feliz de poder finalmente te conhecer e... quanto à ontem... desculpe-me os modos.
Não estava conseguindo acreditar, Lance realmente estava com a Cris (e desde ontem!? Será que foi ele e não ela quem me lançou aquela faca?), pensei em entrar na hora, mas...
– Acaso você é o “amigo secreto” de Anya? – ouvia a Cris perguntar (Anya está envolvida?!?) resolvi continuar ouvindo mais um pouco.
Santo Oráculo, não estava digerindo as informações que a Cris estava conseguindo obter (quem é que está ajudando ele?) e quando ele revelou suas intenções...
“Deixem-na viver como ela precisa viver.”
Eu não sei se me lembrei dessas palavras ou se eu realmente as ouvi novamente atrás de mim, só sei que foram elas que me impediram de invadir o quarto naquele momento (isso significa que é ela quem deve decidir como vão ser as coisas?). Resolvi então continuar ouvindo.
Canalha, como pode fazer uma chantagem daquelas? (será que Anya também está sendo chantageada? Por isso que estava nervosa?) Respirei fundo para poder continuar ouvindo e eu ficava cada vez mais angustiado de acordo escutava as regras que a Cris exigia que fossem cumpridas. Ela estava se sacrificando demais por todos nós, mas ao menos ela procurou obter alguma vantagem naquela situação toda. Será que o Lance vai aceitar as regras dela?
Lance
Eu sabia por Anya, que a Cris era esperta, e seu coração mole ficou-me bem claro quando a vi agindo na prisão, mas aquelas regras dela... Não vou negar que todas não só fazem muito sentido, como também seria ilógico não obedecê-las, porém não via nenhuma vantagem para mim.
“Qual o problema?” – a Negra não parava de falar atrás de mim – “Aceite logo as regras dela!”
Durante a conversa toda, a Negra ficava me repassando os sentimentos que a Cris tinha, meio que para me guiar naquele acordo. As reações da Cris (especialmente as de medo) me agradavam muito. Esperava que isso me facilitasse nas negociações, mas parece que ela é mais corajosa do que eu esperava.
“Anda logo... está deixando a Cris ansiosa! Aceite as regras dela, você pode confiar.”
– Não confio em você. – disse para a Negra em voz alta sem querer.
– E quem disse que eu lhe confio? – a Cris me respondia (ótimo! Tudo o que eu precisava), me mantive impassível.
“Se não quiser ser tachado de louco, é melhor não falar comigo enquanto estiver acompanhado. A não ser mentalmente.” – me levantei e fui pra perto da janela (porque não quer que ela saiba de você?) – “Primeiro, porque se ouvir de você, ela não vai acreditar; e segundo... _suspiro_ porque ela ainda não está preparada.” – a Negra esclareceu e a Cris ainda esperava minha resposta.
– Quero acrescentar mais uma condição. – de jeito nenhum vou ficar sem vantagens.
“Fala sééério!!”
– E qual é. – o olhar da Cris era bem sério, diferente da Negra.
– Sei que Absol não é suficiente para ajudá-la comigo aqui, então Anya é a única pessoa que pode saber onde estou.
– Agora sou eu que digo que isso já era um pouco óbvio. – ela me sorria como se eu tivesse dito uma piada, mas só se eu tivesse terminado.
– E se por acaso, alguém que não sejam vocês duas ou um mascote descobrir onde é a minha “gaiola dourada”... – com o tom de voz que usava, o sorriso dela sumia enquanto o meu surgia – ...irei te arrastar comigo pra fora de Eel, matando cada faery que se colocar em meu caminho... – o medo dela me agrada muito – ...e, assim que eu não precisar mais de você... – sua respiração estava intensa – Eu me livro de você!
Vê-la engolir seco sumiu com o meu rancor de antes e o suor frio dela me deu a satisfação que tanto me deliciava. Teria aproveitado aquele momento por mais tempo se o meu estômago não resolvesse me lembrar que ele estava vazio. Acabei por perder o sorriso.
– A-acho que é melhor eu ir buscar o meu café da manhã... – eu a olhei de canto – Q-quero dizer, o nosso café da manhã.
– Como me garante que irá voltar? – questionei após ela se levantar e ficar de costas para mim, fazendo-a congelar no lugar.
– Não posso deixá-lo sozinho em meu quarto, mesmo com Absol lhe vigiando. – ela virou para me ver – E além do mais...
– Do mais o quê. – ela parecia procurar algo ao redor do quarto com o olhar.
– Nada. Prometo que irei cumprir minha parte do acordo se cumprir com a sua, o que quer dizer que você não pode deixar este lugar. Não ainda, pelo menos...
Tive a impressão de vê-la chorar nas últimas palavras que disse deixando o quarto logo em seguida. Prestei atenção ao som de seus passos até não os ouvir mais. Sumidos os passos, me virei para Negra que me olhava feio com os braços cruzados.
– Satisfeita agora?!
“Não exatamente...” – ouvi Absol falar alguma coisa com ela, onde ela assentia – “Concordo com Absol, você não precisava ameaçar a coitada daquele jeito. Ela é uma mulher de palavra!”
– Não estou nem aí para o que Absol pensa ou deixa de pensar, Negra. – porque é que estou tão irritado...?
“Olha, esfria a cabeça. Você conseguiu ficar aqui e sob condições mais que aceitáveis. Vê se tenta ser mais legal com ela!” – um riso me escapou e fui até a poltrona me sentar – “Ela já é meio lelé, e se você ficar a tratando sempre como agora, ela vai surtar!”
– Ela ser louca ou não, não é problema meu.
“Cuide dela.” – ela parecia implorar – “Não deixe e nem faça nada de mal à ela.”
– E porque eu deveria?
“Porque sua vida está ligada à dela.” – (como é que é??) – “Você mesmo irá descobrir... Na hora certa.” – ela sumiu. O que diabos ela quis dizer com isso?
Nevra 2
Filho de um black-dog miserável do inferno! (sinto muito, Absol) Como que aquele... Argh!! Tenho vontade de transformá-lo em saco de pancadas da minha guarda inteira depois dessa última ameaça. Agora sim que eu precisava dar um jeito de tirar a Cris daquela situação de forma segura.
Escondi-me nas sombras quando vi que a Cris ia sair. Não pude deixar de notar a lágrima que lhe fugia no rosto... (Que vontade de matá-lo!!) Depois de a ter perdido de vista, me aproximei da porta na intenção de acabar com aquele desgraçado.
– Satisfeita agora?! – (espera...) travei antes de tocar na maçaneta (com quem ele está falando?) – Não estou nem aí para o que Absol pensa ou deixa de pensar, Negra. – Negra? Quem é Negra? Não escuto ninguém além dele e de Absol.
Pude ouvir um riso lhe escapando e ele parecia ter se sentado – Ela ser louca ou não, não é problema meu. – ficar tanto tempo na prisão o afetou por acaso??
– E porque eu deveria? – deveria... o quê? Não posso mais simplesmente invadir e atacá-lo. Não até descobrir o que é que está acontecendo ali dentro.
Cris
Preciso me acalmar. Me acalmar e tentar ser o mais natural possível (ainda bem que já sou meio maluca, isso pode me ajudar). Como ele pode me dizer aquelas coisas todas, e ainda por cima me deixar responsável pelas vidas de todos que estão no QG?! Ainda sinto o meu corpo tremer de nervoso por conta daquilo tudo (Meu Senhor, Mãe amada, meu querido Anjo da guarda, São Jorge, Santo Expedito e todos os outros santos guerreiros, por favor, GUARDAI-ME e DAI-ME FORÇAS!! Pois eu precisarei muito...) Ainda atravessava os corredores, secando as lágrimas, quando alguém me chamou.
– Cris!
– Leiftan? – secava as lágrimas insistentes – Precisa de algo?
– Sim e não. Está chorando? Por quê?
– Não é nada. – terminei de secar minhas lágrimas – O que quer me pedir? – de início ele me olhou desconfiado, mas depois começou a dizer o que queria.
– Finalmente descobri como você conseguiu chegar em Eldarya, graças as descobertas feitas em Memória.
– E como foi que eu consegui chegar aqui? – isso vai me ajudar a distrair um pouco.
– Uma “Passagem da Lua”.
Virei a cabeça de lado – Oi??
– Uma Passagem da Lua é uma espécie de portal desenvolvido pelos Lorialets, faerys que dominam o poder da luz e da agua, e apenas Lorialets ou outros usuários desses mesmos elementos são capazes de utilizá-lo.
– Minha herança aengel e minha bênção dragônica...
– Isso mesmo. Esse encantamento só pode ser utilizado durante um tipo certo de lua, a Lua de Sangue, que é a que fornece mais poder para o ritual.
– E imagino que uma Super Lua deve dar o impulso que falta para quem não é exatamente faery, não? – ele me assentiu.
– Um outro detalhe desse tipo de encantamento, é que se necessita de pelo menos duas pessoas: uma para abrir a passagem, e outra para orientar o caminho que deve ser feito.
– Acho que é aí que entram as “sementes”, acertei?
– Precisamente.
Ótimo, agora estava explicado como que eu havia chegado em Eldarya. E outra vez estava ligado a mim mesma _suspiro_ – Obrigada Leiftan, é bom eu ficar sabendo claramente isso. – eu lhe sorria e começava e retomar meu caminho.
– Espere! – me virei pra ele – Há mais uma coisa que preciso lhe dizer.
– E seria...
– Às 10hs haverá uma reunião na Sala do Cristal e a Miiko pediu para que você esteja presente.
– EU?!?!
– Vê se não se atrasa! – e disparou pelos corredores me deixando a ver navios (Jesus! Será que tem a ver com o Lance?).
Apertei o passo, ou do contrário não conseguiria nem comer e nem levar comida para aquele cara (se em estado normal ele já era perigoso, imagine de mau humor). Cheguei ao salão avistando Anya que conversava com o Karuto.
– Cris! – ela correu pra me abraçar – Você está bem? Soube de coisas... desagradáveis.
– Por exemplo...
– É verdade... – ela cochichava – ...que o Becola tentou lhe invadir o quarto ontem à noite? E que na hora você estava... é... seminua? – corei com a lembrança daquilo, passando a minha preocupação do Lance para o Nevra (como será que está a minha situação?) – E aí? – sua voz estava normal agora – O Becola realmente fez isso? – apenas lhe assenti com a cabeça como resposta (queria não ter me lembrado daquela cena...) e Anya pareceu se enfurecer – Ah... esse Becola me paga! Vou denunciá-lo à Miiko sem falta!!
– Então o vampiro realmente fez isso?! – ouvi Karuto questionando (pra quem mais ela contou?).
– Fez! – respondeu Anya sem diminuir uma só gota de raiva.
– Ah aquele vampiro mexeu com a pessoa errada... Ele terá uma bela surpresa quando vier para buscar suas porções...
– Por quanto tempo? – havia malícia no sorriso dela.
– Se depender de mim? A vida toda!
– Anya... Karuto... Não acho que será necessário...
– E porque não? – eles me perguntaram juntos. Expliquei-lhes como tudo aconteceu (ocultando o Lance, é claro) e eles acabaram por cair na gargalhada.
– Ainda assim... – Karuto secava uma lágrima de tanto rir – Ele ainda vai receber uma punição minha. Alguém precisa lhe ensinar limites.
– De qualquer forma Karuto, – ainda tinha de voltar para o quarto com o “meu” café – acho que ainda estou sofrendo um pouco dos efeitos do dia de ontem... Posso tomar meu desjejum em meu quarto?
– Está tentando evitar aquele sem vergonha hoje? – Karuto me olhava nos olhos (realmente não quero me encontrar com ele).
– Também... – respondi – É possível?
– Só um momento, menina.
– O Lance te machucou? – perguntou-me Anya cochichando enquanto Karuto me preparava o café.
– Não exatamente. Podemos conversar sobre isso em meu quarto? – cochichei de volta e ela assentiu.
– Aqui está Cris. – ele me entregava uma garrafinha quente e um embrulho – Caso queira passar o dia no quarto pra evitar se encontrar com aquele depravado, peça pra Anya me avisar. Assim, na hora do almoço, eu lhe envio uma marmita pra que não fique passando fome, além de um lanche mais tarde.
– Muito obrigada Karuto. – ele sabia como me fazer sorrir – Mas fui chamada pra participar de uma reunião hoje e... Acho que querendo ou não, vou acabar me encontrando com ele.
– Mais um motivo para ele não escapar de Karuto hoje. – com o brilho no olhar de Karuto, sinto até pena do Nevra – Agora vá! Antes que seu leite esfrie.
– Obrigada de novo Karuto.
Comecei a voltar para o meu quarto junto de Anya.
.。.:*♡ Cap.40 ♡*:.。.
Leiftan
Já consegui avisar à todos que precisava sobre a reunião, ou quase (onde Nevra se meteu?). A Cris não me parecia bem quando a encontrei, por isso lhe contei na hora sobre a Passagem da Lua, na tentativa de distrai-la um pouco, e funcionou _sorriso_. Será que...
Me pus em direção do quarto dela (ele não faria, faria?) e bingo, encontrei Nevra durante o percurso seguindo direção contraria à minha, com uma preocupação estampada na cara que nunca vi antes (o que foi que aquele vampiro fez?). – Nevra!
– Hum? – ele não é tão distraído assim, aconteceu alguma coisa.
– Estava te procurando.
– Para? – o que há com ele?
– Miiko convocou uma reunião de última hora, às 10hs na Sala do Cristal.
– Ok, estarei lá. Obrigado por avisar. – continuo não gostando disso.
– A Cris também foi chamada para participar... – falei, e isso pareceu chamar a atenção dele.
– Porque motivo ela foi chamada?
– Aconteceu alguma coisa entre você e ela? A Cris me pareceu bem aborrecida quando a encontrei antes de você... – pude notar fúria em seus olhos quando disse isso.
– Eu não me encontrei com ela hoje ainda. – mas parece que já a viu... – Ela estava muito mal quando falou com ela?
– O suficiente para me preocupar... Tem certeza que não aconteceu nada? Soube que ela teve um dia bem complicado ontem.
– E que pode ser bem pior hoje...
– Como?? – não tinha como reagir diferente com toda aquela preocupação e cansaço na voz dele (preciso descobrir o que acontece aqui).
– Olha Leiftan... Esquece isso por enquanto. E pode deixar que eu não vou me atrasar para essa reunião.
Ele foi embora. E não é qualquer coisa que o deixa daquele jeito, disso eu sei.
Anya
Quando nos aproximávamos do quarto dela, a Cris resolveu me contar como realmente as coisas aconteceram quando o Becola tentou entrar no quarto dela (Lance seu...) e ao ficarmos de frente à porta, ela não parecia querer entrar.
– Estou com você. – disse segurando-lhe a mão.
– Obrigada Anya. – ela me sorria com os olhos marejados.
Nós duas respiramos fundo, e entramos.
– Estava começando a achar que não apareceria mais. – dizia Lance se erguendo da poltrona.
– Sinceramente preferiria não retornar, – dizia a Cris enquanto ajeitava a comida na mesa – mas como lhe disse antes, não posso deixá-lo sozinho em meu quarto por muito tempo. – não sabia dizer se a Cris estava sendo fria ou se ela estava irritada.
– Podem me dizer o que é que ficou exatamente decidido entre vocês? – perguntei.
– Mas é claro! – ele se aproximava – Afinal, nós dois iremos precisar de sua ajuda.
– Pode parar bem aí! – a Cris o ordenava, ficando o mais longe possível dele na mesa – Venha cá Anya. – ela me chamou e eu me sentei em seu colo (será que a convenço a comprar mais uma cadeira?).
– Aconteceu alguma coisa? – perguntei sem tirar os olhos de Lance que se pões a sorrir com a minha pergunta.
– Anya... – o tom da Cris não me agradava – Precisamos conversar.
Ela me explicou sobre tudo que havia acontecido naquele quarto na visão dela, e não pude deixar de sentir calafrios com tudo o que ela me dizia (apesar de ainda não compreender todo o nervosismo dela, será que tem a ver com o que minha mãe sempre me dizia? “uma mulher só pode estar sozinha com um homem se os dois forem casados!”). E pior, Lance não negava nada do que ela relatava.
– Você não precisa dar sempre metade de sua comida Cris, posso fornecer uma parte da minha também! Afinal, antes era eu quem lhe alimentava...
– Obrigada Anya. – a Cris chorava (culpa desse idiota!).
– É mesmo uma boa ideia. – ele está abusando... – Não queremos que ela fique doente por falta de alimentação.
– Isso se ela não o ficar por conta de estresse... – não pretendo poupar esse cretino – Agora é a sua vez de falar. – ele começou a me prestar atenção – O que foi que aconteceu aqui dentro que a Cris não viu?
Cris
Tive vontade de tirar o agasalho por conta do calor que me invadiu o corpo depois de ouvir tudo o que Lance havia feito ontem à noite, após deixar o banho (sabia que não tinha adormecido na cama) e eu devia estar mais vermelha que um tomate (só espero que ele não esteja mentindo sobre se concentrar em meus olhos, ontem à noite), além de tremer e estar com a garganta pra lá de seca.
– Está tudo bem com você, Cris? – Anya me perguntava (até quando ele vai ficar com aquele sorriso na cara?).
– Sim! – (na verdade, não) respirei fundo pra me acalmar – Está tudo bem. – não conseguia olhá-lo sem desconfiança em meu olhar.
– Tá. – Anya retomava o assunto – Você colocou a Cris na cama e passou a noite lendo enquanto Absol o vigiava. – (qual livro será que ele estava lendo?) – O dia amanheceu e você ficou em dúvida se acordava a Cris ou não e foi quando eu apareci. – ele só assentia – Depois de eu sair, você optou por deixar a Cris dormir e quando ela acordou, tiveram a sua conversa e... “negociação”. – se é que dá pra chamar aquilo de negociação... – E quando a Cris deixou o quarto? O que ficou fazendo?
– Nada.
– Verdade?! – questionei duvidosa.
– Fiquei quietinho esperando por você. – ainda não confio – E também...
– E também o quê? – interrogava Anya.
– Meditava a maana que peguei de volta durante nossa conversa.
– Pera, como?? – do que ele estava falando? E ainda alargando o sorriso?
– Anya não lhe contou, não é mesmo? – neguei com a cabeça e Anya se encolhia em meu colo, e ele parecia cada vez mais satisfeito – Acredito que quando retornaram de Memória, você não esperava encontrar tantos contaminados lhe esperando, estou certo?
– Nem me lembre daquilo... – desabafei, mas onde ele estava querendo chegar?
– E se bem me lembro, houve um momento em que você estava prestes a desabar por conta de todo aquele esforço, não é mesmo?
– Como você sabe? – aonde ele quer chegar!
– Sabe... eu aproveitava a comida que Anya me trazia para reaver minha maana aos poucos, já que essa guarda só me alimentava o suficiente pra continuar vivo... – a dívida dele devia estar enorme para o temerem tanto – No entanto, eu a usei toda antes mesmo de poder deixar aquela cela. – ele ficou me encarando esperando que eu adivinhasse o resto, (acho) mas a conversa de hoje cedo deve ter cansado o meu psicológico, pois ainda estou boiando... – Parece que você usou todos os seus neurônios hoje cedo... – disse ele enfim, recostando-se na cadeira com ar decepcionado.
– Talvez eu lhe concorde. – e isso porque ainda tenho uma reunião daqui a pouco pra participar... comecei a massagear a testa – Por favor... diga de uma vez. Já estou cansada de jogos por hoje.
Ele suspirou – É uma pena. Estava me divertindo tanto...
– Por favor... – quase implorei.
– Tudo bem. – ele finalmente voltou a ficar sério – Durante o momento que você desvanecia, acaso não sentiu um renovar de forças... do nada?
Refleti um instante, não tinha como eu me esquecer daquilo! E finalmente me caiu a ficha – Foi você... Você me ajudou! – ele sorria satisfeito – Mas por quê? Porque me ajudou naquela hora?
– Alguma coisa me disse que conseguiria sair mais fácil daquele lugar se eu te ajudasse... – Anya finalmente reagia (e parecia zangada) – ...o que acabou sendo verdade. Se eu não tivesse feito aquilo, muito provavelmente, nenhum de nós estaria aqui agora.
– Obrigada... eu acho. – uma vez ouvi uma historia em que a moral dela ficou em minha memória até hoje: “Quando Deus manda, até o diabo obedece!”, não importa os motivos dele para me ajudar, ele me salvou.
– Como planejam manter a rotina da Cris? – questionou-nos Anya (realmente, ainda não elaboramos isso...) – E como iremos arranjar roupas descentes pra ele Cris? Você não vai querer um maltrapilho vivendo com você, vai? – outro ponto pra se trabalhar (aquelas roupas desgastadas pareciam que iam se partir a qualquer momento)...
– Já possuem minha palavra que irei me comportar aqui dentro.
– E se alguém que não seja nós duas quiser entrar...? – pontuava Anya.
– Fácil! Uso as minhas habilidades ilusórias como hoje cedo.
– Que habilidades? – perguntei. Ele me sorriu e uma névoa branca começou a envolvê-lo – E como exatamente essa névoa aí vai ajudar?
– Ele ainda está aí?!? – perguntou-me Anya, tão surpresa quanto ele com a minha pergunta.
– Mas é claro! A não ser... Anya, você não o está enxergando? – ela apenas me negou com a cabeça.
– Vejo que, se eu quiser enganá-la, terei de fazer sem uso de poderes.
– Ou de poções! – ele me arregalava os olhos – Ezarel tentou usar uma poção de invisibilidade pra cima de mim ontem e falhou.
– Ter seus olhos como inimigos seria bem desagradável... – ele insinuava.
– E Absol pode ficar na sua cola onde você estiver no quarto caso alguém entre.
– E por quê? – ele não gostou de minha sugestão.
– Para ajudar no seu disfarce. Todos tem receio de se aproximar do Absol e se ele estiver ao seu lado, ninguém irá desconfiar quando eu resolver vigiá-lo em algum momento. – ele não disse nada, mais concordou.
– Certo. Primeiro problema resolvido. – declarava Anya – Agora vamos ao segundo: como vamos lhe arranjar roupas sem levantar suspeitas?
– Vocês poderiam fazê-las pra mim. – disse Lance dando de ombros.
– Oi?!?! – respondemos juntas.
– O quê? Anya não está te ensinando alquimia? Façam disso parte de suas aulas! – nada folgado...!
– E que tal te deixarmos assim até amanhã? – provoquei.
– Tem alguma coisa mais importante pra fazer? – ele estava frio.
– Tenho. Miiko me chamou para participar de uma reunião hoje às 10hs, ou seja, daqui a pouco.
– Eu posso ir atrás de pergaminhos durante a reunião, – sugeria Anya – e aquilo que não tivermos aqui dentro, você pode buscar mais tarde. Só temos que dar um jeito de ele nos pagar por esses gastos extras... – ela o olhava de lado.
– Não brinquem comigo... – ele ameaçava.
– Pois saiba que dinheiro não cresce em arvore. – me interpus – E só o auxílio nas tarefas daqui de dentro pode não ser o suficiente para compensar todo o seu sustento. – ele pareceu refletir.
– Tudo bem. Depois penso em algo.
Acabamos nossa conversa por aí. Anya saiu para procurar os pergaminhos e eu esperei dar a hora da reunião acertando com o Lance todos os previstos e imprevistos do que seria a minha nova rotina.
.。.:*♡ Cap.41 ♡*:.。.
Nevra
Era cedo, então tinha tempo para pensar em alguma coisa até dar a hora da reunião, tinha que arrancar as patas do Lance de cima da Cris sem prejudicá-la ou a Eel. Não havia muito movimento ainda no mercado ou no refúgio, mas prestei atenção em todas as conversas mesmo assim pra ver se encontrava alguma ideia.
No começo, não ouvia nada de útil: “hoje preciso comprar tantas coisas...”, “preciso me apressar ou vou me atrasar...”, “preste atenção na aula hoje ou ficará sem sobremesa...”, enfim. Estava quase desistindo quando ouvi algo que realmente me interessou: “quase perdi meus móveis por causa daquela porcaria de mincus! E a fortuna que o Purroy me cobrou na poção para me livrar deles?”.
Mincu... Se não me engano, Erika disse que um inseto da Terra, um tal de cupim, era muito parecido com ele. E se houvessem alguns deles em algum dos quartos do QG...? _sorriso_.
Miiko
A hora marcada para aquela reunião se aproximava, e aos poucos os participantes chegavam. – É uma pena que não possa ficar conosco, Huang Hua.
– Eu também lamento Miiko, mas tenho que me apressar para falar com a Fênix sobre o caso das evigêneias! Sem falar que também temos que decidir o que fazer sobre o baile e... sobre o Lance...
Já sinto dor de cabeça – Ainda não descobrimos como exatamente ele escapou. Ordenei para que fizessem o maior sigilo possível sobre isso para evitar pânico...
– Mas a falta de informação sobre sua localização está sendo o mais preocupante aqui.
– Sim. – essa reunião será beeeem longa – E ainda temos que conversar sobre o Cristal com a Cris.
– Pobre menina... Ela está sendo obrigada a carregar um farto enorme! Espero que ela consiga cumprir sua missão logo.
– Eu também Huang Hua. Não tinha ideia do peso que a Erika carregava em silêncio e agora tem a Cris com o maior dos deveres que já vi até hoje.
– Recuperar e estabilizar Eldarya e seus habitantes, além de encontrar e reunir todos os povos faerys isolados por aí.
– E temos que fazer o possível para ajudá-la a ressuscitar o Cristal pra que ela o consiga mais facilmente. – eu acariciava o Novo Cristal com um longo suspiro.
Cris
Depois de algumas discussões, Lance e eu finalmente conseguimos entrar num consenso no que seria a nossa rotina. Leiftan meio que me ordenou a estar presente na reunião, e a Miiko não teria pedido a minha presença se não fosse importante então, mesmo com os nervos a flor da pele, desci para a Sala do Cristal.
Entrei e reconheci a maioria das pessoas que iriam participar dela: Miiko (claro), Huang Hua, Erika, Valkyon, Ezarel, Leiftan, Kero, Ewelein...
– Pega! – Nevra me jogava uma maçã que quase deixei cair.
– O que pretende? – nunca posso baixar minha guarda com esse vampiro...
– Oferta de paz. – foi o que ele me respondeu. Alguns estranharam (e com razão).
– O que foi que você aprontou dessa vez Nevra? – Erika lhe erguia uma sobrancelha.
– Tentou invadir o meu quarto quando eu não estava... apresentável. – joguei na cara e alguns o olharam indignados.
– Será que terei que repetir tudo o que falei ao Ezarel pra você, Nevra? – Valkyon parecia nervoso, de braços cruzados, com ele.
– Já está mais que na hora de você adquirir limites Nevra! – Ewelein lhe dava bronca.
– Fico me perguntando que tipo de punição o faria aprender... – Miiko massageava a testa.
– Acho, que nesse ponto, já estejamos resolvidos...
– Que quer disser? – perguntou-me Huang Hua.
Contei a todos eles a mesma historia que contei ao Karuto e suas reações não podiam ser outras. Alguns caíram na risada enquanto outros me olhavam com espanto por causa do que fiz ao Nevra.
– Definitivamente, – Ezarel era um dos que ria – não é seguro deixarmos facas perto dela!
Todos tiravam sarro do Nevra, o que me fez sentir um pouco de pena dele – Você tem certeza que quer me dar sua preciosa comida Nevra? – ainda tinha fome, mas não podia deixar que todos descobrissem por que.
– Coma. É sua. – é imaginação minha ou por um instante ele parecia preocupado comigo? – E qual é afinal o motivo dessa reunião Miiko? Pois tirar sarro da minha cara que não é.
– Tem toda a razão. – falou a Miiko. Todos os que ainda riam ficaram sérios. – Convoquei esta reunião para tratarmos de quatro pontos chave: a viagem de Huang Hua por conta de seu compromisso com as evigêneias; as descobertas feitas em Memória sobre a Cris; a... – ela parecia tomar coragem para continuar – fuga de Lance – todos assumiram uma expressão de preocupação – e, consequentemente, o baile do solstício...
Lance
Aquela mulher é osso duro quando está nervosa. Ela me enfrentou sem medo durante a elaboração da nossa rotina. Concordamos e discordamos várias vezes, decidimos como que seriam divididas as tarefas aqui dentro (banhos, limpeza, privacidade etc.) e Anya iria receber uma cópia da chave para ajudar com os meus cuidados (óbvio que não terei o mesmo acesso).
À contragosto, por conta da forma com que eu as havia tratado logo de cara, as minhas tarefas começariam hoje. Tinha que lavar o banheiro, limpar o chão e tirar a poeira, com Absol me vigiando. Minhas roupas serão lavadas pela Cris sendo eu o responsável pelas íntimas (ou todas se eu não quiser esperar por ela) enquanto ela usará o serviço de lavanderia para as roupas dela (de início queria usar o serviço de lavanderia também, mas depois que ela me questionou como que ela iria explicar roupas masculinas entre as dela, desisti).
“E como é que você pretende compensá-las pelas roupas, hein?” – a Negra tinha voltado pra me atazanar (o que você quer dessa vez?) – “Mau humoraaaado...” – (quer trabalhar no meu lugar?) – “Não, obrigada. ... Escuta, você realmente só vai sair desse quarto se estiver acompanhado da Cris ou do Absol, correto?”
– Essa é a ideia do nosso acordo, não é.
“Bom, sim, mas... e se você quiser sair e não lhe derem o consentimento?” – (só preciso fazer a Cris me acompanhar) – “E como o faria?” – (memorizei um feitiço bem interessante daquele grimório dragônico) – “Sério? E ele funciona mesmo?”
– Acaso está querendo que eu saia deste quarto?
“Sim e não. Quero é saber se você será capaz de sair daqui de dentro, sem quebrar o acordo, caso seja necessário.” – (você quer que eu teste o feitiço, é isso.) – “Tem todo o material de que você precisaria, não tem?” – de fato, todos os itens necessários haviam no quarto, e se eu quisesse prepará-lo teria que ser enquanto a Cris e a Anya estão fora, mas... (e quanto ao Absol?) – “Se for ordem minha, não há problema.”
Tinha acabado de terminar com o banheiro e acabei por erguer uma sobrancelha para Absol. Em resposta, ele pegou o grimório do meio dos travesseiros da cama e deixou-o em cima da mesa, ficando de costas pra mim logo em seguida.
“Faça o teste! Você pode ir com ela até um de seus esconderijos ainda secretos. Aposto que você tem com o que compensá-las em um deles.” – nisso ela estava certa. Em um de meus esconderijos (ao menos no mais secreto de todos) ainda devo ter coisas de valor que posso usar para pagar pelas roupas, mas ainda assim...
Bom, como essa chance não ia se repetir tão facilmente, comecei a fazer o preparado do feitiço.
Cris 2
Tinha me esquecido que era ontem que as evigêneias partiriam de volta para a casa delas até o dia do baile... Nem pude me despedir (também, estava cuidando dos contaminados na hora). Huang Hua partiria hoje ao encontro da Fênix atual para conversar sobre elas, se quisesse retornar a tempo.
Quando o assunto passou a ser eu, além de todos agora saberem sobre o que sou e qual é minha tarefa em Eldarya, Leiftan aproveitou para repassar a todos sobre a descoberta de meu meio de chegada. Nevra já havia enviado um grupo para Apókries na intenção de descobrir onde o fragmento da outra “semente” estava, e assim me facilitar as coisas. O ambiente só ficou tenso mesmo, quando Lance se tornou a próxima pauta da reunião.
– Por conta da ameaça que Lance nos representa, estou pensando seriamente em cancelarmos o Baile de Máscaras do Solstício. – declarou a Miiko, causando o descontentamento geral.
– Você não pode cancelar o baile Miiko! Todos estão ansiosos por ele. – Erika comentava.
– Sem falar que é a única coisa que está mantendo os ânimos em Eel. – completava Ewelein.
– E o que sugerem que eu faça? Um baile agora nos deixaria totalmente vulneráveis! – retrucou a Miiko.
– Então porque não transforma o baile em uma armadilha. – falei por falar e todos começaram a me olhar (quem foi que mexeu no ar condicionado? Ficou quente aqui!).
– O que quis disser? – Nevra perguntou.
– Bom... já que tecnicamente ficamos mais vulneráveis a um ataque durante o baile... – respirei fundo (detesto ser o centro das atenções!) – Porque não transformar isso em uma vantagem?
– E como exatamente faríamos isso? – foi a vez do Valkyon.
Céus, estou tremendo! – Poderíamos deixar guerreiros de elite em pontos estratégicos para prevenir qualquer tipo de ataque, além de deixar gente de confiança disfarçadamente armada dentro da festa.
– Não me parece uma má ideia... – considerava a Miiko – Mas ainda acho que todos não conseguirão aproveitar bem o baile com Lance a solta... – ela se lamentava – Quero dizer, proibi a divulgação da fuga dele por enquanto, mas boatos se espalham depressa!
– Mesmo se ele já estiver preso? – tampei a boca (Ops!).
– É O QUÊ!?!?! – quase todos gritaram (Cuidado com o que diz Cris!).
– O que você quis disser com isso? – questionou-me Miiko, quase me fazendo dar um passo para trás.
– Desculpe. – Senhor me ajude! – Foi só uma ideia que me passou pela cabeça...
– Que ideia Cris? – o tom de Huang Hua me acalmava – Diga-nos, talvez possa nos ajudar...
– Bom... – (pensa rápido Cris!) – E se alguém fingir ser o Lance até o encontrarmos de fato? – todos me olhavam curiosos – Pode ser que essa informação não só forneça tranquilidade aos civis de Eel, como também desperte alguma curiosidade no verdadeiro Lance e o mantenha em Eel. Quero dizer... se ele ainda estiver por aqui, né!?
Todos começaram a refletir sobre essa ideia maluca (Jesus, Maria e José, SOCORRO!).
– Lance ainda está sim em Eel. – Valkyon rompia o silêncio – E supondo que essa sua ideia funcione, quem é que iria se passar pelo Lance?
– Eu posso fazê-lo se quiserem. – ofereceu-se um homem cuja raça ainda não tinha identificado, com pele pálida e cabelos cobreados compridos até o ombro – Eu só precisaria tingir meu cabelo e disfarçar minha pele.
– Tem razão, Almir. – Ezarel lhe apoiava – Conheço as poções certas para isso. E qualquer coisa é só a gente dizer que você foi mandado em missão para algum lugar longe de Eel!
– E você está mesmo disposto a ficar por sabe-se lá quanto tempo na prisão? – interrogava a Miiko.
– Ele vai fingir ser ele, não é ele. – intercedi – Vocês irão tratá-lo de forma diferente a que tratavam o Lance não é? Irão deixá-lo a par do que acontece, não vão?
– A Cris tem toda a razão sobre o tipo de tratamento. – apontava Ewelein – E mantê-lo informado é essencial pra que esse plano tenha alguma chance de êxito.
– Votemos então. Aqueles a favor da ideia de mantermos o baile e criar um falso Lance, ergam a mão. – ordenou a Miiko (e quase todos levantou? Eles aceitaram essa maluquice!? Pai eterno...) – Sendo assim... está decidido.
– Acaso posso fazer um pedido, Miiko?
.。.:*♡ Cap.42 ♡*:.。.
Nevra
Não esperava que a Cris contasse sobre ontem à noite para todos e pra piorar, foi realmente ela que me atirou aquela faca. A Cris me assusta (porque é que ela não caiu na sombra?), ao menos ela comeu a maçã, mas o que ela quis dizer com “precioso alimento”?
Durante a reunião, ela não só escapou de dar com a língua nos dentes logo no primeiro dia do acordo dela com o Lance, como também conseguiu manter o baile e criar um plano para evitar o pânico em Eldarya. Sem esquecer que ela arranjou uma desculpa para explicar o motivo de Lance ainda estar em Eel (no quarto dela, pra ser mais exato).
Mas eu ainda tenho meus próprios planos para essa historia do Lance. – Acaso posso fazer um pedido, Miiko?
– Que pedido Nevra.
– Queria sua autorização para criar um grupo e revistarmos todos os quartos.
– É o quê???? – a Cris ficava branca.
– Com que intenção? – Miiko me fuzilava.
– Hoje cedo, eu encontrei alguns mincus em meu quarto, já dei um jeito neles porque tinha uma poção própria pra isso guardada, mas... e se meu quarto não for o único?
– Mincus no QG?! Preciso inspecionar a biblioteca assim que acabarmos. – Kero pareceu desesperado (isso vai me ajudar).
– E além do mais, – tenho que usar todas as cartas que consegui hoje – de manhã, Anya acabou me lembrando de um possível detalhe.
– Que detalhe Nevra? – Erika se mostrou curiosa enquanto a Cris me parecia cada vez mais pálida (é pro seu bem Cris...).
– A possibilidade de Lance estar se escondendo dentro de um dos quartos. Temos vários quartos vazios por que seus respectivos donos estão em missão, o que garante que ele não esteja em um deles? Ou pior, que alguém esteja escondendo ele! Por vontade própria ou sob pressão, aí é outra historia. – isso semeou dúvida entre eles.
– Tem certeza que não está apenas arranjando uma desculpa para entrar no quarto da Cris? – perguntava Ezarel bancando o engraçadinho como sempre.
– Há um terceiro motivo... – ele ergueu-me uma sobrancelha – E quanto a possibilidade de um segundo “Celsior”? – Ezarel teve ânsia na hora (também, depois do que vimos).
– Todas as razões de Nevra são válidas. – concordava a Huang Hua (muito obrigado!) – É realmente importante conferirmos todos os quartos, e para um maior sucesso nas buscas, só o primeiro e terceiro motivos devem ser declarados aos demais. Assim como seria melhor que o número de pessoas que saibam sobre o falso Lance limite-se apenas a todos nós.
– Não quero homens no meu quarto, especialmente o Nevra. – ouvi a Cris falar (e como ela estava branca!).
– Cris! – Ewelein correu até ela junto de Erika – Você está mais pálida que um cadáver! O que aconteceu?
– Não é nada. – você não está enganando ninguém... – É apenas uma queda de pressão por nervosismo. Não se preocupe Ewelein e obrigada Erika. – (você é tão frágil assim?).
– Nevra não entrará em seu quarto. – declarou Valkyon – EU não permitirei. – ótimo! Valkyon ficará pelo menos uma semana irritado comigo. E tudo por culpa do Lance.
Cris
O Lance e aquela reunião já estavam me deixando à flor-da-pele e o Nevra quase me fez alcançar os limites com aquele pedido (será que ele desconfia de alguma coisa ou só está seguindo seus instintos?).
Tenho medo do que possa acontecer. O lado bom de estar nesse estado é que não me farão participar dos grupos de “fiscalização” nos quartos, e como a reunião terminou bem depois da uma da tarde, quase duas (mais que fome!), todos nos dirigimos direto para o refeitório.
Estava rachando a cabeça imaginando uma desculpa para levar minha comida pro quarto, quando Anya chegou em mim antes de fazer meu pedido, “O gelinho já foi alimentado” ela me cochichou no ouvido. “Gelinho” foi o termo que nós duas decidimos usar para nos referirmos ao Lance pra evitar suspeitas (melhor, posso comer minha comida quase toda).
– Então quer dizer que a Anya tem permissão de pegar do seu prato, esfaqueadora?
– Perturbe outro Ezarel. – eu estava dividindo a mesa com ele, Anya, Erika, Valkyon, Nevra e Miiko.
– É Ezarel, não me faça tomar atitudes contra você assim como acho que terei que fazer com o Nevra, se tentar prejudicar minha subordinada outra vez. – Valkyon estava sério (pena que ele já é comprometido... _suspiro_).
– Já disse que não tive intenção... – Nevra se defendia.
– Não importa Nevra, – Miiko começou – todo mundo agora sabe que a Cris é importante para a Eldarya inteira, e se qualquer um de vocês ou algum outro membro desse QG se atrever a prejudicá-la... juro por tudo o que for mais sagrado que os farei se arrepender, até mesmo na pós vida.
– Não precisa de tanto Miiko. – Erika intercedia – Não acho que eles seriam burros a este ponto, mas como o Nevra parece meio obcecado pela Cris...
– Eu não estou obcecado por ela!
– Conseguiu então lhe roubar o beijo que tanto deseja? – Ezarel caçoava (ele só vai me largar quando me beijar?!?!) e Nevra apenas fechou a cara.
– É por isso que precisa de vigia Nevra. – terminou Erika.
– E o que acham que eu tenho feito desde que ela chegou? – reclamava Anya – Não posso me descuidar um minuto desse Becola! – todos rimos um pouco (menos Nevra é claro, que só deu uma risada sem graça).
– Cris! – chamava-me a Miiko – Antes de entrar na Sala do Cristal hoje, eu e Huang Hua conversávamos sobre um convite que queria lhe fazer, mas ela diz ter certeza que você não irá aceitar por hora.
– Que convite? – perguntei e todos estavam curiosos.
– Para que faça parte da Reluzente. – (QUÊ!!) – Sua missão em Eldarya é no mínimo colossal! E é por isso que gostaria que entrasse pra Reluzente, pois teria mais liberdades.
Um posto de alta confiança quando estou agindo pelas costas deles? Sinto muito. – Miiko, me perdoe... O que Huang Hua lhe disse está certo! Ao menos agora, não sou digna de tal oferta... – (e talvez nunca seja...) – Eu nem se quer consigo me defender direito! Gostando ou não, ainda sou muito dependente dos outros. – Miiko pareceu decepcionada, porém compreensiva. O clima parecia meio triste.
– Mas é inteligente, corajosa e poderosa. – falava Nevra, animando um pouco as coisas – E estou curioso... Como foi que você pensou naquelas ideias que todos concordaram?
Também queria saber... – Acho que foi por causa das muitas historias que eu já vi...
– Que tipo de historias? – Erika perguntava.
– Filmes, animês, livros... Sou um pouco eclética e por isso já vi muitos temas, apesar de fantasia sempre ter sido o meu favorito.
– Parecem ser interessantes. – falava Valkyon pra si mesmo.
– Acaso você tem alguns no seu notebook? – perguntava-me Erika.
– Meu not tem 16T de memória e mais da metade está ocupada com vídeos, deseja ver algum? – ela arregalou os olhos enquanto os demais, exceto Anya, não entendiam nada. Normal.
– Deixe eu perguntar. – interrompia Anya – Algum de vocês sabe nipon?
Anya
Não foi nada fácil, mas consegui encontrar alguns pergaminhos para produção de roupas masculinas com alquimia e como estava perto da hora do almoço (e aquela bendita reunião não acabava), resolvi dar da minha comida para o Lance ao invés de deixar a Cris fazê-lo.
Bati na porta em código como combinamos e o Lance abriu a porta (ele estava limpando o chão?), entrei e deixei as coisas na mesa, incluindo a comida. Lance me repassou as decisões deles sobre as rotinas que seguiriam e me informou que eu ia receber uma cópia da chave que deveria ser mantida em segredo, especialmente do Becola.
Terminei de comer minha parte e deixei o Lance com o Absol. Quando passava pela Sala do Cristal, vi que todos saiam e iam direto ao refeitório (preciso avisar a Cris que o “Gelinho” já ganhou comida), corri para lá e a vi antes dela falar com o Karuto (ainda bem!).
Na mesa, como sempre Ezarel arranjou um jeito de reclamar (vale mesmo a pena proteger este cara?); houve “novas” reclamações do Becola; não esperava que a Miiko a quisesse na Reluzente tão rápido e eu já esperava qual era a resposta da Cris (se não fosse pelo Lance...), mas o que me interessou mesmo, foi quando o assunto chegou às series da Cris. Era a minha chance!
– Deixe eu perguntar. – interrompi eles – Algum de vocês sabe nipon? – a Cris me olhava desconfiada.
– Nipon? A língua dos kappas? – questionava Ezarel.
– Na Terra acredito se chamar Japonês, não é isso? – perguntou Nevra recebendo a confirmação da Erika – Sinto muito, mas essa eu não conheço.
– E você Erika?
– Sei um pouco de francês porque a bisavó que eu puxei era francesa. Tanto que era lá que eu estava quando encontrei aquele Circulo de Bruxas que me trouxe para Eldarya. A Miiko deve conhecer...
– De fato eu sei, mas porque você está nos perguntando isso?
– Para conseguir cumprir um acordo que fiz com a Cris.
– Que acordo Anya?!? – sabia que ela não se deu conta...
– Quando fiquei cuidando de você, depois que chegamos de Memória. – e que se não fosse pelo Lance, poderia estar morta (quanta ironia...).
– Que tipo de acordo Anya? – Erika me questionava.
– Tem um animê em especial que eu quero muito ver, mas ela não deixa. – a Cris já está me entendendo – Naquele dia, nós acordamos que, se eu conseguir encontrar alguém que fale Nipon tão bem quanto eu para que o assista comigo e, conseguir encontrar a resposta correta sobre uma certa pergunta, ela me deixaria assistir. Absol foi testemunha! – disse antes que a Cris tivesse chance de negar.
– Que... “animê”? – questionava a Miiko.
– Hellsing Ultimate. Maior de 18. – a Cris respondeu com frieza.
– Como?! – a Erika conhece? – Anya, não! Eu já ouvi falar dele quando vivia na Terra, é de terror... em termos humanos você só tem uns catorze anos Anya, de jeito nenhum você pode vê-lo! Só o restante de nós é que tem idade pra assisti-lo. – ótimo, agora que vai ficar difícil convencer a Miiko.
– Pode ser que ela seja até mais nova, considerando a inocência dela... – não piora Cris...
– Inocente? Essa Verdheleon? – (Nevra...) – Em que sentido?
– Me diz Nevra... – não estou gostando – Qual você acha que é essa certa pergunta que a Anya precisa me responder? – parece que ela se lembrou do acordo... (justo agora?). Nevra apenas balançou a cabeça com rosto de quem não tinha ideia, e a Cris sorriu com malícia se apoiando sobre a mesa (tenho um mau pressentimento...). – Você saberia me dizer, verdadeiramente, como que nascem os bebês?
Todos na mesa coraram. Ferrou tudo.
Nevra 2
A alimentação da Cris me preocupava, ainda bem que Anya já tomou conta da praga, a ouvia cochichando para a Cris que ela já tinha alimentado o “gelinho” (só podia ser o Lance!) e eu entendi o que a Cris quis disser mais cedo quando Karuto me deu minha comida... Ainda assim, pedi ao Karuto que repassasse um terço de minhas porções para a Cris e a Anya, como um pedido de desculpas... (não posso admitir que elas passem fome por conta daquele #%&#@) e claro, pedi-lhe segredo (também não posso abrir brechas para que elas, e o Lance, descubram o que sei).
Nem durante a refeição eles pararam de me torturar! Sem falar que mais uma vez, o Lance estragava a vida da Cris... Não posso falhar em pegar aquele miserável.
Aquela conversa sobre o acordo entre a Cris e Anya me surpreendeu (quantos acordos a Cris já fez até agora? E com quem?), não esperava aquilo de Anya. Ao saber que tipo de resposta Anya precisava descobrir, não há como não concordar que ela ainda era bem inocente. Miiko negou-se terminantemente a acompanhar Anya com o tal animê deixando Anya emburrada (se bem que eu fiquei curioso...). E aproveitou quando quase todos estavam finalmente reunidos no refeitório para passar a noticia das “fiscalizações” nos quartos (a Anya e a Cris ficaram nervosas, claro), decidindo ela que o grupo que faria isso seria formado por Ezarel, Karenn, Erika, Lua, Doriann, Leiftan e eu, explicando os motivos daquilo (do jeito que Huang Hua aconselhou).
Tava na cara que ela queria ter adicionado a Cris também, mas ela precisava de um pouco de descanso segundo a Ewelein, por isso foi deixada de lado. A historia do falso Lance, só seria repassada no dia seguinte, após confirmação da revista nos quartos (se o capturarmos, não precisaremos usar aquela mentira).
– Cris. – chamei-a antes dela se retirar lhe segurando pelo pulso da forma mais delicada que podia (já estou bem encrencado com ela).
– O que você quer Nevra... – ela suspirava como que exausta e Valkyon me olhava de soslaio.
– Só queria pedir para que tentasse seguir seu dia normalmente. Você sabe... Sem relatar nada da reunião à ninguém... – especialmente ao Lance, será que ela vai me entender? – E mais uma vez, me desculpe por ontem.
– Está tudo bem. – ela me olhava desconfiada – Só me faça o favor de me dar mais espaço, sim? – ela olhava minha mão que a segurava e a soltei na hora.
– Sinto muito mesmo. – disse ao vê-la se afastar com Anya ao seu lado.
– Estamos de olho em você Nevra. – falou-me Erika próxima ao meu ouvido com Valkyon do seu lado.
Vou ter muitos problemas com essa historia.
Cris 2
Estou cansada. Minha cabeça parece que está pesando uma tonelada. Como é que eu vou fazer com essa fiscalização? Consegui convencer Anya a voltar para casa ao invés de termos as aulas de alquimia (Anya já tinha me dado a lista do que ainda nos faltava) e tudo o que eu queria, era que esse dia terminasse o mais rápido possível.
Outra vez não tive vontade de entrar em meu quarto, mas entrei.
– Já voltei. – senti logo o cheiro de flores dos produtos de limpeza que Ezarel havia deixado no banheiro – Vejo que cumpriu com o que combinamos.
– Mesmo não gostando nenhum pouco. – reclamou ele enquanto fazia flexões no meio do quarto – Como foi a reunião?
– Exaustiva. Não posso falar muito. – deitei de bruços na minha cama – Anya me disse que já deu o almoço...
– Ela me deu o suficiente. Mas ainda prefiro a sua maana. – Absol rosnou para ele. – O que você pode me dizer dessa reunião?
Preciso tomar cuidado com o que digo, para não cometer o mesmo erro da reunião – Huang Hua partirá de Eel hoje para falar com a Fênix sobre as evigêneias; em breve todo o QG estará sabendo sobre mim e o que foi descoberto em Memória; e o baile do solstício será mantido.
– Só isso? – ele se erguia cruzando os braços.
– Do que eu posso falar? – me sentei na cama – Só.
– E não falaram nada sobre mim?
– Falaram. – ele me ergueu uma sobrancelha – Mas não posso lhe dizer nada. – dirigi-me ao banheiro.
– Você não precisa falar,... – o olhei desconfiada – ...basta escrever.
– Até parece que vou fazer isso. – agora ele me irritou e continuei meu caminho.
– Quer apostar?
Acabei me virando para ele e um pó estranho foi jogado em mim que me fez tossir. Eu o ouvi dizer coisas estranhas assim como ontem à noite, e senti o meu corpo ficar estranho. – O que você fez?
.。.:*♡ Cap.43 ♡*:.。.
Lance
Consegui terminar rápido de preparar o pó do encanto que me permitiria fazer a Cris atender parte de minhas vontades, e tinha acabado de retomar minhas “tarefas” quando Anya chegou com o meu almoço e uns seis pergaminhos de roupas masculinas que acabei dando uma olhada. Como ela estranhou me ver trabalhando, repassei à ela todas as discussões que a Cris e eu tivemos depois que ela saiu, e ela pareceu satisfeita em saber que só iria precisar do código se estivesse acompanhada, já que receberia uma chave para a minha “gaiola” também.
Acabamos a refeição e ela saiu ao encontro da Cris, enquanto eu fui terminar os meus “afazeres”. Resolvi fazer algumas flexões depois de terminar tudo e a Cris chegou, claramente cansada. Tanto que ela foi direto deitar-se na cama. Perguntei sobre a reunião e ela só me falou sobre a Huang Hua, Memória e o baile. Sobre mim, ela se negou a falar.
“Palavras tem duas formas de serem contadas...”, foi o que a Negra havia me dito antes de finalmente me deixar em paz, e ela estava certa. Se antes eu estava com receio de testar aquele feitiço, agora não estou mais. Ela ia me dizer o que foi que disseram de mim naquela reunião.
Como ela se recusou a escrever por si mesma como lhe sugeri, a desafiei, jogando-lhe o pó do encantamento e citando o encanto que pareceu ter efeito imediato.
– O que você fez? – ela me perguntou e eu lhe sorri. Arrastei uma cadeira para ela e coloquei papel e pena para ela escrever.
– Sente-se. – ela obedeceu sem entender o porquê. – Agora quero que escreva tudo o que foi tido na reunião com referência a mim. – ela começou a escrever tudo o que aconteceu chorando.
– Me fala, – ela soluçava (e também rezava) – o que foi que você fez? Porque meu corpo não quer me obedecer?
– Terminou de escrever? – ela me entregou a folha que a li com bastante cuidado. – Então... uma fiscalização será feita hoje em todos os quartos para me procurar... – ela me desviava o olhar – Além de você ter sugerido um “falso Lance” para enganar Eldarya sobre o meu esconderijo...
– Acho que nosso acordo não durará muito.
– Só se eu estiver aqui dentro quando eles chegarem... – a vi engolir seco.
– Pretende quebrar nosso acordo?!?
– Não. – me aproximei dela – Eu só preciso que me acompanhe até onde desejo ir, afinal... Preciso estar acompanhado para deixar este lugar.
Seus olhos se arregalaram e, pela maana que ela emitia, suas orações se intensificaram.
Cris
Eu não sei o que foi que esse cretino fez comigo, mas me sinto uma boneca. Meu corpo não me obedece, e eu estou fazendo tudo o que ele me pede (Jesus... me ajuda!...). Graças a seja lá o que for que ele fez, agora ele sabia sobre as fiscalizações e sobre o meu plano maluco para enganar todo mundo sobre ele.
Suei frio e engoli seco quando ele disse que não ia estar no quarto na hora em que eles chegassem ao meu quarto (eu tinha que ter dado uma brecha para ele escapar? Mãe santíssima me envolva com seu manto...). Vi ele destruir o papel em que escrevi sobre a reunião com fogo saindo de sua boca e colocou uma nova folha diante de mim.
– Quero que escreva um bilhete. – eu o olhei de canto – Escreva algo que justifique você não estar no quarto, e que não pareça ser uma mentira, por conta daquele vampiro que não larga do seu pé.
– E que desculpa exatamente eu devo dar? – questionei. Ele pareceu refletir.
– Diga... que você foi procurar por algumas coisas na floresta para as suas aulas de alquimia. E aproveite para deixar sugestivo que irá demorar, pois não retornaremos antes da madrugada. Ah! E pode também colocar alguma restrição sobre as buscas aqui dentro para que possa ficar mais convincente.
Acabei fazendo como ele mandou. Ele o leu, e pareceu satisfeito com o bilhete que escrevi. – Ótimo. Vai querer tomar um banho antes de sairmos ou vai só trocar de roupa?
– Banho. Não vou passar a noite suja. – ele gesticulou para que eu prosseguisse e fui.
Durante o banho, fiz de tudo para tentar lavar aquele pó que ele me jogou, mas não me livrava daquela “sensação boneca”. Absol me trouxe uma troca de roupa até o banheiro. Ao deixar o banheiro, vi que Lance ativava sua habilidade ilusória com uma pequena sacola nas mãos.
– Vamos?
– Para onde exatamente?
– Se eu dizer agora, seu bilhete poderá ficar mentiroso. – revirei os olhos enquanto bufava.
– Vamos de uma vez.
– Me permita ficar próximo de você durante o percurso. – tá de brincadeira... – É uma ordem.
Senti o meu corpo reagir (minha Mãe!) – Por quanto tempo isso vai durar?
– Algumas horas. – ela dava de ombros – Mas prometo que não lhe farei nada.
Mal deixei o bilhete grudado na porta e ele já começou a me dar mais ordens ao pé do meu ouvido – Não quero que nem eu ou mais ninguém te veja chorando, entendeu? – (meu São Jorge, você que segundo sua historia já matou um dragão, não quer matar mais um não?). – Vamos até a cerejeira. – determinou ele, respirei fundo.
Durante o percurso acabamos encontrando a Erika no caminho, e ela acabou me vendo. – Livre-se dela! – ordenou-me outra vez ao pé do ouvido (está me irritando demais, senhor Lance...).
– Aonde você está indo Cris? Ewelein foi clara que era pra você descansar hoje!
– Vou apenas procurar algumas coisas para as minhas aulas de alquimia de amanhã. – não foi isso que ele me fez escrever?
– Entendo, mas procure não se esforçar muito e... tome cuidado! – um riso me escapou.
– Pode deixar. – estou em suas mãos meu Pai. – Pretendo voltar inteira.
Ela me sorriu e nós nos despedimos. Lance pareceu irritado, mas se manteve calado. A cerejeira costuma ser vazia à tarde, já que a Obsidiana só treinava lá durante a manhã. Ele me envolveu com a névoa dele quando ninguém nos via, e me guiou até uma parte próxima aos arbustos onde havia uma passagem secreta.
– Entre. – ele me cochichava a ordem que não tinha opção que não fosse obedecer (meu santo anjo, remova logo essa porcaria de mim, por favor!) – Agora mantenha os olhos fechados. E só os abra quando eu mandar – ordenou ele em seguida naqueles túneis escuros por onde ele me guiaria (mas pra onde ele está me levando?!).
Nevra
Aquela minha mentira sobre os mincus acabou não sendo tão mentirosa assim... Descobrimos duas infestações deles e três inícios de infestação entre os quartos, além de descobrirmos que um dos absintianos, fora de Eel, estava pesquisando necromancia às escondidas (pela cara do Ezarel, ele ia exigir a sua expulsão à Miiko. Necromancia é magia negra altamente proibida!), e eu não pude acreditar no bilhete que estava na porta da Cris:
“Saí em busca de algumas coisas para as minhas aulas de alquimia. Talvez eu vá visitar as cheads com quem morava antes, por isso posso demorar. Deixei a porta aberta.
Cris.
P.S.= Ai de vocês se eu descobrir que um homem me conferiu as gavetas. Especialmente o Nevra!”
Porque é que ela continuava ajudando aquele crápula?! Será que ela falou por si mesma ou ele conseguiu fazer com que ela abrisse o jogo? Tive que me esforçar ao máximo para conter minha raiva e frustração por Lance ter me escapado, mesmo esperando pela fiscalização do lado de fora por causa da exigência do bilhete. E claro, não encontramos nada lá dentro.
– Há algum problema Nevra? – Me perguntou o Ezarel depois que deixamos o quarto (éramos os mais afastados do grupo).
– Nenhum.
– Mentira. – nos olhávamos sérios – Percebi sua raiva ao ler o bilhete da Cris, e isso não seria o bastante pra deixá-lo daquele jeito. O que aconteceu?
Não tinha como negar, mas também não podia arriscar a vida da Cris e dos outros – A Cris está nos escondendo alguma coisa... – falei – E eu não consegui descobrir ainda.
– Está me dizendo que a esfaqueadora conseguiu mentir pra você?
– Mentir não, esconder. Ela parece saber usar bem as palavras, e Anya está aprendendo com ela.
Ele sorriu um sorriso largo – Parece que você terá bastante trabalho...
– Queria que existisse uma poção que forçasse as pessoas a falar a verdade... – confessei (e ele pareceu interessar-se no meu pedido).
Lance 2
Foi somente graças à maana que ela liberou durante o caminho até os túneis que pude me manter oculto e depois ocultá-la até entrarmos neles. Guiei-a pelos ombros dentro daqueles corredores escavados até chegarmos ao quarto secreto que tinha lá dentro, somente depois de fechar a parede que servia de porta, que lhe autorizei a abrir os olhos.
Cris 3
– Já pode abrir os olhos. – declarou ele após eu ouvir algo grande se movendo.
O lugar estava meio escuro, e vi Lance acender uma lamparina para aumentar a claridade do lugar, era um quarto simples, com uma cama de solteiro humilde; uma mesinha de centro com um vaso de planta, ainda viva, sobre ela; uma cadeira; algumas caixas encostadas nas paredes, e uma estante simples com alguns livros e frascos.
– Onde estamos? – perguntei ainda observando o lugar.
– Em um de meus esconderijos mais secretos. – ele me parecia impassível – Nem meu ex-sócio conhece este lugar.
– Fala do Leiftan?
– Exatamente. Sente! – mostrou-me a cadeira e meu corpo obedeceu. Ele começou a buscar algo entre as caixas.
– O que está procurando? Porque viemos para cá? E onde exatamente é aqui? Ao menos tenho direito a essas respostas não? – ele não parava de procurar.
– O que estou procurando é o motivo de virmos aqui e sobre este lugar... Ainda estamos em Eel, e se eu falar mais que isso, seu bilhete pode acabar virando uma mentira. – respondeu ele. Comecei a não me importar com mais nada naquele lugar.
Lance ainda continuou as suas buscas naquelas caixas por mais alguns minutos. Via-o colocar sobre a cama pedras e cristais, orbes, pergaminhos e outros livros e até facas e uma armadura negra com vermelho, e nada parecia ser o que ele procurava. – Achei. – ele sorria diante de um saquinho de veludo escuro.
– O que é isso? Posso saber? – ele me sorria orgulhoso.
– Esta... – ele apresentava um colar feito de uma enorme gema – ...é a Pedra Cintamani.
– Pedra Cintamani? Nunca ouvi falar. – eu observava a joia.
– Acho que reconhecerá o seu outro nome: Pedra Filosofal.
Arregalei os olhos – Como?!? Ela realmente existe?? – o vi guardar a joia no saquinho novamente.
– Existe sim. E não me foi fácil adquiri-la! Com ela você e Anya não vão mais precisar de essências de transmutação para suas alquimias nunca mais e ainda vão poder aproveitar o mesmo pergaminho até 5x. – ele me estendia a relíquia.
– É a sua compensação pelas roupas que teremos que fazer pra você?
– Acaso não a quer?
– Claro que eu quero! – pequei o tesouro e segurei firme – Ela nos dará uma grande economia! Mas... como vou explicar o aparecer deste tesouro nas minhas mãos?
– Basta insinuar que foi Absol que lhe trouxe! Você já possui muitos tesouros por causa dele. – ele começou a se afastar – Assim como o livro em que aprendi o encantamento que usei em você... – ele quase sussurrou essa parte, que ainda pude ouvir em alto e bom som (que aprendeu com um livro meu?!?).
– De que livro você está falando? – me ergui para aproximar-me dele (quero estrangulá-lo!!).
– Fique calma. – meu corpo travou no lugar (até quando essa maldição vai durar?!) e eu respirei fundo.
– Responda minha pergunta, por favor.
– Pode voltar a sentar? – outra vez meu corpo agiu por si mesmo – Foi quando lhe ajeitava na cama que acabei os encontrando... os seus grimórios.
– Grimórios? Aqueles livros são grimórios?! – não acredito!
– Sim. Um de dragão, em especial para portadores da bênção de Anfitrite, e um aengel. – não pude evitar ficar boquiaberta – Como os dois estão na língua original, pude lê-los sem problemas.
– E com qual deles você aprendeu essa maldição? – perguntei pra saber qual definitivamente não podia lhe permitir mais acesso.
– Li o dragônico, apenas até a metade. – respirava outra vez para não explodir – E como foi antes de decidirmos nosso acordo... – ele começou a guardar as coisas que estava sobre a cama, separando-as – ...não pode me acusar de faltar com ele.
– Então minha intuição estava certa, não posso mesmo mostrá-los a qualquer um.
– A qualquer um não. Você... ainda não aprendeu a língua original, não é mesmo? – ele acha que sou tola?
– Acaso está querendo me ensinar apenas para ter acesso a eles?
– Fui tão óbvio assim?
– Foi!! – ele apenas riu e continuou guardando as coisas.
Ficamos em silêncio por um tempo. Lance terminou de guardar as coisas e acho que acabou esquecendo que eu estava lá, pois ele quase começou a despir-se para colocar a armadura. Desviei o olhar, constrangida.
– Desculpe. – ele dizia – Pode virar-se por um momento. – outra vez meu corpo agiu por si, me fazendo virar a cadeira para ficar de costas para ele – Já pode olhar outra vez. – ordenou depois de alguns minutos.
– Até quando vou ser sua boneca, hein...? Já me cansei!...
– Segundo o grimório, – ele terminava de ajeitar a armadura – “Lutka”, como é chamado o feitiço que usei, tem duração de até seis horas.
– Então... por seis horas... você vai poder fazer o que bem entender de mim? – (Mãe me guarde!).
.。.:*♡ Cap.44 ♡*:.。.
Lance
O efeito de Lutka sobre ela realmente a preocupava, o que me permitia acumular uma grande quantia de maana, quanto maior era a sua preocupação, mais ela rezava. E isso porque nem eram suas orações de verdade! Quase não acreditei na quantia de maana que ela liberou quando começou a rezar o tal terço dela (pensei que o colar só lhe brilhava quando era possuída).
Nós nos alimentamos de alguns dos doces que havia pegado no quarto dela e me aproveitei do efeito de Lutka para fazê-la dormir na cama. Provocá-la era realmente divertido _sorriso_. Sentei no chão, recostado ao pé da cama para dormir depois de encher a sacola que trouxe com alguns itens daquele lugar. Acho que dormi por umas cinco ou seis horas, considerando o óleo que ainda restava na lamparina. Era hora de voltarmos.
– Ei, acorda! Vamos voltar. – lhe mexia e ela parecia me ignorar, está mais que nítido que o feitiço acabou – Levanta! Eu não vou carregá-la.
– Só mais uns minutinhos... – disse ela se encolhendo ainda mais, pelos deuses...
– Terei que usar o Lutka em você outra vez? – isso a fez arregalar os olhos.
– NÃO! – ela se levantava com tudo, quase caindo (eu não passo mesmo tédio com ela _riso_).
Dei a sacola pra que ela a carregasse e abri a passagem, fechando-a logo após a saída da Cris. Ela ainda cambaleava, de sono talvez, por isso lhe segurei a mão para que não se afastasse de mim lá embaixo (ao menos ela não ia perceber o caminho). Aproveitei para largar os trapos que vestia antes nos túneis para fazê-los acreditar melhor que me escondia em Eel, ajudei-a a subir para a cerejeira após cercar nós dois com a minha ilusão, e continuei a guiando pela mão até chegarmos ao seu quarto.
Ela largou minha sacola e a Pedra Cintamani sobre a mesa e jogou-se na cama.
“A Pedra Cintamani... Sabia que ia fazer uso dela.” – chegou a chata (como sabia que eu tinha a pedra?) – “Posso estar fraca ainda, mas não deixei de ser uma oráculo, e por isso sei de muitas coisas.”
Oráculo ou não, ela ainda me irritava, comecei a ajeitar as coisas da sacola e Absol apareceu, sei lá de onde, com algo em sua boca e se aproximando da Cris.
“Ele conseguiu...” – (ele conseguiu o quê?) – “Veja você mesmo!” – lá vem ela de novo, mas Absol nunca traz qualquer coisa pelo que eu soube, então fui conferir.
Tive cautela ao me aproximar com ele rosnando, e peguei uma pulseira de contas próxima de sua mão (o que é isso?).
“Contas de Ovira.” – (as mesmas que dizem proteger contra feitiços como o Lutka?) – “Exatamente.” – (e porque Absol foi atrás dessa porcaria? A proteção delas é mito!) – “Só se o seu usuário nunca tiver experimentado este tipo de feitiço.” – (do que está falando?) – “Porque não tenta usar o Lutka nela outra vez, sob a proteção das contas? Não vai funcionar! Pois é preciso que o portador delas já conheça o efeito desse tipo de feitiço para que elas realmente lhe protejam.” – (você me fez testar o Lutka nela apenas para que as Contas de Ovira pudessem protegê-la de mim?) ela realmente consegue me irritar– “De você não, mas dos outros.” – (que outros?).
Ela apenas sumiu.
Cris
Eu o-di-ei quando ele se aproveitou desse tal de Lukta(?) para me fazer deitar na cama dele, e se não fosse pela ordem de dormir, nunca que teria conseguido fechar os olhos (o que é seu te espera Lance... pode acreditar! Deus nunca tarda). A cama não era das mais confortáveis, mas já dormi em lugares piores (quando o sono me vem, ele vem), eu só não dormi em pé ainda.
Quando ele me acordou para irmos embora, não queria me levantar, o feitiço acabou (Obrigada meu Senhor!!), sentia minhas pernas um pouco dormentes e ficar em pé agora não era uma boa ideia, mas quando ele me ameaçou usar outra vez aquela maldição em mim... Que se dane! Me levantei mesmo sabendo que podia cair dando um belo “não” para ele.
Ele me pões pra carregar a sacola, que ele tinha voltado a encher, enquanto mexia na “porta” do esconderijo e durante o percurso de volta. Minhas pernas ainda não tinham acordado e nem o sono me largado, por isso cambaleava (queria ter condições de guardar esse caminho, minha Mãe). Não tive outra escolha se não aceitar dar a mão a ele e receber ajuda para sairmos na cerejeira.
Acho que ele estava usando o poder dele, já que passamos por alguns guardas que nem nos deu atenção. Assim que entramos no quarto, larguei tudo o que carregava na mesa e me joguei na cama, voltando a dormir. Acordei com o som de pássaros e Absol ao meu lado, Lance dormia na poltrona e apenas a Pedra Cintamani permanecia sobre a mesa (o que e onde estão as coisas que ele me fez carregar?).
Fui ao banheiro e somente na hora em que ia lavar o rosto que eu percebi a pulseira que usava em meu pulso direito (desde quando a estou usando?). Deixei o banheiro a examinando.
– São Contas de Ovira. – Lance me observava ainda na poltrona.
– Pra que servem? Foi Absol quem me trouxe ou foi você que me deu? – um riso de escárnio lhe escapou (dependendo da resposta, jogo essa pulseira pela janela!).
– Absol lhe trouxe. – ele se levantava espreguiçando-se – E elas servem para lhe proteger de feitiços como o Lutka. – não tiro essa pulseira nunca mais!! – Que tal buscar o nosso café agora? Até dar a hora de todas as lojas abrirem? – ele ficou observando Eel pela janela (também, graças a minha localização... Tinha uma ótima visão da cidade e da floresta. Pena estar de costas para o mar) e eu acabei por lembrar.
– Você não esteve mexendo em meus grimórios de novo, né? – perguntei sem lhe tirar os olhos, aproximando-me da cama. Ele me sorriu outra vez, e sempre com malícia... (ele me arrepia!)
– Eu adoraria ao menos terminar de ler o dragônico, mas... – ele se afastou da janela com os braços nas costas – Preciso de sua permissão, não é verdade?
– Sim. – eu já os segurava nas mãos – E só por garantia... – peguei uma bolsa de ombro do meu guarda-roupa onde coloquei os grimórios – Os manterei sempre comigo agora. – (ainda bem que eles não pesavam!)
– E se alguém desconfiar? – ele estava preocupado comigo ou com os livros?
– Arranjo uma desculpa. – coloquei mais algumas coisas que me ajudariam com a “desculpa” – Vou buscar nossa comida. – saía – Não me demoro. – avisei antes de fechar a porta.
Durante o caminho nos corredores uma ideia me surgiu: será que Ezarel conhece proteções para impedir a entrada e saída de pessoas em meu quarto?
Anya
A Cris conseguiu me convencer a deixá-la sozinha com o Lance ontem depois que a Miiko informou sobre as fiscalizações nos quartos, mas não consigo parar de me preocupar. Mais tarde, quase tremi quando me encontrei com a Erika e ela me disse que a Cris havia saído. Reavaliei o acordo entre eles baseado apenas na palavra do outro.
Se Lance quisesse sair, a Cris ou o Absol deveriam acompanhá-lo... Será que ele fez alguma coisa para forçá-la a acompanhá-lo? Tive que ouvir a reunião inteira que os líderes tiveram naquele fim de tarde e, tinha alguém pesquisando necromancia em Eel? Que perigo!! Também acharam mincus, mas nada do Lance (isso eu já esperava, mas minha preocupação só aumenta) e ficou pior ainda quando ouvi Valkyon dizendo que a presença de seu irmão estava com interferências (pra onde que ele foi com a Cris?!).
Só consegui tirar breves cochilos durante a noite. Levantei quando comecei a ouvir lapys e crowmeros cantando (eles ainda não terminaram de migrar não? Ou são todos pertencentes à alguém?). Saí em silêncio deixando um bilhete pra minha mãe, explicando que comeria no QG (tenho que ver a Cris!) e segui o meu caminho.
Mal passei a entrada da Sala das Portas e a vi deixando os corredores (graças aos deuses...!), corri até ela com um enorme alívio no peito.
– O que foi que aconteceu? Aonde você estava? E... – cochichei – ...o Lance?
– Vamos pegar a comida primeiro,... – ela falava após um suspiro (estou me preocupando de novo) – ...no quarto eu lhe conto tudo. Já tomou seu café?
Fiz que não com a cabeça e seguimos até o salão onde Karuto já estava de pé.
– Bom dia minhas Rainhas! – Karuto nos cumprimentava (o apelido que Ezarel nos deu pegou mesmo pro Karuto _riso_).
– Bom dia Karuto. – respondemos juntas.
– Caíram da cama hoje! Acaso havia mincus nas camas de vocês?
– Não! Nada disso! – nós riamos (mas bem que gostaria que fosse esse o motivo) – Apenas estamos querendo aproveitar um momento de paz. – a Cris explicava, olhando para mim – Tudo bem se nós duas comermos em meu quarto? Anya me disse que não comeu ainda e... prefiro não me arriscar.
– Não se ariscar a encontrarem aquele vampiro, estou certo? – perguntou o Karuto com cara de poucos amigos e nós só assentimos. Ele soltou um longo suspiro – Só um momento. A Cris eu já sei o que servir, e você Anya?
– Pode ser o mesmo que ela.
– Ok então. Dois leites com chocolate e um acompanhamento surpresa. – ele sorria ao entrar na cozinha e aguardamos ansiosas.
Notei a pulseira que ela usava – E essa pulseira? – ela apenas me disse um “depois” como resposta, já que Karuto nos entregava a comida. Pegamos, agradecemos e seguimos para “a gaiola dourada” o mais silenciosas possível. Fiquei abismada com o que nós duas vimos ao nos aproximarmos do quarto.
– Mas o que é que você está fazendo Becola?!?
Nevra
Ainda não engoli o fato do Lance ter me escapado (pra onde será que ele foi?). Com certeza ele arranjou um jeito de fazer a Cris acompanhá-lo e, ou a Cris é muito boa em enganar os outros ou ela estava sob o efeito de algum feitiço para Erika não perceber nada de estranho com ela, considerando o estado em que ela ficou depois da reunião.
Todos (menos eu) que participaram das fiscalizações estavam aliviados e receosos ao mesmo tempo quando repassávamos os resultados para a Miiko. Aliviados por “ninguém” estar escondendo o Lance e receosos por “ninguém” saber onde ele de fato estava. Como esperava, Ezarel exigia a expulsão do absintiano que pesquisava necromancia e Miiko considerava fazê-lo. Suei quando Valkyon afirmou do nada que havia uma interferência na presença do outro dragão e da Cris (a Cris tinha-nos deixado uma desculpa, já o Lance...) o que me deixou ainda mais preocupado.
Ficou decidido então que aplicaríamos a ideia da Cris para que o baile (que seria daqui dez dias, contando a partir de amanhã) ocorresse o mais tranquilamente possível. A noticia seria dada entre nove e dez horas da manhã de amanhã, e o vanires que se ofereceu para ser o “falso Lance” iria tomar seu lugar na prisão durante a madrugada, acompanhado de Ezarel, Valkyon e eu.
Sabia que alguém havia ficado escutando nossa reunião e, como Karenn já estava fazendo parte dela, só havia mais uma pessoa que pudesse estar interessada nela. Ao deixarmos a Sala do Cristal, pude ver Anya afastar-se. Só não lhe fiz perguntas por que pela cara dela, estava tão perdida e nervosa quanto eu (nem ela sabe onde eles estão?!).
Na prisão, durante a madrugada, Valkyon e eu colocávamos as correntes em Almir, logo após ele ter tomado as poções que passaria a receber misturada à comida para manter o disfarce, quando Valkyon voltou a reagir do nada.
– Meu irmão voltou.
– O quê?! – todos nós olhamos para ele.
– E não só ele. Parece que a Cris também está voltando e ela... está perto de nós? – aquilo não me era surpresa. Graças ao bilhete que ela deixou, todos imaginaram que ela pudesse estar com as cheads quando ele deixou de senti-la com clareza, só o Lance era preocupação de todos.
– Vou tentar verificar! – disse deixando-os às pressas (se eu puder interceptá-los antes de alcançarem os quartos...)
Corri por aquelas escadarias o mais rápido e imperceptível que conseguia para não alertar aqueles dois. Confiei em meus sentidos para procurá-los: nos meus ouvidos para os seus passos (que é o que havia menos) e no meu olfato (o cheiro atraente dela era inconfundível!). Pro meu azar, eles já estavam nos corredores.
Tentei alcançá-los, mas não consegui. Ouvi a porta ser trancada bem diante de mim (mais que $@*%&*!!). Havia perdido não uma, mas duas vezes para aquele lagarto gelado. Tentei espiar pela fechadura, aproveitando que a porta ficava no meio do quarto e pude vê-la na cama, enquanto Lance mexia em alguma coisa na mesa (eu ainda pego esse canalha!!!).
Voltei à prisão para dizer aos outros que não havia achado nada e eles estavam tão chateados quanto eu.
– Onde está Valkyon? – perguntei ao dar falta dele.
– Foi tentar se encontrar com a Cris para lhe perguntar o que foi que ela fez para se esconder dele entre a floresta e o QG. – me disse Almir.
– Nevra, é impressão minha ou você já esperava que a Cris aparecesse junto do Lance? – me perguntou Ezarel cochichando.
Tentei disfarçar. – Mas do que é que você está falando?
– Tem a ver com o que me contou sobre ela esconder algo? – ele continuou sussurrando, próximo de mim.
– Me consiga uma “poção da verdade” que realmente funcione e saberá. – respondi a ele no mesmo volume.
Deixei a prisão novamente em silêncio, dessa vez para ir atrás de Valkyon. Disse-lhe que tinha visto a Cris no quarto enquanto procurava por Lance, o que o deixou desconfiado de mim (qual é Valkyon!). Segui com a ronda por Eel, já que era minha noite, pensando em um novo plano para dar um fim naquele acordo inaceitável sem prejudicar ninguém.
Amanheceu e resolvi voltar para dentro do QG. Vi a Cris e a Anya se encaminharem para o salão principal, ou seja, Lance estava sozinho. Corri até o quarto da Cris (será que ele falará sozinho hoje de novo?), qualquer informação que eu pudesse obter era preciosa. Comecei a escutar assim que fiquei diante da porta.
Eu não o ouvia falando sozinho, mas ainda ouvia barulhos muito baixos lá dentro. Dei uma espiada rápida pela fechadura e vi Lance arrumando alguma coisa na mesa e entrando no banheiro em seguida. Fiquei observando por mais alguns segundos.
– Mas o que é que você está fazendo Becola?!? – quase caí para trás de susto. O treino que dei a Anya foi melhor do que eu esperava! Seu “passo fantasma” estava perfeito (onde foi que a Cris o aprendeu também?).
– Cris! Anya. – ajeitava os cabelos para disfarçar minha surpresa – Não esperava encontrá-las assim. – elas me olhavam desconfiadas.
– O que planejava espiando meu quarto pela fechadura? – pensa Nevra...
– Queria lhe ver Cris, saber se estava tudo bem com você.
– Espiando-a pela fechadura?
– Não sabia se ela estava acordada ou não, e depois de anteontem... preferi não me arriscar outra vez. – elas ainda estavam nervosas e eu compreendo – Mas tudo o que vi foi um quarto vazio. – acho que elas relaxaram um pouco...
– E se eu estivesse lá dentro, sei lá, ME TROCANDO. – acabei coçando a cabeça sem graça (diacho, como é que eu fui me meter nisso?).
– Pararia de espiar na hora e esperaria um pouco antes de lhe bater. – continuava sem graça e elas, sem paciência ao que podia perceber.
– Já viu que eu estou bem... Bem irritada com você! Mais alguma coisa?
– Conseguiu achar o que queria para as suas aulas de alquimia?
– Consegui. – direta e seca.
– Como fez para voltar sem ser vista? – responder as perguntas de Valkyon sobre ela (com o Lance) também era importante.
– Usei os túneis subterrâneos. – sem mentiras (acho que irei lhes dar uma olhada depois).
– Sozinha?
– Eu nunca estou sozinha. – e continua sabendo como usar as palavras... – Algo mais?
Não tinha mais como fazer perguntas sem levantar suspeitas – Não. Perdoa-me por minha nova intromissão. – fiz-lhes uma longa reverência e saí fora de lá, antes que me fosse tarde.
Lance 2
Depois que a Cris saiu, resolvi dar uma nova olhada nos pergaminhos de vestimenta que a Anya trouxe e na lista de materiais faltantes. Aproveitei para fazer algumas mudanças (eram minhas roupas afinal) e depois ajeitei tudo para que pudéssemos comer. Estava no banheiro quando comecei a ouvir conversas do lado de fora (aquela praga de vampiro estava espionando?).
“Nevra não lhes será um problema.” – apareceu a outra praga (e como que ele não será um problema?) – “Porque ele está morrendo de medo que você faça algo com a Cris, ou pior! Medo que a leve embora de Eel.” – continuava ouvindo a conversa vinda de fora (ele já sabe que eu estou aqui?) – “Ele ouviu o acordo que vocês fizeram e está tentando dar um jeito de acabar com ele. Sem vocês descobrirem...” – (eu devia era levá-la embora de Eel assim como ele está temendo.) – “Mesmo já lhe tendo frustrado os planos duas vezes?” – (quando?) – “Ao escapar desse quarto com a Cris lhe cobrindo e ao conseguir retornar para cá antes dele os flagrarem.” – então, já tínhamos um placar de 2x0 pra mim _sorriso_ (mas ele pode acabar nos delatando.) – “Não o fará.” – lhe ergui uma sobrancelha e a conversa lá fora parecia ter terminado – “Não sem antes adquirir provas e garantias de segurança para a Cris, Anya e todos mais de Eel. Ah! Ele também está tentando esconder isso das meninas para automaticamente esconder de você.”
– Chegamos. – Cris entrava com Anya ao seu lado, ambas claramente nervosas.
“Pense bem... Nevra faz parte da Reluzente e é responsável pelo controle de informações dentro e fora de Eel. Não é melhor tê-lo do nosso lado mesmo que secretamente?” – ela sumiu de novo (essa negra...) mas, as suas palavras... hum...
.。.:*♡ Cap.45 ♡*:.。.
Cris
Aquele Nevra... ARGH! Está passando cada vez mais dos limites. E vai acabar descobrindo sobre o Lance se continuar nesse ritmo! Preciso de férias, e dessa vez, férias de verdade _suspiro_. Depois que Anya e eu entramos, Lance não pareceu querer conversar sobre o que aconteceu (e nem nós duas também). Dividimos toda a comida em três e comemos enquanto repassava à Anya o que Lance havia me obrigado a fazer.
– E além da Pedra Cintamani, o que mais você e a Cris trouxeram desse seu esconderijo nos túneis?
– Apenas repus o que eu usei para o Lutka. Não estou a fim de ser cobrado por aquilo. – ele terminava de tomar o leite dele (então era isso o que ele me fez carregar...).
– E essas Contas de Ovira vão mesmo protegê-la de feitiços como esse aí? O poder delas não é um mito?
– Acha mesmo que o Absol ia ter o trabalho de trazer algo para ela se realmente não fosse útil? E além do mais, graças a um ser que conheci, e que sabe até demais pro meu gosto, sei que essas contas realmente protegem, desde que seu usuário já tenha sido vítima uma vez, como já fiz ontem.
– E que tipo de ser lhe contou isso? – acabei por perguntar.
– Uma espécie de vidente. Vocês não tem uma rotina pra seguirem hoje não?
– Está tentando se livrar da gente? – perguntou Anya.
– Estou tentando não dar motivos para aquele sanguessuga desconfiar de nós, caso ele realmente esteja apenas obcecado por ela... – ele me apontava o polegar – como vocês me disseram todos acreditarem.
– Acho que pode ter razão neste ponto. – disse corada.
– Ô Cris... – lá vem a Anya! – Qual é o problema de um homem e uma mulher ficarem sozinhos juntos? – quase engasguei com o lanche que Karuto nos deu e Lance pareceu corar de leve (será que ele era tímido com este tipo de assunto, por isso não me fez nada ainda?).
– Porque você está perguntando isso Anya? – Lance a questionava (por favor fica caladinha!).
– Bem... – (já era!) Anya explicou todo o acordo que ela conseguiu obter comigo ao se aproveitar quando eu não estava em condições, e escondia o rosto que me queimava. Falou até a pergunta que ela tinha de responder! – ...Minha mãe sempre me disse que um homem e uma mulher só podem ficar juntos sozinhos se forem casados; e outro dia, consegui perturbar minha mãe o suficiente para ela dizer que apenas marido e mulher podiam ter um bebê, então...
– Para que um bebê nasça é preciso que um homem e uma mulher fiquem juntos e sozinhos, é isso? – ele lhe completava o raciocínio.
– Exatamente! Eu estou certa? – vi Lance dar mais um de seus sorrisos maliciosos que me gelavam a espinha. E pro aumento do meu desespero (ele sabe falar japonês?!?!) seja lá o que ele disse à Anya, deixo-a muito contente. Ela lhe respondeu alguma coisa em resposta à cara séria que ele havia feito no final na mesma língua e correu pra fora do quarto dando um “Sayonara” para nós (meu Deus, misericórdia!).
Olhei meio receosa para ele – O que é que você disse para Anya...? – ele me sorria cúmplice.
– Apenas disse à ela que estava no caminho certo para a resposta da tal pergunta e... se ela conseguisse me convencer... faria companhia à ela para ver esse... animê? É isso?
– É _suspiro_ é isso. – ele sorria de canto (preciso lhe falar sobre o que se trata esse animê em particular depois) – Escuta... – ele me prestou atenção – ...quando eu recebi este quarto...
– O quê tem ele?
Coragem Cris... – Ele era cheio de proteções que foram removidas e pensei em pedir à Ezarel para recolocá-las nele... Algo contra?
– Que tipo de proteções? – ele me erguia uma sobrancelha.
– Contra intrusos... fugitivos... feitiços... – falei rápido.
– E você está querendo a recolocação dessas proteções por causa do vampiro ou de mim?
– Por causa do Nevra e de você. – ele recostou-se na cadeira para refletir, demorando-se em me responder – E então? Algum problema?
– Não. Realmente é melhor aumentarmos as nossas garantias. – aquilo me deu um pouco de alívio – Melhor você ir logo para a sua rotina.
Leiftan
A Miiko fez o pronunciamento sobre a “captura” de Lance no momento combinado e a Cris estava certa, tirando aqueles que sabiam quem era o “Lance” da prisão (e que iriam fazer parte da segurança secreta durante o baile) todos ficaram extremamente aliviados com a noticia (ao menos por hora...).
Nevra resolveu vasculhar por conta os túneis outra vez e acabou encontrando as roupas que pertenciam ao Lance quando ele estava na prisão, e ficou decidido que vigiaríamos todas as entradas e saídas dos túneis, além de rondas periódicas dentro deles, com atenção redobrada (todo cuidado é pouco com o Lance).
Recomecei meu trabalho de mensageiro e faz tudo da Miiko, fui para o laboratório de alquimia deixar e recolher alguns relatórios com Ezarel e quase tomei um susto. Ezarel, um dos caras mais organizados que já conheci na vida no que se refere à alquimia, estava cercado por uma confusão de livros.
– Mas o que é que você está fazendo Ezarel? – me aproximei desviando de alguns livros.
– Leiftan? Oi! Pra quê veio? – ele mal tirava os olhos do que lia.
– Deixar alguns documentos e buscar os relatórios que não entregou ainda. – notei várias anotações sobre alguns livros – O que está pesquisando?
– Nevra me fez um comentário que tomei como desafio.
– E esse desafio seria...
– Uma poção da verdade, – isso me surpreendeu – já que ninguém conseguiu criar uma ainda.
– Não exatamente... – deixei escapar por conta de minha surpresa tapando a boca logo em seguida, Ezarel passou a me olhar sério.
– O que você quis disser com isso?
– Bom... – eu ainda estou tentando me redimir com a Erika e se isso ajudar... E foi um pedido de Nevra? – Lembra da explosão que acabei causando no laboratório uns dois meses antes da chegada da Erika em Eldarya?
– Aquela que deixou o laboratório interditado por mais de uma semana?!? – ele era o que tinha ficado mais furioso com aquilo.
– Essa mesma.
– Como esquecer!?! Você disse que estava preparando uma poção para uma missão que pretendia fazer, com Amaya ao seu lado e, que graças a um besouro iridescente, Amaya saiu atrás dele derrubando e misturando tudo o que tinha em seu caminho até aquilo acontecer!
Amaya ficou furiosa comigo por quase um mês com essa mentira – Na verdade, isso foi uma desculpa que eu dei pra esconder a verdadeira poção que tentava fazer.
Ele me olhava com uma mistura de fúria e curiosidade – E que poção você estava tentando fazer...?
– A mesma que você está pesquisando.
– Me mostre. – pediu-me ele estático.
Cris 2
Não consegui encontrar Ezarel para perguntar-lhe sobre as proteções então decidi ter a minha sessão de treino antes de fazer as compras para o Lance e ainda bem que não deixei de colocar um bom agasalho depois que saí para fora (mas que friiiiio!!!!).
O treino dessa vez foi vendado, primeiro apenas com Valkyon, e depois com Shiro (Shiroiyoru) e Réalta, que acabaram ficando amigos meus nos treinos. Valkyon chegou a me perguntar sobre a ausência de Absol nos treinos e eu disse que ele estava me fazendo um “favor”. Como ele ficou desconfiado, tive que contar que flagrei Nevra me espionando (ele ameaçou colocar uma coleira no Nevra _riso_). Durante o treino, já tinha começado a me defender melhor, mas ainda tinha um longo caminho para o nível que eu desejava alcançar.
Na hora do almoço, o salão estava lo-ta-do! E foi a desculpa perfeita para pedir ao Karuto que me permitisse almoçar em meu quarto. Dividi a comida com o Lance, conversamos, me troquei, e fui às compras. Quando achei o último item que precisava, estava ficando tarde; minhas mãos cheias de sacolas, e estava quase sem ouro (é muito mais barato pagar com ouro do que com maana. Dureza me será repô-lo!). Parecia que estava carregando uns 50kg em cada mão, e olha que eu amarrei as sacolas ao pulso de modo a fazer tudo parecer mais leve. Não via a hora de me livrar daquele peso e tomar um merecido banho, Maaas um certo vampiro quis intervir em meus planos...
– Estou vendo que você teve um dia bastante cheio no mercado. – ele se aproximava de mim, cheio de charme (agora nããããão...). Estávamos no corredor do primeiro andar da torre – O que tanto tem nas sacolas?
– Itens para minhas aulas de alquimia, por que. – ele não parava de chegar perto.
– Parecem pesadas, não gostaria de ajuda para carregá-las?
– Não obrigada. Dou conta sozinha. – me virei pra seguir caminho e do nada ele apareceu bem diante de mim (meu Jesus, O QUE ELE ESTÁ TRAMANDO?!?), acabei dando um passo pra trás.
– Sabia que... – me afastava enquanto ele se aproximava – O seu cheiro está especialmente atraente agora? – acabei ficando contra a parede.
– E quanto ao toque de “mantenha distância” que a Karenn me falou? – não estava conseguindo desamarrar as sacolas para usar as mãos pra me defender (SOCORRO MEU DEUS!!).
– Também está aí. – impressão minha ou seus olhos brilhavam? (ALGUÉM!!!) Ele me cercou usando as mãos e estava próximo demais para um chute – Mas o lado atrativo está... com mais efeito.
Sua voz parecia mais doce e suave que o normal, e a forma com que ele me olhava naquele momento me levou o coração a boca. Estava tão nervosa que a minha voz tinha dificuldades pra sair e acabei por fechar os olhos quando lhe senti colocar uma das mãos no meu pescoço. Esperava o pior. Mas... o senti se afastar às pressas de mim com quase um grito. Abri os olhos e o vi sacudindo a mão que havia pegado em meu pescoço como se tivesse tocado em algo que não devia, na hora não me toquei, mas depois eu me lembrei: meu terço de prata, estava exposto hoje.
Nevra
Eu só estava conseguindo me dar mal com a Cris, então pensei em me concentrar no treinamento de minha guarda hoje. Anya chegou contente para o treinamento (o que será que aconteceu?), mas perdeu o sorriso assim que me viu.
Durante o treinamento (onde Anya preferiu fazê-lo com a minha irmã) houve um momento em que ela me questionou se Contas de Ovira funcionavam contra poderes vampíricos (a Cris tem Contas de Ovira?!), eu lhe disse que elas só protegiam contra o nosso “controle” e, se o dono das contas já tivesse sido afetado pelo menos uma vez. “Então Absol fez mesmo bem...” a ouvi dizendo em um sussurro com um sorriso largo no rosto ao retornar pra junto da Karenn (é, a Cris ganhou Contas de Ovira...).
O dia seguiu e eu não vi mais a Cris hoje. Acho que irei ficar de olho no que acontece no quarto dela somente de madrugada, fazê-lo durante o dia só me ferrava! Eu ainda nem tinha acessado a Sala das Portas quando comecei a sentir... um cheiro inesquecível que estava especialmente forte e mexendo com a minha cabeça... era o cheiro da Cris. O sentia mais sedutor e atraente como nunca jamais tinha visto igual, assim como aquela sensação que me gritava “fique longe”. Talvez Ezarel tenha um pouco de razão, talvez eu realmente esteja querendo provar o sabor dos lábios dela e por isso cometia tantas gafes ao querer ajudá-la com o Lance.
A vi entrando nos corredores com as mãos sobrecarregadas, corri para alcançá-la (se não puder usar as mãos, tenho mais chances de conseguir o que quero e ainda sair inteiro). Usei todo o meu charme para assustá-la o mínimo possível, ela ainda tentava escapar de mim, mas consegui cercá-la. Quanto mais próximo ficava da fonte daquele aroma, menos conseguia controlar meus instintos, e as reações dela me deixavam cada vez mais fascinado.
Eu teria a beijado, dando-lhe um beijo que ela nunca esqueceria... se eu não tivesse sido obrigado a me afastar com algo queimando dolorosamente a palma de minha mão que estava segurando-lhe a base do pescoço (mas o que é que...???).
– Me diga Nevra... – não parava de analisar a minha mão e ela parecia falar tranquila (será que foi ela?) – ...alho é capaz de afastar os vampiros?
Não pude evitar de deixar uma risada me escapar – Pão de alho é um dos meus favoritos!
– E a luz do sol? Não o de Eldarya, mas sim o da Terra.
– Digamos que somos meio alérgicos, mas como iria trazê-lo?
– Agua benta!?
– É alguma nova bebida da Terra? – brinquei.
– E... Prata abençoada...? – prata?
– Eu não sei o que você quer dizer com prata abençoada, – Karenn surgia de trás de mim quase me fazendo dar um passo na direção oposta a ela – mas prata energizada é capaz de nos queimar tanto quanto o sol terráqueo. – Karenn exibia o mesmo sorriso da Cris.
– O que faz aqui Karenn? – segui com o meu olhar para Cris que ainda sorria e prestei-lhe atenção no colar negro que ela usava – Esse seu colar, é de PRATA?
– Prata pura... – respondia ela com doçura (não acredito). – Metais não costumam se dar bem com a minha pele...
– Anya me contou o que você fez mais cedo irmão querido. – voltei a olhar pra Karenn – E ela me pediu pra tentar dar um jeito em você! Só não esperava que o cheiro da Cris fosse capaz de nos afetar tanto assim... – ela dava de ombros e eu voltava a analisar minha mão meio que sem saber o que fazer – Anda, vem comigo. – Karenn me puxava pelo pulso – Vamos até a Ewelein para tratar disso e... Cris, vá logo tomar um banho para amenizar o seu cheiro com sabão. Nevra e eu não somos os únicos vampiros por aqui sabia!
– Pode deixar. – respondeu ela sumindo pelos corredores.
MAS QUE INFERNO!!
Lance 2
Depois que a Cris me deixou sozinho com Absol, não sabia bem o que fazer. Comecei produzindo uma pomada analgésica com parte dos itens que trouxemos do esconderijo, pois já começava a sentir dores por dormir sentado. Depois resolvi assistir ao treinamento da Cris pela janela (é melhor não abaixar minha guarda com ela...), ela era boa com a espada.
Durante o almoço, ela me contou que não havia encontrado o elfo e me explicou do que se tratava aquele tal de Hellsing. Ela aproveitou que Anya não estava e nem tinha uma cópia da chave ainda para me mostrar o primeiro dos dez episódios que ele tinha. Achei o conteúdo bem interessante (não esperava aquele lado sombrio de alguém tão defensora da vida), mas definitivamente não é algo que recomendaria à uma criança (Anya vai ter trabalho para me convencer à acompanhá-la).
Acabada a refeição, ela se livrou da roupa de treino e saiu para comprar os itens da lista de alquimia e para encomendar a chave de Anya. Tentei acompanhá-la pela janela lá fora, mas não consegui. Quando ela retornou, estava feliz (feliz demais pro meu gosto) mesmo parecendo exausta.
– O que foi que aconteceu? – ela abriu ainda mais o sorriso.
– Descobri que trouxe uma proteção anti-vampiros comigo da Terra, sem saber.
– Como?? – ela me contou toda a historia enquanto se livrava das sacolas, em detalhes.
Não sei bem o porquê, mas tive uma vontade enorme de arrancar a cabeça daquele vampiro. E pelo o que ela contava, ele usou o “controle” nela (ainda bem que ela estava com as contas...). Aproximei-me dela enquanto ainda se libertava de todas as sacolas para examinar lhe o colar e ela se afastou por reflexo.
– Posso? – apontava-lhe o colar e ela me permitiu tocá-lo – Então... – eu sentia a energia dela fluindo na joia – O seu “terço” é feito de prata, e que está energizada. – ela sorria de leve.
– Provavelmente tenho muita acidez no sangue e no suor, pois quando o coloquei em meu pescoço pela primeira vez, ele era mais branco que qualquer metal novo.
– E eu que pensava que ele fosse de ouro negro ou rotinide...
– Rotinide?
– Pode ser que na Terra ele tenha outro nome... Você provavelmente foi quem energizou a joia. Deve ter rezado muito com ele enquanto emitia maana na caverna.
– Acha que eu caí na floresta para ganhar tempo antes de vir a Eel? – ela se livrava da última sacola.
– Não é impossível. – por um instante ela pareceu preocupada – Melhor ir logo esconder o seu cheiro natural, não?
– Cuida das suas coisas enquanto eu tomo banho? – ela já começava a tirar a camada de roupas extras e eu apenas comecei a separar tudo.
Estávamos no meio de nossas ações específicas quando bateram na porta. Era Anya, e pelas batidas usadas, estava acompanhada. Fui para um dos cantos do quarto e Absol foi atrás da Cris para que ela abrisse a porta. Ela deixou o banheiro enrolada em uma toalha e me olhando séria. Em resposta, apenas passei para trás do biombo que tinha às minhas costas. A ouvi destrancar a porta.
– O que houve Anya? Eu estava no banho!
– Foi mau aí, mas é que chegou trabalho para você.
– Trabalho? – (como é?).
– Sinto muito por interromper o seu banho,... – a voz era de um homem, mas ao menos não era do sanguessuga – ...mas capturamos dois contaminados agora a pouco.
– Ah, entendi... – eles ainda estão vindo? – Aonde eles estão agora?
– A senhorita Karenn nos repassou que você estaria muito cansada provavelmente então, para lhe facilitarmos, os estamos levando para a Sala do Cristal.
– Agradeço a consideração. – vão enrolar até quando? – Assim que estiver arrumada irei descer. – finalmente ela voltou a trancar a porta – Já pode sair.
– Porque se preocupa com esses contaminados? – perguntei retornando para a mesa e ela já havia retornado ao banheiro.
– Pensei que tinha ouvido o discurso da Cris pro Ezarel quando ela esteve lá pela primeira vez. – Anya conferia os itens ainda ensacados sobre a mesa.
– Fala daquele papinho meloso sobre respeito à vida? – voltei a terminar de separar as coisas.
– Não me banque o Ezarel, por favor... – ela deixava o banheiro já vestida (hah. Quando ela quer, ela é rápida).
– Não me compare com aquele elfo engraçadinho.
– Então não aja como ele! Nada é capaz de substituir uma vida.
– Se não fosse por mim, você nem teria mais uma vida para continuar os ajudando. – ela suspirava como que cansada (ainda quero eliminar cada raça faery que agiu contra os dragões).
– Tentarei ser rápida. Anya, você me acompanha ou vai ficar?
– Vou junto! – criança... largou tudo assim que a Cris perguntou se ia ficar.
Elas saíram logo depois da Cris pegar alguma coisa de dentro das sacolas (deve ser a chave da Anya). Acho que foram uns quarenta minutos que se passaram depois que a Cris chegou acompanhada de Anya, Erika e... meu irmão (isso vai ser um problema...).
– Deixe que eu pego a chave dela. – era a Erika.
Ouvi o som da chave destrancando enquanto me escondia atrás do biombo, mas se eu conheço o suficiente dos poderes de Valkyon, isso não ia bastar.
“Não se mecha.” – (o que está fazendo Negra?) ela me grudava ao pescoço – “Te ajudando.” – a porta abriu – “Estou enfraquecendo sua presença para que seu irmãozinho não o descubra.”
Revirei os olhos para ela e passei a prestar atenção no que acontecia.
– Acho melhor não a chamarmos mais ao final do dia.
– Erika, eu estou bem!
– Tão bem que precisou ser carregada por seu chefe para poder retornar ao quarto. – porque vê-la nos braços de meu irmão me incomoda?
“Está com ciúme!?” – (não enche!) – “Hihihihi!”
Cris 2
Mal entrei na Sala do Cristal e eu já fui assumida pela minha pedra como sempre. Os contaminados eram duas mulheres, uma com asas membranosas e pele pálida e a outra com asas ao invés de braços e garras no lugar dos pés (a segunda deve ser uma harpia), elas estavam sendo contidas por Jamon e Valkyon que, após a minha entrada, soltava-as devagar. Ewelein, Erika, Karenn e Miiko também estavam presentes.
Dessa vez eu as abracei juntas, e não um de cada vez como sempre tem sido até agora. Os fragmentos que lhe deixavam os corpos se fundiram direto com o Grande Cristal, assim como os fragmentos que ainda estavam em meu colar (não tinha ido ver o Cristal depois dos cinco últimos...). Acabado tudo, Erika e Ewelein correram até as duas para lhe conferirem a saúde e eu, comecei a perder as forças nas pernas sentando com tudo no chão e quase derrubando Anya que se pões do meu lado. Meu corpo havia alcançado o limite. Ewelein ainda me examinou um pouco enquanto aquelas mulheres eram levadas para a enfermaria por Jamon e Karenn (Karenn é mais forte do que imaginei!).
– Eu estou bem Ewelein. – lhe explicava – Apenas cansada. Uma boa noite de sono e ficarei normal outra vez.
– É melhor que Valkyon a carregue até o quarto... – (oi?!?) – ...e amanhã cedo, Ewelein pode te examinar melhor. – declarava Miiko. Óbvio que eu e Anya ficamos preocupadas.
– É uma boa ideia, Miiko. – (não diz isso, Erika...) – Valk? – em silêncio ele me pegou em seus braços (como ele era quentinho!). Eu até tentei resistir à ideia (que me deixou vermelha), mas ele apenas me lançou o mesmo olhar que Absol me dava para dizer “obedeça!” (fala sério meu Deus!) – Não se preocupe Cris. – acho que a Erika notou o porquê do meu corar – Eu vou junto de vocês.
Saímos. Preocupada com a possibilidade de Valkyon perceber o irmão em meu quarto, tanto Anya quanto eu tentava convencer o casal a me deixar seguir só com Anya, mas não adiantava. “Miiko encarregou a mim e a Erika a cuidarmos de você e é o que faremos” confessou Valkyon durante o percurso (Senhor, forneça o milagre por favor... Desde já agradeço!).
.。.:*♡ Cap.46 ♡*:.。.
Ezarel
Não sei se sinto raiva ou gratidão com o que o Leiftan disse, a verdade sobre aquela maldita explosão que ele causou...
– Me mostre. – foi tudo o que falei com o choque de saber que já existia uma poção da verdade.
– Venha comigo até o meu quarto então. – segui-o.
Estando nós dois lá dentro, Leiftan foi até a estante e, detrás dos livros, ele tirou um pequeno livro de aparência antiga. – Que livro é esse que estava escondendo?
– Este é meu livro de encantamentos secretos aengel, meu grimório por assim disser. – ele lhe folheava as páginas.
– Grimório aengel. – aquilo me parecia piada.
– Erika só está viva ainda graças a este livro. – sério isso? – Foi desse livro que eu tirei o ritual que me permitiu salvá-la quando o meu ex-sócio quase terminou de destruir o Cristal... Achei! – ele me estendia o livro aberto – Foi essa a poção que eu estava tentando recriar naquele dia.
– Deixe-me ver. – peguei o livro que estava escrito na língua original e, Santo Oráculo! Numa classificação de um a dez, com o dez sendo o mais difícil, aquela poção era cem! – Mas essa poção é quase impossível! Tem certeza que ela funciona?
– Porque acha que me arrisquei fazê-la? E nem você consegue reproduzi-la!?
– Eu disse que era quase impossível. Não há poção neste mundo que eu não consiga produzir. E não vai ser essa a primeira. – o problema era o tempo.
– Devolva o livro, irei copiar a receita para você. Prefere traduzida ou pode ser na língua original?
– Copie exatamente como está escrito. – lhe devolvi o livro – Pelo pouco que vi, tenho quase tudo o que preciso já no laboratório, o resto encontro no mercado.
– E qual seria o problema maior? – ele não tirava os olhos do papel em que escrevia.
– O tempo de preparo. Muitos dos elementos precisam passar por um processo antes.
– Processo? – ele parou com a cópia – Que tipo de processo? – estava explicado o motivo da explosão.
Contei-lhe quais itens tinham de receber uma preparação antes de serem utilizados para evitar “acidentes”. Foi a pressa dele que quase mandou o meu laboratório para os ares naquele dia. Depois que ele terminou de me copiar a bendita fórmula, fui ao mercado eu mesmo atrás dos itens faltantes (não vou arriscar repetir o mesmo erro de Leiftan por usar ingredientes de má qualidade) e depois voltei ao laboratório para prepará-los.
Estava tão concentrado naquela poção nível S Arcano, que nem percebi o dia e a noite acabarem. Era a pré-preparação de meu último ingrediente que terminava, quando senti uma mão cadavérica congelada em minha nuca. Gritei de espanto (como é que pude baixar a minha guarda desse jeito?).
Cris
Chegamos ao meu quarto. Eu ainda tentei uma última vez ser deixada sozinha com Anya, mas não dava. Eu já havia entregado a cópia da chave à Anya, porém o combinado era de manter isso em segredo, então Erika pegou a chave que eu tinha passado a carregar em meu pescoço por baixo da roupa (como Lance parecia decente, ali ele não ia mexer. Espero.) para destrancar e entrarmos (oh meu Jesus...!).
Entramos e Valkyon foi direto me deixar na cama, de onde vi Lance atrás do biombo usando os seus dons e... Valkyon não o estava percebendo? (mas ele não havia me reparado assim que entrou na enfermaria naquele dia?). À pedido da Erika, Valkyon ficou esperando do lado de fora enquanto ela e Anya me ajudavam a colocar um pijama. Claro que encarei o Lance por um segundo e, mesmo ele parecendo estar impaciente, ele entendeu que era pra ficar de costas pra mim, e fiz o que pude para Erika sair logo também.
“Todos” saíram acompanhados de Absol, que pegou a chave passada por baixo da porta depois de trancada e entregou-a a mim. Dormi quase que na hora e por isso não pude conversar com o Lance, estava de fato cansada. Amanhecido o dia (que parecia estar mais frio que ontem), vi Absol dormindo do meu lado e Lance dormindo na poltrona outra vez. Sua expressão ao dormir não me era muito agradável.
Fui ao banheiro já carregando uma troca de roupa, quando voltei, Lance se espreguiçava e o estalar do pescoço dele não me agradava.
– Bom dia, está tudo bem com você? – falei receosa com ele ainda estalando o pescoço.
– Posso dar um jeito nisso. – respondia ele inexpressivo, prova que estava certa em me preocupar.
– Depois de arranjar-lhe roupas, vou tentar lhe conseguir nem que seja um colchonete para que possa dormir melhor. – o que eu fiz enquanto cuidava do Chrome foi tomado pelas cheads bebês, por isso ficou na caverna.
Ele me sorria com escárnio – Não é necessário.
– É sim! – paciência meu Senhor... – Sei o valor de uma boa noite de sono para a saúde física e mental, e uma poltrona não fornece o mesmo que uma cama.
– Preocupada que eu faça algo por conta de mau humor?! – ele me erguia uma sobrancelha.
– Pode ser... – acho que estou me acostumando a conviver com ele... e outra... – Me diz Lance, porque foi que o Valkyon não o descobriu ontem? – aquilo ainda não me fazia sentido e aquela cara vazia com a minha pergunta...
– Acho, que não é errado dizer que alguém me protegeu.
– Alguém, quem? – ele ficou calado com a mesma expressão, respirei fundo – Não importa. Contando que tudo continue bem... – (obrigada Senhor pelo milagre.)
– Vai tentar falar com o elfo de novo? – ele dobrava a coberta por ele usada enquanto eu arrumava minha cama.
– Vou sim. Querendo mudar de ideia? – ele não respondeu nada e o som da porta sendo destrancada me chamou a atenção.
Anya
Ontem à noite eu suei frio. Ainda não entendi o que foi que aconteceu pra que ninguém desconfiasse do Lance ali dentro, mas agradeço à todos os deuses por tudo ter corrido bem. Achei melhor eu mesma levar a comida da Cris pra ela, ao invés dela ter de descer para subir outra vez e assim alimentar o Gelinho, depois de tudo o que aconteceu com ela ontem (ainda dou um jeito naquele Becola. E em pensar que eu já o respeitei antes...).
Quando entrei no salão, a Ewelein conversava com o Karuto – Anya! – Karuto me chamava – Chegou na hora certa, pequena Rainha!
– E o que deseja de mim Karuto? – me aproximei com um sorriso (amo aquele apelido).
– Quero que leve o desjejum da Cris para ela. Ewelein acabou de me contar o que aconteceu ontem.
– Sobre o meu chefe ou sobre os contaminados?
– Os dois. – ele me sorria maliciosamente (tadinho do becola... _sorriso_).
Ele me entregou a bandeja de comida e Ewelein me pediu pra lembrar a Cris que ela tinha uma consulta, o que prometi fazer. Segui meu caminho com a bandeja em mãos e usei a chave que a Cris me confiou em segredo do QG.
– Bom dia vocês dois. – cumprimentei ao ver os dois já de pé – Trouxe o café de vocês a pedido do Karuto. Ewelein conversou com ele... – colocava a bandeja sobre a mesa.
– Obrigada Anya. – ela se aproximava da mesa – Sabe a que horas o Ezarel está no laboratório?
– Está lá desde ontem. Pra que quer falar com ele?
– Lembra que tiveram que remover uma tonelada de proteções para poderem abrir este quarto pela primeira vez? – (e como esquecer...)
– Está querendo manter o Becola fora ou o Gelinho dentro? – só havia essas razões para aquele tipo de pergunta.
– “Gelinho”?!? – Lance interrompia de morder uma torrada ainda quente.
– Os dois. – ela respondeu e se voltou para o Lance – “Gelinho” foi o que decidimos usar para nos referirmos a você lá fora sem levantarmos suspeitas, tem uma sugestão melhor?
– Parece nome de mascote. – ele não escondia o desprezo pelo apelido.
– Por isso mesmo! – dissemos juntas e ele pareceu ainda mais chateado enquanto nós, acabamos por sorrir uma pra outra.
– Ewelein me pediu para lembrá-la de sua consulta hoje.
– Irei vê-la antes de qualquer coisa. Pode deixar. – ela me sorria.
Os observei comerem um pouco e depois comecei a olhar para os materiais que usaríamos para fazer as roupas de Lance com alquimia. – Quando é que iremos fazê-las?
– Não pode ser na hora de nossa aula mesmo?
– Apenas queria confirmar. Ah! – coloquei a marmita que minha mãe me deu em frente ao Lance – Antes que eu me esqueça, este é o seu almoço... – Ele me olhava – O almoço que minha mãe me preparou hoje. Depois eu como com a Cris.
– E se lhe questionar sobre a comida? – Lance erguia uma sobrancelha.
– Fácil! Apenas digo que alguém comeu. Pronto! – olhei para o relógio – E acho melhor eu ir indo, antes que o Becola resolva pegar no meu pé. – corri para a porta.
– Boa sorte pra você! – ouvia a Cris me dizer.
Cris 2
Terminei de comer a minha parte e segui para a minha rotina do dia, deixando Lance sozinho com o Absol (assim que as proteções forem recolocadas, Absol volta a ficar livre). Devolvi a bandeja que Anya trouxe à cozinha, agradecendo ao Karuto pela (meia) refeição e depois me dirigi à enfermaria. Ewelein me examinou dos pés à cabeça.
– Você tem mesmo comido tudo o que Karuto vem dando à você? – Ewelein me questionava ao final dos primeiros exames.
– Nem mesmo um farelo fica pra trás! – nenhum de nós dois queria desperdiçar um grão que fosse.
– Estranho. – ela analisava um gráfico – De acordo com essas linhas, sua alimentação está um pouco fraca.
– Pode ser que eu esteja me cobrando demais nos treinos... – tentava eu entornar aquela situação – E pode ser que a descontaminação dos faerys cobre bem mais de mim do que imaginávamos...
– Hum... – ela me olhava de lado com uma sobrancelha erguida (aiaiai, meu Pai...) – É, pode ser. – (ufa!) – Conversarei com Valkyon mais tarde, e repassarei a Miiko que só lhe chame para purificar os contaminados de manhã. E apenas os que forem capturados até o começo do dia! – ela me apontava um dedo acusatório (a segunda parte eu agradeço!) – Nenhum mais até o dia seguinte.
– Como ordenar, Senhora Ewelein. – disse com uma reverência de cabeça.
Ela terminou de me examinar e depois me liberou. (MAIS QUE FRIO!!!) Detesto extremos de tempo. Minhas mãos estavam tão frias ao esfregá-las, já que elas sempre me agiram como uma espécie de termômetro, que eu acho que até o gelo está mais quente do que elas agora.
Fui para o laboratório e bati na porta de leve. Sem resposta. Bati mais uma vez e testei a maçaneta. Destrancada.
Entrei devagar, Ezarel estava lá e parecia bem concentrado. Me aproximei com cautela para não lhe atrapalhar e ter certeza que podia falar (não vou me arriscar a causar um “acidente”). Ele pingava alguma coisa em um frasco com folhas imersas e uma imensa vontade de tocar-lhe a nuca exposta com as minhas “mãos de gelo” me subiu (é maldade, mas AMO essa “brincadeirinha”). Seja lá o que ele estiver preparando estava mesmo lhe tomando a atenção ou do contrário ele já teria me notado, esperei ele terminar. Assim que suas mãos ficaram livres... foi a vez de uma das minhas aprontar.
– AAAAAAAAAAHHHHHHHH! – a reação do Ezarel foi uma das melhores que eu já vi! (como eu amo isso!) Não parava de rir por causa dele! – Demônio! O que é que você está fazendo aqui sua morta!? – ele esfregava a própria nuca.
– Desculpe, não resisti! – tentei controlar o riso – Queria lhe perguntar uma coisa e também... – ainda ria – ...lhe pedir um favor.
– Faça a sua pergunta! – ele voltava a se sentar – Mas esqueça o favor!!
– As proteções que vocês removeram de meu quarto, – me controlei – ...antes dele se transformar em um quarto, podem ser recolocadas?
– Podem. Mas pra quê que você as quer de volta?
– Para me proteger, ora essa. Pra quê mais seria?
– Proteger do quê? – ele está mesmo aborrecido.
– Além de Nevra? – vou ter que apelar... – Que tal de Lance. – se ele ficar incapaz de sair, protegerá muita gente.
– E porque Lance lhe seria um problema? – esse elfo está falando sério?
– Ué, mas não foi ele quem quase destruiu Eldarya? E eu pensei que tivesse sido trazida pra Eldarya porque era a chave para salvá-la...
– Hum... – agora ele ficou sério – De fato aquelas proteções todas impediam tanto a entrada quanto a saída de intrusos e maldições, e eram todos encantamentos de alto nível que poucos podem reproduzir.
– E você é um deles?
Ezarel 2
Se eu sou um deles... hunf. Quem ela pensa que eu sou? – Sou o melhor deles!
– Então você poderia repô-las pra mim, Ezarel. – pediu ela toda doce... até parece!
– Depois do que me fez? Arranje outro! – lhe dei as costas.
– Ok. Me diz então quem é melhor que você.
– É o quê?!?!? – voltei a encará-la – Não existe ninguém melhor do que eu em toda a Eldarya!
– Não foi isso o que a Anya me contou... – ela só pode estar brincando comigo – Acho... que ela disse que...
– Que o quê?
– Chrome era melhor que você!
– Nunca! – me comparar ao encrenqueiro da Sombra? – Ele não é capaz se quer de chegar aos meus pés!
– Como posso ter certeza? Você não que me ajudar... – ela está me provocando (será por isso que Nevra a persegue?) – Vou ver se o Chrome pode fazê-lo pra mim. Tchauzinho.
– Espere! – peguei-lhe no pulso para não sair – Eu faço. – de jeito nenhum vou deixar aquele lobo levar vantagem sobre mim.
– Tem alguma coisa que você precisa que eu tenha que buscar? – ela me perguntou sorrindo (sua...).
– Só preciso que tenha em mãos todas as chaves de seu quarto. E eu preciso preparar algumas coisas antes.
– Quanto tempo vai levar?
– Até o almoço eu termino. Passo no seu quarto depois de comer.
– Combinado então. – ela saía – Obrigadinha!
Fechou a porta. Sorrateira e manipuladora... O que foi que a impediu de entrar na Sombra??
.。.:*✧ Capitulo especial – Amores e Amizades ✧*:.。.
EZAREL e Nevra
Depois de ter terminado de arrumar as coisas para as proteções do quarto da... “caçadora” (este serve), fui ao refeitório almoçar. Encontrei Nevra deixando a enfermaria e seguindo para a mesma direção.
– Nevra!
– Ah, oi Ezarel, como vai. – ele me parece meio disperso, não é comum dele.
– O que foi que aconteceu? Pra quê essa mão enfaixada? – perguntei ao notar lhe a mão.
– Prefiro não comentar... – ele encarava a própria mão com desgosto – Vai almoçar agora também?
– Sim. Antes que o salão fique cheio.
– Então vamos logo. – e seguimos para o salão.
Já sentados em uma mesa, voltei a olhar a mão enfaixada dele e me recordei de meu pescoço (será que...) – Acaso a Cris está envolvida na historia dessa sua mão aí? – perguntei.
– Tá tão na cara assim? – acabei esfregando minha própria nuca.
– Não, mas eu imaginei... ela me pediu hoje cedo para que eu recolocasse a proteções que removemos do atual quarto dela.
– Aquelas que impediam a entrada e saída de qualquer um que não tivesse a chave do quarto? – porque parece que ele está suando frio?
– Essas mesmas, algum problema?
Ele esfregava o rosto antes de responder – Estou só um pouco preocupado com ela e... com o Lance. – sussurrou ele as últimas palavras.
– Você não está começando a gostar da Cris como foi com a Erika, está? – um erguia uma sobrancelha para o outro.
– Não acredito que seja isso, mas e você? Alguma chance de acabar acontecendo o mesmo? Afinal, você já beijou a Erika uma vez...
– Está falando da poção de Mnemosine? Aquilo nem foi um beijo e eu nem sei o que é que eu estava pensando na hora!
– Pode ser, mas Valkyon ficou de evitando por quase duas semanas depois que ela revelou a forma com que bebeu aquilo no caso da Colaïa. – o Nevra tinha que lembrar...
– E você só está vivo hoje graças à ela. – completei.
– Deve ter sido retribuição. Afinal, fui eu que a salvei da água em sua primeira missão com Chrome.
Acabamos por ficar em silêncio por um momento e foi ele que o quebrou.
– Teve alguma sorte com o que eu lhe pedi?
– Fala da poção da verdade?
– Essa mesmo.
– Não vai me acreditar...
– O quê?
– Lembra da explosão que o Leiftan causou no meu laboratório?
– Como esquecer... Você reclamou daquilo por mais de mês! – ele disse sorrindo e ficando sério em seguida – Mas o quê isso tem a ver?
– Leiftan mentiu. O que ele estava tentando fazer quando destruiu o laboratório era uma poção da verdade.
– É o que! – ele me arregalava os olhos – Bem que eu percebi que tinha mentira naquela historia dele.
– Ele me copiou a receita da poção, mas ela é de nível arcano, classe S. – o vi coçar a cabeça.
– Quanto tempo para ficar pronta?
– Eu diria... umas duas semanas. Há vários preparativos a serem feitos se eu quiser evitar aquele desastre.
– Tudo isso!? Ao menos essa poção funciona de verdade?
– Bom... pra isso pretendo testá-la com o Kero. – falei.
– Porque ele? Sei que Kero é um dos caras mais confiáveis para guardar segredos e informações de sigilo, mas não tem outras pessoas em quem gostaria de testá-la mais? Como o Karuto por exemplo?
– Não vou negar que realmente tenho questões com o Karuto, mas só vou lhe dizer o motivo se me falar sobre essa mão aí.
– Porque foi que Leiftan resolveu te ajudar? – ele mudou de assunto por quê?
– Não sei. Vai ver ele acha que pode se redimir um pouco com isso. Tudo bem se ele ficar sabendo o porquê de seu pedido por essa poção?
– Ele já anda me cercando de alguns dias pra cá, então ele pode ajudar.
– E porque ele está na sua cola? O que foi que você fez?
– Não é o que fiz, e sim o que descobri. – eu o encarei por um instante – Só que eu preciso de confirmação, por isso lhe pedi pela poção. – ele completava – Acha... que a Cris seria capaz de nos trair?
– Tanto quanto a Erika seria capaz de fazê-lo. Elas meio que se parecem.
– Aí é que está o meu maior medo...
– O que quis dizer? – ele já está é me intrigando.
– A Erika está vindo. – foi tudo o que ele me disse e acabamos por encerrar a conversa.
.。.:*♡ Cap.47 ♡*:.。.
Cris
Deixei Ezarel e segui para o meu treino (ainda bem que Absol estava de olho no Lance ou meu treino seria um inferno!), nem dá pra comparar o treino de Valkyon com o treino de Absol, o de Valkyon é mais... gentil, vamos assim disser. Shiro e Réalta foram meus parceiros outra vez, enfrentei os dois de olhos vendados e ao mesmo tempo, dessa vez com duas espadas. Aos poucos retomava as capacidades que tinha antes de Absol aumentar o peso das espadas.
– Já chega de treino. – declarou Valkyon – Principalmente você, Cris!
– A Ewelein já conversou com o senhor? – tirava a venda ofegante.
– Acabei de encontrá-la. E ela não quis me acreditar quando falei que seus treinos já estavam sendo mais leves sem Absol aqui!
– Você vai me desculpar Cris... – falava Shiro – Mas aquele seu guardião, é uma peste de mestre! O que foi que fez para ele não aparecer no treino?
– Ele está fazendo a segurança do meu quarto. – vai ser dureza quando ele voltar a me treinar... – Pelo menos até as proteções que haviam nele antes serem recolocadas.
– Quem vai fazer isso? – Valkyon perguntou.
– Pedi ao Ezarel antes de vir para o treino.
– E ele aceitou!? – era Réalta – Como?!?
– Meio que o convenci, usando seu ego contra ele...
Um riso escapou de Valkyon – Essa você vai ter que me contar! – ele recolhia nossas espadas de treino – Mas agora, vamos almoçar, eu te acompanho.
– Réalta, Shiro, vocês querem comer com a gente? – convidei-os (assim só preciso contar o que fiz uma vez) e eles aceitaram de bom grado.
O salão hoje estava bem mais vazio que os outros dias, porém a Erika junto de Nevra, Ezarel e Anya havia nos chamado para a mesa deles (bom, há lugar pra mais quatro então, porque não?), fomos até lá.
Erika
Ewelein já havia conversado com a Miiko e comigo sobre os exames da Cris e aquilo me pareceu um pouco estranho. Perguntei se mais alguém parecia estar passando pelo o mesmo que a Cris e ela me contou que Anya também estava dando pequenos sinais de fraqueza e por isso teria uma conversinha com o Nevra (não acho que seja culpa dele...).
Terminados os meus deveres da manhã, resolvi ir almoçar. Encontrei Nevra e Ezarel conversando sentados em uma mesa grande no salão.
– Olá vocês dois.
– Olá Erika! – responderam em uníssono (sobre o quê que eles conversavam?) e notei a mão enfaixada de Nevra.
– O que lhe aconteceu Nevra?
– Prefiro não comentar. – ele fechava a cara (aí tem...!).
– Tudo bem se eu e Valkyon comermos com vocês?
– O seu noivo já está vindo? – (_corada_) me perguntou Ezarel.
– Provavelmente... mas, não somos noivos... – (ainda).
– Vocês já habitam o mesmo quarto, o que ele está esperando? – Ezarel sorria de canto.
– Deixe eles Ezarel! – Anya! – Quando for a hora, o casamento deles sai! – é o que!? (_mais corada_).
– Se forem comer com a gente, sentem logo. – ordenava o Nevra. Eu fui pegar comida pra mim e Anya ficou para trás, disse que ia esperar pela Cris. Mal me sentei à mesa com a minha bandeja e vi o Valk entrar no salão acompanhado da Cris, do Shiroiyoru e do Réalta.
– Valk! Aqui! – chamei-os e eles vieram.
– Olá a todos! – cumprimentou a Cris (do lado de Nevra??) deixando a mostra o colar de terço que tinha no pescoço. Nevra se afastou dela como se estivesse se afastando de um raio de sol terráqueo (o QUÊ foi isso?).
– Aconteceu alguma coisa entre vocês? – perguntei a ela enquanto todos sentavam tão abismados quanto eu.
– Nevra já contou da mão dele? – a Cris me perguntava, com ela e Anya sorrindo inocentementes.
– Ele se recusou. – falei. Um sorriso enorme surgiu no rosto dela enquanto Nevra começou a se encolher no lugar – O que foi que o Nevra fez agora!?
– Ele tentou me beijar ontem à tarde. – falou ela brincando com o colar. Aquilo surpreendeu todos. Se eu não estivesse entre o Valk e o Nevra, com toda a certeza o Valkyon teria o erguido pelo colarinho.
– E você está contente com isso por quê? – perguntou Ezarel fazendo com que Nevra escondesse a mão enfaixada por baixo da mesa e cobrisse o rosto com a outra – Acaso o beijo foi bom?
– Não houve beijo... – ficamos ainda mais curiosos. Ela explicou o que havia acontecido, e quem diria... Tava explicado o porquê de Nevra fugir da Cris com o colar tão perto dele.
– Seu cheiro ainda está forte. – tentava defender-se o Nevra – Menos que ontem, mas ainda está!
– Eu devia mudar seu apelido de “esfaqueadora” para “caçadora” mesmo. – comentava Ezarel esfregando a nuca (ele também?).
– Ela vez algo com você também!? – Réalta questionava e todos o olhamos curiosos.
– Já lhe pedi desculpas Ezarel... – a Cris se lamentava (o que foi que ela fez?).
– Eu devia era me negar a repor as proteções do seu quarto. – Ezarel lhe fechava cara (mas o que foi que ela fez!?).
– Tudo bem. – a Cris dava de ombros – Nevra, sabe me dizer onde que o Chrome está agora?
– Eu disse que eu DEVIA, não disse que VOU. – reclamou o Ezarel antes que o Nevra tivesse chance de disser alguma coisa (ela descobriu o seu ponto fraco!?).
– Tá bom, tá bom, desculpe! Entendi mal... – entendeu nada.
– Será que dá pra nos disser o que foi que aconteceu entre vocês dois?? Porque é que a Cris precisou lhe pedir desculpas Ezarel? – Valk perguntou (desembuchem de uma vez!).
– Bem... – a Cris começou a nos contar.
Santo Oráculo! Não sei se a Cris é parte aengel ou parte daemon, todos ficamos do mesmo jeito de quando ela disse ter jogado uma adaga contra Nevra quando este tentou lhe invadir o quarto, alguns espantados com ela e outros gargalhando de Ezarel.
– Você é mais venenosa que um ornak! – Ezarel acabou comentando e a Cris nem lhe deu bola.
– Hehehe, não é qualquer um que sai ganhando sobre este elfo. – Karuto apareceu com uma bandeja cheia de comida que servia à Cris (fazendo Ezarel arregalar os olhos para a quantia e espantar o restante de nós com sua ação). Ele começava a se afastar quando a Cris lhe segurou.
– Espere Karuto! – ela falava.
– Sim, o que foi?
– Não que eu esteja reclamando, mas gostaria de saber. Porque você me trata tão diferente de todos os outros? – boa pergunta. Todo mundo queria ouvir essa resposta, em especial Ezarel.
– Não sei do que está falando...
– Sabe sim. Me disseram que você é quase sempre um tanto... rabugento. Mas você nunca deixou de ser legal comigo desde o primeiro dia! Por quê?
Karuto pareceu ter corado e se mantinha em silêncio. Todos o observamos com atenção pela resposta que demorava. – Karuto... – chamei-o – Não vai responder?
– É Karuto, explique porque ela é sua favorita... – pedia Ezarel com escárnio, alguns de audição mais sensível nas mesas próximas pareceram se atentar à conversa. Ele soltou um longo suspiro e sentou-se junto a nós.
– Lembra o sátiro que ajudou, trazido por esta pequena? – ele apoiava a mão sobre a cabeça de Anya. Cris apenas assentiu – Ele se chama Selang e é um de meus amigos mais chegados...
– Ela salvou um conhecido seu!? – Ezarel lhe arregalava os olhos.
– Não é qualquer conhecido, elfo! – os dois fizeram cara feia.
– Esquece ele Karuto. – reclamou Anya – Continua com a historia!
Todos nós concordávamos, ele deu um leve riso e prosseguiu – Certo... Antes do Cristal ter sido atacado pela primeira vez, eu ainda não fazia parte do QG. Era general em uma vila costeira e Selang era o cara mais estudioso e sábio que eu já havia conhecido na vida! Além de meu melhor amigo... – a atenção sobre ele ampliava às outras mesas – Quando o Cristal foi atacado, Selang e eu conversávamos nos campos aos arredores de nossa vila, eu o vi ser atingido por um dos fragmentos e se transformar naquela coisa que a Cris encontrou. Ele fugiu na hora. Eu tentei encontrá-lo algumas vezes, mas nunca o encontrei. E depois que eu descobri como que os faerys contaminados estavam sendo “tratados”... – ele fazia aspas no ar – Passei a rezar para a Oráculo e para todos os deuses que Selang continuasse desaparecido, pelo menos até que uma verdadeira forma de salvá-lo aparecesse.
– E parece que suas orações foram ouvidas, não é mesmo? – Cris sorria com uma pequena lágrima em um dos cantos dos olhos.
– Foi sim. – ele lhe segurava as mãos – Você foi a resposta de todas as minhas orações. Graças a você, Selang agora pode voltar a viver. – seu sorriso pra Cris era gentil – Você Cris, é a resposta de anos de prece, e o alívio de anos de aflição. – estávamos todos emocionados – E é por isso que ai daquele que a magoar! – ameaçou ele olhando os rapazes.
– O que aconteceu com ele, depois que se recuperou? – perguntou o Shiro e a Cris pareceu interessada.
– Ele está se readaptando a vida, no refúgio. Trabalha como professor para as crianças ao mesmo tempo em que se atualiza sobre tudo o que aconteceu enquanto ele estava contaminado. Às vezes ele aparece na cozinha para relembrarmos os velhos tempos...
– Então é isso... – Ezarel se recostava na cadeira – Se deu bem!... Caçadora Branca. – Ezarel me olhou de canto... _sorriso_ já entendi a referência.
– Porque caçadora branca, Ezarel? – a Cris questionou (vou deixar essa pra ele!).
Ezarel revirou os olhos quando notou que eu não ia responder e a Cris insistia, começou ele a falar – Branca porque você parecesse uma sacerdotisa quando não está sendo um ornak. – respondeu com desdém.
Eu não sei se a Cris entendia aquilo como elogio ou não, Karuto retornou à cozinha e continuamos conversando sobre outras coisas. Anya comia junto com a Cris (temos um novo ladrão de comida? E que atacava as duas!? Não é à toa que estão fracas!) e Nevra se prontificou a investigar o caso delas (deve estar querendo se salvar com elas) mesmo com as duas dizendo que queriam resolver aquilo sozinhas.
Ouve um instante em que a Cris não me pareceu bem, mas ela disse não ser nada. Também falamos sobre o tal cheiro dela que fazia Nevra ficar agitado e sobre a recolocação das proteções no quarto da Cris. Anya questionou sobre a influência delas em Absol, quase não acreditamos quando ela disse que o black-dog era umbracinesiano, raros são aqueles com este tipo de poder! Por conta disso, Ezarel avisou que iria passar no laboratório antes para algumas pequenas alterações, e que precisaria de uma gota de sangue de Absol.
Aos poucos deixamos a mesa. Anya e Cris seguiram para o quarto da última para suas aulas de alquimia; Ezarel foi para o laboratório; Nevra, Valk, Réalta e Shiro tinham missões a cumprir, e eu voltei para a Sala do Cristal.
Lance
Estou começando a me entediar. Vai ver é por isso que a Cris decidiu recolocar as seguranças que Anya me contou ter ajudado a remover deste quarto. Ficar preso nele só não é pior que a prisão porque tenho mais conforto. Muito mais conforto.
Como não tinha “tarefas”, decidi adiantar meus exercícios diários (sem correntes é bem mais rentável) e quando fui meditar a minha maana que consegui reaver tão depressa (mesmo gastando toda hora, consegui reaver quase metade do que havia acumulado com Anya só nesses poucos dias ao lado da Cris. Aquela Negra tinha razão...), tive dificuldades em concentrar-me por conta das noites mal dormidas.
Resolvi então observar o resto do treino dela pela janela. Ela melhorava cada vez mais ao que pude observar (quem serão aqueles com ela?) e logo a vi retornar para dentro. Hora do almoço. Comi o almoço de Anya e voltei a não ter o que fazer. Me aproximei da estante com livros, Absol que esteve o tempo todo deitado na cama dele, somente agora me erguia a cabeça. Eu o encarei por alguns instantes e peguei em um livro qualquer, ele não fez nada, porém ficou me seguindo com o olhar até eu me sentar na poltrona com o livro na mão que fiquei lendo até elas chegarem.
Que ironia... O livro que peguei era um registro completo das decisões que ocorreram durante o Grande Exílio, incluindo a decisão de se livrar dos dragões restantes para “equilibrar” o Cristal. Registro perdido depois que fiz a Erika libertar aquele monstro devorador de informações (eles mereceram, quem mandou apagá-la da memória de sua família e amigos?), Erika era boazinha demais com aquele bando de patifes, mesmo depois de eu ter lhe aberto os olhos sobre os portais para a Terra. O que mais há entre esses livros?
“Olá pra você.” – era a Negra de novo (o que você quer dessa vez?) – “Apenas ti fazer um pedido que também é um conselho.” – (conselho?) – “Hoje a Cris está um pouco... sensível, por isso tente ser legal com ela.” – (sensível como.) sinto minha cabeça doer – “Preste atenção nela e irá entender.” – sumiu outra vez. O que é que vou ter de aturar dessa vez...
A porta estava sendo destrancada, elas chegaram.
– Conseguiu falar com o elfo dessa vez? – questionei sem me mover do lugar e com Absol seguindo para o seu lado.
– Logo Ezarel vai vir para por as proteções no quarto. – as duas se sentavam – Anya, a sua chave.
Ela tirou um colar de dentro da roupa com um saquinho cobrindo o pingente que tinha a chave junto – Pegue. Tomara que o Ezarel não tente nenhuma gracinha como vingança.
– Com esse aí “à solta”? – ela me apontava o polegar – Ele não se arriscaria...
– Porque ele iria se vingar? – perguntei e elas me explicaram a historia. Queria ter visto o elfo na hora (_riso_).
Do nada, a Cris que parecia estar muito bem, fez uma expressão estranha, apoiando uma das mãos sobre o ventre.
– Com licença. – ela foi ao banheiro (tem a ver com o que a Negra me disse?) – MAIS QUE MARAVILHA. – ela acabou dizendo lá dentro, saindo instantes depois nervosa, em direção ao guarda-roupa.
– Aconteceu alguma coisa? – Anya perguntou receosa (mas que troca de humor é essa?).
– Acho que descobri o que foi que deixou meu cheiro tão especial assim para o Nevra. – ela pegava uma muda de roupa – Você não sabe a sorte que tem por ainda ser uma criança, Anya. – e voltava pro banheiro.
– Acaso se machucou? – perguntei ao sentir cheiro de sangue quando ela passou perto de mim.
– Antes fosse... – ela tomava banho.
Mudança de humor, possível descoberta da intensificação de seu cheiro para alguns, dores abdominais, Anya com sorte de ser criança, cheiro de sangue e o aviso da Negra... Ela não está na época em que estou pensando, está? A última coisa que quero no momento é uma “poção instável” nas mãos.
Cris 2
– MAS QUE MARAVILHA.
Não acredito nisso. Não é à toa que eu senti um desconforto durante o almoço e estava explicado o porquê de Nevra ter me sugerido discretamente para não deixar o quarto hoje (ele deve ter sentido o cheiro) e o pior, é que o meu remédio para cólicas, o postan, tinha acabado.
Como que eu tinha conseguido remédio terráqueo? Agradeço a minha mãe. Durante a minha primeira sessão de dor em Eldarya, uma chead bebê resolveu brincar com a minha mochila tentando abrir um bolso em específico, fui até ela pra saber o que tanto tinha naquele bolso para chamar a atenção dela e que alegria a minha!... meia cartela de postan estava dentro dele com um bilhete: “Da próxima vez que você se esquecer de pegar o remédio, te deixo passando dor.” _riso_ Era a letra de minha mãe (mãe! Geralmente a senhora é a minha cruz, mas nesse dia você foi a minha espada! Muito, muito, muito obrigada.), tomei dois comprimidos naquele dia.
Fui atrás de uma muda de roupa para tomar banho. Aquele “acidente” acabou com o meu humor, espero que o Lance pense bem antes de me provocar hoje (se bem que parece que ele já percebeu o que me aconteceu). Lavei minha roupa debaixo da agua quente do chuveiro. Quando ainda vivia nas cavernas, Absol havia me trazido uma espécie de esponja que eu resolvi utilizar como protetor durante dias como este, e dei graças aos céus quando percebi ter descoberto a utilidade certa dela enquanto buscava pelos materiais das roupas (acabei comprando mais algumas. mesmo laváveis elas tinham um limite de uso).
Antes de Anya e eu começarmos a fazer as roupas de Lance, preparei uma das poções para cólicas que Anya me traduziu (tomara que funcione!). O efeito foi quase imediato (OBRIGADA minha Mãe!).
Combinamos entre nós três como que faríamos quando Ezarel chegasse, Lance se manteria o mais distante possível de nós usando seus dons com Absol ao seu lado e eu e Anya esconderíamos as roupas de Ezarel (ou melhor, esconderíamos o fato de serem roupas masculinas). Para impedir que ele ouvisse demais, deixei meu celular tocando as músicas que tinha (que por sinal, era mais de um dia nele). Já trabalhávamos nas roupas quando bateram à porta.
– Quem é? – perguntei.
– Ok. Volto outro dia.
– Parado aí, Ezarel!! – dizemos eu e Anya juntas e ele dava risada lá fora.
Tomamos nossas posições e abri a porta – Me diz o que preciso fazer para que tudo fique no devido lugar, engraçadinho. – Falei enquanto ele entrava com uma caixa de poções e pergaminhos na mão, sorrindo de orelha a orelha.
– Aconteceu alguma coisa... pra onde foi o seu humor de hoje cedo...!? – perguntava ele todo animado.
– Resolveu dar uma volta. – fui seca e ele foi para a mesa onde Anya tirou os pergaminhos do caminho.
Vi ele arregalar os olhos ao notar a joia que Lance nos deu sobre a mesa – Isso é o que eu penso que é?!?!? – ele a erguia.
– O quê? A Pedra Cintamani? – o queixo dele caiu.
– Como conseguiram uma coisa dessas?!? – ele analisava a pedra.
– Não existe explorador melhor que Absol neste mundo. – declarou Anya lhe tirando a gema da mão.
– Foi o black-dog!?! – ele ficava cada fez mais abismado (e não vou negar, é divertido vê-lo assim. E Lance também parecia gostar).
– Já esqueceu a quantidade de tesouros que ela tem graças ao Absol?
– Deste nível??
– Se não maior. – comentei – Ainda estou descobrindo tudo o que Absol me trouxe. – falei mostrando minhas Contas de Ovira.
– Como pagamento, quero que me mostre tudo o que ele lhe trouxe. – ele me exigia e Lance pareceu interessado.
– TUDO eu não posso mostrar... – pensava em minhas roupas íntimas de renda (e em meus grimórios) abraçando o meu corpo e ele pareceu entender, pois corou – Mas posso lhe mostrar a maior parte.
– Já é alguma coisa. Podem desligar o barulho para que eu possa trabalhar? – ele começava a mexer na caixa – E também quero que me entregue todas as chaves daqui.
– Se quiser, eu posso diminuir o volume, mas não irei desligá-lo. – falei lhe entregando as chaves em meu pescoço.
– E porque não? – ele se aproximava da porta com um pergaminho e uma poção na mão, mais as minhas chaves.
– E arriscarmos você ficar ouvindo a nossa conversa? – questionou Anya de um jeito meio engraçado.
– Eu sou líder da Absinto, não da Sombra. Não preciso prestar atenção em conversas femininas... – ele debochava e se preparava para mexer na porta.
– Ainda assim, melhor prevenir do que remediar. – falei abaixando o volume, ele só deu de ombros.
Anya e eu voltamos a trabalhar nas roupas o mais discretas possível, ficando eu de olho em Ezarel. Achei interessante a forma com que as orelhas do chefe absintiano se movia de acordo as músicas mudavam.
Ele trabalhou primeiro na porta, depois na janela e no centro do quarto onde pediu para eu ficar. Antes desse último, ele veio até a mesa várias vezes (tantas que quase irritou a nós duas), e na última vez, ele tirava uma adaga.
– Pra quê a faca? – perguntei.
– Para poder construir a última barreira usando uma gota de sangue do Absol, assim ele será o único capaz de atravessá-la. Outros? Só se estiverem sendo carregados por ele ou se a chave abrir a porta. – balançava as chaves ainda em sua mão.
Ele se dirigia com a adaga para o Absol que ameaçou o atacar fazendo-o parar no lugar (claro, Lance estava com ele).
– Me dê a adaga, – pedi a Ezarel – deixe que eu faça, antes que alguém se machuque.
– É toda sua! – disse ele me entregando-a sem tirar os olhos de Absol.
Me aproximei com calma de Absol. Ele me estendeu a pata de boa vontade e eu lhe fiz um pequeno corte em um dos dedos de sua pata, acumulando o sangue sobre a lâmina – Desculpe Absol. – pedi com o gemido de dor que ele deu e logo que eu afastei cuidadosamente a faca pra não derramar o sangue, ele começou a lamber a ferida que fiz.
– Aqui. – entreguei-lhe a faca – Mais alguma coisa?
– Fique no centro do quarto.
Ele começou a fazer desenhos ao meu redor (até parece Fullmetal Alchemist!) e fincou a adaga no centro de um circulo em específico daquele emaranhado de formas e letras (ou serão runas?) enquanto dizia alguma coisa no que devia ser a tal da língua original, fazendo o sangue de Absol brilhar de uma forma sombria, que começou a contornar todo o desenho que, depois de iluminado, expandiu-se por todo o quarto como se o desenho estivesse sendo virado do avesso, até sumir no teto acima de mim.
– Pra que exatamente essa barreira serve? – perguntei.
– Além de barrar qualquer tipo de feitiço negro e impedir a entrada de umbracinesianos que não sejam o Absol? – assenti – Serve para bloquear a passagem de qualquer habilidade que lhe permita atravessar paredes como a intangibilidade, projeção astral e telepatia por exemplo.
– Telepatia não atravessa paredes. – comentei.
– Sua mente é uma parede. – arregalei os olhos (realmente é possível alguém entrar se eu for controlada pra isso...) – Agora... será que pode me mostrar tudo o que Absol lhe trouxe!? – o olhei com espanto – Ou quase... – consertou ele.
Obs:
Fullmetal Alchemist, animê de mais de 50 episódios, +14, ação e possui duas versões: Fullmetal Alchemist e Fullmetal Alchemist Brotherhood (honestamente, o Brotherhood é cem vezes melhor). Quem gosta do tema alquimia, vai gostar desse animê.
.。.:*♡ Cap.48 ♡*:.。.
Ezarel
Deixei o salão e fui ao laboratório, eu sabia que o Karuto estava sendo bonzinho demais com a caçadora, mas não esperava aquele favoritismo todo. Agora sim que ficou difícil de dar o troco nela pela rasteira que ela me deu, e mais agora pela mão de gelo hoje de manhã. Não posso deixar que eles saibam que a poção de invisibilidade não foi a minha única tentativa. Depois daquela falha, eu pensei em bloquear a fechadura da porta dela (ela anda ficando muito dentro do quarto...) para que ficasse impedida de entrar, porém o black-dog dela me impediu. No dia, não tinha ideia de como ele havia aparecido do nada atrás de mim, mas graças a Anya, agora eu sei. Droga! Não posso nem confiar nas sombras mais com aquele umbracinesiano no QG!
Expulsei todos que estavam no laboratório para que eu pudesse conferir o processamento dos ingredientes para a poção da verdade enquanto juntava as coisas necessárias para colocar as proteções no quarto daquela louca, além de fazer as alterações por causa de Absol.
– Ezarel, posso entrar?
– Leiftan? Entre, estou meio ocupado, então diz logo o que é que deseja.
– O de sempre. Deixar alguns papéis e recolher documentos não entregues e... – ele se aproximou de mim pra falar num sussurro – ...como vai a preparação da poção?
– Não terminarei antes do Baile de Solstício se é o que deseja saber. – Leiftan soltou um longo suspiro – E eu já sei exatamente em quem vou testar essa poção quando a acabar.
– Em quem?
– Kero.
– O Keroshane? Por quê?
– Quero saber o que foi que impediu a Caçadora de ir pra Sombra ao invés da Obsidiana.
– Que caçadora!? – expliquei ao Leiftan quem e porque resolvi apelidar aquela mulher de “caçadora”. Claro, ele tinha que conter o riso como os outros... – Entendo, faz sentido sua escolha. Sem falar que se a poção fizer o Kero falar...
– Qualquer um irá falar ao tomá-la. – completei-o – E eu concordo com Nevra...
– O que tem o Nevra?
– Ele me comentou que a Cris esconde alguma coisa e Anya parece ajudá-la. Acredita que alguém está levando parte da comida das duas?
– Como!?
– Estou mais determinado ainda a obter essa poção da verdade.
– Acha que Nevra sabe o que as duas escondem?
– Se não sabe, suspeita. – comecei a colocar as proteções dentro de uma caixa.
– É verdade que irá repor as proteções que havia no quarto de Celsior, agora da Cris?
– Sim. E adivinha: Absol é umbracinesiano. – ele arregalou os olhos _riso_.
– Isso explica como é que ele faz para sumir e aparecer onde e quando quer. – entreguei-lhe os relatórios que ele venho buscar.
– E também com quem mais se deve tomar cuidado ao querer fazer algo àquela Caçadora. – Leiftan riu e eu peguei a caixa já completa com o que iria usar.
Deixamos o laboratório e nos separamos. Bati na porta assim que cheguei.
– Quem é? – ouvi a voz da Caçadora e resolvi tirar uma com a cara dela.
– Ok. Volto outro dia.
– Parado aí, Ezarel!! – ouvi as duas dizerem juntas, eu ri e de quebra ainda consegui irritar a Caçadora.
Assim que deixei minha caixa em cima da mesa não acreditei no que meus olhos viram e elas me confirmaram (aquele black-dog é mais útil do que pensei!) e exigi que ela me mostrasse tudo o que ela havia ganhado dele (ou quase...). Ainda pedi à ela que desligasse aquele aparelho dela e elas se recusaram, mas o abaixaram (pra quê que eu iria me importar com a fabricação das roupas delas?).
Comecei o meu trabalho assim mesmo. Confesso que algumas daquelas músicas me forneceram interesse. Algumas até me divertiam enquanto outras me irritavam. A Caçadora cantou algumas delas junto (até que a voz dela não é ruim...) e nessas ela acabava emitindo maana. Poupei parte da que tinha comigo graças à ela (se ela está com sobras, porque não aproveitar?).
Acabei com a porta e com a janela, ficou faltando apenas o quarto em si com a mais importante das barreiras e onde eu precisaria do sangue de Absol para que apenas ele tivesse livre acesso por ela. Não pensei duas vezes em passar a adaga pra Cris quando ele quase me avançou (ela não o avisou ou é ele que não gosta de mim?). Concluída a barreira do quarto, era hora de cobrar meu pagamento.
Ela começou me mostrando as coisas que estavam à vista como a pulseira de Contas de Ovira em seu pulso e os livros que Kero ainda não tinha pegado para traduzir (Kero não brincou com a raridade daqueles livros...)
– A Ewelein vai querer fazer de tudo para ficar com este livro! – disse segurando um dos livros que mais me surpreendeu por ela tê-lo.
– E por quê? – olhei a pestinha com incredulidade.
– Anya está certa, porque a Ewelein vai querer fazer de tudo por este em especial?
– ESTE é o único livro deixado por Trótula de Salerno, uma ninfa especializada em medicina feminina e uma das poucas faerys que chegou a dar aulas na única escola de medicina onde humanos e faerys aprendiam juntos.
– Há quanto tempo foi isso!? – a Caçadora perguntava.
– Segundo a Ewelein? Um pouco antes das perseguições aos faerys começarem. Trótula escreveu cem cópias de seu livro para ajudar a ensinar suas alunas enquanto o volume original foi encantado de forma que só mulheres pudessem ler, já que os humanos da época não aceitavam muito que mulheres estudassem.
– Huuumm... parece que isso foi no começo da idade média... O que mais a Ewelein falou?
– Que o conhecimento medicinal feminino dela estava além de tudo, e suas poções e tratamentos de cura eram infalíveis. – entreguei-lhe o livro.
– Bem... – a Caçadora o folheava – Ao menos a poção que eu testei desse livro se mostrou bem eficaz.
– Que poção? – perguntei (ela está doente?).
– Para cólicas. – gelei, cólicas!? Eu estava tentando provocar uma explosão!?
– Mas, você está mesmo bem agora? – se normal ela já é pior que um ornak, o que dirá instável!
– Eu disse que foi eficaz, não disse?
– Tá, e quanto aos outros sintomas?
– O que são cólicas Cris? E que outros sintomas são esses Ezarel? – esqueci que Anya ainda é uma criança...
– Isso é algo que só poderá de fato compreender quando deixar de ser uma criança, Anya. – explicou a Cris acariciando a cabeça da pirralha. – Ainda deseja ver o resto das coisas Ezarel?
– Mas é claro! – e depois saio daqui o mais rápido que conseguir.
Ela me mostrou joias, roupas finas, amuletos e mais uma montanha de coisas que, só dela possuir tudo aquilo, a Caçadora podia ser considerada uma “rainha” de tanto ouro que seria necessário para obter metade daquelas coisas. E ela ainda é essencial para Eldarya... Mas que mulher $!#¨*¨*&$!#@.
Obs.:
Trótula de Salermo ou Trotula di Ruggiero (1050-1097), foi uma médica e professora italiana ginecologista que foi considerada homem assim como a guerreira viking de Birka (porcaria de machismo da época em que os arqueólogos as encontraram) e que mais tarde foi reconhecida como uma mulher legitima de grande influência na historia. Deixou bem mais que um livro escrito para trás e como o próprio jogo transformou alguns personagens de renome da historia como a Joana D’ark (1412 – 30 de maio de 1431) em faerys (faelianos pra ser mais exata), fiz questão de mergulhar na internet para achar alguém como Trótula. Se quiserem saber mais, terão de pesquisar.
Lance
Porcaria de elfo, ele já chegou provocando a xylvra (ele é louco!) e sou eu quem vai ter que aturar o humor dela depois. Pelo menos a minha compensação àquelas duas o incomodou. Tenho certeza que ele sentiu inveja delas e até que o “pagamento” que ele cobrou dela me interessou.
Ele não enrolou pra começar a trabalhar e assim cair fora logo daqui. Notei que a Cris não parava de reparar nas orelhas se mexendo do elfo, o que por algum motivo não me agradou, apenas a maana dela é o que estava me mantendo frio no lugar com aquela visão.
“Por que não admite que está com ciúme?” – e mais essa (não tem nada melhor a fazer não?) – “Está preocupado!?...” – aquele sorrisinho travesso de novo... (estou com uma “poção instável” nas mãos e estou prestes a ser algemado a este lugar, como quer que eu não me preocupe?) – “Não terá de se preocupar com muito, o mexer das orelhas do alquimista está a distraindo do mau humor junto das músicas. E a poção que ela tomou ajudará também, mas...” – (mas o quê?) – “Você ainda tem daquela pomada para dores musculares que criou pra você?” – (tenho. Porque.) – “Porque acho que ela vai precisar. Melhor ficar de olho nela!” – sumiu outra vez, essa Negra me cansa. Se bem, que aquelas idas e vindas do elfo à mesa, interrompendo aquelas duas o tempo todo, está começando a virar um problema.
– Pra quê a faca? – faca?
– Para poder construir a última barreira usando uma gota de sangue do Absol, assim ele será o único capaz de atravessá-la. Outros? Só se estiverem sendo carregados por ele. – do que é que eles estão falando? Posso não compreender essa historia aí, mas a cara que o elfo fez ao se aproximar de Absol (e de mim) foi impagável! Foi a Cris quem tirou algumas gotas de sangue de Absol e, alguns minutos depois, eu estava definitivamente engaiolado (ao menos espero que aquele vampiro desgrude um pouco da minha carcereira).
– Pra que exatamente essa barreira serve? – perguntou a Cris e eu também estava estranhando os símbolos que ele havia utilizado.
– Além de barrar qualquer tipo de feitiço negro e impedir a entrada de umbracinesianos que não sejam o Absol? – (Absol possui umbracinese!?!) olhei o black-dog que pereceu me sorrir. Não acredito que ele pode ir aonde quiser com apenas uma sombra.
Assim que o elfo terminou de explicar sobre a barreira, a Cris começou a mostrar as suas coisas que recebeu de Absol. Ezarel não era o único surpreso aqui dentro, e ele finalmente parou de provocá-las depois que a Cris confirmou de vez qualquer suspeita de ela estar em um período não muito favorável graças à aquele exemplar raro de Trótula. Depois que ela terminou de mostrar tudo (com exceção dos grimórios e de roupas íntimas que eu sei que ela ganhou do black-dog), Ezarel deixou o quarto verde de inveja (_sorriso_) e eu finalmente posso parar de gastar maana.
– Pensei que ele ainda ia demorar pra sumir. – comentei surpreendendo Anya por estar do lado dela.
– Pois é. Mas o serviço agora está feito e você tirou proveito do pagamento dele que eu sei. – ela realmente não deixou de manter os olhos sobre mim quando mostrava as coisas dela – Aqui Anya, pode pegar sua chave de volta.
– Valeu. – como eu estava perto dela agora, pude notar que a forma do pingente de seu colar não me era estranha.
– Que pingente é este elfinha? – ela pareceu suar frio e a Cris notou.
– O que tem o colar de Anya? – a Cris se aproximou e, apesar de receosa, Anya nos estendeu seu colar revelando o pingente que estava mantendo ensacado.
– Uma presa de greifmar. – Aquele vampiro tem o quê na cabeça??? – Se eu usá-lo exposto desse jeito, poderei atrair azar e pesadelos a todos que estiverem até dois metros de distância de mim.
– E por que é que você tem uma coisa dessas com você? – Cris perguntava de olhos arregalados enquanto Anya cobria o amuleto maldito guardando a cópia da chave junto.
– Karenn me deu de presente, ela disse que eu só deveria deixá-lo exposto se eu estive sozinha e como proteção.
– E o seu “chefe” e os seus pais sabem que você tem uma coisa dessas? – perguntei já sabendo a resposta.
– Claro que não! – (como eu pensei) – Essa presa era da própria Karenn, e ela me fez jurar que não deixaria nem o Becola e nem meus pais descobrirem ela! Mas agora pegue Gelinho. – ela me entregava alguma das peças produzidas – Deixe a gente ver o resultado de nosso trabalho, anda.
Não gosto de receber ordens, ainda mais de uma pirralha, mas eu também estava curioso sobre aquelas roupas (a armadura pode me deixar mais seguro, mas não mais confortável), troquei-me no banheiro. Elas optaram por me fazer roupas simples: umas três calças, cinco camisas, dois pares de sapatos e umas seis roupas íntimas. Fui bem claro com elas ao dizer que o frio não me incomodava por isso elas não desperdiçaram material me produzindo agasalhos e coisas do tipo.
– Parece que acabaram ficando bons. – comentou a Cris quando deixei o banheiro já vestindo uma calça e uma camisa que elas produziram.
– Só não entendi porque tudo tinha que ser preto e/ou vermelho. – Anya reclamava – Qual o problema do azul, roxo ou verde? Tonalidade não é desculpa.
– Prefiro essas cores. – Anya revirou os olhos enquanto a Cris parecia me cobrar com o olhar (sério mulher!) – Obrigado. – disse apenas, e isso pareceu satisfazê-la.
O Karuto enviou um lanche para elas por uma mulher, comemos a comida e elas contaram que durante o almoço, tiveram que revelar que “alguém” estava levando parte da comida delas, e Nevra determinou-se em ajudar (espero que ele só esteja querendo protegê-las...) o que me fez refletir sobre as ações dele.
– Eu tentei convencê-los de que não precisavam se preocupar com a gente, explicando como era a minha alimentação quando estava vivendo com as cheads...
– Só que lá, você não tinha que se preocupar com quem estava dividindo o quarto! – Anya me encarava ao falar.
– Vocês agora possuem a garantia que não irei deixar este quarto,... – me mantinha neutro – ...podem ficar um pouco mais despreocupadas.
– Talvez, mas ainda manterei meus grimórios comigo. – ela é mesmo desconfiada.
Anya foi embora e a Cris ficou arrumando as coisas enquanto eu tomava um banho rápido. Minhas coisas ficariam guardadas escondidas dentro do baú dela. Ela fez as orações dela (que me pareciam mais suaves dessa vez pela maana emitida) e se deitou. Como a Negra me sugeriu, fiquei de olho nela o tempo todo, e ela não parava de se remexer na cama.
– O que houve? – perguntei meio sem interesse quando ela finalmente se sentou na cama para massagear as próprias pernas.
– Nada demais. – foi a resposta dela. Hunf.
– Mentirosa. – acusei-a – Você dorme feito pedra. Isso, quando não acaba roncando.
– Foi mal se eu ronco... – ela me olhava incomodada – Minhas pernas estão me perturbando um pouco, só isso.
Me ergui da poltrona em direção do banheiro buscar minha pomada – Me mostre as pernas. – ordenei a ela com o pote na mão e arrastando uma das cadeiras pra perto da cama. Reparei na forma com que ela me olhava, encolhida – Não pense coisas estranhas, isso só é uma pomada para dores que eu mesmo fiz.
Ela ainda parecia receosa, mas fez o que mandei.
Cris
Depois do “acidente” e das cólicas que tinha resolvido ao experimentar aquela poção milagrosa, pensei que não iria mais ter problemas por conta do meu ciclo. Foi já deitada na cama que descobri ter me enganado. Minhas pernas começaram a me incomodar, elas estavam pesadas e meio doloridas e por isso, não encontrava uma posição na cama. Cansei de me revirar e sentei-me para massageá-las antes que piorassem.
Pensei que o Lance havia conseguido dormir ou quase quando ele me questionou o que me acontecia. Tentei não incomodá-lo com meus problemas e acabei sendo chamada de mentirosa, dorminhoca e roncadora (praga!), por isso confessei que minhas pernas me incomodavam.
Vi ele ir para o banheiro e sair de lá com um pote nas mãos (eu meio que reparei algumas coisas a mais no banheiro...), quando ele me pediu pra mostrar as pernas fiquei vermelha. O vestido que eu decidi usar só como camisola por ser curto demais pro meu gosto (curto, saia com fendas, decote coração e manga comprida), já expunha totalmente minhas pernas e ele ainda queria ver mais?
– Não pense coisas estranhas, – acho que percebeu minha perturbação – isso só é uma pomada para dores que eu mesmo fiz. – ele mostrava o pote enquanto sentava em uma das cadeiras que trouxe para perto da cama.
Bom, eu vivo me preocupando com ele em meu quarto, por que não o fazer cuidar só um pouquinho de mim também? Ainda tinha receio, mas aproximei minhas pernas dele. Sério, ele começou a passar aquela pomada fria massageando minha perna. Ou ele tinha mãos muito boas ou eu que estava muito... sensível.
(Isso não é hora pra perder a cabeça...) ficava me repreendendo enquanto fazia de tudo para controlar aquele desejo que me erguia. Comecei a procurar qualquer coisa para me distrair.
– Assisti um pouco do seu treino hoje. – ele puxava conversa (deve servir) – Quem eram aqueles?
– Aqueles quem? – questionei respirando fundo para me acalmar.
– A raposa e o elfo que treinavam com você, junto de meu irmão.
– Shiro e Réalta? Colegas de guarda com quem fiz amizade durante os treinos. – (se acalma Cris).
– Entendi. – (impressão minha ou ele está com ciúme?) – Você até que é boa com a espada, mas não acha que exagera um pouco com os treinos?
– Acredite, eles estão leves. Você não tem ideia de como Absol é cruel comigo durante um treinamento. – controlei um arrepio ao trocar de perna.
– Imagino que o motivo dele não estar a acompanhando nos treinos seja eu. – ele sorria de canto (termine logo com essa pomada...).
– É possível. Mas... agora que você está realmente preso aqui... – contive outro “choque” onde respirei fundo (ai, minha Nossa Senhora!) e ele me mandava relaxar – ...acho... que agora o Absol voltará a estar presente nos treinos. – o frio que antes estava sentindo sumiu.
– Me pergunto como foi que ele fez pra você saber como usar uma espada.
– Na marra. – as lembranças dos treinos ajudavam a esfriar os meus ânimos (ainda bem!) – Eu só passei a saber mesmo como segurar uma espada direito com o Valkyon. E eu ainda não consigo me defender corretamente contra humanoides.
– Lembro que Anya me contava que você treinava enfrentando outros mascotes. – deixei a cabeça cair pra trás por um momento, retornando-a ao lugar em seguida, o senti me apertar com um pouco mais de força naquele instante.
– Mascotes são mais fáceis de se perceber prestes a atacar do que faerys, eles não escondem suas intenções, por isso é mais fácil de se defender deles.
– Entendi, você está aprendendo a sentir suas presenças, uma vez que já aprendeu suas intenções. – ele soltava as minhas pernas (finalmente!!).
– Algo assim. – mexia em minhas pernas que agora pareciam muito mais leves (terá sido a pomada ou a massagem?) – Obrigada.
– Não agradeça, só queria que você parasse de ficar se remexendo daquele jeito. – dizia ele enquanto guardava a tal pomada de volta no banheiro – E a última coisa que eu preciso é de uma maluca irritada aqui dentro. – ele voltava a se sentar na poltrona.
– Mesmo assim, obrigada. – eu lhe sorria sinceramente.
– Vá dormir logo!
.。.:*♡ Cap.49 ♡*:.。.
Nevra
Agora que Ezarel devolveu àquele quarto todas as proteções que antes tinha, Lance passou a realmente estar preso lá dentro... e eu do lado de fora. Se ele tentar alguma coisa com ela, a única ajuda que ela conseguirá obter é a de Absol e dela mesma. Anya ainda não tem condições de enfrentar alguém como ele e o que eu vi ontem à noite não para de me preocupar.
Durante o almoço ontem, um cheiro de sangue específico vinda de uma certa parte da Cris me fez entender o porque do cheiro natural dela ter se intensificado ao ponto de mexer com a minha natureza vampírica, por isso dei um jeito de aconselhá-la a não deixar o quarto dela (mesmo com aquele canalha lá dentro) sem ninguém me perceber, mas isso não foi o suficiente para me fazer deixar de me preocupar.
Eu devia era evitar a Cris em todos os sentidos enquanto ela estivesse no auge de seu ciclo (só as crises da Karenn já são experiências cíclicas suficientes pra mim), mas como é que o lagarto de gelo ia tratar a Cris neste estado? Valkyon comentou uma vez que a Erika fica meio mal humorada nesses dias, e a Cris? Como será que ela reage? (porque quase toda mulher fica tão temperamental nesses dias?). Mesmo sabendo que me faria mais mal do que bem, fui vigiar a noite daqueles dois.
Quase cai pra trás com o que vi logo de cara, Lance massageando as pernas da Cris (ele não está tentando “conquistá-la” está?). Consegui ouvir a conversa deles (assim como um gemido contido ou outro dela) que quase me fazia suar frio. Mesmo que ele tenha dito que só a ajudou para se auto preservar, pude notar muito bem o toque de ciúme que ele deixou naquela conversa toda, sem mencionar o instante em que percebi um aceleramento cardíaco nele. Com a noite seguindo dos dois dormindo o tempo todo.
Passei a noite engolindo seco com aquele doce aroma férreo no ar, assim como a possibilidade de Lance querer conquistar o coração da Cris para que ela ajude ele em vez de Eldarya. Preciso conversar com ela depois que todo esse sangue dela acabar.
Com o dia amanhecendo mais uma vez, e já não aguentando mais aquele cheiro, desci para pedir a Miiko que mantivesse a Cris no quarto dela por pelo menos até o final do dia (como a Karenn mesmo disse, eu e ela não somos os únicos vampiros no QG). O problema é que eu fiquei tão transtornado por conta do cheiro que me esqueci de dizer a Miiko o porquê disso.
Anya
Me levantei como todos os dias e segui pro QG, uma de nossas preocupações com o Gelinho já estava resolvida, duas na verdade: roupas e segurança. Só faltava maana, alimentação,... e fazê-lo desistir de vingança (_suspiro_).
Ainda estava pensando sobre um meio de lidar com o terceiro ao entrar na Sala das portas já que o primeiro, era só a Cris rezar perto dele e o segundo... nós duas estávamos dando um jeito!
– Anya espere! – era Ewelein quem me chamava – É mesmo verdade o que Ezarel me contou ontem no jantar? A Cris tem uma das cópias de Trótula?
– É. – vi os olhos dela brilharem – E parece que ele realmente não mentiu quando nos disse que você procurava por uma.
– Se eu estou à procura de uma? Metade delas se perdeu no tempo! Há décadas que busco por uma, mesmo que em mau estado.
– E a da Cris está muito bem conservada. – a felicidade da Ewe só aumentava.
– Vamos vê-la agora. Quero ver se eu consigo por as mãos naquela cópia antes do Kero! – ela começava a me puxar pelo pulso.
– Espere! – ela parou pra me encarar – Não seria melhor já aproveitar pra levar o café da manhã pra ela? Eu também não tomei ainda.
– Boa ideia! Assim talvez eu consiga mais fácil. – ela me arrastava para a cozinha agora (credo! Que desespero é esse por um livro!?).
Karuto preparou uma senhora bandeja, pra nós três (a Ewelein também estava fugindo do café!?), que levamos para o quarto da Cris. Encontramos com o Chefinho no caminho e ele não parecia nada bem. A resposta que ele deu a Ewelein quando questionado, era que havia mulheres demais reiniciando os seus ciclos (o que é um ciclo?) e a Cris era uma delas sendo ela mais atraente para a natureza dele do que a Erika (será que tem a ver com as tais cólicas que a Cris disse ter sentido?), por isso iria pedir à Miiko que mantivesse a Cris no quarto até o fim do dia. Ele até me dispensou dos treinos apenas para fazer companhia a ela! (se bem que deixá-la tanto tempo sozinha com o Lance, não me parece uma boa ideia).
Bati à porta já que Ewelein estava comigo e por isso não podia usar a minha chave, a Cris não demorou muito a abrir.
Lance
Espero estar fora daqui antes do próximo ciclo dela, aqueles gemidos dela enquanto lhe medicava ainda tremem em meus ouvidos, sem falar do instante em que ela jogou a cabeça para trás, se eu não tivesse começado a conversar com ela para distrai-la... Não quero nem pensar no que poderia ter acontecido.
Do jeito que ela dorme agora, nem parece que aquilo aconteceu ontem. E ela ainda se levantou uma vez no meio da noite (tenho que dar um jeito de sair daqui outra vez). Como já amanhecia mesmo, resolvi me levantar, deixando o banheiro, quase levei um choque com o que via. Ela tinha acordado, estava sentando na cama e a Branca estava dependurada nela (mas o quê mais vai acontecer aqui?).
– Bom dia pra você. – ela ficava de pé com a Branca meio que cochilando agarrada ao pescoço dela – Há algum problema? – acho que encarei a Branca demais...
– Está tudo bem com você? – perguntei tentando não olhar mais para elas.
– Estou ótima! – ela se espreguiçava após prender os cabelos – E graças a você... – via pelo reflexo da penteadeira que ela sorria como ontem (espero não ter problemas depois).
“É só você não ficar querendo falar com a minha irmã.” – chegou a que sempre me perturba, mas... (não era para a barreira impedir a entrada de vocês??) – “Minha irmã deu um jeitinho enquanto Ezarel fazia as mudanças para Absol ter livre acesso aqui.” – ótimo... (o que quis dizer ao me mandar não falar com a Branca) ouvia a Cris cantarolar no banheiro – “Nossos poderes são um pouco diferentes, ela não possui telepatia como eu. E se ela disser uma palavra que seja, vai se denunciar na hora!” – (e por qual motivo ela está agarrada à Cris? O ciclo dela já não me é dor de cabeça suficiente?) – “Relaxa dragãozinho, graças aos seus “dedos mágicos” ela só ficará de mau humor se passar por um problema grande hoje ou se ficar sem chocolates!” – (chocolate!?) – “Uma descoberta da Terra. Os chocolates costumam ser o melhor amigo de uma mulher reiniciando seu ciclo. Ainda bem que a Huang Hua a presenteou com alguns!”
Eu realmente tinha reparado. Ontem a Cris comia um dos doces do pote sobre a mesa a cada hora (e o repete agora).
– Quer um? – ela me oferecia o pote.
– Tem certeza que prefere abrir mão de sua comida ao invés de me deixar conseguir a minha? Você não pode adoecer.
– Não vou ficar doente. – ela fechava o pote e o rosto – Na caverna comia bem menos do que aqui e nem por isso adoeci, e de jeito maneira vou permitir que você prejudique inocentes.
– E por isso prefere se sacrificar? Eles valem tanto assim pra você?
“Tá tentando colocá-la contra Eldarya?” – (não enche).
– Farei aquilo que meu coração achar melhor. – ela suspirava para me encarar em seguida – E isso é tudo o que tenho a lhe dizer.
“Gostei da resposta.” – hunf.
Bateram à porta. Era Anya que estava acompanhada, ocultei-me como sempre para que ela pudesse abrir.
– Bom dia Anya. Ewelein! Precisa de algo? – (o que a elfa quer aqui? E porque é que a Branca não larga da Cris?).
– Ezarel me contou que você possui uma cópia do livro escrito por Trótula de Salerno, posso vê-lo? – ela falava enquanto deixava uma enorme bandeja de comida sobre a mesa.
“Minha irmã vai precisar cuidar um pouquinho da Cris hoje, para que você também fique bem.” – a Negra respondeu quase em cima da resposta da enfermeira (mas o que é que vai acontecer hoje?).
– Claro, mas... Porque tanta comida?
– Ewelein também não tomou café ainda... – Anya esclarecia – Porque não comemos primeiro para depois vermos este livro? – pirralha...
– Pois eu prefiro ver o livro. Por favor, Cris, diga que sim!... – implorava a elfa, a Cris acabou por soltar um suspiro.
– Tudo bem Ewelein... – ela a arrastava pra junto da estante em que estava o livro, ao mesmo tempo em que me fazia sinal para me aproximar (já entendi) – O livro é este.
Enquanto a Cris mantinha a enfermeira distraída com o livro, Anya me separava minha parte da comida, tirando apenas dela e da Cris para não levantar muita suspeita, afastei-me e a Cris retornou com a elfa que não desgrudava os olhos das páginas em suas mãos (isso com certeza as ajudará).
– Me diz Ewelein, – tanto a Cris quanto a Anya enrolavam para comer – porque tanta euforia por este livro?
– Minha bisavó foi aluna de Trótula quando nova, ela me contou que precisou vender o exemplar dela por conta das condições em que vivia na época e eu jurei em seu leito de morte que eu encontraria um exemplar, mesmo que difer... – ela parou de falar para começar a chorar (por quê?).
– Ewelein?... – a Cris se preocupava.
– O que houve Ewelein? Porque começou a chorar de repente? – responde a Anya, elfa!
– Dette eksemplar hører til Hvid Stjerne... – (como?) Anya arregalava os olhos enquanto a Cris ficava sem entender nada (não deve conhecer a língua) – Este exemplar pertence a Hvid Stjerne... – traduziu ela ao notar a “ignorância” da Cris (Hvid Stjerne?) – ESTE é o exemplar que pertenceu a minha bisavó!
– O QUÊ!!?? – até eu fiquei boquiaberto com essa! E quase que questionava junto das duas.
“Hahahahaha! Absol você é o melhor!” – gargalhava a Negra.
Cris
Depois daquele milagre inesperado, não tinha como eu negar o livro à Ewelein. Ela me prometeu que conversaria com o Kero sobre ele e que daria um jeito de me dar uma cópia traduzida, como me havia sido prometido antes. Tinha acabado de comer “toda” a minha comida quando bateram à porta outra vez.
– Pois não?
– Desculpe incomodá-la tão cedo... – era um faery que ainda não conhecia com gorro cobrindo as orelhas na cabeça – ...Mas a Miiko me pediu para chamá-la na Sala do Cristal.
– Para...
– Ontem, no decorrer do dia, capturamos um total de cinco contaminados. Por favor, me acompanhe.
– Estranho... O Chefinho não nos disse que ia pedir à Miiko que a Cris ficasse no quarto hoje Ewelein? – (oi?)
– Eu vou na frente para verificar, Anya ajude a Cris. – falou a Ewelein saindo com o livro na mão (como é?).
– Mas do que é que vocês estão falando? – perguntei à Anya uma vez que a Ewelein já tinha sumido nos corredores arrastando o homem com ela.
– Nos encontramos com o Chefinho quando vínhamos para cá, ele não parecia muito bem e disse que era porque muitas mulheres estavam “reiniciando os seus ciclos”, sendo você mais “atraente” que a Erika. – um arrepio me subiu a espinha – Por isso que ele disse que era melhor você não sair do quarto hoje e que falaria com a Miiko sobre isso. – (“Nevra e eu não somos os únicos vampiros por aqui sabia!”) foi o que a Karenn me avisou anteontem... – O que é um ciclo Cris?
– Ah... acho melhor você conversar sobre isso com a sua mãe, Anya. – não sabia lhe explicar sem dar a resposta que ela tinha de descobrir e ela me emburrava a cara, tentei mudar de assunto – Porque é que ninguém me contou sobre os contaminados?
– Ordens da Ewelein. Para ter certeza que você não iria se encontrar com eles durante o dia.
– E o que exatamente está trazendo os contaminados à Eel? – perguntou Lance (até que é uma boa pergunta...).
– Pelo que eu soube, parece que o Cristal está atraindo os seus pedaços que estão espalhados, ou seja, ele está atraindo os contaminados para reaver os fragmentos.
– Então, _suspiro_ não precisarei ir à busca do meu trabalho. ELE virá até mim...
– Queria era poder estar ao seu lado nessas horas... – encarei o Lance – ...é quando você mais emite maana. – seu rosto era inexpressivo. Fui ao guarda-roupa pegar uma muda e me troquei no banheiro.
– Vamos logo Anya, – disse ao sair – quanto mais rápido descermos, mais rápido voltamos. Não estou a fim de me arriscar com vampiros.
Trancamos Lance no quarto e fomos até a Sala do Cristal, havia guardas na entrada do lado de dentro e de fora para que apenas autorizados entrassem (não estão exagerando?). Quando entrei e vi aqueles cinco, não pude evitar chorar... um dos contaminados era uma CRIANÇA! Também havia um brownie pássaro, uma mulher inteiramente branca, uma senhorinha de pele cinzenta e um elfo. Todos contidos por membros da Obsidiana. Miiko, Ewelein, Erika e outras duas mulheres também estavam lá.
O poder do Cristal foi rápido e eu fui direto para o menino no meio daqueles cinco, vi Erika correr até ele quando estava de volta ao normal. Cuidei de um de cada vez e, assim como da última vez, os cristais dentro de cada um deles iam direto para o Grande Cristal.
Acabado tudo, outra vez estava cansada, sentada no chão. – Posso lhe ajudar? – me perguntava o mesmo faery que havia ido me avisar no quarto sobre o chamado da Miiko.
Estava prestes a lhe ceder minha mão, mas a recolhi imediatamente – O que houve com seus olhos? – perguntei ao reparar que eles brilhavam e ele, pareceu não compreender...
Nevra
Saí para fora e assim tomar um pouco de ar fresco (tenho que me livrar desse atordoamento do sangue), acabei me encontrando com o Valkyon no quiosque uma meia hora depois.
– Que cara é essa Nevra?
– Reiniciamento cíclico. Várias mulheres. A Cris é uma, por isso ela está mexendo comigo.
– Ezarel me comentou algo assim. Humanos é a raça que mais mexe com os vampiros, não é verdade? – ele me encarava (será que agora ele vai pegar mais leve comigo?)
– A Cris nem se compara à Erika. Acho que é por causa da maana dela, pedi à Miiko que a mantenha no quarto hoje. – e tenho a sensação que esqueci-me de algo.
– Todos os vampiros ou estão na Sombra ou na Absinto, não vejo problema em deixá-la treinar mais tarde.
– Mais tarde? – ela não sempre treina de manhã?
– Estou indo à Sala do Cristal para reforçar a ajuda com os contaminados capturados ontem.
– Espera. Está me dizendo que a Miiko já chamou a Cris para a Sala do Cristal?
– Sim. São os meus homens quem estão os contendo, com membros da Absinto dando apoio.
– Quais membros? – me ergui na hora (já sei o que foi que eu me esqueci).
Valkyon pareceu refletir um pouco sobre minha pergunta e o vi arregalar os olhos por um instante. – Vem comigo. – foi tudo o que ele respondeu (não tenho um bom pressentimento).
Fomos rápido até a Sala do Cristal (e bem na hora), Ezarel parece ter esquecido de avisar os seus subordinados (ainda bem que ela tinha aquelas contas) – Precisa de ajuda Viktwa?
Miiko
Estava conferindo o Cristal enquanto os outros ajudavam os ex-contaminados e a Cris quando do nada, ouvi o som de algo se chocando contra uma parede. Virei-me e vi Viktwa junto à parede exibindo as presas para Nevra.
– Recolha suas presas Viktwa, se não quiser que eu as arranque! – Nevra lhe ameaçava.
– Será que pode se explicar Nevra!? – atiçava a chama de meu bastão.
– Eu não lhe pedi para que mantivesse a Cris no quarto hoje? – ainda havia irritação em sua voz.
– E o que isso tem a ver?
– Miiko... – era Ewelein – Ele se esqueceu de esclarecer, não foi?
– Esclarecer o quê? – perguntei. A Ewelein se aproximou e explicou ao meu ouvido sob a condição atual da Cris.
Pelos deuses... acabei por arregalar os olhos! Não só estava explicada a possível possessão de Nevra pela Cris, como também o porquê daquele ataque. Viktwa podia pertencer à Absinto, mas também era um vampiro (e eu tinha que ter mandado justo ele para chamar a Cris?). Erika e Anya a ajudavam.
– Está tudo bem com você Cris? – perguntei me aproximando.
– Estou. O que é que aconteceu? – eu não sabia dizer se ela estava calma ou nervosa.
– Isso tudo foi descuido meu, sinto muito. Viktwa é um vampiro que faz parte da Absinto.
– Da Absinto!? – reclamava Anya – E aquele... Ezarel, não teve a coragem de avisar os dele se até o Chefinho estava tentando tomar distância da Cris agora? – acho que o quê Anya queria mesmo era insultá-lo (e eu também, Ezarel seu irresponsável!).
– Terei uma conversa com ele depois. Erika, pode acompanhar a Cris até o quarto? Cris, se importa de passar o resto de seu dia lá dentro?
– Sem problemas. – a Cris respondeu pelas duas se erguendo.
Olhei novamente para o lado onde os vampiros estavam e vi Nevra e Valkyon cuidando de Viktwa – Valkyon! – ele me prestou atenção – Poderia me ver alguém de sua confiança para zelar o quarto da Cris hoje?
– Claro. – respondeu ele acompanhando Viktwa e Nevra para fora da sala.
– Cris... – ainda tenho algo pra saber dela – ...Quanto tempo... seus ciclos costumam durar?
– De cinco à sete dias. – nossa! – Sendo os três primeiros os piores.
– Nesse caso, quero que fique hoje e amanhã confinada em seu quarto.
– Isso não é um pouco exagerado? – ela não parece gostar de estar presa.
– Tudo bem. Fica só hoje. Mas de jeito nenhum poderá caminhar por Eel desacompanhada durante os próximos sete dias!
– Seis, ontem já foi...! – lamentava ela, se ela não fosse essencial pra Eldarya...
– Prefiro pecar por excesso. – ela respirava vencida _sorriso_ – Agora vão, avisarei o Karuto pessoalmente então não precisa se preocupar com nada.
– Nevra me pediu para fazer companhia à ela. – declarou Anya.
– Excelente ideia, assim ela não fica sozinha. Vão, vão, antes que outro vampiro desavisado lhes cruze o caminho. Ela parece ser pior que você Erika!
– Ao menos eu tive alguém para me mostrar como prevenir situações assim a tempo.
– Pois explique o mesmo à ela e... – observei Anya por um instante – ...apenas o essencial.
.。.:*♡ Cap.50 ♡*:.。.
Cris
Seguimos para o meu quarto, Anya, Erika e eu. Por conta do meu cansaço pelo esforço feito, acabamos demorando um pouquinho mais para chegarmos lá. Entreguei minha chave à Anya para que ela “abrisse caminho” para nós, quando alcançamos o último andar.
Lance estava envolto pela “névoa” dele atrás do biombo quando Erika e eu entramos, sentei-me em uma das cadeiras e Erika pediu para que Anya buscasse alguma coisa na enfermaria. Nesse meio tempo, ela me explicou tudo o que eu precisava fazer para evitar que cenas como a que ocorreu na Sala do Cristal se repetisse. Ela me contou que eu precisava pingar algumas gotas de uma das poções que Anya me ensinara a preparar para defender-se de criaturas sombrias na esponja cíclica, além de alguns outros truques (anotei em meu not para não esquecer).
Anya retornou acompanhada da Ewelein que me trouxe algumas vitaminas e pediu ajuda da Erika para cuidar dos que eu havia purificado, com as duas saindo quase que imediatamente e me lembrando para permanecer no quarto hoje.
– O que foi que aconteceu dessa vez? – Lance perguntou saindo do esconderijo assim que tranquei a porta.
– O homem que veio me chamar era vampiro, acho que com isso você já pode imaginar o resto já que ele estava na Sala do Cristal e você pôde ouvir minha conversa com a Erika. – respondi.
– O que foi que a Erika conversou com você Cris?
– Apenas o que eu precisava saber Anya.
– Me contem exatamente o que aconteceu. – ele nos exigia.
– Por quê? – qual o problema com ele? – Terei sempre que relatar tudo que me acontece pra você?
– Apenas não quero ter surpresas incomodas como a visita de meu irmão.
– Como foi que fez para ele não te descobrir naquela noite? – perguntava Anya.
– Alguém parece estar me ajudando, porque e pra quê ainda não sei. Vão me disser o que aconteceu agora? – eu não sei se agradecia ou desconfiava da preocupação dele para comigo, mas acabei por contar o acontecido (e ele me pareceu bem irritado com a historia) – Eu teria o matado se fosse eu no lugar de Nevra!
– Não teria resolvido nada fazer isso. – respondi meio que o repreendendo.
– Seria um vampiro a menos em cima de você. – foi a resposta dele ao sentar na poltrona de braços cruzados. Respirei fundo.
Como eu já estava “presa” no quarto mesmo, resolvi continuar o meu livro com Anya me ajudando. Como acabei sem tinta, Anya foi ao mercado comprar mais para mim. Enquanto ela saía, vimos Shiro no corredor com uma cadeira em suas mãos, foi aí que ficamos sabendo que Shiro tinha sido escolhido por Valkyon para vigiar-me o quarto junto de Réalta (acho que por causa de nossa amizade... sempre tive mais facilidade em ficar amiga de homens do que de mulheres, talvez por só ter um homem como irmão caçula) que fariam turnos entre si, começando pelo Shiro.
– E como é que serão esses turnos de vocês? – perguntei a Shiro sentado na cadeira a mais ou menos cinco passos de distância da minha porta, com eu recostada à patente da porta meio aberta com Lance ouvindo a conversa.
– Bem, até o almoço serei eu a lhe fazer guarda, e lá pras seis da tarde eu reassumo sua vigília até o meio da noite.
– Então seus turnos serão de aproximadamente 6hs cada um. – eu observava Lance no fundo de meu quarto.
– Foi o que Réalta e eu combinamos junto de nosso chefe. – ele me sorria.
– O que foi que aconteceu com o tal do Viktwa?
– Foi deixado em uma cela até esfriar os ânimos, Ezarel está encrencado com a Miiko. – acabei rindo e vi que Lance achou pouco o que foi feito – Eu teria dado um soco nele se estive no lugar do Valkyon.
– E porque isso? – Lance erguia uma sobrancelha pelo aguardo da resposta.
– Você é uma das nossas, ninguém da nossa guarda iria admitir que um colega fosse machucado por um cara qualquer. – ele me desviava o olhar ao dar a resposta (não creio que seja só isso...).
– Por isso que eu fui cercada por vocês quando Ezarel tentou usar uma poção de invisibilidade pra cima de mim?
– Sim, foi... A menina da Sombra não está demorando? – estava na cara que ele parecia nervoso.
– Anya deve estar com dificuldades ou então algo a está distraindo. – vi Twylda se aproximando com três embrulhos nas mãos.
– Olá para vocês.
– Olá! – respondemos nós dois.
– Karuto me pediu para trazer os almoços de vocês. – dizia ela entregando o de Shiro – O de Shiro, o seu e o de Anya. Ela está aí dentro?
– Não. – respondia – Ela foi ao mercado pra mim, mas pode me entregar o dela. A farei comer assim que chegar.
– Agradeço muito. – respondeu ela me entregando os dois embrulhos.
– Alguém já lhe convidou para lhe ser par durante o baile Twylda? – Shiro perguntava.
– Oh sim, Karuto me convidou e eu aceitei. Prefiro um grande amigo como ele para ser meu par a outras pessoas. – ela sorria com timidez (só amigos é?...) – Mas e você Shiro, já convidou alguém?
– Não, ainda não... – ele corava e Lance me pareceu inquieto.
– E quem planeja convidar? – perguntei.
– Alguém já chegou a te convidar?
– Não e... mesmo depois de Anya e Absol terem me forçado a comprar roupas para a noite, não tenho muita vontade de participar... – ele pareceu chateado (será que ele planejava me convidar?).
– E porque não Cris! – falava Twylda – Soube por Purriry que você estará linda no dia.
– Bom... eu não sou fã de multidões... – ainda sinto um mau pressentimento, mas guardarei isso pra mim.
– Bobagem moça, sei que vai gostar do baile. Virei buscá-la pessoalmente se eu souber que você está enfurnada aí dentro no dia! – um riso me escapou e Lance revirava os olhos.
– Tá, tudo bem. Eu vou a esse baile... Mas só porque não quero ninguém me arrastando pra ele!
– Já é alguma coisa. – ela sorria – Agora se me dão licença, ainda tenho trabalho a fazer. Por favor, não se esqueçam de devolver as vasilhas à cozinha.
– Pode deixar. – respondeu Shiro e eu entrei no quarto fechando a porta para eu e Lance comermos.
Lance
Quando a Anya retornou à frente da Cris que estava acompanhada da Erika (com a Branca ainda dependurada nela), imaginei que tinha acontecido alguma coisa. Ainda mais com todos os conselhos que Erika dava à ela enquanto Anya estava fora. E depois que a Cris e a Anya me explicaram o que tinha acontecido...
“Entendeu porque minha irmãzinha se pendurou na Cris?” – (e porque você não ficou tomando conta dela?) – “Eu tenho que vigiar suas ações e minha irmã as emoções dela. É assim que iremos poder olhar vocês.”
Não pude esconder meu descontentamento pelo ocorrido daquelas duas, (ainda preciso da Cris).
“Porque não admite que você tem ciúmes da Cris hein? Sei que está gostando dela!...” – (não tem nada melhor pra fazer não?) – “Quer que lhe deixe sozinho com a Cris!?” – ela sorria de orelha a orelha (Negra...) – “Hihihihi” – ela sumiu, argh.
A Branca continuava em cima da Cris e só a deixou depois que o tal de Shiro chegou para vigiar o quarto, em turnos com o Réalta (meu irmão não podia ter escolhido outros membros quaisquer para o trabalho?). Não gostei da conversa que eles tiveram, ainda mais depois da chegada da mulher que exigiu que a Cris participasse do baile daqui uma semana.
Sentamos para comer. A Cris só tirou uma parte da comida de Anya para mim porque eu ameacei fazê-lo eu mesmo.
– Não gosto muito desse Shiro. – cochichei enquanto comíamos para que o brownie não nos ouvisse conversar.
– Não sei por quê. Acaso está com ciúme de mim? Por isso toda essa preocupação? – ela questionava em voz baixa (até ela!?).
– Não é ciúme. Só não quero que você abra a boca sem querer e eu perca toda a minha mordomia.
– Não vou falar... não intencionalmente.
– Pois é com isso que me preocupo. – falei seco e ela pareceu chateada.
– De qualquer forma... – eu a encarava de soslaio – Preciso do meu mínimo de liberdade, ou as pessoas poderão desconfiar. Já basta Nevra, que parece que me deixará um pouco mais em paz agora. – (não tenha tanta certeza) dizia ela brincando com o prato.
– Não aceite o convite de ninguém para este baile. – senti que ela me encarava – Assim os riscos serão menores, mesmo que seja arrastada para ele.
– Tá, como quiser... – era claro que ela não havia gostado de minha exigência – Quem escuta melhor, elfos ou vampiros?
Estranhei a pergunta – Vampiros, pois são caçadores natos, por quê?
– Réalta é um elfo esqueceu-se? Ele já deve estar trocando de lugar com o Shiro agora. – quase me esqueci.
– Tem razão. É melhor só conversarmos enquanto for o brownie que estiver de vigia. – ela apenas assentiu e terminou a parte dela da comida.
Anya
Ooo dificuldade pra achar um pouco de tinta hoje, só encontrei na terceira das quatro lojas que tinham e ainda precisei negociar como se já tivesse ido à quarta. Também procurei por colchonetes que a Cris me pediu secretamente, mas este eu não achei em loja alguma. Cheguei ao corredor junto do Réalta que se preparava para trocar de turno com Shiro, bati à porta enquanto eles conversavam rápido sobre tudo e entrei antes que eles se dessem conta. (Réalta é amigo de meu pai e por isso sei o quanto a audição dele é boa, só não supera o Becola).
– O que aconteceu? Porque demorou tanto Anya? – a Cris me perguntava.
– Tava difícil achar tinta no mercado hoje. – coloquei a sacola sobre a mesa – E muito menos o seu outro pedido – cochichei.
– Entendo. Twylda trouxe a sua comida... – ela me entregava uma marmita meio aberta – ...e eu já comi a minha. – terminou encarando o Gelinho que estava na poltrona com um livro nas mãos.
– Réalta e Shiro já estão trocando de lugares. – falei me sentando para comer enquanto ela guardava a tinta.
– Obrigada por avisar. – ela ligou o celular dela nas músicas – Vou cumprimentá-lo já, já. E muito obrigada por ter ido ao mercado pra mim.
– Sem problemas. – Vi Absol saindo de dentro de uma sombra – Ele tinha saído também? – a Cris virou para trás, onde eu olhava, e notei que havia vários pergaminhos com Absol que ela os olhou por cima.
– Parece que ele resolveu explorar... E ele me trouxe nove pergaminhos de roupas ao que parece. – ela os guardava no baú.
– Vamos retomar o seu livro quando eu acabar de comer?
– Mas é claro!
Enquanto eu comia, a Cris conversou um pouquinho com o Réalta e logo fechou a porta (pensei que ele ia tentar convidá-la pro baile), e notei que Lance não tinha gostado muito dela conversando com outro (acaso ele está se achando dono dela!?). Ela me contou sobre o que havia conversado com Shiro (Réalta não era o único que a queria como par??) e com Twylda, e com Lance (que parecia mesmo se achar dono dela) enquanto eu estava no mercado e eu lhe repassei como foram minhas buscas pelo que ela me pediu.
Depois que terminei de comer, tratamos do livro dela. Traduzia-lhe mais um pedaço do livro sobre mascotes que trabalhávamos agora e que ela resumia para colocar no guia dela, Lance se mantinha extremamente calado naquela poltrona (acho que é por causa da audição de Réalta).
Cris e eu nem vimos o tempo passar, só nos damos conta da hora quando o Réalta bateu a porta para me fazer ir pra casa.
– Anya, já está tarde e você sabe que sua mãe sempre fica preocupada! – ele dizia do outro lado da porta. A Cris abriu logo depois de Lance se “esconder”.
– O que foi Réalta, virou pai da Anya agora? – a Cris perguntou.
– Não, mas o pai dela e grande amigo meu, pediu-me para cuidar dela e de sua mãe de vez enquanto durante o tempo em que ele estivesse em missão.
– Cuidou muito bem de mim enquanto fugia pra floresta não é mesmo! – provoquei-o.
– Sabe por que foi que seu chefe de apelidou de “verdheleon”? – ele cruzava os braços.
– Ahm... Porque sou rápida e escorregadia como um? – arrisquei e a Cris segurava uma risada.
– Ainda bem que sabe. E você ficou bem pior depois de entrar na sombra “pés-leves”. – não sei se estava me elogiando ou me insultando, mas eu gostei do apelido – Vamos, te acompanharei até em casa.
– Vai pra casa Anya, amanhã nos encontraremos de novo, está bem? – pra Cris estar sendo doce ou ela está cansada ou o Gelinho está doido pra voltar a ficar visível _suspiro_.
– Tá bom! Vamos logo! – saí deixando a Cris e o Gelinho, com Réalta no meu pé e Shiro de vigia outra vez.
Cris 2
Anya e eu aproveitamos que eu estava usando o meu not quase o tempo todo para “conversamos” através dele sem que Lance nos percebesse. Eu não podia simplesmente deixá-lo lá se fortalecendo, tinha que encontrar uma maneira de ao menos fazê-lo adiar ao máximo qualquer plano de vingança que ele pudesse estar elaborando.
– porque você não conversa com ele devagar? – Anya escreveu.
– ele pareceu querer tentar me fazer deixá-lo mais “à vontade” no QG hoje cedo. – respondi.
– como assim?
– me pediu para deixá-lo roubar comida ao invés de pegar a nossa.
– você negou, né? Ele não pode deixar este quarto! Não é seguro.
– claro que neguei, porque acha que convenci Ezarel a recolocar as proteções?
– você podia tentar conversar com ele, assim como ele fez. Acha que pode convencê-lo?
– só ele pode convencer ele mesmo a desistir, mas posso tentar lhe sugerir.
– já é alguma coisa.
– vou ver o que posso fazer.
Acabamos aí com a nossa “conversa” antes que levantássemos alguma suspeita e passamos a trabalhar de fato nas traduções para a criação do que seria um “Guia para Recém-chegadas em Eldarya” (_riso_).
Karuto nos enviou um lanche reforçado que ele entregou pessoalmente, levando as vasilhas da marmita do almoço após me elogiar pelo belo quarto (ainda bem que ele estava cheio de serviço!).
Quando ficou tarde, Réalta fez questão de acompanhar Anya até em casa enquanto Anya queria ficar mais. Pude notar o incomodo que a presença de Réalta provocava em Lance (que se manteve o tempo todo naquela poltrona para não fazer ruídos) e por isso convenci Anya a ir com ele logo. Ainda dei um “boa noite!” ao Shiro que reassumia a vigília de meu quarto (em situações normais, acharia isso tudo um pouco demais) antes de trancar a porta em seguida.
Lance foi direto para o banho e eu arrumei as coisas da mesa. Ele saindo, foi minha vez de ficar limpa. Não demorei muito porque estava meio limpa, mas fiquei o tempo todo refletindo como que eu poderia puxar conversa para o assunto com ele. Saindo do banheiro, eu o vi de novo na poltrona só que dessa vez ele parecia tentar concentrar-se em algo, de olhos fechados e sua expressão não me parecia muito boa, percebi que era por causa do pescoço pelo jeito que ele o esticou para um dos lados (talvez...).
Me aproximei com calma para não lhe interromper a concentração. Cheguei por trás, e antes que pudesse encostar, ele agarrou-me pelos pulsos sem sair do lugar.
– O que pensa que vai fazer. – ele me questionou sem nem mesmo abrir os olhos ao que pude notar pelo espelho da penteadeira.
– Devolver o favor. Por ontem à noite. Seu pescoço ainda não lhe incomoda? – a forma com que ele pressionava os meus pulsos estava começando a deixar minhas mãos dormentes.
– O que me garante que não vai tentar fazer é uma outra coisa? – agora ele me observava pelo mesmo espelho, respirei fundo.
– Só pela força com que está me segurando, tenho certeza que não teria capacidade para prejudicar lhe. – isso o fez amenizar a pressão – Mas se não quer ajuda com o pescoço... – ele só me soltou depois de uns dois minutos apoiando minhas mãos nele.
– Da próxima vez, avise antes se não quiser acabar machucada.
– Tudo bem. – respondi já massageando lhe o pescoço e ele voltou a fechar os olhos (e que pescoço duro!) – Você está bem tenso... – tentei começar uma conversa – ...Não é só por causa das noites nessa poltrona, é? – ele estava me ignorando – Posso ao menos saber em quê se concentra tanto?
– Minha maana. – seco, mas foi uma resposta – Até que você não é ruim. – comentou relaxando o rosto um pouco.
– Não sou profissional, mas meus pais e amigos sempre me pediam massagem de vez enquanto.
– Sente falta de casa?
– Um pouco às vezes... Você tem sorte de já estar em casa, mais ou menos.
– Casa. Hunf!!
– Você nasceu em Eldarya, não é? Tudo o que conhece está aqui, não é verdade? Pra quê agir assim... – senti seus músculos enrijecerem outra vez.
– Está tentando me fazer perdoar todos esses cretinos?
– Só você pode decidir se perdoa ou não alguém, o máximo que eu poderia fazer é tentar aconselhá-lo a refletir melhor. – vi ele me erguer uma sobrancelha no reflexo – Me diz, acaso você recebeu alguma coisa boa depois de seus feitos? Algum espírito de dragão acaso lhe visitou, nem que seja em sonhos, para lhe agradecer por tudo o que fez? – seu rosto ficou vazio – Aposto que não. – deixei-o e comecei a ajeitar a cama para deitar-me – E tem mais, eu não fiz nada que você já não tenha feito comigo, ou vai negar que tentou me colocar contra os faerys mais cedo? – Ele não dizia nada, apenas refletia em completo silêncio – Uma vez, eu ouvi uma frase em uma série que assisti um pouco “Guardar mágoas é carregar pedras no coração.” (Claire Browne - The Good Doctor).
Deixei-o com seus pensamentos. Rezei minhas orações e fui dormir.
Última modificação feita por Tsuki-Hime (25-01-2024, às 10h25)